Minha primeira aquarela (decente). 

Desde que voltei a escrever tenho sentido uma forte inclinação para diversas áreas artísticas. Tenho feito dança, estou com muita vontade de fazer teatro e tenho me aventurado na pintura com aquarela.
Escrevi um texto recentemente sobre uma pintura que eu gostaria de ter tido habilidade para realizar. Todas as pinturas que eu fiz nesses últimos tempos, infelizmente, me deixaram frustrada.
Com a caneta na mão eu me sinto livre. O pintor se sente livre com o pincel, imagino. Eu com o pincel na mão me sinto uma prisioneira.
Tenho uma imagem na cabeça, uma idéia, mas lá ela fica enclausurada, o pincel e as tintas não me deixam expressá-la.
Ontem, contudo, eu tive o primeiro sentimento de realização com a pintura. Fiz numa oficina com a artista Martha Guevara, a experiência foi maravilhosa!
Ela nos trouxe a proposta de um tema: liberdade. Perguntou o que cada um dos participantes pensava sobre a liberdade, que imagem representava este conceito. As respostas variaram: eu já sou livre, voar, vento, para mim, é andar à cavalo em um campo aberto.
Então, ela pediu que fizéssemos um desenho a partir do que tínhamos conversado. Nossa, meu estômago embrulhou pensando no desastre que seria o meu desenho de um cavalo.
Mas encontrei uma solução recorrendo a técnicas de escrita (que vale também para o cinema e a fotografia) que aprendi nos últimos tempos.
Eis o meu desenho:

A técnica diz respeito ao destaque que o escritor, diretor ou fotógrafo quer dar a um determinado objeto, para onde está voltado o olhar dele e para onde ele quer direcionar o olhar do leitor.

Se eu desenhasse o cavalo, bem aparente, com mais detalhes, no centro do meu desenho, que foi a primeira coisa que me ocorreu, você olharia para o cavalo. O que eu fiz foi simplesmente direcionar a sua atenção para outro ponto da cena. Eu quis te mostrar o cabelo rosa da menina que cavalga voando com o vento em contraste com o céu azul e a xuxinha amarela que o prende. Assim, eu te falo mais alguma coisa da liberdade dessa menina. Ora, ela tem o cabelo rosa. Não é pouca coisa. E, nesse cabelo rosa, ela coloca uma xuxinha amarela, o que chama bastante atenção. Se eu fosse abrindo a cena, você veria o cavalo. Se eu desse para você a cena como um todo, esses detalhes ficariam todos brigando entre si pela atenção do apreciador da obra, alguma coisa importante do que eu quero dizer talvez passasse despercebida.

Bom, mesmo que eu não execute isso tão bem na pintura, fica a dica em relação à narrativa. Quando você for descrever uma cena, é você que orienta o olhar do leitor, você tem que saber o que você quer que ele veja na cena que você está decrevendo.

Ou isso sou só eu racionalizando a minha incapacidade de pintar.  

Pequeno manifesto pela arte independente.

Hoje foi dia de aquarela, escrita criativa, teatro, comida boa e bonita e muita literatura.

Ser um artista independente não é fácil. Ser um artista independente e um empreendedor é mais complicado ainda. Dominar a arte criativa e a arte burocrática da administração de uma empresa de sucesso é para poucos. Certamente é o caso da idealizadora da Sonhos de Bolso, Natalia Ávila

Eu estou feliz por ser uma modesta parte deste projeto e posso dizer que tudo é feito com muito amor e muita garra. Meter as caras e fazer o projeto acontecer exige esforço e dedicação.

Eu participo do projeto ministrando, junto com a Natalia, a oficina “Alquimia da Palavra”.

Nesta oficina, debatemos os elementos fundamentais da escrita e técnicas de criação de narrativas e personagens. Tudo num mix de teoria e prática.

Este texto não é só de propaganda, não. Se acalme. Eu sei que propaganda costuma deixar a gente irritado. Apesar de vivermos num sistema capitalista; sim, quem dera o artista se alimentasse da sua arte não só emocional e espiritualmente, mas também fisicamente. Por enquanto, não tem jeito. Se você se enfurece com isso, lute pelo fim do sistema no qual vivemos e não contra o cara que quer te vender o que produz de coração.

Nossa, meu pensamento foi longe.

Sabe aquele rapaz que vende poesia na porta do CCBB? Falo assim, com essa intimidade, porque ele sempre está lá. Antes eu também não comprava os textos dele, não. Hoje em dia, eu entendo e vejo o valor nesse tipo de iniciativa.

A gente pode até reclamar dos preços dos livros que estão lá nas estantes das grandes livrarias, mas acabam sendo eles que a gente compra. A gente tem muita dificuldade em valorizar o que está próximo de nós. Preferimos os autores que não conhecemos, os artistas inacessíveis que acenam para nós da varanda do Copacabana Palace.

Isso não quer dizer que você tem que engolir tudo que a arte independente produz. Você aprecia o que fizer sentido para você. Se o cara não for bom para você, esquece. O problema é que a gente tem um certo preconceito em validar a arte de alguém desconhecido, que não tem já uma fama consolidada. A gente precisa da validação do capital – traduzido na fama ou na chancela de alguém que tem poder – para poder dizer que gosta também daquele produto.

Eu gosto da tal “inclusão digital” enquanto muitos a odeiam.

