“Eu espio com os meus olhos”. Parte IV.

Até a terceira série, as zoações dos colegas eram inofensivas para mim. Nada do que eu vivi até este período ficou marcado como especialmente negativo. Tinha um pouco da estranheza, eu acho, da parte das outras crianças em relação a mim, pois eu não via a bola nos jogos de queimado, não via onde caiu a pedrinha da amarelinha, não sabia dizer se o paquera da amiga era bonito ou não, não copiava do quadro, não respondia quando acenavam para mim. Mas as crianças não eram especialmente más nessa época, ou eu era mais resiliente.

O problema começou na terceira série.

Além das zoações inespecíficas, que serviam para zoar qualquer pessoa, eu comecei a sofrer com as zoações específicas e elas me magoavam demais.

Uma coisa era aquele garoto que virava para todo mundo e dizia: “Eu não sei se você tem dente ou trave de gol”. Quando todo mundo estava se xingando de “burro” e você era só mais um a ser xingado da mesma coisa a experiência é uma.

Quando você começa a ser alvo de xingamentos específicos, direcionados única e exclusivamente para você, a experiência de singularização fica mais evidente. Como consequência, eu comecei a ser vista como diferente e isso foi fazendo com que eu ficasse isolada socialmente.

“Cara de peixe morto”; “Abre o olho!”; “Quantos dedos têm aqui?” (com o dedo na minha cara); “Cegueta”; “Cega”; “Ceguinha”; e, além das falas, tinham os comportamentos. Eu geralmente fico com os olhos apertados ou olho pela parte de baixo do olho (como quem usa óculos multifocal tem que fazer), pois isso me ajuda a ver um pouco melhor. Esse gesto que eu fazia para ver melhor era imitado pelas outras crianças.

Tudo isso servi apenas para zoar a mim e a mais nenhuma outra criança.

Até eu faço gozação com o meu problema de visão. Meus amigos fazem. Se a gente não rir de si mesmo está condenado ao sofrimento. Mas ser zoado com amor pelos seus amigos é bastante diferente de ser ofendido por pessoas que afirmam te odiar.

Ainda havia aquelas crianças que, assim como alguns professores, pareciam ficar com raiva do meu problema de visão e demandavam que eu me curasse magicamente.

Por exemplo: havia crianças que não me zoavam por causa do problema de visão, mas que me chamavam de metida, porque eu não as cumprimentava quando passavam por mim. Eu explicava que não cumprimentava porque não as enxergava. Era só elas virem até mim e me cumprimentarem, ou me chamarem a atenção de alguma outra forma, que eu falaria com elas sem problema nenhum. Não era de propósito que eu as estava ignorando. Mas elas não aceitavam muito bem esta situação e ficavam irritadas comigo. Continuavam achando que eu era metida e se afastavam de mim.  

Já me perguntei muito o porquê disso. A melhor explicação que eu consegui encontrar, foi o fato da minha deficiência não ser aparente. As pessoas não conseguem entender isso muito bem: uma pessoa que sofre com um prejuízo tão grande, mas que elas não conseguem enxergar… Essas pessoas acham que eu estou de palhaçada ou de má vontade.

O fato é, eu fui um tipo de criança que já teria sofrido bullying de qualquer forma. O problema de visão só fez com que as coisas ficassem um pouco mais difíceis. Até porque, além do bullying, eu passei por uma série de outras dificuldades.

O incrível é que, mesmo no meio de tudo isso eu consegui encontrar as minhas melhores amigas.

Minhas amigas sempre fizeram tudo que podiam para que eu conseguisse acompanhar as aulas. Desde ir me falando e explicando baixinho tudo que o professor falava, até me ajudar a copiar a matéria que havia sido dada para o meu caderno na hora do recreio. Pensamos de tudo ao longo dos anos. O papel carbono foi uma das nossas melhores descobertas, apesar de ele não permitir que a minha amiga escrevesse dos dois lados da página do caderno dela porque borrava a minha cópia. Então, o prejuízo que os pais delas tinham com caderno era minha culpa.

Elas me ajudaram lendo os menus dos restaurantes, me ajudaram falando quais meninos eram meu tipo e quais não, me ajudaram a atravessar ruas, a pegar ônibus, a não morrer atropelada.

As amizades daquela época fizeram com que as tristezas vividas no sofrimento das chacotas, estejam agora, nas minhas lembranças, permeadas por todas os lados das maiores alegrias e aventuras que a infância pode comportar.

Não vou mentir. Tem uma barra que a deficiência impõe que você vai carregar sozinho e ninguém tem como sentir ou saber como é. Essa solidão não é exclusiva, mas é particular. Cada um tem o seu calo que faz com que só essa pessoa saiba como é andar nos próprios sapatos. A deficiência é assim também. Mas você nunca precisa estar solitário, mesmo quando estiver absolutamente sozinho no seu sofrimento. Não é porque as pessoas não entendem ou não sabem como é sentir o que você está sentindo, que elas não querem estar junto de você para te dar apoio.

