Sobre nossos corpos e como amá-los. 

Estava experimentando vestidos com duas amigas. Nada muito legal, não. Até que teve um que eu achei que ficou perfeito! Felicidade pura, o vestido não era caro… Até que uma das meninas falou: “Você pode colocar com aqueles shorinhos que comprimem”. “Ou eu posso não colocar com porra nenhuma”, queria eu ter respondido. Mas fiquei quieta e fiz que sim.
Comecei a observar as duas experimentando as roupas que tinham escolhido:
“Esse não ficou muito bom porque eu tenho isso aqui, oh! Esse culote horroroso!”
“E esse aqui? Ficou bom em mim? Não, né? Eu tinha que ser mais alta, sei lá”.
“Ah, gente, esse ficou terrível! Eu tô parecendo um saco de batatas”!
“Ah, eu tinha que ter mais peito para usar isso”.
“Nossa, e essa barriga marcando”?!
Eu poderia continuar escrevendo mais frases autodepreciativas que as mulheres falam a respeito dos próprios corpos.
Eu também tenho meus problemas. Também fui criada nessa nossa cultura doente, não fui? Pois é. 

Há algum tempo eu assumi uma resolução: nunca mais falar mal do meu corpo em voz alta. E tem ido muito bem. Quando eu quero criticar alguma coisa em mim, eu a elogio no lugar de reclamar. Essa simples atitude fez coisas maravilhosas pela minha autoestima.

Coomo eu vou odiar meu corpo? É com ele que eu escrevo, desenho, pinto, danço, beijo, abraço… Não tem como não gostar de algo que só me dá alegrias.
De vez em quando meu nariz fica escorrendo e isso me irrita, é verdade, mas… Nem todo mundo é perfeito!

UM PONTO FORA DA CURVA  

O post de hoje é o relato político, parindo do corpo e da alma de uma mulher que nos fala de experiências e violências muito séries sofrida por milhões de mulheres na atualidade.

Texto extremamente necessário. Que ele nos ajude a refletir e lutar pelas liberdades de todas!

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“Sempre quando questionada, eu digo que não posso comparar minha vivência com a da maioria das mulheres trans no país pois – devido ao meu processo de transição física de gênero ser tardio (iniciado aos 40 anos), pude ter um convívio familiar, concluir o ensino fundamental e médio, estudar e me graduar em uma das melhores Universidades do país, pós graduar em instituição privada reconhecida e me inserir no mercado de trabalho formal, sendo hoje uma profissional bem sucedida.


De acordo com a Ong Transgender Europe, o Brasil é o país onde mais se mata pessoas trans no mundo, no qual aproximadamente 90% das mulheres trans vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica e estão jogadas na prostituição, quase sempre único recurso para poderem sobreviver, pois o mercado de trabalho formal – via de regra, lhes fecha as portas e quem deveria acolher e proteger – a família, costuma ser o primeiro lugar onde as violências se iniciam e, em boa parte das vezes, culmina com expulsão de casa. Sem suporte familiar, a mulher trans dificilmente terá condições de estudar (ambiente escolar é muito hostil), tampouco chegar à Universidade (ambiente não muito amistoso também). Abandonada pela família, sem estudos nem formação acadêmica e levando muita porta na cara do mercado de trabalho, só lhes resta a prostituição, onde são alvo de vários tipos de violências, desde agressões e escárnios verbais até assassinato.


Por ter formação acadêmica e ser uma profissional bem sucedida, sou considerada uma exceção. Claro que não estou imune à tratamento transfóbico, porém – esse tratamento sempre vem de pessoas de meus círculos sociais; até o momento, não tenho registro de transfobia pesada partindo de desconhecidos, salvo um ou outro deboche quando estou de cabelo curto, ocorrência inclusive relatada por amigas e conhecidas mulheres cisgêneras”.
Alexia é graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp, campus de Marília, Pós-Graduada em Gestão de Marketing pelo Senac-SP, atualmente Bibliotecária Chefe de um Centro Educacional Tecnológico Federal no estado do Rio de Janeiro e transexual.

Outras violências.

