Sob(re) todas essas máscaras. 

Esse papo de “usar máscaras” é bem batido.
Tem gente que acha que é falsidade e bate no peito para dizer que não usa máscaras, é sempre absolutamente honesto, sendo si mesmo, mesmo que doa (em quem doer).
Outros afirmam que o uso de máscaras no dia a dia é inevitável. Para cada ocasião, uma máscara diferente.
O uso de máscaras pressupõe algo que está por trás, algo de mais verdadeiro e íntimo que nós escondemos do mundo. Pois bem, se essa implicação é verdadeira, acredito que estou no grupo dos mais cínicos: a nossa primeira e única expressão verdadeira e original é um sorrisinho involuntário que damos ainda bebês e, a partir daí, são máscaras em cima de máscaras. Mas eu sou uma cínica otimista ao acreditar que não tem problema nenhum nisso. Temos é que nos apoderar e aproveitar mesmo todas as máscaras e personagens que vestimos. Temos que aproveitar os pontos fortes de todas as nossas “faces” e conhecer, lidar e cuidar bem de todos os nossos pontos fracos. Sinceramente, ser uma e única pessoa, rígida e inflexível em todas as ocasiões não é louvável, é bizarro. A diversidade de papéis é um parte muito importante da vida.

Sobre os nãos que fazem sentido.

Um dia desses, conversando com minha mãe, eu me lembrei de uma coisa que ela costumava falar quando eu era adolescente:
“Se tem que decidir agora, é não”.
Ela dizia isso quando eu pedia alguma coisa para ela e demandava resposta imediata. Acontecia normalmente assim: eu pedia alguma coisa (geralmente para ir a algum lugar, não sei se minha mãe concordaria comigo, mas na minha memória eu pedia muito mais para ir a lugares do que dinheiro para adquirir coisas) e ela dizia que ia pensar a respeito, eu, impaciente, insistia, insistia e insistia. Aí ela respondia que se não tinha tempo para pensar a resposta era não. Eu tive uma adolescência tranquila. Nunca fiquei trancada dentro de casa, isso me faz concluir que não houve um exagero nos nãos. Era, me parece, apenas uma questão de não decidir sob pressão favoravelmente, já que se tratava da minha vida e a vida dos filhos é sempre delicada para os pais. Era necessário pensar com calma e avaliar a situação: quem ia, para onde, que horas voltava, como ia etc. (E, é claro, era necessário um tempo para digerir o medo. Os pais sempre têm medo, todos temos medos, mas eles tem que ser superados para que possamos viver nossas vidas).
Eu lembrei dessa fala dela enquanto estávamos conversando a respeito da minha dificuldade atual de dizer não para certas pessoas em determinados momentos. Ela nem lembrava mais, mas eu disse: “Vou começar a fazer que nem você fazia comigo”! Eu estou pensando em reabilitar essa estratégia parental e adaptá-la às situações que estão me dando dor de cabeça.
O que acontece normalmente é que, quando eu me encontro em uma situação na qual eu tenho que decidir algo, dar uma resposta para alguém, me sinto pressionada e digo sim. Depois eu me arrependo e não consigo voltar atrás e dizer o não que eu gostaria de ter dito (pois dizer não é sempre difícil e se ele vem depois do sim então… Ah! Gera decepção na outra pessoa e aí piora tudo mais ainda. Decepção e desaprovação são sentimentos difíceis de lidar, principalmente quando você tem o problema de querer agradar todo mundo). Eu vou passar a pedir um tempo para pensar (já tem um treino para eu conseguir fazer isso) e se a pessoa insistir, eu vou simplesmente dizer não. Depois que eu tiver tempo para pensar, se eu quiser, eu volto atrás e digo sim (as pessoas gostam quando você muda de idéia favoravelmente ao que elas desejam, portanto isso seria muito mais tranquilo do que voltar atrás e dizer não).
Tá aí. Vou ter isso em mente para começar a colocar em prática; e fica a dica, se quiser a frase emprestada, pode usar!

Raiva. 

