Só mais um desabafo, que eu queria chamar de “Aos queridos professores”, mas me falta coragem, pois eu ainda tenho medo deles. 

Para todos os jovens brilhantes que não tiveram dinheiro par apermanecer na faculdade, aos jovens que se matarem no meio do caminho, aos que foram humilhados em salas de aula pelo mundo inteiro, para todos os alunos que já tiraram zero em alguma avaliação ou que repetiram mesmo sabendo a matéria. Para todos vocês, saibam que não estão sozinhos.
Para todos os professores em quem a carapuça não servir, meu sincero reconhecimento, a vocês eu agradeço pelo trabalho bem feito. No entanto, antes de se escusar da acusação, certifique-se de pensar duas vezes na sua atuação profissional. Eu, certamente, me debato com essas questões quase todos os dias.

O avanço da ciência. Feito de corpos sobrepostos, de sonhos de estudantes destroçados. Os sonhos e os estudantes. E seus corpos também. Seus corpos que se jogam da UERJ, que são assassinados no Fundão, seus corpos que passam fome e frio no alojamento, que sentem saudades de casa e raiva e medo dos orientadores. Um aplauso acadêmico e respeitoso aos metres, pois eles sabem mais do que nós! Parabéns! Pelas lágrimas dos estudantes. Isso vai cair na prova? Eu não sei fazê-los chorar como vocês fazem. Vai ter consulta? Eu posso te ver humilhá-los mais uma vez antes de eu mesma tentar? Mas não. Eu não vou tentar. Não faria isso nem em um milhão de anos. Você já se disse isso alguma vez? Você tinha um coração antes de receber o primeiro salário? Você entraria para o uma organização que você sabe que assassina jovens sonhadores se não como um infiltrado para tentar fazer diferente e vencer o inimigo por dentro? Uma vez lá dentro, eles te pegaram, não foi? E arrancaram esse coração? Foi isso, não foi? É como aquela música fala: todo mundo já foi criança um dia. Até você, professor. Nem eu sei mais se acredito nessas palavras, sabe? Eu acho que você nunca teve coração. Fofo. Fraco. Fraqueza. Estou eu aqui falando em coração quando devíamos discutir os cérebros. Já viu um professor universitário demonstrar fraqueza? É por causa do cérebro dele. Tem que se provar sempre o melhor. Esse é o segredo mais profundo. Eles não são os donos do conhecimento, mas precisam fingir ser. Se não o mundo deles cai. Eles precisam dessa miserável satisfação de fazer ao aluno uma pergunta irônica e de corrigir a resposta: “Aha! EEEEEEEEEEERRRRRAAAAADDDDOOOOO!!!!!!!!!” Da para ver a sua felicidade no canto dos olhos, você saliva e a baba escorre pelo queixo, todos os dentes da boca aparecem, você estufa as narinas exibindo os pelos nasais mal aparados e esfrega as mãos manchadas de vermelho. Essa ciencia eu não quero aprender e a ciência que me importa não foi você quem me ensinou. Você me coagiu a não colar nas provas e a assistir suas aulas. Você me fez abaixar a cabeça com as correções das minhas perguntas “descabidas” e me fez acreditar que eu era burra com suas notas e avaliações. Mas eu pude ver por detrás das suas boas intenções. Das suas humilhações que eram todas para o meu bem. Sabe qual é o nome disso? Abuso moral. Abuso moral não forma ninguém. Todo esse conhecimento, essa riqueza, aí dentro da sua cabeça, mas, por algum motivo, tão difícil de acessar… Eu devo ser muito incompetente mesmo, não é verdade? Você tão bem intencionado. E eu aqui querendo te sacanear. O mau, mal, aluno. Quase sinto pena de você pelas minhas noites mal dormidas, pela minha bolsa de 300 reais, pelo meu ticket refeição e vale transporte inexistentes, pelas humilhações que eu passei, mas espera…. Quem sofre é você ou sou eu? Estou confusa agora. Eu achei que eu é que levava a vida boa… E que você, com seu salário, seu carro, sua casa na Zona Sul, suas duas disciplinas por semestres, seus pós doutorados de seis meses fora do país e suas viagens para congressos internacionais é que estava sofrendo… Mas isso não mais me parece certo. Parece que tem alguma coisa errada nesse coitadismo seu, professor. E você tem a cara de pau de dizer que eu me faço de coitada. Sério? Não liga para dinheiro quen vive de ar e eu não posso me dar a esse luxo ainda. Não se importa com a hora de ir embora da faculdade quem vai de táxi ou de carro para casa. Não se importa com a quantidade de horas de trabalho que, na verdade, trabalha pouco ou quem ganha para isso.
Com todo respeito, mestre, o meu caminho fui eu que fiz APESAR de todas as vezes que você tentou me derrubar. Eu sou inteligente para caralho e não foi por uma palavra que você falou que ficou na minha cabeça, nem por uma questão de prova que você zerou, que eu me senti motivada a estudar. Eu tive tempo de estudar depois de colar e passar na sua prova inútil da sua matéria inútil. E é você quem tem que viver com a infelicidade de saber que a sua matéria inútil, na qual você dá a sua aula inútil e a sua prova inútil, são os pontos altos do respeito e da felicidade que você acha que tem em sua vida inútil.