Ainda no pescoço! Direto no pescoço. Era sempre onde você me atacava. Mas agora tem gente para ver e essas pessoas, essas testemunhas não vão permitir que você me convença, como você fazia quando éramos só você e eu, de que os enforcamentos, os chutes nas costas, os roxos no braço, não eram sinais de violência e agressão física. Você fez muito bem mesmo. Nunca me deu um tapa na cara e por isso conseguiu me fazer acreditar por muito tempo que eu não sofria de violência doméstica. Você se recusou a acreditar. Lá no fundo, eu sempre desconfiei. Você fingia que não existia essa minha desconfiança. Como é para você? Saber que, no fim das contas, você foi traído? Que eu te enganei e te enganei bonito? Que eu aprendi a jogar tão bem o seu jogo que eu pude me mover por entre o pântano que você criou ao meu redor e escapar e esconder um amante bem debaixo do seu nariz? Eu aposto que você se sente completamente estúpido agora. Como é para você saber que eu sou mais inteligente? Que eu tenho mais desejo? Que eu estou mais viva do que você? E, quando por tristeza eu minguava, você adorava. Adorava que eu fosse preguiçosa, adorava que eu estivesse semidesfalecida, jogada na cama enquanto você cuidava da sua vida. Você adorava ter que cuidar de mim, tão fraca, para poder reclamar depois, me punir e se sentir superior. Mas mesmo com a sua presença nociva, seus comentários devastadores, mesmo com o meu mal-estar e seu narcisismo, eu consigo ver agora que você era fraco desde o início. Tão fraco. Fraco, sozinho e amedrontado. A única força que você tinha mesmo era a força bruta dos membros masculinos. Nas pernas e nos braços, no caso, em outros departamentos você tinha a maciez de um marshmallow.

Se liberte dessa culpa!

Domingo a noite e eu sem tempo para escrever no Blog. Sabe o porquê? Eu estou estudando.
Isso mesmo. Eu e meu marido estamos estudando. Ele porque está terminando de escrever a dissertação e eu porque tenho uma reunião para debater um texto com meu orientador do doutorado na quarta.
Durante o dia eu não tive tempo de estudar. Foi aniversário da minha prima (maravilhosaaaaaa) e nós ficamos pintando, desenhando e comendo o dia todo.
Amanhã? Não estou de folga não. Vou atender doze pacientes. São doze horas de trabalho. E eu não estou falando tudo isso para você me admirar ou ter pena de mim, sei lá.
É que recentemente eu estava conversando com uma amiga de infância e pensando: “Cara, os pais dessa pessoa achavam que eu era uma má influência. E olha nós hoje em dia… Na verdade, alguns pais achavam que eu era a má influência”. Por isso eu comecei a fazer uma lista mental das minhas conquistas.
Olha a má influência aqui, hoje em dia. A má influência que nunca repetiu de ano, que passou no seu primeiro vestibular para a UFRJ (e depois para o mestrado e o doutorado), que ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Alemanha estudar, que trabalha e sustenta sua casa junto com seu marido, que tem um excelente relacionamento com a sua mãe.
Eu penso nisso tudo e fico irritada. Filhos da puta! Ouvir que você é uma má influência é uma merda! Isso já aconteceu com você? Você se sente errada de alguma forma. Errada é o caralho. Eu sou exemplo. Exemplo do que você deveria querer que o seu filho fosse. Não é porque eu não abaixava a cabeça para qualquer um que quisesse me dar ordens ou que dissesse que eu era inadequada que eu sou má em qualquer sentido que seja. O problema é o embate entre o seu conservadorismo a minha revolução.
Sinceramente? Não. Eu nuca fiz nenhuma merda terrível. Malcriações, birras, equívocos. Isso todos nós cometemos. Adultos inclusos. E olha que eu tenho propriedade para falar, como psicóloga que sou. E eu não fui diferente. O problema foi terem querido me fazer acreditar que os meus erros foram maiores do que o das outras pessoas, que as minhas posturas foram mais inaceitáveis, foram inadmissíveis. Hoje em dia eu é que acho inadmissível continuar carregando essa culpa. Me liberto.
Então se eu ainda te incomodo, tenha certeza absoluta de que isso expressa mais um problema com você do que comigo.

Essa era a minha culpa. Qual é a sua? Aproveita e se liberta junto comigo. Não gaste mais nem um segundo da sua existência se perguntando o que você fez de errado, o que você tem que mudar no seu jeito ou como você tem que agir. Se pergunte apenas o que você desteja da vida, o que você tem que fazer para ser feliz e como você tem que agir para alcançar seus objetivos. 

A culpa está fora de moda. 

Ursão. 