 

Se obrigue a fazer o que te faz bem.

Hoje eu não quero escrever. E aí? O que fazer?

Bom, estou eu aqui escrevendo, não é mesmo.

Muitas coisas na minha vida têm sido assim. Faço a despeito da vontade de não fazer.

O que faz com que a gente faça o que não tem vontade?

Na minha maneira de ver, existem dois modos diferentes de pensar a motivação para cumprir obrigações contra a nossa vontade.

Por um lado, existem as obrigações que estão continuamente importunando você. Depois que você termina de fazer o que tem de ser feito, você sente uma espécie de ressaca moral, como se tivesse perdido seu tempo. Você não quer nunca mais ter de fazer aquilo, mesmo sabendo que no dia seguinte estará fazendo tudo de novo. Por exemplo: ir para o trabalho todo dia quando você odeia o seu emprego.

Nesses casos, é bom que, na medida do possível, comecemos a analisar e correr atrás de novas oportunidades. Ou mesmo que procuremos realizar atividades, durante os nossos períodos de folga, que recarreguem as nossas baterias, nos deixem mais felizes e bem-dispostos para encarar as obrigações que devemos cumprir e das quais não podemos abrir mão.

Por outro lado, existem as atividades que nos fazem bem. Nem sempre estamos a fim, contudo, de realizar mesmo as atividades que nos fazem bem. Em alguns dias eu estou tão cansada do trabalho que acabo não indo à aula de dança. Mas, quando eu, a despeito do cansaço, consigo me determinar a ir para a aula de dança, eu acabo saindo bem melhor do que eu entrei.

Por isso, tenho tentado me obrigar a fazer as coisas que eu sei que me fazem bem.

Parece estranha esta afirmação, pois passamos a maior parte do tempo nos obrigando a fazer as coisas que não queremos fazer ou que nos fazem mal. As coisas que nos fazem bem, acabamos deixando-as de lado por qualquer motivo.

Eu simplesmente mudei um pouco minhas prioridades. Passei a levar muito a sério tudo que me faz bem e ser um pouco mais relaxada com todo o resto. Isso faz maravilhas para o bom humor, a autoestima e a realização pessoal.

Uma brinde à mim.

Um brinde às últimas chances que não dei aos que me maltrataram!
Um brinde à minha coragem de gritar: parem de me bater!
Um brinde à minha insensibilidade em relação às lágrimas de crocodilo deles!
Um brinde ao quanto tive que aturar esses idiotas!

E nos vemos livres enfim! O tão sonhado, amado fim das noites mal dormidas! Das trepadas em que fomos malcomidas e desdenhadas em prol do gozo alheio! Fim dos dias em que fomos traídas por amigos e choramos desacompanhadas. Fim das mordaças que caem aos nossos pés babadas e putrefatas.

Eu brindo à minha saúde! A deles, que se acabe no amargor da incapacidade de lidar com outro ser humano! E o diabo que os carregue a todos!

“Eu espio com os meus olhos”. Parte III.

Muito interessante o fato da redação do ENEM ter pedido que os alunos falassem sobre os desafios da educação dos surdos no Brasil justamente quando eu resolvi começar a versar sobre os desafios da educação dos deficientes visuais. Parece que combinamos.

Estas são questões que estão na vigésima ordem do dia, nas quais ninguém presta atenção. Tenho até que agradecer pelo tema da redação do ENEM, pois ela me ajudou a clarear o meu propósito com este relato autobiográfico, que é fazer com que vocês conheçam pelo menos um pouquinho mais desse universo dos desafios da educação de deficientes físicos no Brasil.

Dando prosseguimento ao relato…

 

Depois da quinta série, eu virei uma aluna rebelde.

Muito complicado acompanhar as aulas do jeito que as coisas andavam. Vivi mais do mesmo por muitos anos.

No ensino médio, um professor substituo entrou em sala, mandou todo mundo calar a boca e escreveu algumas questões no quadro. Depois que ele terminou de escrever no quadro ele olhou bem para a minha cara e perguntou: “Você não vai copiar não”? Eu disse: “Não”. Rebelde, claro. Podia ter começado logo a me desculpar e a explicar em voz alta, na frente da turma inteira, o meu problema de visão pela milésima vez. Mas não. Fiquei calada e fui expulsa de sala. Foi um escândalo depois. Porque o professor ficou sabendo que eu era deficiente e tal. Passou a me tratar como um bibelô (ele foi efetivado pouco tempo depois).

O fato é que eu desisti. Mesmo. No início do ano sempre achava que tudo seria diferente, me esforçava. Logo eu perdia o fio da meada e só ia me esforçar de novo lá no final do ano para não acabar sendo reprovada.

