Vai subir, motorista!

Outro dia, estava eu suando dentro de um ônibus na Presidente Vargas. Era o meio da tarde, o sol estava alto ainda, um calorão, mas o ônibus estava vazio. Graças a deus. Havíamos acabados de sair do ponto da Cidade Nova em direção à Praça da Bandeira.
Foi quando a vi apontando para o céu, gritando para o motorista que acelerava; uma mulher que seria deixada para trás. Meu coração disparou e eu ainda olhei para o motorista: vai subir! Mas, no lugar de demonstrar compaixão, ele deu um sorrisinho maroto e foi embora.
Mais adiante, já perto da estação de São Cristóvão, escuto o motorista xingando e gritando, ele gesticula e eu me levanto assustada.
Que isso? Assalto?
Com quem você pensa que está falando – grita uma voz aguda.
Começo a espixar o pescoço e olhar para os lados. O que está havendo?
Os outros passageiros, muito sagazes, já explicam: não, o que aconteceu foi o seguinte, ela fez sinal lá atrás e ele não parou. Foi isso.
Vou até as janelas da frente do ônibus do lado do motorista e vejo um táxi fechado o ônibus e a tal mulher em pé no meio da rua gritando com motorista que ele não sabia quem ela era, ele não tinha idéia de quem ela era. Ah! Se ele soubesse. Ela xingava o motorista e de quebra, o prefeito da cidade, e todo mundo ia pegar. Aquilo não ia ficar daquele jeito.
O motorista se engaja na conversa: eu sei, sei muito bem quem você é sim. Minha senhora, você quer saber quem eu sou? Vou te falar quem eu sou. Você vai ver bem.
Eles pareciam que não iam se cansar nunca daquela discussão. Mas os passageiros começaram a reclamar: Vamos embora motorista!
Ele engata a marcha ré, a mulher ainda dá um trote atrás dele e esbofeteia o ônibus que consegue se desvencilhar e arrancar. O motorista xinga a mulher até o Meier, pelo menos.
Eu saltei na Dias da Cruz me perguntando quem devia ser aquela mulher, no fim das contas? Meu primeiro impulso foi pensar: juíza. Mas, porra, pegando ônibus?!
Me distraio porque ouço a voz de novo, já familiar, lá estava ela, dentro do táxi, colada na traseira do ônibus.
Vai dar merda, com certeza.

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