– Caraca, então quer dizer que ele saiu do armário lá na festa da empresa? Quando ele começou a falar eu não acreditei!
– Pois é. Mas você não sabe… Eu tenho um amigo de infância, eu já dormi na casa dele e tudo, nunca, nunca rolou nada, assim, o cara sempre tranquilo. Tinha um jeito, mas nunca fez nada, dormi na casa dele várias vezes, né. Ele casou, teve filho. Aí agora, com quarenta anos, o cara, ele falou para mim isso, ele me contou, que resolveu experimentar.
– Caraca, mano. Sério?
– Não, mas escuta só! Aí ele resolveu experimentar, acabou contratando um garoto de programa.
-Nossa, sério?
É, ele contratou um garoto de programa e gostou do negócio.
-Putz!
-Escuta, escuta! Ele gostou do negócio e tá nessa parada aí. Está indo a várias festas gays. E ele gosta da sacanagem mesmo. Sabe? Briga de espada – altas gargalhadas -. É! Não! Estou falando sério! Ele gosta da sacanagem mesmo! Sabe? Da sacanagem!
-E ele te contou, foi isso?
-Foi! Ele veio me contar.
-E a família dele não sabe!
-Sabe! Sabe sim! Ele contou. Ele falou para a mulher dele, a família toda sabe!
-Que isso, cara!
-E o cara gosta! Ele gosta da sacanagem! Briga de espada! Não! E ele é alto assim, grande. Um pouco acima do peso. E ele é bem peludo, sabe. Então o cara é grande, meio gordo e peludo. E tem nicho para isso. É o ursão! Então ele vai nessas festas e faz sucesso. Em site na internet… Aqui! Aqui! Aqui! Olha aqui uma foto dele! É ele aqui. Esse aí sem camisa.
-Ah… Sei… Mas e Marcinha, hein?
-Então, não vejo Marcinha desde antes do ursão.
-É, né. E aquela empresa lá que você trabalhou?
-Nessa época aí que eu via muito o ursão.
-Ok, cara. Entendi.
-É! Que escroto, né?! O cara, ursão, briga de espada – ri novamente, chacoalhando o corpo, com sorriso largo, enquanto o outro esboça um sorriso de canto de boca, dá os últimos goles no café e se despede.

#MarielleVive

A Marielle dói. Dói em todo mundo.
A Marielle vive também. Vive agora nas nossas ações.
Viva sim.
Vivendo as milhões de vidas que vivem aqueles que lutam.
Temos que seguir, de hoje em diante, com esta pergunta: o que eu posso fazer para mostrar que você vive em mim, Marielle?
Nós não somos responsáveis apenas pela nossa vida. Somos responsáveis por todo o impacto que as nossas ações têm no mundo. Como o impacto que você vai gerar no mundo daqui para a frente vai manter Marielle viva?

“O seu dia começa aqui”.

Eu não fui geneticamente constituída para acordar cedo, como eu já falei para vocês.

Mas eu tenho tido que acordar bastante cedo nas ultimas semanas e eu não vejo isso mudando nos próximos meses. Vou estar ainda mais atarefada do que nas últimas semanas, com muitas atividades logo cedo.

Eu tenho sentido ao longo do dia aquele cansaço que eu não me lembro de sentir desde os tempos de faculdade.

Durante os tortuosos anos da escola e o início da faculdade, eu era obrigada a acordar cedo todos os dias. Eu vivia com uma funda olheira e um cansaço constante. Do meio da faculdade e diante, já fica bem mais fácil fazer o seu horário de modo que você não pegue matérias no período da manhã e os meus estágios em clínica e pesquisa também eram em horários favoráveis ao meu ritmo biológico.

Quando comecei a trabalhar em consultório particular e fazer o mestrado, meus horários continuaram sendo ajustados ao meu ritmo biológico. Eu tinha que acordar cedo uma ou duas vezes na semana, o trabalho e o estudo ficavam para os turnos da tarde e da noite.

Ultimamente, novas atividade profissionais têm me feito acordar cedo mais umas três vezes na semana. Este novo projeto vai durar ainda pelo menos três meses, portanto, tem muita barra para aguentar ainda (com o meu esforço para que isso renda bons frutos, claro).

Mas, enfim, estas são as minhas escolhas no momento.

O que tem me incomodado é que eu tenho tido que pegar o metro quando saio para trabalhar cedo. E o metro teve a horripilante ideia de colocar a frase O SEU DIA COMEÇA AQUI, assim mesmo, em letras garrafais nas estações. E eu fico muito irritada quando eu vejo essa frase. Não, Metrô Rio, o meu dia não começa aí, quando eu pego o metro para trabalhar.

O meu dia começa na minha casa quando o meu despertador toca pela primeira vez e eu, ainda zumbizando de tanto sono, aperto o botão da soneca no celular. Três ou sete minutos depois, soa o despertador do meu marido. Ele gosta de números quebrados e ímpares, então, enquanto eu ponho o meu despertador para 07h, ele põe o dele para 07h03 ou 07h07. Nesse momento eu já estou um pouco mais desperta. Quando o soa novamente o meu alarme, eu, geralmente, levanto da cama.

Então, dependendo do meu humor e do quão cansada eu estou, eu coloco uma série “aconchegante” para passar na TV (tipo Friends), ou eu coloco música para tocar. Nos dias em que eu estou mais cansada, música para dar um up, nos dias em que estou mais mal-humorada, uma série costuma me deixar mais felizinha (só uma curiosidade: o meu corretor quer que eu corrija “felizinha” por “feiazinha”. Onde esse mundo vai parar, meu deus?!), traz boas sensações.