Eu nunca fui reprovada. Esse foi um fato que sempre me chamou a atenção. Não sei até hoje se era o conselho de classe que acabava optando por me dar os pontinhos necessários na prova final para que eu passasse de ano. Por outro lado, eu realmente usava todas as minhas forças para correr atrás no fim do ano.

Certa vez, um rapaz que não gostava de mim, porque estava a fim de pegar uma amiga minha, me prometeu aulas de física. No dia em que eu fui à casa dele ter a tal aula, ele não atendia o portão de jeito nenhum. Eu toquei e toquei a campainha, gritei e gritei o nome dele e nada. Daí eu liguei para um amigo dele que era a fim de me pegar e pedi para ele ir me encontrar na casa desse garoto que me daria aulas. Quando o menino que gostava de mim chegou, eu pedi que ele chamasse pelo sujeito que me daria aulas e, adivinha só! O sujeito apareceu (eu havia ficado o tempo todo na frente da casa do cara. Sem chance de ele ter chegado enquanto eu esperava meu admirador para me socorrer). Eu engoli qualquer orgulho que eu pudesse ter, se é que um dia me foi possível desenvolver orgulho no que diz respeito a pedir esse tipo de ajuda, mesmo com o cara obviamente não estando com vontade de cumprir o que havíamos combinado, e fiquei lá umas cinco horas estudando na casa do dito-cujo.

Falo desse tipo de determinação. Eu pedia a quem quer que fosse que me ensinasse a matéria no fim do ano. Ali, no ambiente questionável da casa de um garoto que não gostava de mim, mas que, surpreendentemente, era mais propício para a minha aprendizagem do que a escola.

Devo reconhecer o mérito de alguns professores, contudo.

O professor Hermes, que meu deu aulas no GPI da Rua Ibituruna, na Tijuca é um deles.

Hermes sempre fazia desenhos lindos de células no quadro que eu dava uma olhadinha de perto quando a aula acabava. Os desenhos eram tão caprichados que até me deixavam curiosa e eu prestava mais atenção nas aulas. Certo dia, Hermes parou para conversar comigo, ainda no início do ano, para entender a minha situação. A partir deste dia, ele passou a trazer de casa, desenhado em uma folha de papel, o que ele ia desenhar no quadro. Então eu já tinha o “caderno”, com os comentários e legendas do professor durante a explicação. Foi perfeito. Lembro até hoje do fato de que as mitocôndrias são responsáveis pela respiração celular. Pude aprender biologia até este professor ter sido transferido da nossa unidade.

Outra professora que merece destaque, era a professora Ângela de química. Também do mesmo GPI.

Ao saber do meu problema de visão ela fez um interrogatório comigo perguntando como havia sido a minha carreira escolar e eu contei a ela tudo que contei a vocês nos últimos textos. Sabe onde ela encontrou esperança? Na técnica de colocar a minha carteira mais próxima do quadro. Mas ela deu uma reeditada legal nesta técnica. No lugar de colocar só a minha carteira para frente, ela puxou toda a primeira fileira junto comigo. Juro para vocês que alguns alunos nem notaram que estavam se sentando mais próximos do quadro. Além disso, tinha o problema do meu deslocamento que ela resolveu escrevendo apenas na parte do quadro que ficava imediatamente na minha frente. Ela escrevia, explicava, apagava, explicava de novo. Teve ainda uma outra novidade. Ela levou giz de todas as cores e fez testes comigo para ver se havia alguma cor que me ajudava a ver melhor. E tinha. A professora Ângela passou o ano inteiro escrevendo a matéria com giz rosa na parte do quadro que ficava imediatamente diante da minha carteira e eu copiei do quadro o ano inteiro.

Isso encerra os highlights da minha vida escolar, até o segundo ano do ensino médio, no que diz respeito ao relacionamento com os professores e com o conteúdo das matérias. No próximo texto, quero finalmente tentar falar sobre os aspectos sociais que ocorriam em paralelo ao longo desse tempo.

“Eu espio com os meus olhos”. Parte II.

Meu problema de visão começou a causar transtornos na minha vida escolar no CA.

Na Classe de Alfabetização, começamos a ter que copiar coisas no quadro e foi aí que as coisas começaram a ficar difíceis para mim.

O que fazer com uma criança que não enxerga o quadro se a sua metodologia de ensino é quase inteiramente voltada para esse tipo de exposição do conteúdo? A solução da professora foi colar a minha carteira no quadro para que eu pudesse ver e copiar o que estava escrito. Essa solução falhava em dois pontos: em primeiro lugar, mesmo com a carteira colada no quadro eu só consegui enxergar o que estava escrito da metade do quadro para baixo. Lá no alto eu continuava sem conseguir enxergar. Pois bem, a professora escrevia apenas da metade do quadro para baixo. Em segundo lugar, eu só conseguia ver o que estava imediatamente na minha frente. Os quadros das escolas costumam ser grandinhos. Os professores dividem os quadros em duas ou três partes normalmente. Pois então, eu só conseguia ver a parte que estava imediatamente na minha frente. Esse problema tinha uma solução bastante tragicômica. Quando eu acabava de copiar uma parte do quadro, a professora arrastava a minha carteira e me colocava de frente para a próxima parte que eu deveria copiar.

