Voyeur

Hoje é dia de um post muito especial. Post escrito pelo meu amado marido. Delicie-se! 

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Estava lá mais uma vez, o suor escorrendo pelo pescoço; mais um dia quente. Mesmo depois de tantos anos, não conseguia abandonar aquela sensação de primeira vez. O coração batendo mais forte, a boca seca, as mãos inquietas… a euforia. O sentimento estranho de querer ir embora e querer continuar ali ao mesmo tempo, como que se não se sentisse assim, nem valia a pena fazer.
Antes achava aquilo íntimo demais, perigoso demais; mas já se sentia atraído pela coisa e depois que começou, simplesmente não parou mais. Não era como se estivesse fazendo algo errado. Se as pessoas não o quisessem ali observando, escutando, simplesmente não apareceriam para continuar fazendo aquilo, não é verdade?
Passou um tempo, a pessoa que ali estava terminou o que tinha ido fazer e saiu. Estava ansioso pela próxima. Era sempre a mesma coisa. Chegavam com vergonha, meio acanhados, mas era só esperar um pouco e já se soltavam.
O próximo indivíduo entrou, murmurou alguma coisa e ele respondeu:

– Diga, meu filho, quais são os seus pecados?

Banheiro térreo do prédio da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eu estava matando aula no teatro de arena. Cochilei e acordei com vontade de fazer xixi. Rodei um pouco pelo magnífico casarão que comporta a Escola de Comunicação da UFRJ e achei um banheiro razoável. Sem sabão, sem papel, mas limpo e eu tinha lencinhos na bolsa. Entrei no box do banheiro, fechei a porta, abaixei a calça e a calcinha até a altura do tornozelo. Inclinei um pouco o quadril para trás e fiquei olhando pelo meio das pernas para ter certeza de que o xixi ia cair no lugar certo e porque acho difícil mirar as cegas. Quando não olho, ou o xixi acaba escorrendo pelas pernas ou ele bate na tampa do vaso e acaba respingando nojentamrnte em mim.

Quando deu cinco horas encontrei meu ex-namorado no pátio. Ficamos jogando conversa fora até que eu mencionei o tal banheiro, apenas por alto, pois queria falar de uma lanchonete que tinha ali perto. Mas à menção do banheiro ele se contorceu. Seu rosto se alongou e os lábios se viraram para baixo ele ficou vermelho e seus dentes se afilaram enquanto ele gritava que eu era uma puta! Eu era louca e não o respeitava. Comecei a sacudir a cabeça para os lados em negação daquelas acusações. Eu não sabia do que se tratava ainda, mas primeiro eu negava, sempre negava e pedia perdão. “Não! Pelo amor de Deus! Por que você está falando isso? Eu não fiz nada! Pelo amor de Deus me perdoa! Do que você está falando? Depois da habitual humilhação pre-explicação ele me disse que aquele banheiro era devassado. De um certo ponto do corredor em oposição ao banheiro do outro lado de um jardim para o qual se abria a janela do mesmo, era possível ver dentro das três cabines. Meu coração disparou. Que argumento usarei para combater uma acusação de um crime que foi o de, inadvertidamente, abaixar as calças e a calcinha até o tornozelo e olhar no meio das pernas para direcionar o xixi, dentro do box de um banheiro, que poderia estar sendo observado por um voyeur posicionado a uns 30 metros de distância?

Glúten e o pessimismo.

O ser humano é uma merda de uma máquina mesmo. Eu durmo melhor e, como consequência, eu penso melhor. Percebo que melhoro minha alimentação e começo a me sentir mais feliz e menos mal-humorada. Quando faço exercícios físicos chego até a pensar em para de fumar! Me vejo reduzida a intrincados e cruéis mecanismos. De mim foi roubada toda esperança de vida eterna. Quando durmo, me sinto morta. Só não digo que o sono é a própria morte porque sei que o sono tem um pouco mais de vida do que a morte. No sono há ainda atividade cerebral considerável. Espero do meu futuro o destino que teve minha geladeira no verão passado, quando percebi que ela já não estava mais gelando. Alguém a retirou para desmonte. Mas na verdade sou menos do que a geladeira também. Pois ela pode ser desmontada e participar da composição de uma peça irmã. Dizem que toda energia se preserva e se transforma depois da morte. Mas eu não vou virar outro ser humano; vou virar capim. Capim de cemitério. Que coisa besta. A vida é toda besta. Quando eu como mais eu amo mais e eu me sinto mais amada. Quando eu não durmo fico puta e afasto todos ao meu redor. Só falta descobrir que é algo do que eu estou comendo que causa tanto pessimismo… Vou cortar o glúten e ver o que acontece.

“50 Tons”.