Aí a galera reclama que tem muita besteira na internet porque todo mundo faz o que quer. Faz mesmo! E que bom. Sem a internet, antes da internet, se você parar para pensar, você vai perceber, tinha muita coisa ruim também e as pessoas também faziam o que queriam. Mas… O grupo de pessoas que faziam coisas ruins e produziam o que queriam era muito seleto, porque até para isso, era necessário status e dinheiro. Hoje em dia, mesmo que você não tenha status ou dinheiro, você pode fazer o que você quer.

Pense comigo: Na Idade Média, tinha muita gente ruim fazendo um monte de merda, estas pessoas eram os homens da nobreza ou do clero. Na Antiguidade tinha um monte de gente ruim fazendo merda, eram os cidadãos romanos (homens, nascidos em Roma, que eram pais de família). Atualmente essas pessoas que possuem status, dinheiro ou fama, ainda estão por aí fazendo merda: atores famosos, deputados, presidentes, senadores. A diferença é que agora eles são obrigados a dividir o palco comigo, com o seu vizinho e por aí vai.

A produção da merda é generalizada. Não importa que seja merda, tudo que se torna mais democrático é positivo (vou arriscar essa frase agora e vou pensar mais sobre isso depois).

Ah, seria bom se não fizessem tanta merda por aí; conteúdo merda, comentário merda. Concordo plenamente. Mas é melhor que todos possam falar do que a existência de um monopólio dos locais de fala.

A discussão da Terra plana, por exemplo. Que merda! Mas, de boa, como que você foi convencido de que a Terra não é plana? Você já circulou ao redor do globo? Foi ao espaço? A gente é educado para acreditar nas “fontes confiáveis”. E é bom que isso exista. As fontes confiáveis conferem estabilidade à nossa vida. Mas se você procurar no google formas de provar que a Terra é plana, pode ser que você se surpreenda. Eu me surpreendi muito quando eu percebi que eu nunca tinha me perguntado isso antes. Foi ouvir na escola: “A Terra é redonda”, que eu anotei e nunca mais pensei nisso. Essa história toda é ainda mais absurda se você considerar que, alguns anos depois, eu ouvi, na mesma escola, que a Terra não era redonda! Ela é meio oval, sei lá. Mano, que viagem. Eu precisei da galera da Terra plana para perceber a bizarrice dessa situação. A própria escola te oferece duas versões diferentes da mesma história, mas, como a escola monopoliza a nossa educação, a gente aceita e vai embora. Aí vem a internet, com a galera falando merda por aí, e você questiona verdades elementares da sua existência. Então, eu não acredito que a Terra seja plana, eu acredito que ela seja elíptica, mas eu acredito nisso com muito mais propriedade do que antes e um senso crítico muito maior.  

Se você tem contato com um mar de opiniões diferentes, ainda que elas sejam de baixa qualidade, você, pelo menos, está sendo confrontado com a diferença e isso move as pessoas, os sentimentos, põe a cabeça para funcionar. Quando você tem uma voz consistente e poderosa te dizendo alguma coisa, é mais difícil discordar. Imagina se por um mero acaso histórico, a do Bolsonaro fosse a única voz? Todo movimento revolucionário e progressivo dependeu de uma emergência de diferentes vozes.

Na internet essa pluralidade se faz cada vez mais presente.

O que me ajuda a não ficar irritada quando eu vejo uma besteira na internet é precisamente essa perspectiva que adotei para pensar sobre o fenômeno. Se tem tanta gente fazendo bobagem por aí, cabe a nós refletir e tentar entender o que isso significa, rever e fortalecer a nossa voz singular, tentar encontrar o que nos agrada mais, o que tem mais afinidade com os nossos valores e percepções, no lugar de tentar, tiranicamente, fazer as pessoas se calarem e continuarem ouvindo as mesmas vozes chanceladas por um poder que escapa completamente das nossas mãos.

E se você ficar irritado além da conta com alguma bobagem da internet, ainda tem duas ferramentas maravilhosa que são “compartilhar + escrever publicação”. Ou seja, vocêzinho também pode falar merda na internet! Porque, pasme você, mas, enquanto você acha que tudo que você fala é pérola, tem gente que acha que você só fala merda. Acredita nisso?!

Retomo então a história do cara que ficava na frente do CCBB. Quando eu comecei a me dar conta de que as pessoas compram e, às vezes, leem um best seller caro de livraria só porque algum funcionário colocou o tal livro numa prateleira com uma placa que dizia que aquele era um best seller mundial – sem que você conheça o autor ou do que trata o livro – mas apenas pelo puro e simples poder daquela plaquinha, e nem cogitam gastar dois reais para conhecer a literatura do cara do CCBB, eu me dei conta de que tinha alguma coisa muito triste e equivocada. E eu fazia a mesma coisa, confiando na chancela da notoriedade. É coisa de você se pegar pensando: “Lá vem esse cara encher o saco, vou ali dentro na livraria para escapar dele, aproveito e compro a Trilogia Tebana”. Esse é um pensamento estúpido e sem sentido. Não estou falando contra os best sellers, sou vítima de alguns, nem contra os clássicos, estou apenas tentando falar a favor de quem não se enquadra nem em uma nem em outra categoria.

Novamente: se não tem qualidade para você, não absorva essa arte. Não vai te fazer bem. Mas abra sua mente para sofrer desgosto dos artistas independentes e não só dos famosos, você pode acabar se maravilhando com esse universo. A arte independente está em todos os mercados e nichos, você vai achar algo para encher os olhos e se refestelar. Exemplos de nichos onde você encontra produção independente: cerveja, comida doce e salgada, roupa, literatura, pintura, decoração, fotografia e muito mais. É um universo infinito.