Eu quero que você saiba que eu estou muito puta com você. Eu passei o dia fervendo de raiva. Muita raiva. Tremendo de raiva. Minha vontade era de socar a parede fingindo estar socando a sua cara. Mas eu não soco paredes. Eu escrevo parágrafos e parágrafos de desabafo repletos de imaginação. E assim, a minha raiva se torna produtiva e positiva e eu crio algo universal a partir dela. Deste modo eu me vingo e lido com as minhas emoções enquanto você fica aí sendo babaca e desperdiçando oxigênio e fazendo nada; eu ainda estou aqui usando sua traição para cumprir mais um dia da minha meta. Eu vou me superar a cada dia, enquanto você canta vitória e fala mal de mim pelas minhas costas. E a melhor parte? Se você ler isso, você não vai jamais ter certeza de que eu estou me referindo a você! Eu sei que essa pergunta vai ficar martelando na sua cabeça: “Será que era para mim aquele texto”? E você NUNCA vai ter certeza e esse requinte de crueldade estilo tortura psicológica Hollywoodiana me deixa feliz e excitada para caralho! Hahahhaha (risada malévola).

Você tem uma amiga em mim. 

O que podemos fazer por aqueles que vivenciam a perda de uma pessoa amada? O que dizer?
Quem já passou por isso sabe que não tem resposta certa para essas perguntas. A única coisa que importa é que a gente consiga se fazer presente para aqueles que estão sofrendo.
Então, lembre-se de que, se você precisar de mim, eu estarei sempre aqui, pode me chamar. Mas não se espante se eu um dia bater de surpresa na sua porta só para a gente sentar um pouco na mesa da cozinha e bater um papo entrecortado enquanto cozinha o jantar.

Lavar as mãos depois de ir ao banheiro saiu de moda?

Acho que saiu de moda isso de lavar as mãos depois de ir ao banheiro.
Há umas semanas, eu estava na CADEG, com a minha mãe e precisei ir ao banheiro. No caminho, passamos por uma loja de iogurte congelado. Quanto tempo faz que eu não tomo um desses! Vou comprar um já, já.
Meu plano era ir ao banheiro, porque estava apertada e depois, talvez, comprar o negócio. Mas acontece que tinha uma funcionária da loja dentro do banheiro e eu a vi sair sem lavar as mãos. Resolvi não comprar o iogurte.
Talvez tenha algum mecanismo, algum ritual de higienização das mãos lá no estabelecimento que a exímia de lavar as mãos ali. Esperamos que sim. Mas ela não foi a única que eu observei sair do banheiro direto se nem olhar para a pia. Nem todas as pessoas estavam indo para um estabelecimento gastronômico onde poderia ter alguma alternativa de higienização das mãos (o que eu ainda não decidi se é melhor ou pior).
Bom, agora eu fico nos ônibus, no metrô, na rua, em bares e restaurantes pensando quem é que saiu do banheiro sem lavar a mão e a colocou ali onde eu estou segurando ou encostando. É um pensamento desagradável. Mas ficar vendo constantemente as pessoas saírem do banheiro sem lavar as mãos fica renovando essa imagem na minha mente.
Enfim, se já tem um jeito melhor de evitar doenças e contaminações no dia a dia, me avisem!

Ler ou ver? Eis a questão. 