Essa solução não foi viável por muito tempo. Na verdade, tinha um terceiro problema com ela: a segregação que eu comecei a experimentar por ficar tão exposta na frente das outras crianças.

Então, na primeira série, essa técnica foi abandonada (haja braço também da professora, ela nem me esperava levantar para arrastar a carteira).

Idas e vindas ao oftalmologista, certo dia um deles me receitou um monóculo. Uma espécie de binóculo, mas para um olho só. A ideia era que eu o usasse para copiar do quadro. Dois problemas surgiram novamente.

O primeiro problema foi o fato do monóculo ter feito o maior sucesso! Quando eu o tirava da bolsa todas as crianças queriam usá-lo. Eu, envaidecida e cega pela fama e a atenção, emprestava-o sempre. O negócio rodava a sala inteira e, quando voltava para mim, o quadro já tinha sido apagado. Mesmo quando a novidade passou, contudo, o monóculo causava alguns transtornos. O tempo que eu demorava para copiar com ele era muito maior do que o tempo que se leva normalmente para copiar do quadro. Era muito cansativo e pouco prático usar aquele negócio. Eu acabava perdendo a explicação porque ainda estava terminando de copiar; a professora mandava eu parar e copiar depois e não dava tempo, enfim. Ajudava, mas não era perfeito.

Na época do monóculo eu estava na segunda série. Nesse tempo, o problema de visão me causava ainda apenas transtornos sociais. As notas mesmo eram altas nessa época.

Foi na mudança da quinta série que o bicho começou a pegar.

Muitos professores, para começar. Cada um tinha uma postura diferente quando a minha deficiência visual.

Alguns cagavam, outros pegavam alguma criança e a obrigavam a sentar comigo e me ajudar a copiar a matéria, outros acreditavam que eu simplesmente não queria nada com a vida e não era deficiente porra nenhuma, era fresca mesmo.

Veja bem, isso é um problema bizarro que vem com o fato de você ter uma deficiência que não é aparente. Eu sou só um pouco estranha, eu aperto o olho quando estou olhando para alguma coisa. Só isso. Aminha deficiência é meio invisível. Então, muitas pessoas com quem cruzei ao longo da vida simplesmente não acreditavam que eu era deficiente.

Abandonando a cronologia por um momento, eu gostaria de dar alguns exemplos disso que acabei de dizer.

Certa vez uma professora, depois que eu saí da sala para o intervalo, fez o seguinte comentário: “Essa aí, eu aposto que se conversasse menos enxergava mais”. É o tipo de comentário que você faz quando acha que a outra pessoa está de palhaçada. Eu já estava no ensino médio quando isso aconteceu. Meus amigos me contaram o que a professora tinha dito e eu fui falar com a psicopedagoga sobre a situação. Foi ridículo o que aconteceu depois que eu reclamei.

A psicopedagoga foi na sala de aula fazer um discurso horroroso de que nós temos que ajudar os desfavorecidos, necessitados, sei lá. Que eu precisava da ajuda e da compreensão de todos.

Ok. O problema não é pedir ajuda. Ajuda é o que eu pedi a vida inteira. O problema é a posição de inferioridade e incapacidade na qual as pessoas colocam frequentemente os deficientes. Você sente que os outros estão com pena de você. E nem eu nem ninguém precisa desse tipo de sentimento. Qual foi o resultado? Por um dia eu fui tratada que nem uma rainha. Teve gente que fez duas cópias do quadro e entregou uma para mim e me explicaram a matéria timtim por timtim; todo mundo me chamando para sentar junto. No dia seguinte, tudo voltou ao normal e ninguém mais tinha disposição para me ajudar e eu continuava deficiente.