E não se engane, tem muita gente foda por aí que vai morrer pobre e sem casa própria.

 

“Eu espio com os meus olhos”. Parte VI.

Me formei. Hora de atacar o mercado de trabalho. Bom, eu fui trabalhar com clínica particular e com docência.

Na clínica, meu problema de visão nunca foi um grande problema. Eu fico a pouca distância do paciente, portanto, consigo enxergá-lo suficientemente bem.

Eu já percebi que ver o rosto do outro com clareza faz diferença em algumas situações sim. Por exemplo, eu não tenho nenhum problema de audição, mas quando pergunto para o motorista do ônibus, por exemplo, se aquele ônibus passa em tal lugar, eu nunca entendo a resposta, mas o meu marido sim. A minha hipótese é que as pessoas normalmente fazem meio que uma leitura labial inconsciente que colabora para que se entenda o que o outro está falando em locais barulhentos ou quando estão falando baixo. Como eu não enxergo o movimento da boca, acabo tendo dificuldade para ouvir o que as outras pessoas falam em certas situações.

Esse, ainda bem, não é o caso no consultório, pois é um lugar silencioso. Além disso, eu já estou adaptada ao meu problema de visão. Eu não consigo ver o branco dos olhos do cliente, mas a minha percepção de alterações no rosto dele me fazem perceber que ele mudou o direcionamento do olhar. Pequenas habilidades adaptativas que são desenvolvidas para lidar com o dia a dia. Esta é mais uma das razões pelas quais os médicos não indicam a cirurgia para a miopia no meu caso. Eu já estou há 27 anos nesse processo adaptativo. A cirurgia não me daria uma melhora tão significativa, mas seria o suficiente para invalidar todas as estratégias que eu desenvolvi até hoje para lidar com a deficiência visual!

No meu trabalho em consultório, acredito que o único momento em que meus clientes percebem que eu tenho algum problema de visão é quando eu tenho que preencher e assinar recibos na frente deles. Como isso ocorre com pouca frequência, eu não me dou ao trabalho de ficar explicando o problema.

Dando aula o buraco é mais embaixo. Não faço grandes cerimônias para explicar o problema, mas sempre tem aquele aluno que começa a falar do nada, sem levantar a mão. Nesses casos, eu tenho duas alternativas: quando eu não estou a fim de falar sobre a minha visão, eu faço uma cara de concentrada e fico olhando para baixo, quando eu estou disposta, eu brinco. “Quem está falando aí? Levanta a mão porque – mais alto! -; isso… agora sim estou te vendo”. Os alunos, às vezes, comentam que eu estou precisando trocar os óculos e eu respondo: “Menina, quem tem tempo para isso? É mais prático e mais barato se vocês levantarem a mão!”

Recentemente eu comecei um treinamento para dar aulas em um lugar novo (ano que vem vai ter post sobre isso!) e, nesses casos, sempre bate a dúvida: faço o discurso da lamentação – ah… eu tenho um problema de visão assim e sei lá mais como… – ou deixo rolar e se der merda eu explico? É uma grande dúvida.

Mesmo que eu não fique me fazendo de coitada quando apresento o problema, as pessoas ficam ou com pena ou com receio. Com receio principalmente se se tratar da sua chefe no trabalho. Então, eu tenho um pouco de medo desse preconceito e acabo deixando rolar no início. Depois eu explico o que eu tenho de maneira que pareça menos uma solenidade.

De um modo geral tenho que jogar as mãos para o céu, pois além do episódio no estágio durante a faculdade que eu já mencionei ao longo do me relato, nunca tive problemas no trabalho por conta da deficiência.

Não sei como seria se eu tivesse tentado entrar no mercado de trabalho empresarial. Tenho a impressão de que não ia chegar muito longe não. Mas isso não me frustra. Eu ia ficar louca se trabalhasse dentro de um escritório. Passei tempo demais ouvindo minha mãe falar: “Filha, procure um trabalho no qual você não fique presa dentro de um escritório. Entrar de manhã cedo, sair já depois de escurecer”. Uuuu… Me dá arrepios só de pensar. Por isso eu odeio o horário de verão, porque tem sol até mais tarde e o calor é exorbitante, e minha mãe ama, porque ela ainda via a luz do sol depois de sair do trabalho.

Temos também os concursos públicos. O povo acha que é moleza fazer a prova com a concorrência bastante reduzida. Isso é verdade mesmo. Mas talvez isso não compense o fato de que as opções de concursos com vagas para deficientes é muito pequena e é quase impossível achar um concurso com vagas para deficientes que pague bem. Então, não se chateiem por não ter a vantagem de competir para as vagas de deficiente.

Bom, de qualquer forma, o meu maior problema para trabalhar não é o trabalho e si, mas é como chegar ao trabalho.

A questão do transporte novamente. Esse, pelo que estou percebendo, vai ser o problema da minha vida.

E eu faço muita coisa, então…

Trabalho com a docência em duas instituições diferentes, em dois consultórios… Os horários também não são fixos, o que torna difícil fazer sempre arranjos de carona. Então eu estou constantemente rodando as ruas do Rio de Janeiro. Ando até os pontos finais para pegar os ônibus, vou até ruas onde só passa aquela linha que serve para mim, caminho meia hora até os metrôs, gasto uma grana com transporte individual, peço milhões de caronas para minha mãe, peço ajuda aos amigos para me colocarem nos ônibus.  