Ler um livro não é tão simples como imaginamos.
Ah, você vai na livraria, ou navega em uma loja digital, escolhe um livro e pronto! Começa a ler. E lê o livro até o final.
Não, não, não. Eu lembro a tortura que era começar a ler um livro ruim e me sentir obrigda a ir até o final. Mais triste ainda era quando se tratava de uma trilogia que desandava já no primeiro livro… Quando o livro era bom, eu ainda não estava fora de perigo. Geralmente vinha a preocupação com os personagens… Com o que o autor ia fazer com eles no final no final do livro etc. Claro que essas questões que aparecem quando você lê um bom livro, são as questões que valem a pena.
De qualquer maneira, isso não é tão acurado, pois eu sempre achei que mesmo um livro ruim valia a pena no fim das contas.de um modo diferente, certamente, mas ainda assim, não era de todo tempo perdido. Alguma coisa sempre ficava da leitura.
Agora, quando tento fazer o paralelo dessas experiências com filmes e séries eu fico insatisfeita.
Já ouvi algumas pessoas dizerem que ver uma boa série ou filme é como ler um livro. Talvez… Se você se engajar ativamente, ou seja, não só assistir, mas também pensar e debater sobre o filme ou série. Agora, se for uma produção ruim, eu tenho a impressão de que não tiramos nada, nada, nada dela. Diferentemente de quando lemos um livro ruim. O livro ruim ainda engaja mais a mente do que um filme ruim. A experiência é de outro nível.
E aí poderíamos falar das séries, especificamente. Cara, eu estou assistindo SuperNatural há treze anos! Eu não aguento mais! Mas você não consegue parar de ver. Vira um vício.
O paralelo com as trilogias ou as séries de livros é evidente. Temos séries e mais séries de TV atualmente transportando os livros para as telas.
E aí vem o argumento: porque as pessoas vêm as séries de TV, mas em bem menor escala, lêem os livros? Porque é muito diferente ler de assistir TV. Acho que o fenômeno do sucesso das séries prova isso.
Mas então, retomando o raciocínio. Ler livros tem seus problemas: se for um livro ruim e você ficar prazo à trama até o fim mesmo; perder a qualidade a medida que avança; ou ser ruim desde o início.
Esses problemas são como que potencializados quando passamos para as telas.
Se uma série ou filme são ruins, acaba que isso gera uma situação muito pior, mais vazia e menos instrutiva do que ler um livro ruim.
O último ponto que quero levantar é o seguinte: o principal argumento que eu ouço de algumas pessoas para justificar o porquê de escolherem as telas ao papel é que ler livros demora. Sinceramente, nós passamos de cinco a dez anos ou mais acompanhando uma série. Eu tenho certeza de que você demoraria menos tempo do que isso lendo um livro.
Não sou contra as séries ou filmes. Eu sou contra elas dominarem o universo da nossa imaginação.
Bom, eu me perguntaria depois desses argumentos: ler um livro ruim ainda é melhor do que ver uma série boa ou um bom filme?
Eu diria que não.
Mas eu também diria que, considerando o fato de que a escolha de séries, filmes e livros, nunca é garantida, mesmo com recomendações, resenhas etc, nunca sabemos com certeza da qualidade da obra (ou se ela será compatível com o nosso gosto) o apelo para que concedamos um lugar mais amplo para a literatura em nossa vida se sustenta.

Sobre o amor, o sofrimento e a esponja do mar. 

Ontem eu estava em um bar, na Lapa, discutindo relacionamentos amorosos.
Aí um amigo me perguntou como eu achava que deveriam ser os relacionamentos. Sofrer de amor é normal e necessário? Ou daria para viver sem sofrer de amor?
Eu disse: “Bom, acho que a utopia seria o amor livre universal. Muito amor, zero sofrimento”. Passamos as próximas quatro horas falando sobre isso.
Eu, partidária da idéia de que numa sociedade utópica isso seria possível. Ele afirmando que sofrer (por ciúmes e pelo término do relacionamento com a pessoa amada) é o indício do quanto a pessoa significa para nós. Indício do fato de que elas são insubstituíveis. Eu afirmando que, na minha utopia, mesmo se um relacionamento acabasse, você estaria enredado numa rede de amor tão grande e intensa, que não haveria sofrimento. O único sentimento possível seria felicidade. Você ficaria feliz por aquela pessoa que se afastou de você ter ido dar e receber amor de outras pessoas.
Ele achou esse mundo que eu descrevi frio, individualista, cheio de pessoas descartáveis.
Eu ficava pasma.
Como frio? No nosso mundo a gente sofre pela perda do amor de uma pessoa porque o amor é escasso. A gente vive uma intensa fome de amor. Cada pessoa que a gente perde atualmente significa uma ameaça de solidão e de solteirisse, de relacionamentos vazios para o resto da vida.
Num mundo com muito, muito, muito mais amor, as pessoas que se vão, teriam para sempre um lugar especial em nosso coração, claro, mas não sofreríamos justamente por saber que ela estava apenas indo ser feliz amando outras pessoas. Não seria uma perda, um término. O amor não seria um período de relacionamento marcado pelo tempo que ele dura. O amor entre todas as pessoas seria eterno e profundo.
A resistência dele em relação à minha utopia (ou seja, não é algo para se colocar em prática amanhã, nem daqui a vinte anos sequer, é meramente um sonho, um olhar sobre um futuro alternativo distante) me fez lembrar de um exercício de imaginação que eu fiz há umas semanas.
Nesse exercício eu era instruída a pensar no meu salário dos sonhos, o dinheiro que eu gostaria de ter na minha conta todo fim de mês. Depois que eu idealizava a quantia, a pessoa que estava orientando a visualização dizia: “Agora que você já pensou no seu salário ideal, pense em um número mais alto do que esse que você imaginou”. Eu pensei comigo mesma: “Não! Mais alto ainda?! Gente, eu não consigo nem imaginar isso”. Precisei me esforcçar muito para seguir a orientação. E ainda assim, não dava nem para ficar milionária com os números que eu imaginei.
Depois, pensando no exercício, eu fiquei boba. Era uma exercício de imaginação! Eu poderia me imaginado ganhando dois bilhões de euros por semana. Mas eu estou tão presa à minha realidade, que mesmo na imaginação, é difícil me libertar.
Me pareceu que meu amigo estava sofrendo do mesmo sintoma.
A gente fica tão preso ao fato de que sofremos e muito ao longo de nossa vida amorosa, que fazemos essa extrapolação, e pensamos que é absolutamente necessário sofrer quando se ama uma pessoa. Não conseguimos conceber o amor sem sofrimento.
Isso é muito triste.
Eu prefiro dar asas à imaginação e pensar no melhor cenário possível. Tornarei esse um exercício constante em minha vida.
No fim das contas, minha mãe já me alertava para isso desde que eu era pequena.
Ela me contava a história da esponja e da estrela do mar, que era mais ou menos assim:
A esponja, que morava lá no fundo do mar, via a estrela do mar e pensava como deveria ser boa a vida da estrela do mar. Certo dia, Deus se voltou para a esponja do mar e disse: “Esponja, hoje é o seu dia. Você pode escolher qualquer ser no universo inteiro no qual você queria se transformar, que eu vou realizar seu desejo. Você pode escolher ser uma planta rara no deserto, um pássaro e voar livre junto com os quatro ventos do mundo ou ainda ser qualquer um dos astros do céu…” A esponja interrompeu o Senhor e falou: “Ok, ok, Deus. Eu já sei o que eu quero! Eu quero ser aquela estrada do mar ali”! E Deus transformou a esponja na estrela do mar.
Essa história mostra justamente como nossos desejos e sonhos são limitadas pelo que está bem diante do nosso nariz.
Esse não é aquele papo de que é só mentalizar que a coisa vai cair no seu colo. Eu nem estou falando realizações ou metas. Estou meramente falando de libertar a imaginação para pensar em coisas melhores e mais positivas. Só isso já causa um impacto maravilhoso em nossa vida.

