Empatia tem limite.

Eu a vejo como uma pessoa boa. Sua empatia não tem precedentes. Dar a outra face? Ela vai além da exortação de Cristo. Ele pede desculpas por ter te provocado a bater nela e aí então oferece a outra face para que você se sinta melhor. Para que possa puní-la por ela ter feito por onde merecer punição em primeiro lugar. Porque ela entende a sua raiva e não quer ser mais um motivo de desgosto e irritação para você.
Quando a mãe bate, ela lembra da infância dura que ela teve; quando o marido trai, ela pensa que também ela não é lá uma esposa tão perfeita assim; quando o irmão ignora, ela lembra que roubava os bonecos dele quando eram crianças para que se casassem com suas barbies.
Mas ela sofre, viu? Como sofre. Por isso não me espanto dessa faca na mão, esse sangue nos olhos. Quem você acha que uma pessoa nessa situação mata primeiro? A si mesmo ou aos outros? Se você estivesse lá, se você tivesse visto, eu aposto que teria feito exatamente a mesma coisa.

Series finale.

Eu queria que as séries que eu gosto durassem para sempre.
Fico muito triste quando elas terminam.
Alguma coisa com o hábito de assisti-las e a regularidade, sei lá.
Eu tenho essas fixações.
Sempre vou nos mesmos restaurantes e peço as mesmas comidas, por exemplo.
Ouço as mesmas músicas repetidas vezes.
Eu até conheço coisas novas, sabe? Mas elas passam rapidamente a integrar uma estrutura rígida.
Eu costumo brincar dizendo que eu nasci para ser fã de Malhação (que eu infelizmente odeio), porque o troço não acaba nunca! Está passando desde que eu me entendo por gente e vai continuar depois de mim. É desse tipo de coisas que eu estou falando.
Discordo completamente de quem acha que é a finitude que confere valor às coisas. Isso não é verdade. A finitude acaba com o valor que as coisas têm em um golpe curte e seco que tem data e hora para acontecer. 
Não… Também não acredito nisso.
A finitude não tem esse poder.
As coisas que perdemos mantém o seu valor brilhando como um diamante resistindo sob o poder esmagador de um buraco negro. Ela não destrói o que amamos, mas torna tudo muito mais triste.
Eu amo o final do filme A Rainha dos Condenados. O casal andando na rua com a velocidade das coisas passando aceleradas ao redor e eles seguindo sempre em frente, ao mesmo tempo que estão fora do tempo. 

Essa é a minha idéia de um final feliz, um não final.

Não te amo nem nunca vou te amar. 

De novo,
Ela
Na minha cabeça.
E eu?
Aqui sozinho.
Eu,
Sinceramente,
Não amo.
Amar você?
Mas insisto.
Insanidades.
Descontentes
E alucinados
Sempre que nos encontrávamos
Eu e você.
Estava tudo errado
E você repetindo
Está tudo certo
Mas não estava.
E eu sabia
Mas concordava
E rolava tanta química
Que eu cagava para todas as suas verdades deturpadas.
E eu pedia para continuar
Apesar de saber
Sempre saber
E não conseguir parar de saber
Que ia dar merda.
Eu e você
Fomos feitos um para ferir o outro
Na medida exata da nossa dor.
Eu não te amo.
Eu só não podia evitar.

Poeira do espaço sideral.

Não importa quando acaba. Quando começa.
Ou o quanto dura.

De vez em quando eu sou tomado por este arroubo de desesperança,
Por essa angústia.

Mas eu acredito no sentido. Que existe um sentido. De verdade.
Um sentido humano.
Absolutamente humano.
Tão real, que no fundo é a única coisa que existe de fato e que verdadeiramente importa.

E o mais importante mesmo é estar vivendo isso tudo agora, aqui, com você.
Eu te amo. Muito.
Não importa quando, nem onde, nem como, nem porque ou até quando ou desde quando; importa que seja intensa, apaixonada, forte e profundamente.

Era uma vez… Só que não. 