Assisti, na semana passada, ao segundo filme da trilogia no cinema. Assisti ao primeiro filme no cinema também. Não li os livros. O segundo filme, assim como o primeiro, foi ruim. Quando expressei esta opinião para uma conhecida ela logo tentou me animar, afirmando que ela havia lido os livros e que, no final, a mocinha “conserta” o rapaz. Mas, na verdade, do rapaz, do tal do sádico, eu não tenho muito o que reclamar. Especialmente levando em consideração apenas o primeiro filme.

A começar por aquele quarto que, convenhamos, é um sonho para qualquer um que curte BDSM. E, pelo menos pelo que o filme dá a entender, o contrato que o sádico apresenta à futura submissa para que ela deixe claro o que permite ou não que seja feito com seu corpo parece bem detalhado. Não pareceu, de fato, que ele a obrigou a nada. O que torna as coisas verdadeiramente complicadas é o background de criança sofrida para explicar a CAUSA do sadismo. No segundo filme esse background se torna ainda mais assustador e problemático. Descobrimos que Grey vivenciou uma série de coisas horríveis no quando era criança (horríveis mesmo) e, por isso, tem o desejo de punir mulheres que se pareçam com sua mãe. Isso tudo passa uma imagem extremamente negativa do BDSM que, quando praticada entre dois adultos consensualmente, pode ser muito sensual e extremamente prazeroso. No filme, os adeptos da prática aparecem como pedófilos (a mulher que o “ensinou a transar) e/ou com um histórico de abuso, agressão e abandono.

Por outro lado, temos a submissa. Que, antes de mais nada, eu gostaria de observar, parece começar a curtir um BDSM softcore no segundo filme. E, é claro, tem como missão de vida ensinar o multi mi, bi ou trilhonário (não sei) a amar. Ok. Estou entendendo então que: 1) de leve o tapa não dói; 2) o propósito da vida daquela mulher era resgatar a pobre alma de um homem sofrido. Sobre a primeira conclusão: a princípio a crítica era moral! Não se tratava da quantidade de violência empregada, mas do próprio fato da necessidade de uma tal prática existir. Parece que a mulher faz ali algum tipo de concessão que é incoerente com a imagem que o filme apresenta do BDSM. Forte não pode, mas de leve tudo bem? Esse é um retrato irresponsável da prática sadomasoquista. A segunda conclusão eu nem preciso comentar, não é? Já vimos essa história trocentas vezes. Por trás de todo grande homem há uma mulher que o ama e que recarrega suas energias.

Mas você acredita que nem era isso que eu queria dizer inicialmente sobre o filme? Meu ponto com esse texto é, simplesmente: esse é um filme de audiência majoritariamente feminina, certo? Então por que diabos eu vi mais o peito da mulher do que a bunda do cara????????? Saí do cinema perplexa.

Por que mudei o nome do meu blog.

“Afinal, a vida parece ser um teatro… Ensaiamos scripts em nossa mente, nos aborrecemos se algo não sai de acordo com o planejado. Há espaço para improvisações, mas é necessária experiência para que elas se adequem à cena. Há sempre uma multidão assistindo, mas no palco nos sentimos sempre sozinhos. Torcemos para que todos os atores tenham decorado suas falas. Depois de tudo, voltamos para casa, mas o cheiro do palco e do ar exalado pelos expectadores não saiu do nosso corpo ainda. Nem depois do banho ele vai embora. Sentimos que a atuação ainda não acabou. E nos damos conta de que foi só mais um dia qualquer da nossa vida. Não deixamos o palco nem subimos nele, mas a sensação continua. Será?”

A descrição acima era a antiga descrição do blog – de quando ele se chamava TeatroOnline. Ela descreve o sentimento com o qual inaugurei o blog. E, desde então, não apostei muito no meu sonho de virar escritora. Acho que estava um pouco mais desiludida com o rumo academicista que a minha vida havia tomado e acreditava que não podia fazer nada além de ler Kant e comentar (oficialmente: por meio de artigos, dissertação de mestrado, tese de doutorado etc.) as coisas (muitas vezes absurdas) que ele escreveu.

Fui tomada por uma recente onda de otimismo (que, não se iludam, veio com muito trabalho de autocoaching), que me levou a decidir investir no blog verdadeiramente.

Meu objetivo, repaginando o blog, é torná-lo mais alinhado com os meus objetivos com a escrita. E quais são esses objetivos? Escrever experiências, resenhas, contos e algumas bobagens ocasionais para leitores ocasionais, fiéis, amigos, inimigos… Por isso a mudança do nome e a minha promessa de postar pelo menos com um pouquinho mais de frequência. Além, é claro, de superar a autocrítica e aprender a “largar o verbo”.