Eu deixo o café passando enquanto tomo banho. Às vezes meu marido levanta para me ajudar com essas coisas. Ele prepara o café da manhã, separa algumas coisas que eu tenho que levar caso eu tenha esquecido de guarda-las na bolsa que deixo pronta da véspera, me dá uma opinião quanto à roupa.

Comemos falando sobre como vai ser o dia.

Últimos retoque e verificações e eu estou pronta para sair.

Eu moro a meio caminho entre duas estações de metrô. Ou eu ando 20 minutos até uma delas, ou pego um ônibus até a outra. 20 minutos de caminhada para pensar na vida, quando eu saio cedo e não estou de salto, essa costuma ser a minha opção; ou a aventura que é andar de ônibus no Rio de Janeiro, quase sempre, uma aventura.

Aí, enfim, eu chego até o metrô.

A gente não pode menosprezar nenhum momento das nossas vidas. Mesmo na correria da manhã, eu passo ótimos momentos e isso me dá energia e felicidade para passar o dia. Se o metrô me convence de que o meu dia começa ali, naquela lata de sardinha com o trabalho como a próxima parada, por mais que eu goste do meu trabalho, eu piro.

Só o que me falta é eles começarem a colocar esses letreiros, que atualmente são tipo cartazes, por painéis tecnológicos que, às quatro horas da tarde vão mudar para SEU DIA TERMINA AQUI.

Intervenção militar no Rio. 

Intervenção militar no Rio.
A desculpa é o carnaval.
Que potência, carnaval.
Você se rebelou um pouquinho
E o prefeito como pai raivoso que não quer que a filha transe com o namorado,
Colocou grades na janela do seu quarto.
Agora você vai ver o sol nascer quadrado.
Seu pele vai debranquear-se num tom azedo,
Que nem pra qualhada vai servir.
Você não vai poder mais sair a noite.
Você não vai poder mais ter sonhos para o futuro.
Não vai poder reclamar do capital
Nem pedir a desmilitarização da polícia militar.
Não vamos mais poder odiar
Seremos apenas odiados e obrigados a calar.
Mas nós odiamos.
E vamos odiar.
Nós odiamos você senhor não-presidente, anti-presidente.
E vamos odiar
E eu
Bela, recatada e do lar
Mas a minha casa está pegando fogo
O meu rabo tá pegando fogo
E eu já arranquei todos os meus cabelos e arranhei o corpo inteiro do dedão do pé até o couro cabeludo exposto, nem pra noiva do Chuck eu ia dar.
E olha que eu não moro na favela.
Quem mora na favela
Por favor
Grite com força para que eu também
Aqui na minha ignorância
Consiga te escutar e quem sabe,
Se Deus me permitir, fazer alguma coisa para ajudar.

Enchente na Praça da Bandeira. 

Ontem, quarta feira de cinzas, fechando o carnaval,  choveu muito no Rio de Janeiro.
Hoje eu só acho importante informar aos moradores da cidade que, ao contrário do que diz a mídia, a Praça da Bandeira ainda inunda. Portanto, fiquem atentos em dias de chuvas!
Eu moro de frente para a Praça e fiquei de meia noite até as quatro da manhã acompanhando a enchente.
Muitas pessoas ficaram presas na própria Praça, em cima da passarela, em um ônibus que tentou mas não conseguiu atravessar a rua alagada, lojas inundaram e comerciantes perderam suas mercadorias, o trânsito ficou interditado por quatro horas até que a água finalmente abaixou e o tráfego foi normalizado.
Foi bastante tenso. Eu nuca tinha visto algo parecido. No meio da cidade, como é possível que um local fique completamente alagado. Uma piscina gigante, suja e com uma correnteza considerável! Os moradores se esforçando para salvar o que fosse possível.
Quando eu via as enchentes da Praça da Bandeira na televisão há anos atrás eu pensava: gente, é tudo aberto! É rua! Como é que enche?
Eu não sei muito bem ainda como enche, mas enche mesmo e enche muito. E é de uma hora para outra. Eu publiquei ontem no Blog que eu passei o dia cuidando do meu jardim. De noite, eu ainda estava no apego total com as minhas plantas, fiquei um bom tempo na varanda com elas, até que a chuva começou. Ainda fiquei um tempo olhando os raios (quem não gosta de ficar vendo o céu em dia de chuva?). Então eu encostei a janela e saí da varanda. Como continuou chovendo e ventando muito, eu voltei para fechar a janela completamente, não tinham se passado quinze minutos, e a Praça já estava de baixo d’agua. Para completar, havia faltado luz, situação que também só foi ser normalizada no fim da madrugada. 
Portanto fiquem alertas e tomem cuidado!