Balão preso na pedra. 

Minha cabeça está como um balão, voando lá em cima, leve e balançando com o vento. presa no pescoço por um cordão bem fininho.
Meu corpo, pesado, se arrasta pelo chão, de casa para o trabalho, do trabalho para casa.
Meu corpo afunda na cama, minha cabeça viaja no tempo. Meu corpo dói, minha cabeça brilha, macia e flexível, enquanto meu corpo rígido quebra sob a pressão.
Minha cabeça pensa e pensa, mas meu corpo parece que se recusa a agir. Minha mente me diz as palavras certas, mas minha boca não se move. A cabeça sabe, aponta para onde ir, mas as pernas e os braços estão imobilizados.
As pessoas vêem o meu corpo, mas a minha mente tem mais cores, mais formas e mais vida do que eu estou conseuindo colocar para fora neste momento. Meu corpo tem censura, é depositário de expectativas frustradas e está cheio de cansaço acumulado. Mas a minha mente é livre e totalmente dona de si. Então, não pare na porta. Se você quiser verdadeiramente me conhecer vai ter que entrar aqui dentro e fazer o grand tour junto comigo pelos cantos dos meus mistérios e das minhas alegrias. Eu sei que é assim que eu gosto de conhecer as outras pessoas.

A felicidade de um dia simples. 

Um bom dia amanhece assim com o gato deitado quieto no pé da cama. Com tempo pro café e pro carinho antes de sair de casa para trabalhar.
Continua comigo andando pelas ruas tranquilas da Tijuca. No Rio de Janeiro? Eu esqueci de sentir medo naquele instante. Estava com a cabeça em outro lugar. Indo para a dança dançar. E dancei bastante. Bons momentos. Eu olhava para a barra de poledance, tranquila, relaxa, respira fundo, sente o suor escorrendo. Que calor eu estava sentindo, bem ali do lado da menina magrinha que estava morrendo de frio. Claro! Eu posso trocar de lugar com você.
Depois casa, comida, sem roupa lavada, mas com muito amor e preguiça, passamos a tarde pintando. Sem drama. Sem calafrio. Sem lágrima. Sem tristeza. Ainda assim, com muita emoção. Uma vez me disseram: “Se o casal sai para jantar, janta, volta para casa e fica tudo bem, eu não quero ler essa história. Mas se o casal sai e um dos companheiros esconde um segredo, aí sim, essa história me interessa”. O que isso significa? A gente gosta de drama. E por isso eu me perguntei: “O que eu vou escrever hoje? Eu tive o mais perfeito dos dias”! Eu não sei. Talvez eu esteja feliz e otimista demais para escrever hoje. Me esforcei, mas talvez não tenha mesmo nenhuma tristeza que eu possa desenterrar neste dia. E chega, eu não vou me preocupar muito mais com isso. Vou apenas me contentar em escrever sobre a felicidade deste dia simples e vou me ocupar de ser feliz com todo o meu ser e me agarrar a este sentimento pelo tempo que ele durar, pois eu sei que nem todos os dias são assim.

Feliz dia dos pais. 

Pai, eu sei que as coisas estão complicadas para nós. O relacionamento entre as pessoas fica complicado assim mesmo quando uma das duas morre. Não é fácil. Mas eu quero que você saiba que gosto dos nossos papos, dos seus conselhos, gosto da companhia que você me faz em momentos difíceis.
A morte é uma coisa muto estranha. Essa ausência é irreal demais. Por isso eu espero que você me perdoe por imaginar que você ainda está presente. Não sei se isso perturba o seu descanso. Mas eu não consigo esquecer nem abrir mão. Você tá achando que só porque você morreu eu vou te deixar em paz e parar de te dar trabalho?! Vai sonhando. Vamos continuar tendo brigas e boas conversas pelo menos até o dia em que eu morrer também. Até lá você continua vivinho da silva dentro da minha cabeça, ou coração, não sei.
Estando em algum lugar ou não estando em lugar nenhum. Debaixo da terra ou alto no céu. Reencarnado ou tendo virado adubo. Eu estando louca ou apenas com saudades. É inegável que ainda há alguma vida em você. Então, feliz dia dos pais para você. Eu te amo muito.