Eu me viro e muita gente me ajuda, mas não vou abrir mão de dizer que é chato, inconveniente e, algumas vezes, triste ter que lidar com qualquer tipo de deficiência.

Por outro lado, não dá para negar, a vida é boa para caralho.  

Isso é gordofobia?

Eu sempre me achei gorda. Mesmo quando eu era magrinha durante a adolescência. Hoje em dia, realmente estou com sobrepeso.
Felizmente, os diversos tipos de preconceito então ganhando cada vez mais espaço nos debates atuais. De machismo eu já entendo um pouquinho, pelo menos. Agora estou precisando entender um pouco mais sobre a gordofobia, pois acho que tenho sofrido com isso também.
Hoje entrei no ônibus às 20h voltando do trabalho. Ainda estava cheio.
Eu fiquei encostada na roleta até uma senhora me chamar e falar em alto e bom tom: “Senta aqui! Você está grávida!” Ok. Pensei: eu digo que não estou grávida e dou um golpe na minha autoestima (infelizmente seria isso que aconteceria) ou eu acaricio meu abdômen cheio de estrogonofe e tomo o lugar desta pessoa bem-intencionada?
Minha escolha foi sentar. Esfreguei a barriga, dei o nome de Alfredo ao estrogonofe semi-digerido e falei que Alfredo estava para nascer já daí a dois dias! A mulher ficou espantada! Se já estava de nove meses eu estava era magrinha. Pois é, moça. Alfredo vai nascer com todas as regalias a que tem direito. Parto de cócoras e dentro d’agua. Isso que eu chamo de parto humanizado.

Planejamento semanal.

Tenho experimentado diversas formas diferentes de me organizar.

Por incrível que pareça, apesar de estar na moda, ter muita gente elogiando e eu adorar uma novidade, ainda estou resistente ao bullet journal. Eu já vi alguns vídeos explicativos, mas, como estou tendo dificuldades para entender como funciona ainda não usei. Ainda não teve tempo na minha agenda para aprender como funciona o bullet journal. Quando eu conseguir marcar esse compromisso, digo depois o que achei.

Por enquanto, o meu método preferido é bastante simples. Gosto do planejamento semanal. Tem algumas agendas que são feitas neste formato, você consegue ver todos os dias da semana a cada página, mas elas costumam ser ou muito pequenas ou muito grandes.

O que eu faço, na verdade é uma pequena loucura. E tenho uma agenda normal e, semana a semana, eu imprimo um molde de planejamento semanal da internet (ou desenho um) e vou colocando-o dentro da agenda.

Para mim isto é bom porque eu geralmente fico necessitada de espaço na agenda mesmo, anoto muita coisa. E ainda, gosto da agenda cheia de postits, de papeis presos com clips, de escritos em canetas coloridas, adesivos. Lembra-me do início da adolescência quando fazíamos agendas-diário que ficavam tão cheias de papel que terminavam o ano com o dobro da largura original. Só que, atualmente, isso é ainda mais divertido para mim, pois, naquela época, eu desistia rápido das agendas, longos períodos se passavam entre uma entrada e outra. Hoje em dia, uso a agenda o ano inteiro. Ela fica linda no final!

Então, eu uso a agenda para fazer anotações sobre metas e objetivos (ideias de textos para o blog, por exemplo), lista de livros lidos e desejados, pagamentos e gastos, sentimentos e outras reflexões do dia a dia, e os calendários semanais para marcar compromissos (inclusive compromissos comigo mesmo, ou seja, atividades que quero realizar em um determinado dia e hora).

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Vai subir, motorista!

Outro dia, estava eu suando dentro de um ônibus na Presidente Vargas. Era o meio da tarde, o sol estava alto ainda, um calorão, mas o ônibus estava vazio. Graças a deus. Havíamos acabados de sair do ponto da Cidade Nova em direção à Praça da Bandeira.
Foi quando a vi apontando para o céu, gritando para o motorista que acelerava; uma mulher que seria deixada para trás. Meu coração disparou e eu ainda olhei para o motorista: vai subir! Mas, no lugar de demonstrar compaixão, ele deu um sorrisinho maroto e foi embora.
Mais adiante, já perto da estação de São Cristóvão, escuto o motorista xingando e gritando, ele gesticula e eu me levanto assustada.
Que isso? Assalto?
Com quem você pensa que está falando – grita uma voz aguda.
Começo a espixar o pescoço e olhar para os lados. O que está havendo?
Os outros passageiros, muito sagazes, já explicam: não, o que aconteceu foi o seguinte, ela fez sinal lá atrás e ele não parou. Foi isso.
Vou até as janelas da frente do ônibus do lado do motorista e vejo um táxi fechado o ônibus e a tal mulher em pé no meio da rua gritando com motorista que ele não sabia quem ela era, ele não tinha idéia de quem ela era. Ah! Se ele soubesse. Ela xingava o motorista e de quebra, o prefeito da cidade, e todo mundo ia pegar. Aquilo não ia ficar daquele jeito.
O motorista se engaja na conversa: eu sei, sei muito bem quem você é sim. Minha senhora, você quer saber quem eu sou? Vou te falar quem eu sou. Você vai ver bem.
Eles pareciam que não iam se cansar nunca daquela discussão. Mas os passageiros começaram a reclamar: Vamos embora motorista!
Ele engata a marcha ré, a mulher ainda dá um trote atrás dele e esbofeteia o ônibus que consegue se desvencilhar e arrancar. O motorista xinga a mulher até o Meier, pelo menos.
Eu saltei na Dias da Cruz me perguntando quem devia ser aquela mulher, no fim das contas? Meu primeiro impulso foi pensar: juíza. Mas, porra, pegando ônibus?!
Me distraio porque ouço a voz de novo, já familiar, lá estava ela, dentro do táxi, colada na traseira do ônibus.
Vai dar merda, com certeza.