Teve uma outra ocasião que ficou bem marcante para mim. Aconteceu já na faculdade de psicologia. Um menino da minha turma veio falar comigo algumas vezes sobre o problema de visão, vamos chamá-lo de Solícito. Não sei se Solícito falava sério ou se estava zoando mesmo, mas Solícito me perguntava se eu fazia análise, pois o meu problema de visão poderia ser um sintoma histérico. Problemas psicológicos são reais e podem ser extremamente debilitantes, levando até mesmo à morte, mas eu dizia a Solícito que este não era o caso. Exames físicos demonstravam o problema e tal, expliquei tudinho a ele. Mas Solícito parecia querer insistir em dizer que eu não estava curada porque eu não tinha corrido atrás. Não havia feito o trabalho psicológico necessário. Numa outra ocasião, Solícito veio me falar para meditar. “Muitas pessoas encontram a cura na meditação”. Meditar com a intensão de aliviar o estresse, dormir melhor, ajuda mesmo. Pouco. Mas ajuda sim. A visão fica mais embaçada quando estamos estressados e cansados. Solícito não sabe que, às vezes, quando você quer ajudar uma pessoa, você tem que pedir licença e perguntar se a sua ajuda é bem-vinda. Ou melhor, você deve perguntar o que você pode fazer para ajudar o outro e fazer o que foi pedido se for algo possível para você no momento. Eu não tenho que ficar aturando alguém vir me dizer um milhão de coisas que eu tenho que fazer para me curar. Tinham outras coisas, algumas bastante estapafúrdias, que Solícito achava que eu deveria fazer. Como a vez em que ele ficou sabendo de um filósofo do século XVII chamado Hume que havia escrito um texto sobre a visão. Solícito veio me sugerir ler este texto, pois poderia ter alguma coisa de útil para mim ali, se eu não o lesse, poderia estar perdendo a oportunidade da cura.

Solícito e o da professora incomodam, pois são pessoas que tornam levianas as dificuldades que eu enfrento: é só falar menos, é só meditar. Não! Não é só nada. É foda. E já tem um milhão de coisas que eu faço para lidar com isso. Eu me cuido. Não preciso das pessoas ao redor assumindo coisas a respeito da minha condição e me dizendo o que devo fazer. Sou eu que estou “andando nesses sapatos” há anos.

Bom, como eu ia dizendo, lá atrás, na quinta série, já existiam essas figuras que achavam que eu estava mentindo. Esses professores brigavam comigo para que eu copiasse do quadro.

Eu com a caneta e o papel na mão, o quadro a dois metros de distância e, ainda assim, um abismo intransponível entre os meus olhos e as letrinhas embebidas em conhecimento que o professor escrevera no quadro. Ainda assim, uma voz alucinante dizia: pula! Vai! Está esperando o que? Quem você quer ser na vida desse jeito?

Esses eram os professores que chegaram a reabilitar aquela metodologia antiga do CA, lembra? Na quinta série eu voltei a ficar destaca do resto da turma, uma fileira à frente de onde as outras carteiras estavam posicionadas, tendo que me arrastar ao longo do quadro. No CA, eu ficava nessa posição do início ao fim do dia escolar. Na quinta série começou uma confusão só.

Quando o professor descrente saía de sala, entrava algum outro professor que me agrupava com alguma criança para que esta pudesse me ajudar. Na época, isso significava ver o caderno da criança depois que ela terminava de copiar. Sim, depois, porque, enquanto uma pessoa está copiando eu também não consigo ver. Para enxergar de livros ou cadernos, eu tenho que ficar com o rosto a uma distância de mais ou menos dez centímetros do papel. Ninguém conseguia copiar com a minha cabeça no meio do caminho.

Aí vinha o terceiro professor. Esse já não tolerava conversas. E eu conversava com a pessoa que estava me ajudando. Conversávamos sobre a matéria: “Olha, foi esse X aqui que o professor apontou. Agora ele está falando desse Y aqui. Ele trouxe aquele X para cá”. A criança que me ajudava também narrando a aula para mim e ia apontando no caderno para que eu acompanhasse.

Ninguém está dizendo que é santo aqui. Claro que eu conversava sobre a vida também, mas assim faziam todas as outras crianças. Bom, mas o professor que acabou de entrar em sala não gostava. Então, eu era separada novamente da amiga. E fico eu olhando para o teto pelos próximos cinquenta minutos.

Esse clima insano da quinta série me tirou dos eixos. Some a isso tudo que eu já descrevi o fato das matérias terem se complexificado, o que me levou à recuperação de umas três matérias, no mínimo, eu já não me lembro mais quantas exatamente.  

Eu comecei a considerar a escola um ambiente extremamente hostil. Olha que estamos ainda na quinta série e eu ainda não falei das consequências do problema de visão para a socialização com as outras crianças.

“Eu espio com os meus olhos”. Parte I.