Era uma vez um rei muito rico, belo e poderoso. Seu reinado foi muito logo e próspero, mas seus súditos e os nobres da corte se preocupavam, pois o rei ainda não havia se casado e não tinha herdeiros.
O rei finalmente resolveu se casar com uma jovem princesa de um reinado além-mar.
No entanto, uma feiticeira maligna amaldiçoou a união e, toda vez que a princesa tentava embarcar para encontrar seu amor, uma tempestade terrível impedia sua viajem. Ele resolveu então viajar com seus homens mais valentes para resgatá-la.
Após duras penas, o rei e rainha sentaram-se em seus tronos.
Mas antes que pudessem viver felizes para sempre, o rei foi em busca da bruxa que havia ameaçado a vida de sua amada, para que jamais precisassem se preocupar novamente.
O rei, então, descobriu que cem bruxas malignas se reunião em suas terras para realizar rituais satânicos matando criancinhas e bebendo seu sangue, realizando estes rituais malignos para atrapalhar a felicidade de homens e mulheres tementes a Deus.
Com a ajuda dos anjos o corajoso rei matou noventa e nove bruxas de uma só vez. A centésima ele levou para o seu castelo para servir de exemplo. Lá, ele envios ferros em brasa em sua língua e depois queixou-a viva. E todos os bons cristãos viveram felizes para sempre.

Só que não.

Esse seria mais um conto de fadas bizarro se não fosse uma história real. A história do Rei Jaime IV da Escócia e I da Inglaterra.

Fiquei sabendo dessa história a partir do livro “O Lado Sombrio dos Contos de Fadas”, de Karin Hueck. 

O livro é extremamente interessante, trazendo as versões originais de diversos contos e realizando uma análise de seus conteúdos  a partir dos significados simbólicos e de possíveis relações com eventos históricos reais. 

O fato real narrado no início deste texto, por exemplo,  ilustrativa o modo como os contos de fadas passaram a ser povoados por tantas mulheres malvadas trabalhando sob a influência do demônio. As bruxas começam a se tornar uma ameaça real e constante na vida das pessoas a partir do século XVI, período do reinado de Jaiminho justiceiro. 

Assustador. 

Mas vale muito a pena a leitura. 

Recolhimento. 

Olá! Tudo bem? Então, me desculpe, mas eu não vou poder cumprir o que combinamos. Sinto muito. Eu sei que era importante. Eu não quero que você fique chateada comigo. Isso não significa que eu não quero estar presente, ou que você não é importante para mim. Você é muito importante para mim. Mas a vida está tão louca, tudo tão corrido. Eu inclusive preciso desabafar também. E quero ouvir os seus desabafos, mas não vai dar para ser nesse momento. Você acha que a nossa amizade resiste a esse imprevisto? Eu espero que sim. Eu queria me desdobrar e ir até você, só que eu estaria cometendo uma violência comigo mesma se eu seguisse em frente com esse plano. Talvez no final de semana que vem role da gente tomar um café. Mas, nesse momento, eu preciso de um tempo de recolhimento. Suspendi todos os meus compromissos, inclusive, não só com você. Liguei para o trabalho e disse que só voltaria depois do feriado, vou ficar sem ir à academia, olhei a geladeira agora para confirmar que não vou precisar sair de casa nem para ir ao mercado. Qualquer coisa eu peço comida. Para você ver. É de um tempo mesmo que estou precisando. Quem me dera eu tivesse respeitado esses momentos mais vezes ao longo da vida. Você também poderia fazer isso de vez em quando, sabe? Eu sei que você sofre assim como eu com essa loucura que é a vida cotidiana. Eu compreenderia se você tivesse essa mesma demanda e estivesse desmarcando comigo para passar um tempo consigo mesma. Enfim, estarei fora de alcance nos próximos dias. Acho que até que o celular vai ficar desligado. Assim que eu encerrar esse meu momento, sair do meu recolhimento, eu entro em contato ou você. Beijos e até!

ANTES DE DORMIR PROGRAMEI UM SONHO.

Eu acordei gritando. Foi isso? Minha garganta está um pouco estranha, mas não está exatamente dolorida. Eu tive um pesadelo, será? Com o que eu estava sonhando? Bom, pode ter sido apenas o estresse. Fui dormir muito estressada, não devia ter tomado aquele café depois da janta, mas também não devia ter bebido, não é… Enfim, eu vou dormir estressada, cheia de estímulos conflitantes no meu organismo e pronto! Acordo no meio de uma crise de ansiedade. Mas será que foi isso mesmo? Eu acho que eu estava sonhando com alguma coisa…. Acho até que meu marido estava lá… Sim… Nós estávamos em uma praia e haviam dois navios imensos no horizonte que se agigantavam monstruosamente conforme se aproximavam da orla. A aproximação destes navios causou um enorme tsunami que engoliu a nós dois e a mais alguns outros entes muito queridos. Quando eu estava sendo puxada para o fundo do mar a reação começou a acontecer e eu acordei gritando. Nossa… Que sonho horrível… Que será que isso quer dizer?