Eu não acredito que Stephen Hawking faleceu. 

É claro que desde hoje cedo estou pensando a respeito de como escrever sobre a morte de Hawking.
A verdade é que não sei da vida dele para além do que é mostrado no filme A Teoria de Tudo e que não sei de seus estudos ou teorias.
Mas certamente eu sempre soube da figura dele. Do físico brilhante que venceu inúmeras barreiras e que, contrariando todas as chances, se tornou mundialmente e eternamente famoso.
No fim das contas ele era a encarnação da vitória da mente humana sobre todas as adversidades. E a existência dele era um conforto e uma fonte de inspiração.
Talvez seja estranha a notícia de sua morte justamente por isso, porque ele é um imortal.
Assim como outras figuras das artes, da filosofia e da ciência, seu nome, sua vida e suas idéias serão comentadas e debatidas vivamente ainda por muito tempo.
E nós estamos acostumados com o fato de que a grande maioria das figuras famosas que veneramos, admiramos, estudamos, está morta.
Mas este gênio imortal, Stephen Hawking, estava vivo e, infelizmente, faleceu hoje. Ele compartilhou do nosso tempo. Eu respirando aqui na minha casa e ele lá na dele. Esse é um sentimento que que a gente não aprecia todo dia.
Ainda mais por esses motivos, sua morte é uma grande tristeza e um tremendo choque.

Mas, vamos aguardar, quem sabe ele realmente quebrou a barreira da viagem no tempo e a gente ainda esbarra com ele de novo no futuro…

“O seu dia começa aqui”.

Eu não fui geneticamente constituída para acordar cedo, como eu já falei para vocês.

Mas eu tenho tido que acordar bastante cedo nas ultimas semanas e eu não vejo isso mudando nos próximos meses. Vou estar ainda mais atarefada do que nas últimas semanas, com muitas atividades logo cedo.

Eu tenho sentido ao longo do dia aquele cansaço que eu não me lembro de sentir desde os tempos de faculdade.

Durante os tortuosos anos da escola e o início da faculdade, eu era obrigada a acordar cedo todos os dias. Eu vivia com uma funda olheira e um cansaço constante. Do meio da faculdade e diante, já fica bem mais fácil fazer o seu horário de modo que você não pegue matérias no período da manhã e os meus estágios em clínica e pesquisa também eram em horários favoráveis ao meu ritmo biológico.