“A capacidade que as pessoas possuem de transformar dinheiro em qualidade de vida é bastante variável.”
Me surpreendi quando li essa afirmação, outro dia, no texto do economista, vencedor do prêmio Nobel em 1988, Amartya Sen.
Parei para refletir sobre a minha própria condição. Não foi surpreendente quando, algumas páginas depois, Amartya Sen afirmou que os deficientes estão entre as pessoas que possuem maior dificuldade em realizar esta conversão.
Quando você não tem dinheiro, não tem como converter dinheiro em qualidade de vida. Óbvio. E isso é uma merda, todos concordamos.
A questão é que quando você tem dinheiro, mas possui algum tipo de deficiência, pode não ser tão fácil assim converter qualquer quantia que seja em qualidade de vida. Lembra d’Os Intocáveis? Mais ou menos isso: cara podre de rico, mas miserável. O dinheiro dele não garantia uma vida boa.
Digo eu, com argumento de autoridade, enquanto deficiente visual, habitando o Rio de Janeiro.
Tem muitas coisas que eu gostaria de compartilhar a respeito das minhas experiências com o meu problema de visão que eu vou desmembrar em alguns textos.
Começarei hoje pelas apresentações: minha deficiência visual nem é das piores. Eu tenho uma má formação no nervo ótico. Mais especificamente, uma desmielinização do nervo ótico. Isso quer dizer que eu tenho falhas na bainha de mielina que reveste este nervo. Isso faz com que o impulso elétrico se dissipe ao longo do percurso até o cérebro, o que torna a minha visão deficiente. Esta má formação é bilateral, quer dizer que afeta os dois olhos. Esse é um problema congênito e estável – eu nasci com ele e não vai piorar nem melhorar. Além disso, estou com um pouquinho mais de sete graus de miopia em cada vista e tem um astigmatismozinho aí também. Então, eu uso óculos, por causa da miopia, mas eu não consigo me adaptar porque o óculos briga com o problema no nervo ótico.
Pensa assim: imagina que você tem um canudo cheio de furinhos. Dá até para beber, mas vem muito pouco líquido. Aí você começa a chupar com força. Beleza, vem mais líquido. Mas em dois minutos você está exausto. Eu uso óculos e melhora um pouco. Não o suficiente para aturar a dor de cabeça que sinto ao usá-lo por muito tempo.
Tenho 20% da visão com a correção máxima, isto é, com o óculos. No dia a dia, não faz muita diferença a qualidade de visão que ele me proporciona.
O nome é visão sud-normal, você pode falar baixa visão que dá no mesmo.
Perspectiva de cura? Cirurgia com célula tronco com o objetivo de reconstruir a bainha de mielina. Ainda não existe previsão para que este tipo de cirurgia esteja disponível como tratamento viável e acessível.
Adaptação? Estou eu aqui, não estou?
Mas… quando eu digo para vocês que eu brincava de inventar figuras em provas de matemática (veja aqui), não era simplesmente porque eu era uma aluna “relaxada” (o que também não seria mal algum, vamos problematizar esse ideia aí depois. Mas o caso é que se uma criança gosta de estudar isso é um mero acaso, não é a escola que incentiva essa postura). O fato é que eu nunca consegui enxergar o quadro. Isso tornava matemática uma matéria especialmente complicada. Matérias exatas de um modo geral, na verdade, e biologia também, pois os professores usavam demais o quadro.
Cara, se a escola já é insuportável quando você consegue, estando a fim, aprender alguma coisa, acompanhar a aula, imagina ficar horas e horas morrendo de sono, sem poder falar com seu amigo, que está do seu lado, olhando o professor apontar coisas no quadro, sendo que você não consegue nem ver que tem alguma coisa escrita no quadro. Imaginou? Agora imagine-se fazendo isso durante doze anos. Foi foda. Tirando os inúmeros babados que rolavam…

Mutirão do Sintoma.

Qual é a dificuldade que seus amigos estão vivenciando? E você? O que tem te incomodado ultimamente? Será que vocês podem se ajudar de alguma maneira?

Outro dia, na casa de um amigo, surgiu a brilhante ideia do Mutirão do Sintoma.

A ideia é reunir um grupo de amigos que vão se apoiar mutuamente na resolução imediata de algum problema.

Todo mundo tem aquele e-mail que está evitando mandar, ou precisa enviar currículos e fazer cadastros em sites de procura de emprego. Talvez você esteja precisando fazer alguma ligação que vem adiando. Pode ser uma pequena mágoa que você guardou de um amigo que você precisa desabafar, mas está sem coragem para fazer isso.

Estes são pequenos problemas do dia a dia, a princípio de fácil resolução, que colaboram para tirar a nossa paz. São “pequenas poeirinhas” que podem ser varridas para fora da sua vida, te dando mais tranquilidade e uma visão mais clara dos problemas mais complicados com os quais você está lidando.

O chato desses problemas-poeira é que eles embaçam a visão, tornam a nossa vida mais confusa e bagunçada, de modo que ficamos sem saber por onde começar a resolver nossos problemas mais complexos.

Reúna os amigos em um dia tranquilo, prepare comida e bebida. Quando estiverem reunidos, façam um brainstorm dos problemas simples do dia a dia que vocês estão tendo dificuldade para resolver sozinhos (cada um isolado na sua própria casa) e se apoiem para que vocês possam resolver esses problemas ali mesmo, conjuntamente. Redijam o e-mail pendente juntos, façam as ligações pendentes na presença dos amigos para que eles possam te abraçar assim que você desligar o telefone. Enfim, o que der para vocês resolverem juntos resolvam!