Vai à merda, ansiedade!

Hoje temos um texto super especial de uma pessoa que eu gostaria que fizesse muitos mais guestposts no blog! Meu marido: Luizinho!

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Estava na hora, não dava mais pra aguentar essa situação não. Tinha que fazer alguma coisa. Tinha ficado com aquele texto na cabeça há mais de uma semana e, verdade seja dita, tinha achado completamente ridícula a ideia.

Mas, dia sim dia não, era a mesma sensação de morte toda vez que passava por qualquer coisinha. E sabia que eram coisinhas, claro que sabia. Mas vai lembrar disso na hora que o motorista de ônibus dá o troco errado, ou na hora de entrar numa sala de aula com um pouco de atraso. Não tinha deus que desse jeito naquela palpitação, naquele suor frio, naquele desejo de desaparecer, de se esconder e não fazer mais nada.

Já tinha decidido tentar fazer alguma coisa a respeito, mas não sabia por onde começar. Foi quando, por mero acaso, viu aquele texto na descrição de um evento que um amigo tinha confirmado no face que ia. Surpreendentemente, aquela ideia ficou na cabeça, germinando; e germinando, floresceu. Não tinha nada de complicado na verdade, era só arranjar coragem para fazer. Por coincidência ia pegar o metrô nesse mesmo dia. Acreditava que ia tentar, por que não?

Já tendo embarcado há um tempo pensou “Vamos lá!”. Se levantou, tentou começar a falar, mas era como se uma mão tapasse sua boca ou um punho tivesse sido enfiado na sua garganta, não tinha certeza. Sentou-se. Era 3 da tarde, o metrô ainda não estava lotado. Sentiu-se muito mal, achou que mais uma vez não ia conseguir mesmo há poucos minutos estando certo de que iria tentar. Chegou na estação terminal, teve que descer, sentou numa das cadeiras da plataforma, sentiu muita vontade de chorar. Queria dizer que só sairia dali quando conseguisse fazer o que tinha ido fazer, mas se conhecia muito bem para saber que afirmar isso não seria possível, talvez só piorasse a situação.  Ficou ali mais umas dezenas de minutos e decidiu voltar para casa. Já não dava mais tempo mesmo de ir no seu compromisso.

Conseguiu sentar, mas o metrô foi enchendo porque o pessoal já estava começando a voltar do trabalho. Por algum motivo, não se sentia tão mal como costumava se sentir. Sabia que queria mesmo fazer alguma coisa e que tinha realmente tentado, ativamente tentado. Não tinha conseguido, é verdade; mas tinha conseguido lidar de uma forma relativamente boa com esse fato. Uma pequena satisfação tomou conta do seu espírito quando pensou nisso. Percebeu que estava de pé e olhou para fora para ver se era sua estação, mas não era. Conseguiu ler o nome da estação na plataforma momentos antes do metrô parar e, como num redemoinho, as palavras, duas únicas palavras, vieram do fundo sabe-se lá de onde, ecoando dentro de si com o volume cada vez mais alto, e num momento em que tudo foi silêncio, de olhos fechados as palavras saíram de sua boca: “Presidente Vargas!”

“Puta que pariu!” foram as palavras que teve que fazer um esforço imenso para não gritar logo depois. Tinha feito, se segurava muito forte no corrimão do alto, com medo de desabar, pois suas pernas estavam tão bambas que achou que elas iam desmontar. “E agora?”, pensou. “Talvez a parte mais difícil tenha passado”. Abriu os olhos. Algumas pessoas ainda lhe olhavam. Já estava chegando a próxima estação e ele sabia qual era de cor. Pensou se devia sair correndo porta afora, mas decidiu ficar. E novamente antes do metrô parar, bradou: “Central do Brasil!”. Várias pessoas lhe olharam novamente. Muitas outras entraram e o metrô já ficava do jeito pelo qual era conhecido o metrô no Rio de Janeiro. Mal acreditava, mas de fato tinha ficado mais fácil, sentia-se gradualmente mais calmo.

“Nossa, não acredito que é você! Quanto tempo!”

Tinha certeza de que sentia sua alma deixando seu corpo, mesmo não acreditando em alma. A voz vinha de uma pessoa que havia entrado na última estação e era uma pessoa conhecida. Não tinha escolha, ia se desculpar e aí sim sair correndo na próxima estação, quem sabe vomitar na lixeira mais próxima. Ficou parado e pálido, no entanto, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

“Cidade Nova!” gritou novamente. “Imbecil! Por que diabo de caralho fui fazer isso?”. Uma segunda voz veio de trás, acompanhada de um cutucão no ombro: “Por que você tá fazendo isso?” Ele continuou de olhos abertos, mas tudo ficou escuro por um momento. A voz riu e insistiu: “Você fugiu do hospício? Aí, Gustavo! Acho que alguém fugiu do Pinel…!”