Com o Neymar, cai também a nossa confiança. 

Que agonia o Neymar se jogando!
A Copa do Mundo torna realmente bastante evidente essa mentalidade que a gente tem a respeito do povo brasileiro: se fode o tempo todo, mas não desiste e dá a volta por cima aos quarenta e cinco do segundo tempo. Muto ruim isso. Faz a gente se acostumar com a idéia de que o caminho tem que ser doloroso mesmo, que o trabalho tem que ser difícil, que tudo tem que ser muito compilado.
Se levarmos o paralelo com a seleção brasileira adiante, a situação fica mais feia ainda: ah, uma hora vai cavar um pênalti ou vamos nos jogar até enganar o juiz. Não podemos achar que isso é modelo para como devemos agir na vida.
Não é pela prática do esporte em si. Não confunda as coisas. Praticar esportes é algo fenomenal. É da seleção brasileira especificamente que eu estou falando e da mensagem que os jogadores estão passando (que é articulada pela voz dos jornalistas da globo cobrindo o evento).
Está meio vergonhosa a situação.
Pelo menos no jogo de hoje, contra a Costa Rica, não foram as artimanhas que ganharam, mas a perseverança mesmo. Temos que perseverar sim, sempre. Mas a vida não tem que ser difícil. Sabe por que está difícil para a seleção? Não porque a gente é brasileiro e a vida é assim para a gente mesmo, mas porque o time está jogando mal! Se tivesse jogando bem estava mais fácil. Então a mensagem é: persevere sempre, faça o seu melhor e torne as coisas mais fáceis ao seu redor. Confie em si mesmo e confie que você pode melhorar sempre. 

Café da manhã na janta.

O café da manhã é a melhor refeição do dia. Sem sombra de dúvidas.
Já temos o brunch, uma espécie de café da manhã incrementado que substitui o almoço. Mas o café da manhã é uma refeição tão maravilhosa, que, de vez em quando, eu gosto de comê-lo também na janta.
Ok. Eu ainda tenho um pouquinho de noção. Eu não chego a tomar dois cafés da manhã (ou três) em um dia, por mais que tenha vontade. Eu apenas não restrinjo a vontade de comer um pão com ovo quando ela bate simplesmente por causa da hora.
Não que eu não sofra um pouco com essa questão do café da manhã, sabe, pão, queijo, mortadela, leite e tudo isso que há de mais delicioso nesse mundo, mas que, se você acreditar no Bem Estar, vai te matar em cinco anos ou menos.
Parando para pesquisar um pouco sobre o assunto, contudo, você percebe que a nutrição é assim como a psicologia: a teoria ou a filosofia alimentar varia enormemente de autor para autor. Muito mesmo.
Varia de gente afirmando que você tem que comer muita gordura até gente querendo banir a gordura do cardápio. Alguns profissionais afirmam que devemos comer de três em três horas, outros defendem o jejum intermitente.
Enquanto os profissionais não se decidem, a gente (eu, pelo menos) fica aqui mergulhado na culpa sem saber que dieta seguir e tratando a comida como a grande vilã da saúde e felicidade verdadeiras.
Um saco isso.
Planejar a comida, gastar dinheiro com coisa cara, ter que ficar aprendendo receitas nem um pouco enraizadas na nossa vida cotidiana (como o arroz e o feijão que a gente aprendeu a cozinhar com a nossa mãe).
Revolta total.
Não que eu discordo completamente da idéia de que temos que cuidar da alimentação. Mas criou-se uma aura tão poderosa em torno desse discurso higienista da alimentação, que comer virou um pesadelo para muita gente.
Talvez a revolta das pessoas em geral lançada contra os nutricionistas seja uma revolta contra a evolução da gastronomia que foi descobrindo e cozinhando coisas cada vez mais gordas e gostosas que vão nos matar muito antes do que daria para morrer caso tivéssemos evoluído como veganos.
Enfim, já diziam na minha adolescência (e estavam errados de um modo geral, só estavam certos com relação a comida mesmo): ” tudo que é bom, faz mal”.