Tire as coisas simples do caminho. E conte com os amigos para isso.

Síndrome do Impostor.

Vem cá e pensa comigo: críticas dos professores, comentários familiares destrutivos, os foras que levávamos dos amigos. O que sobra da nossa autoconfiança depois desse massacre?

Algumas pessoas aprendem bem demais essa lição de que são erradas de alguma maneira, de que deveriam ser melhores do que são, de que não são merecedoras. Essas pessoas podem vir a sofrer da Síndrome do Impostor.

Trata-se de uma síndrome psicológica que os especialistas dizem atingir pessoas que obtiveram sucesso na vida. É muito comum em pós-graduandos e em mulheres que ocupam altos postos em seus locais de trabalho.

A síndrome é caracterizada pela crença de que as vitórias alcançadas foram fruto da sorte ou do mero acaso e de que, em algum momento, a pessoa será desmascarada e todos verão que ela era uma farsa desde o início e jamais deveria ter chegado no lugar em que chegou.

Ficamos sempre preocupados antes de uma avaliação antecipando fracasso, nas apresentações que fazemos pedimos cinco mil desculpas por esquecermos algo ou estarmos falando mal, mas é que… hm… é… Estamos muito nervosos. Quando nossos amigos nos elogiam afirmamos que tivemos sorte, se for nosso companheiro a nos elogiar ficamos com vergonha e abaixamos a cabeça, se for o chefe/orientador… Bom, seu chefe/orientador nem vai te elogiar, não é? Você não merece. Não estudou o suficiente, não cumpriu com todas as obrigações do modo que deveria.

Se você fracassar… aí é outra história. Afinal, o seu fracasso já estava há muito anunciado, não é verdade? Espantoso o fato de ter demorado tanto tempo para que você fosse desmascarada!

“Sinto que vou fracassar a todo momento. Se escapei de fracassar algumas vezes foi por mero acaso. Se me dei efetivamente bem em outras ocasiões, tive sorte. Se fracassei, tive o que mereci”.

Para tentar lidar com essa insegurança o medo constante de ser descoberto; a culpa por estar fazendo uma “autopropaganda enganosa”; iludindo as pessoas, fingindo que é inteligente quando, na verdade, você é burro; recorre-se às mais diversas estratégias.

Durante algum tempo é possível nos esforçamos tanto, tanto! Até não aguentarmos mais, para ter uma chance mínima de não passar vergonha em uma avaliação qualquer de nossas capacidades intelectuais. Em outro momento, procrastinamos. Empurramos tudo com a barriga até não dar mais. Pelo menos assim, se fracassarmos, sabemos que não demos o nosso melhor. Autossabotagem: melhor amiga. Melhor forma de nos protegermos de ir atrás do que desejamos já confiantes de que vai dar tudo errado. Uma oportunidade para uma autodepreciaçãozinha leve também não deixamos passar.

Mas em uma coisa temos que nos obrigar a ter confiança: é possível vencer esta síndrome. E quando eu descobrir como eu te conto!

Brincadeira.

Eu estou lutando com a síndrome e vou compartilhando com vocês as minhas experiências!

 

Improvisação.

Cara, eu não faço a mínima ideia a respeito do que escrever hoje.

Há dias em que tudo falha. Todas as suas estratégias e planos bem pensados e pesquisados e fundamentado… Nada disso funciona e tudo parece desabar.

Chega a hora de improvisar.

Uma voz lá no fundo da minha cabeça fala: “Não está ok improvisar o tempo inteiro”! Concordo.

Mas que fique claro que não me refiro ao improviso como um modo relapso de lidar com as obrigações.

Estou há dois dias pensando no que escrever hoje, no dia 31 de outubro de 2017, e nada me vem à cabeça. Queria escrever alguma coisa sobre Halloween. Mas a história que me veio á cabeça é meio dramática e eu não quero estragar a festa de vocês, portanto o que me resta é escrever sobre a dificuldade de escrever.

Estou surpresa que isso tenha demorado tanto a acontecer. E a minha perspectiva é a de que isso ainda aconteça muitas vezes no futuro.

Então, me resta improvisar usando todas as minhas magníficas habilidades de escrita e as minhas experiências de vida. Vamos ver no que vai dar.

Até porque essa sensação não é nova para mim.

Me lembro como se fosse ontem das incontáveis vezes que eu cheguei na escola com mochila, cadernos e apostilas e encontrei meus amigos apenas com a caneta na mão, pois havíamos adentrado a semana de provas e eu, como de costume, não sabia disso.

Quando eu estava no Colégio GPI, onde estudei todo o meu ensino médio, meus amigos sempre me zoavam quando eu chegava com o material todo na semana de provas. Eles já sabiam que eu estava completamente desinformada. Veja bem, na semana de provas, só tinha a prova mesmo, que fosse uma ou duas, e acabou. Dpois de fazer a prova a gente era liberado. A galera só levava a caneta.