Não conseguia acreditar naquilo. Se tivesse alguma ordem de pensamento naquela hora, estaria se amaldiçoando por ter dado ouvido a qualquer merda que leu no facebook. Não conseguiu responder, ficou ali olhando na direção da pessoa conhecida, de boca meio aberta, com o coração pulsando o que parecia ser suor por todos os poros do seu corpo.

“São Cristóvão!” Não tinha mais ideia do que estava acontecendo. Não saiu na estação recém anunciada por sua própria boca. Não pensava mais, parecia que tinha saído do seu corpo, mas não estava fora. Parecia preso no seu próprio corpo, exceto que o corpo não era mais seu, era uma simples forma que continuava gritando os nomes das estações sem motivo aparente. “Ei, você pode parar com isso!? Idiota…” Forçou-se a olhar de onde vinha a terceira voz e viu que era de uma moça grávida sentada no assento especial a poucos metros de si, lhe encarando com cara de desprezo.

“Maracanã!”, gritou novamente. O texto estava todo errado. O número de pessoas que estavam olhando só aumentava. “Perdeu todos os parafusos, Gustavo…”, “Tá tudo bem com você?”, perguntou a primeira voz. “Já falei pra parar, porra!” E mais uma voz se juntou à orquestra de vozes na sua cabeça “Você não ouviu a senhora não, imbecil? Pára com esse caralho!” Era uma nova voz que veio com um empurrão forte, abrupto e insinuando que não seria o último. Parecia que quanto mais a situação escalonava, mais difícil era manter algum rastro da sequência de eventos que tinham culminado naquela situação.

 

“Triagem!”. A resposta foi quase imediata: “Já te avisei, filhadaputa!” e veio acompanhada de um soco no canto do queixo. Uma enxurrada de gritos dissonantes veio depois, enquanto seu corpo caia no chão, finalmente largando o corrimão do teto. Mais gritos, um se sobressaiu “Ele tá armado!!!” Um barulho surdo e opaco, correria, gente pisoteada e tudo ficava escuro outra vez, dessa vez por mais tempo.

 

“Maria da Graça!” foi o que acordou gritando, tremendo e com o corpo mergulhado em suor. Estava sentado num banco dentro do metrô. Era sua estação, a porta estava para fechar, mas não antes de dar tempo de sair tropeçando, chorando convulsivamente, pensando “VAI À MERDA, ANSIEDADE!!!”

“Eu espio com os meus olhos”. Parte V.

Eu já falei com vocês do Solícito, que me importunou nos primeiros meses de faculdade.

Além dele, havia um outro menino, que me zoava como se ainda estivéssemos na quinta série: “quantos dedos têm aqui”, “que cara eu estou fazendo”, “está vendo que dedo é esse aqui levantado” e todos os outros clássicos. Mas eu só tenho a agradecer pelo sentimento que todos nós tínhamos de que havíamos amadurecido, pois o menino foi logo desencorajado pelas caras de paisagem que as pessoas ao redor faziam para as encheções de saco dele.

A faculdade de psicologia era meio, digamos que, no mínimo estranha, nos primeiros períodos para quem entra achando que vai aprender a desvendar os mistérios da mente humana nas primeiras duas horas de aula.

Logo na segunda feira do primeiro período da faculdade, passávamos o dia inteira no campus do Fundão assistindo aulas no CCS – Centro de Ciências da Saúde. Anatomia, histologia, genética e embriologia. Isso tomava o dia inteiro.

A princípio, na verdade, ir para a faculdade teria sido um grande desafio para mim, mas a minha mãe conseguiu continuar me dando carona de carro nos dias que eu tinha aula de manhã cedo. (Nas primeiras cinco vezes que ela me levou no Fundão nós nos perdemos lá dentro. Uma comédia).

Então, carona para ir para o Fundão, na volta, vinha todo mundo junto. Tranquilo nesse ponto.

Mas, enfim, essas matérias no fundão ainda exigiam bastante da minha visão, só que eu estava com tanto gás e tão empolgada, que eu copiei os cadernos dos colegas, li os textos, fiz pesquisas na internet e dei conta de passar em todas as matérias biológicas; nos períodos seguintes, ainda tivemos fisiologia I e II. Eu até que gostava dessas matérias.

Estatística foi mais complicado, porque era chato e a empolgação inicial já estava passando.

No segundo e no terceiro período fizemos estatística I e II. Ok. A princípio eu até aturei. Eu ficava dentro de sala, li O Morro dos Ventos Uivantes naquelas aulas. No terceiro lá estava eu novamente, em estatística II. Mas… Eu já estava na faculdade! Já havia sacado há muito tempo que era possível ir e vir da sala de aula sempre que desejasse. Pedi dispensa das aulas, não queria ir mais nem para assinar a chamada, o professor disse: “Você faz o que quiser, minha filha, só que tem que ter nota pra passar”. Maravilha. A nota eu consegui.

Depois disso, nunca mais tive nenhum estresse com quadro ou slide ou qualquer coisa do tipo. Às vezes até tinha, mas era algo completamente dispensável.

A maior descoberta que eu fiz nessa época, a coisa mais importante que a faculdade me trouxe, foi a intuição profunda de que eu tinha nascido para aquilo ali mesmo: estudar.