Quando comecei a trabalhar em consultório particular e fazer o mestrado, meus horários continuaram sendo ajustados ao meu ritmo biológico. Eu tinha que acordar cedo uma ou duas vezes na semana, o trabalho e o estudo ficavam para os turnos da tarde e da noite.

Ultimamente, novas atividade profissionais têm me feito acordar cedo mais umas três vezes na semana. Este novo projeto vai durar ainda pelo menos três meses, portanto, tem muita barra para aguentar ainda (com o meu esforço para que isso renda bons frutos, claro).

Mas, enfim, estas são as minhas escolhas no momento.

O que tem me incomodado é que eu tenho tido que pegar o metro quando saio para trabalhar cedo. E o metro teve a horripilante ideia de colocar a frase O SEU DIA COMEÇA AQUI, assim mesmo, em letras garrafais nas estações. E eu fico muito irritada quando eu vejo essa frase. Não, Metrô Rio, o meu dia não começa aí, quando eu pego o metro para trabalhar.

O meu dia começa na minha casa quando o meu despertador toca pela primeira vez e eu, ainda zumbizando de tanto sono, aperto o botão da soneca no celular. Três ou sete minutos depois, soa o despertador do meu marido. Ele gosta de números quebrados e ímpares, então, enquanto eu ponho o meu despertador para 07h, ele põe o dele para 07h03 ou 07h07. Nesse momento eu já estou um pouco mais desperta. Quando o soa novamente o meu alarme, eu, geralmente, levanto da cama.

Então, dependendo do meu humor e do quão cansada eu estou, eu coloco uma série “aconchegante” para passar na TV (tipo Friends), ou eu coloco música para tocar. Nos dias em que eu estou mais cansada, música para dar um up, nos dias em que estou mais mal-humorada, uma série costuma me deixar mais felizinha (só uma curiosidade: o meu corretor quer que eu corrija “felizinha” por “feiazinha”. Onde esse mundo vai parar, meu deus?!), traz boas sensações.

Eu deixo o café passando enquanto tomo banho. Às vezes meu marido levanta para me ajudar com essas coisas. Ele prepara o café da manhã, separa algumas coisas que eu tenho que levar caso eu tenha esquecido de guarda-las na bolsa que deixo pronta da véspera, me dá uma opinião quanto à roupa.

Comemos falando sobre como vai ser o dia.

Últimos retoque e verificações e eu estou pronta para sair.

Eu moro a meio caminho entre duas estações de metrô. Ou eu ando 20 minutos até uma delas, ou pego um ônibus até a outra. 20 minutos de caminhada para pensar na vida, quando eu saio cedo e não estou de salto, essa costuma ser a minha opção; ou a aventura que é andar de ônibus no Rio de Janeiro, quase sempre, uma aventura.

Aí, enfim, eu chego até o metrô.

A gente não pode menosprezar nenhum momento das nossas vidas. Mesmo na correria da manhã, eu passo ótimos momentos e isso me dá energia e felicidade para passar o dia. Se o metrô me convence de que o meu dia começa ali, naquela lata de sardinha com o trabalho como a próxima parada, por mais que eu goste do meu trabalho, eu piro.

Só o que me falta é eles começarem a colocar esses letreiros, que atualmente são tipo cartazes, por painéis tecnológicos que, às quatro horas da tarde vão mudar para SEU DIA TERMINA AQUI.

Para escrever é preciso estar bem?

Estou passando mal. Acho que estou com febre e estou com muita dor no corpo (não é dengue! Acho que é a rebarba do estresse e cansaço da semana).

Eu fiz um curso de escrita criativa há um tempo na Academia Internacional de Cinema (AIC) e um dos professores disse que não escrevia quando estava mal. Tudo bem que ele disse mal no sentido de estar triste. Estávamos discutindo estas questões: o artista precisa ser um amargurado, ressentido com o mundo? A criatividade brota dos estados de mais profunda melancolia?

Ele disse que não. Que ele particularmente só conseguia escrever quando estava bem, feliz.

Para mim, depende. Eu escrevo nos dois estados. Principalmente em se tratando da prática da escrita terapêutica, faz sentido escrever quando estamos tristes.

Mas olha… Isso que ele falou certamente vale para quando se está mal de saúde. Porque eu demorei umas três horas antes de conseguir finalmente tirar alguma coisa dessa minha cabeça hoje.