Até mais, domingo. Volte logo! 

Esse domingo vai embora deixando flores pelo caminho, cheiro suave de raios de sol no sofá, a barriga cheia de comidas que só no domingo tem tempo para preparar.
Adeus domingo, até semana que vem. Volte logo trazendo meu descanso, tempo ocioso e uma boa desculpa para não olhar o whatsapp.
Já estou com saudades!

Coloque uma pitada de felicidade na sua tristeza.

– Eu acho que estou me sentindo melhor.

– Que bom! O que melhorou na sua vida?

– Algumas coisas… O chato é que eu continuo não conseguindo ir malhar três vezes por semana ainda e a alimentação ainda não está do jeito que a nutricionista falou.

– Mas já melhorou alguma coisa, não é? E você já está indo à academia? Da última vez que nos falamos você ainda não tinha se matriculado.

– Sim. Mas você sabe que ainda aconteceu outro problema? Sabe aquele prazo do trabalho que eu falei?

– Sim.

– Já está chegando e eu ainda não consegui entregar nada.

– Mas você não perdeu o prazo ainda?

– Não, mas está perto. Não sei se vai dar tempo.

– Entendo. Mas você disse que as coisas haviam melhorado?

– Sim. Acho que estou melhor ultimamente.

– Me diga o que melhorou!

– Ah, algumas coisas melhoraram. Só essa questão do trabalho que ainda está complicada, sabe? Ainda tem aquele cara me tira do sério. Ele é um saco. E, menina, nem posso te chamar para ir lá em casa. Está tudo uma bagunça!

– Mulher! Você me disse que as coisas melhoraram. Eu te perguntei o que melhorou, mas você me responde com outros problemas! As coisas melhoraram ou não?

– Melhoraram sim!

– Então, cacete, me diz especificamente o que melhorou! Faz esse esforço.

– Hum, ok. Bom, como você falou, eu comecei a frequentar a academia. Faz um mês já. Eu não estou conseguindo ir as três vezes por semana que seriam ideais, mas eu fui uma ou duas vezes por semana nesse tempo. De qualquer modo, começar a fazer academia me animou e eu passei a usar as escadas no trabalho. Menos quando chego atrasada, porque eu ainda não estou dormindo tão bem assim. Mas ok, você quer as coisas boas.

– Isso.

– Eu fui à nutricionista também, não é? Eu estava precisando voltar. E já estou comendo melhor. Perdi um quilo só esse mês, mas já é alguma coisa.

– É verdade. Parabéns!

– Obrigada. Hum… Esse prazo do trabalho, eu ainda não terminei, mas eu já fiz alguma coisa, na verdade eu já tenho em mente o que preciso fazer e, se eu focar nos próximos dias, eu acho que consigo terminar a tempo.

– Você já passou por situações desse tipo antes? Conseguiu cumprir os prazos mesmo depois de procrastinar?

– Sim.

– Então as evidências estão a seu favor.

– Acho que sim. Bom, estou feliz também porque minha família está apoiando a dieta. Meus filhos reclamam, mas sabem que é para o meu bem, então eu tenho feio algumas comidas diferentes para eles, mas eles têm comido comigo coisas saudáveis da dieta. Isso me poupa trabalho.

– Ótimo.

– É verdade. E eu também estou pensando, sei lá, estou querendo viajar ou fazer algum passeio bacana… Não sei bem ainda, mas tenho me sentido mais animada ultimamente.

– Que bom! Parece que tem muita coisa boa acontecendo em sua vida.

-É. Acho que sim.