Cara… Ninguém nunca teria suspeitado que esse era um dos meus principais talentos. Gostar de estudar de um tudo. No segundo período decidi que eu ia cursar o mestrado. E ia ser um mestrado em filosofia. Tem um salto aí, certo?

Foi um caminho tortuoso, mas muito bom.

Eu entrei na psicologia para saber o que era o ser humano. Mas a resposta que a psicologia dá para essa pergunta não é das mais satisfatórias. A psicologia comporta diversas visões diferentes a respeito do que é o ser humano, quais são as suas caraterísticas principais. Bom, logo eu esbarrei com duas explicações para este problema: uma metodológica e outra ontológica.

A explicação metodológica fala do método empregado pelas ciências humanas no estudo de seus objetos. Como o ser humano não é um objeto tal qual os das ciências naturais, como os objetos da física, por exemplo, que podem ser estudados por diferentes cientistas e todos vão chegar às mesmas conclusões a respeito dele; dependendo do método que você utiliza para estudar o ser humano, você vai chegar a uma concepção diferente a seu respeito.

A explicação ontológica, contudo, foi a que me encantou. O que precisamos é descobrir a essência do ser humano e construir uma teoria psicológica a partir daí.

Segui firme e forte por esse caminho e dei a cagada de encontrar um professor da filosofia para me orientar já no meu último período de faculdade. Tive que ir para a filosofia, pois a psicologia não é muito chegada a esse tipo de estudo teórico.

Isso é importante porque, ao longo da graduação, eu peguei inúmeras matérias na filosofia, inclusive lógica. E, no início do mestrado, como eu o cursei no Programa de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica, eu tive lógica de novo. Essas matérias dependiam do quadro e dos slides. E foi extremamente gratificante perceber que eu já não sentia nenhum enjoo ou frio na barriga ou nervoso com essa situação. Os anos já passados na faculdade e a confiança que eu havia adquirido, meu novo olhar sobre a educação, o reconhecimento de que não era eu a errada e a culpada por todos aqueles miseráveis anos escolares, enfim, depois de tudo isso, não enxergar do quadro deixou de ser um problema.

Ah, não posso deixar de mencionar um recurso tecnológico novo que também mudou a minha vida: smartfones com boas câmeras. O professor mudava o slide eu tum! Tirava foto e ficava ali com o slide na minha mão, ampliando-o o quanto fosse necessário.

Perto do final da faculdade, eu viajei sozinha para a Alemanha. O medo do problema de visão bateu novamente. (Imagina minha mãe como ficou). Eu ia fazer um curso de alemão lá e fiquei com medo de não acompanhar. E eu tinha que acompanhar por ser aluna bolsista. Ia pegar muito mal se eu não fosse bem neste curso. Eu estava nervosa de novo. Mas, por incrível que pareça, uma professora rodeada de vinte alunos do mundo inteiro conseguiu lidar melhor com a situação do que meus professores aqui no Brasil. Inclusive, nessa turma tinha um rapaz que via ainda menos do que eu! O material do curso era todo preparado com antecedência e, apesar da professora usar bastante o quadro, tudo que ela escrevia era dado para nós dois no papel e ela ia nos mostrando  onde estava conforme avançava a aula. Todas as placas de rua, monumentos e tal, eu via com a câmera do celular. O transporte também não era desafiador, pois eu só andava de trem e os ônibus eram pegos em um terminal. Pelo menos nas cidade de Freiburg e Berlin era assim, que foram as cidades que eu visitei.

De volta ao Rio de Janeiro, contudo, pegar ônibus ficou ainda mais difícil depois que os pintaram a todos de cinza.

Como as aulas da faculdade ocorriam em diversos horários, minha mãe nem sempre podia me levar. Eu sofri bastante nesse sentido e isso, infelizmente, até hoje não passou. É o inferno para o deficiente visual pegar ônibus nessa cidade.

Pedir ajuda? 1- Nem sempre tem gente no ponto, 2- às vezes eu tenho que falar com duas ou três pessoas quando o meu ônibus demora mais do que o delas, 3- tenho que ficar ouvindo mais blá, blá, blá: “cadê o óculos, hein?”, “Moça tão bonita, não tem que ficar com vergonha de usar óculos não”, “Vai pegar ônibus a essa hora? Vai para onde?”, “Sabe que faz mal forçar a vista assim, não é?”, “Cadê seu namorado para ajudar? Nessas horas é bom, não é?”, “Se você não consegue pegar ônibus, por que você não aprende a dirigir?”, “Ih… Olha o seu ônibus indo lá. Você quer que faça sinal no próximo, é isso?”. Acredite, não é fácil ser obrigada a depender da boa vontade dos outros.

Além dessas bobagens, certa vez, no ponto em frente a faculdade…

– Moço, com licença. Eu não estou conseguindo ver os números dos ônibus muito bem, o senhor pode me ajudar a pegar o 433?

– Você não enxerga não, é?

– Não eu tenho um problema de visão.

– Está conseguindo ver meu rosto?

– Assim no escuro não muito bem, não.

– Então me passa o dinheiro agora, anda!

Isso mesmo. Fui assaltada numa das vezes em que pedi ajuda. Meio traumático. Hoje em dia eu evito. Faço sinal para todos os ônibus até parar o meu. Inconvenientes: em pontos muito movimentados passam vários ônibus juntos e eu só consigo verificar um ou dois, eu fico correndo de um lado para o outro o que é bastante cansativo e demora.