NO DIVÃ

 Depois disso levei uma eternidade para voltar a dormir e, mesmo tendo dormido novamente mais umas boas três horas, acordei exausta. O que me diz? O que esse sonho significa? A primeira coisa que eu pensei a respeito dos navios é que eles me lembravam o Titanic. Uma linda história de amor, mas fracassada, não é? Fracassada porque ele morre no final! Ele morre. É o fim último e incontornável de todos os relacionamentos. Será que eu quero terminar o meu relacionamento? Mas se fosse isso mesmo, não teria motivo para que eu morresse também. Pode ser que eu esteja insatisfeita com quem eu sou nesse relacionamento. Mas e os meus familiares que estavam lá e que morreram também? Ah, esquece. Eu não sei para que serve isso de interpretação dos sonhos para vocês psicanalistas. Do jeito que vocês falam, parece até que fui eu quem programou este sonho antes de dormir, mas isso não é verdade e eu simplesmente não tenho responsabilidade nenhuma sobre os meus sonhos.

 

(Eu escrevo sobre a minha própria vida frequentemente. Como no blog eu escrevo todo dia, a maioria dos textos acaba nascendo de algum acontecimento cotidiano mesmo. Mas eu continuo escrevendo outras coisas: contos, tenho um romance em construção… E, de vez em quando, eu posto esses outros textos no blog. Estou escrevendo isso, pois algumas pessoas têm ficado preocupadas comigo por causa de certos textos que, na verdade, são ficcionais. É o caso deste texto de hoje. É um texto ficcional. Eu costumo separá-los por categoria. Aqueles textos que estão na categoria AUTOBIOGRÁFICOS realmente aconteceram comigo. Se o texto não estiver nesta categoria, ele é ficcional. Então fiquem tranquilos, eu estou bem)!

 

Você consegue correr nos sonhos?

Eu estava atravessando a Av. Presidente Vargas de madrugada e estava vindo um carro em minha direção. Acelerei o passo e tentei começar a correr, mas o meu esforço teve o efeito contrário, quanto mais eu tentava acelerar, mais pesado ia ficando o meu corpo. Eu fiquei de joelhos e em dois segundos já estava rastejando pela rua e tendo que rolar pelo chão para conseguir chegar na calçada do outro lado.
Meus sonhos não são sempre assim. Geralmente, quando eu tenho que fugir de algo ou quando preciso me movimentar com velocidade, eu viro a melhor do mundo no le parkour. A melhor do mundo! Eu escalo prédios e pulo de telhado em telhado, dando saltos incríveis e em super velocidade sem problema nenhum. Como pode?! Às vezes eu até vôo. Mas correr mesmo de modo tradicional? Impossível.
Fui procurar na internet o significado disso, achei um monte de baboseiras a respeito de viagens pelo mundo dos espíritos perseguidores que querem nos devorar, sobre dívidas e arrependimentos do passado dos quais não conseguimos escapar etc., mas foi interessante descobrir que muitas pessoas têm essa mesma experiência.
O que isso pode significar eu não sei (digo em sentido laico mesmo. Como é o funcionamento do nosso cérebro enquanto dormimos? Ainda não temos respostas científicas satisfatórias para as perguntas sobre o sono e o sonho), mas é interessante saber que trata-se de uma experiência compartilhada essa dificuldade de correr nos sonhos. Eu não sei se isso aumenta ou diminui o número de perguntas a respeito desse fenômeno, mas isso é certamente interessante.
Uma das coisas que a ciência nos diz, hoje em dia, é que todo mundo sonha, vários sonhos por noite, e que algumas pessoas têm mais facilidade para se lembrar dos sonhos do que outras. Mas e quanto ao conteúdo dos sonhos? Será que eles são mais homogêneos do que pensamos?
Como os sonhos são sempre meio loucos, acho que tendemos a acreditar que ele são muito únicos e particulares. Mas sabe o que eu penso? A loucura em si, a loucura clínica, também nos parece absolutamente singular, mas geralmente os delírios giram em torno de certos temas específicos (delírios de perseguição, por exemplo) que já foram identificados pelos pesquisadores da saúde mental. Será que os sonhos também apresentam essa característica? Um estudo extensivo dos sonhos que as pessoas sonham nos permitiria classificá-los de acordo com as temáticas presentes ou os eventos que os constituem? Se alguém quiser me patrocinar, eu teria interesse em fazer essa pesquisa.