 

 

Reconhece esse tipo de situação? Para falar das coisas negativas nós temos uma bela memória, criatividade e vigor, mas as coisas positivas precisam ser arrancadas de nós. Dependendo de com quem estivermos falando, essas informações ficarão guardadas dentro de nós e não serão valorizadas. Ou pior, serão esquecidas. Da próxima vez que você for falar da sua vida, esforce-se por pensar e colocar para fora as coisas boas. Não precisa ser feliz como nos comerciais de margarina, mas coloque pelo menos uma pitada de felicidade no meio da sua tristeza.

O que são esses domingos…

Não foi tempo suficiente.
Esse domingo arrastado, esse sol quente, essa comida boa, todo esse amor.
E amanhã, segunda feira, novamente eu vou sair cedo, você vai fazer qualquer coisa e eu vou ter que ficar fora até o sol se pôr e mais um pouco ainda.
E depois de novo, várias e várias outras vezes.
Só mesmo todo o amor do mundo para suportar sentir tanta dor assim por não poder passar todas as horas de todos os dias com você e ainda te amar cada vez mais e mais.

Pessoas interessantes. 

Elas andam por toda parte.
Essa é a resposta para uma pergunta que li num livro dia desses: “Por onde andam as pessoas interessantes”?
Por toda parte. É a resposta.
“Conversar com uma pessoa é como ler um livro”.
Sim. Todas as pessoas têm uma história interessante. Ou talvez seja apenas por acreditar nisso que eu seja psicóloga e escritora. Sinto uma imensa curiosidade pela vida das outras pessoas. Quero ouví-las, entendê-las, conseguir compreender o que estão sentindo. Nunca ouvi uma história chata. Se você ouvir por tempo suficiente, pérolas começam a brotar dos discursos das pessoas.
Nem sempre estamos dispostos a ouvir, é claro. Eu tenho meus dias nos quais estou tão submersa em meus próprios pensamentos que não tem espaço para mais ninguém dentro da minha cabeça. Mas isso não diz nada das outras pessoas e sim do meu momento.
Então esse papo de que “fulano é realmente interessante, Beltrano, não” (comentário que normalmente expressa um preconceito cultural que você ouve muito no meio de gente cult que se acha a cerejinha do bolo das capacidades intelectuais e artísticas) me irrita e desgosta muito.
Onde estão as pessoas interessantes? Olhe para o lado. Aí está ela.

Que cérebro é esse?

Eu tinha tido uma idéia fodaaa para o texto de hoje. Aí pensei: não vou esquecer isso de jeito nenhum. Tranquilo. Não preciso nem anotar. Claro que eu esqueci qual era a tal da grande idéia. Estou aqui sentada há umas duas horas tentado me lembrar o que era. Não consegui. Mas esse processo me rendeu um pensamento estranho… Como é engraçado esse negócio de “fazer esforço para lembrar” de alguma coisa. Eu não sei se esse tipo de esforço mental existe. Quando a gente tenta levantar algo pesado, por exemplo, sentimos os músculos dos braços sendo tensionados. Sentimos claramente o tal esforço. Por outro lado, quando eu pelo menos, vou fazer um esforço mental, eu, sinceramente, não sinto nada. Não sinto meu cérebro tensionado, não sinto a musculatura do corpo retesada, não dá para ver nem sentir o esforço de modo algum. Quase dá para duvidar que a gente tem um órgão tão importante dentro da cabeça. De um certo modo é até reconfortante ter uma dor de cabeça porque aí você tem mais consciência do dito cujo. Dizem que isso é um grande problema. Não é? Sentir os próprios órgãos. Quando você não sente que tem coração, está tudo bem. O problema é quando você começa a sentir o coração por algum motivo. Aí significa que tem algo errado (isso é quase um ditado popular. Como psicóloga eu tenho que fazer uma observação importante. A ansiedade se manifesta no corpo da gente. Portanto, quando sofremos com ansiedade, sentimos o coração e também outras partes do corpo que normalmente não sentimos, mas isso se trata de algo psicológico. Não quer dizer que você está correndo risco de vida. Você precisa apenas ir ao psicólogo se cuidar). Bom, eu acho estranho isso de não sentir os órgãos. E isso me faz indagar que tipo de esforço estranho é esse que fazemos para raciocinar. Talvez o nosso cérebro pense o que ele quer, na hora que ele quer, não o que a gente quer que ele pense, e a nossa vida só acompanha.