Por falar em demora, certa vez eu consegui um estágio em um hospital psiquiátrico, na Gamboa. Era praticamente impossível chegar lá sozinha, eu só tinha uma opção de ônibus, que passava pouco em um ponto bastante movimentado. Quando eu não estava com um amigo que estagiava lá junto comigo ou com minha mãe, era um parto pegar aquela merda. O professor, psicanalista, usou isso e os meus questionamentos do pensamento lacaniano para me expulsar do estágio afirmando que não, eu não tinha problema com Lacan e nem com a minha visão, mas sim um problema psicológico que devia ser tratado em análise. Saí chorando de ódio da sala naquele dia, estava triste também, mas estava com mais raiva. Mais um imbecil dizendo que o meu problema era alguma neurose a ser analisada.

Hoje em dia, quando eu não posso me atrasar, eu vou de táxi. Uber eu evito pegar sozinha, porque não consigo enxergar a placa para conferir o carro. Mas na época daquele estágio eu não tinha dinheiro para isso ainda. O estágio, inclusive, não era remunerado.

Nem sempre é fácil transformar dinheiro em qualidade de vida, porque a despesa que eu teria que ter para me locomover com tranquilidade pela cidade é enorme. Se eu investir nisso, vou perder idas ao cinema ou passeios com meu marido e amigos.

Até hoje minha mãe me leva de carro a todos os lugares que é possível para ela. Além disso, eu vim morar em um apartamento que fica de frente para quatro pistas, em todas elas passam ônibus indo para diversos lugares do Rio. Também estou a vinte minutos do metrô. No caso dos ônibus, meu marido vê os números da janela do apartamento e me avisa pelo celular para que eu faça sinal. O ruim é que aqui é muito barulhento, tem bastante poluição e eu tenho medo de ficar no celular falando com ele enquanto estou no ponto. Mas eu não penso em me mudar tão cedo.

 

“De S. a K.”.

Já escrevi alguns textos no blog sobre blackout poetry. Você pode vê-los  aqui e aqui.

Pois é… Hoje eu tive um dia bem tenso e estressante e não estava me sentindo muito bem quando cheguei em casa depois de passar o dia inteiro na rua cumprindo obrigações que eu ainda não sei muito bem a qual propósito vão servir na minha vida. Quando cheguei em casa, pensei no blog e eu ainda não tinha preparado o texto de hoje. O que melhor para se fazer, depois de um dia estressante, do que passar algum tempo fazendo algo que vai te fazer se sentir bem? (Lembra do texto de ontem? Eu realmente uso aquele modelo de tabela para pensar sobre a minha vida. Com o hábito, eu já nem sempre preciso desenhá-la no papel, eu apenas mantenho-a em mente para avaliar os meus dias). Tendo isso em visto, eu pensei que o texto de hoje deveria ser especialmente terapêutico para mim.  Neste momento tive um insight! Vou cutucar a minha dissertação!

Eu sei! Não parece nada terapêutico! Mas isso é porque você ainda não fez blackout poetry na sua dissertação. Foi libertador!

Eu ainda pretendo fazer nela inteira. Hoje foi só o primeiro passo.

E eis como ficou o resumo da minha dissertação… (Orientador, caso o senhor esteja lendo isso, saiba que a blackout poetry não é desrespeitosa com o texto, pelo contrário: é uma forma potente de apropriação da escrita do autor. E deus sabe que os estudantes universitários sofrem com o sentimento de desconexão em relação ao resultado dos seus trabalhos acadêmicos. Eu ainda vou realizar uma oficina com ex-estudantes de pós-graduação só para fazer trabalhos artísticos terapêuticos com as teses e dissertações. Quem tiver interesse… inbox!).

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de s a k

Para onde vai o seu tempo?

Vira e mexe todos nós paramos para fazer uma limpeza em nossa vida. Arrumar o quarto, fazer uma faxina geral na casa, colocar as contas em dia etc. Seria muito bom que adquiríssemos o hábito de fazer revisões, organizações e faxinas mentais também.

Eu tenho a impressão de que o estresse e a correria do dia a dia vão bagunçando a minha mente. Eu vou perdendo noção de quais são as minhas prioridades, do que eu tenho que fazer para me sentir bem quando estou mal, quais são os desejos que eu ainda tenho que realizar e do que eu preciso para correr atrás deles.

A tabela abaixo é uma das técnicas de avaliação que eu gosto de usar. Ela é prática e relativamente versátil.

Você pode estipular um período para avaliar com a tabela. Por exemplo: “pensando no último ano/mês/semana da minha vida, como eu empreguei o meu tempo”?

Esta tabela também aceita todo tipo de atividade, te dando uma visão bem ampla do que está acontecendo na sua vida no momento.

Atividades relaxantes que proporcionam bem-estar e recarregam as energias. Tempo por semana. Atividades que esgotam as minhas energias, me deixam ansiosa, triste ou estressada. Tempo por semana.
       
       
       
       
       
Tempo total das atividades revigorantes.   Tempo total das atividades desgastantes.  

 

 

Depois de preencher a tabela, faça a si mesma as seguintes perguntas:

 

1-     Eu estou recarregando as energias que gasto ao longo da semana?

2-     O tempo que estou tendo para realizar atividades que me proporcionam bem-estar tem sido suficiente? Como posso aumentar este tempo?

3-     É possível reduzir o tempo que passo realizando atividades que me desgastam emocional e fisicamente?

4-     Como seria a minha tabela ideal?