Chegava eu, segunda feira pela manhã no colégio, desavisada. O que eu fazia na prova? Improvisava. Aí, ao longo da semana, eu ia tirando o atraso dos estudos.

Sentava na carteira, olhava para a prova e utilizava todo o meu charme literário e o que tinha ficado das aulas para tentar conquistar uns décimos aqui, um pontinho ali; e, é claro, contava também com um pouco de sorte nas questões de múltipla escolha.

(Até nas provas de matemática, eu descrevia literariamente o meu raciocínio sobre os problemas e as minhas soluções, com medo do professor não entender o primor super elaborado que era o cálculo que eu fazia. As provas de geometria eram as mais loucas, eu já gostava de desenhar, eu criava figuras em cima da figura que vinha na prova e ia intuindo valores para os ângulos, chegando assim, à resposta da questão de um jeito mirabolante que eu tinha que explicar com palavras. Muitas vezes, eu deixava mais de uma alternativa de resposta – uma delas estrategicamente riscada – para tentar confundir o professor. Bons tempos. Nas minhas provas de matemática, uma imagem não era equivalente a mil palavras; pelo contrário, eram necessárias mil palavras para explicar as imagens que eu desenhava).

Minha nossa! Chegava a ser divertido fazer prova. Eu dava asas à minha imaginação.

Minha improvisação, naquela época, não era muito bem fundamentada.

Você já deve ter concluído que, todos os anos, eu ia parar na recuperação.

Eu só virei CDF na universidade. (até hoje eu não tenho certeza do que significa esta sigla, mas… como estamos falando em escola… não pude deixar de lembrar dela).

Minha iluminação foi no terceiro ano do ensino médio. Imagine eu, uma adolescente de dezesseis anos fazendo canto e dança, gostando de ler e escrever. Eu nunca tinha parado par apensar em profissões. Sabe aquelas crianças que falam desde novas: “Quero ser médica!”, “Quero ser veterinária!”. Eu não me lembro de ter tido esse tipo de desejo quando. Eu via muito anime, então, quando alguém perguntava para mim, quando eu tinha dez anos de idade, o que eu queria ser quando eu crescesse eu respondia: “Quero ser andarilha no Japão” (até hoje eu amo Samurai X). E eu levava esse sonho muito a sério. Eu fiz curso de japonês dos dez aos quinze anos e fiz Kung Fu também (embora por bem menos tempo, pois a minha mãe ficava apavorada comigo, pequena e deficiente visual, na aula com todas aquelas outras pessoas enormes que me batiam na hora de lutar em duplas no final).

Eu sempre tive uns sonhos assim meio aleatórios e nunca tinha considerado a sério uma carreira.

Quando eu optei por psicologia, foi muito por influência de pessoas ao meu redor. Eu dizia que queria entender o ser humano e a galera me orientou: “Vai fazer psicologia, então”. Ok.

Nunca me arrependi dessa decisão. Amo a psicologia, mas eu demorei a perceber que ela ia ter que conviver com o amor pela escrita. Não é a pior combinação. Psicologia e escrita andam bem juntas.

De qualquer modo, era necessário passar no vestibular.

No meio do ano, quando eu me decidi pela psicologia, ou seja, quando eu estabeleci um objetivo, eu mergulhei de cabeça. Estava no GPI, tinha aula até domingo do pré-vestibular.

Me lembro de chegar na escola um certo dia e dizer aos meus amigos que eu havia decidido passar na UFRJ. É uma história foda hoje em dia porque deu certo, não é mesmo? Decidi, me dediquei e passei. Ah… que alívio.

Na faculdade eu fui ganha para o mundo intelectual acadêmico e deu no que deu: não consegui sair deste universo até hoje e me faltam ainda mais três anos de doutorado. Vida que segue. Enfim…

Hoje em dia eu ainda improviso. A diferença é que eu me forço a ser muito segura das minhas capacidades intelectuais, coisa que a escola não ajudou a construir (tendo mesmo deixado uma insegurança profunda que se transformou atualmente na Síndrome do Impostor que me aflige. É por isso, e é possível que você tenha estranhado quando eu escrevi, que eu tenho que me forçar a ser segura quanto a minha capacidade intelectual. Autoconfiança intelectual é uma característica que a educação nem de longe estimula e, se bobear, destrói).

Bom, neste novo cenário, improvisar passa a significar adaptar o conhecimento que eu possuo a uma situação inesperada.

Para você ver como isso rende… Um improviso que parte de algum lugar. Gostei dos lugares aos quais eu fui levada por estes devaneios. Acho, inclusive, que podemos ficar por aqui, pois já consegui escrever um bom texto para a postagem de hoje.

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