Santa Apolônia. 

Na antiguidade, alguns filósofos (Sêneca, por exemplo) acreditavam que dor de dente era um motivo legítimo para o suicídio (quem já passou por isso afirma que a dor é tremenda).
Falei isso para o meu dentista hoje e ele me presenteou com duas histórias bizarras (fascinantes para mim, como escritora).
A primeira foi uma história que o avô dele contava. Meu dentista já tem uma certa idade e o avô dele morreu há uns trinta e cinco anos com mais de oitenta anos, então o avô do meu dentista nasceu em torno de 1890. Tem muito, muito tempo. Nenhuma das duas grandes guerras tinham acontecido; o telefone havia sido inventado apenas vinte anos antes; o primeiro filme da história ainda não havia sido filmado. Lá naquela época, a prática da odontologia era muito diferente da atual, começando pelo fato de que aqueles que cuidavam dos dentes da população não precisavam ter uma formação específica (para você ter uma idéia, a profissão foi regulamentada no Brasil em 1964).
Bom, lá naquela época, contava o avô do meu dentista, numa cidade do interior, a população tinha a oportunidade de tratar as dores de dentes só de vez em quando, nas épocas em que um certo frade visitava o local. O frade caminhava pelas ruas tocando uma sineta e carregando uma mala grande e pesada. Quando algum necessitado ouvia a sineta, chamava o frade até a sua casa, e ali na porta da rua mesmo, o frade abria sua mala grande e pesada que estava cheia de alicates e arrancava o dente do queixoso.
“Sem anestesia, sem nada”, meu dentista complementa. E eu falei: “Nossa devia ser uma dor horrível”. “Quando não levava à morte”, ele completa.
E então, apontando para a imagem de uma santa em seu consultório, me conta a história de Santa Apolônia.
Apolônia de Alexandria foi perseguida pelos romanos nas suas investidas contra o povo cristão no início da nossa Era, por volta de 250 d.C. Quando atacada, ela teve todos os seus dentes violentamente quebrados ou arrancados e não sobreviveu ao ataque. Ela se tornou mais tarde, a padroeira dos dentistas e daqueles que sofrem com dor de dente.
Cacete. Ir ao dentista é sofrido ainda hoje em dia, mesmo com cadeiras confortáveis, reclináveis, ar condicionado e tudo limpinho. Fico me perguntando se esse horror todo do passado deixou uma marca no nosso DNA. Antes, o barulho da tal sineta devia causar o horror que temos hoje ao ouvir o som da broca (só de escrever me dá nervoso).
Certa vez eu conheci uma menina que disse que amava o som da broca do dentista e eu me afastei na hora! Eu pensei: “Jesus! Essa mulher não é de Deus não”! (que fique claro que isso é uma piada. Eu não acho que a mulher tinha ligação alguma com o capeta até porque eu nem acredito que um tal ser exista. Eu ia deixar esses comentários subentendidos, mas na situação atual é melhor não abrir margem para dúvida alguma).
Um mal necessário, pelo menos a minha visita ao dentista de hoje foi muito interessante. Pensei até em retomar um conto que eu esbocei há uns três anos sobre uma mulher com problemas nos dentes.

Metáforas.

Você é o milho da minha pipoca

O ácido na digestão

Você é a cola da minha coca

A ideia na minha revolução

 

Você é a roda do meu carro

O álcool da tequila

Você é a volta de um barco

É amor na minha vida

 

Você é o casaco no frio

O oxigênio na combustão

Você é a água de um rio

O homem que me causa ilusão

 

Você é o grau da minha lente

É o meu ângulo adjacente

São seus os cabelos no meu pente

Ó, minha luz do sol poente

 

Você é o giz que risca meu quadro

É o solado do meu sapato

Tu és meu, somente meu amado

 

Você é o sangue em minha veia

O produtor em minha cadeia

Preso, atado em minha teia

 

Você é o fogo que me queima

E o band-aid que me cura

São tuas todas as minhas juras

 

(poema produzido durante uma aula chata do ensino médio em maio de 2007, que apenas anos mais tarde encontrou destinatário…).