O que dizem as pessoas inteligentes que sabem ganhar dinheiro? Ou: eu deveria sempre querer ganhar dinheiro?

 

Graças a Deus eu tenho sim fontes de renda. Trabalho bastante. É importante que digamos isso antes de começar. Eu não estou passando fome e tenho casa. Posso até ligar o ar condicionado quando está calor sem grandes preocupações.

Bom, agora vamos ao ponto. Estava refletindo ainda agora, enquanto lavava a louça do almoço que ainda estava na pia sobre o que deveria escrever. “Sobre o quanto odeio lavar louça”, pensei. Ou sobre como é legal fazer mindfulness lavando louça. Esse é um tema que está em alta no momento e às vezes eu realmente medito lavando louça. Ajuda a lidar com a raiva. “Não”… Eu deveria escrever sobre essas imagens na minha cabeça. (Para que você entenda de que imagens estou falando: estava tocando aquela música na qual a mulher fala que amou o cara por mil anos e que vai amar por mais mil. Ele diz em uma parte da música que vai morrer todo dia esperando por ele, ou, pelo menos, é isso que eu entendo. Aí eu comecei a imaginar como seria isso de maneira meio mórbida. Eu vou morrer, meu marido vai morrer, e eu tenho certeza de que no momento de nossa morte eu vou achar que não tivemos tempo suficiente para aproveitarmos a vida juntos. Então, imagina se eu encontrasse uma lâmpada mágica e o gênio me desse a seguinte opção. “Olivia, eu posso te dar mil anos para viver com seu marido”. Meu rosto ia se iluminar de alegria, mas o gênio rapidamente complementaria. “No entanto, você teria que esperar outros mil anos antes que isso pudesse acontecer e durante esses primeiros mil anos, você teria que viver vendo a vida sendo tirada de você todos os dias. Você não seria capaz de aproveitar absolutamente nada. Você viveria apenas para morrer todos os dias enquanto espera para se reencontrar com seu amado”. Eu imagino que a primeira coisa que eu perguntaria era onde o meu amor ficaria durante esse tempo todo. O gênio diria “Dormindo. Em um lugar onde você jamais conseguiria encontra-lo. No fim dos mil anos separados eu te levaria até ele, você poderia despertá-lo com um beijo e aí sim vocês teriam mais mil anos para serem felizes juntos”. Vocês aceitariam? Eu tenho certeza de que eu aceitaria. Seria uma espécie de Mil e Uma Noites às avessas. Eu passaria então os próximos mil anos tentando achar meu amor para acordá-lo logo, porque sou teimosa e estaria em muito sofrimento e com muitas saudades. Será que eu o encontraria? Será que seríamos punidos se eu o acordasse antes do tempo? Será que eu ficaria louca com a espera? Suportaria morrer todo dia? Será que iria doer?).

Eu imagino muitas histórias. Constantemente. E apesar de atualmente conseguir escrever todos os dias, não me sinto capaz de escrevê-las. Em termos de competência mesmo e de perseverança. Talvez um dia eu consiga. Não estou me lamentando. Só avaliando o estado atual das coisas. Não sinta pena. Esse é o primeiro passo para a mudança.

Bom, mas aí eu me perguntei: “Será que a galera que lê o blog ia gostar disso? Aí entram as coisas que as pessoas inteligentes dizem. Todos os cursos e dicas para aqueles que querem ser escritores falam que você tem que encontrar o seu público se quiser fazer sucesso e ganhar dinheiro. Um dos requisitos para isso é escrever com uma temática clara. Assim é que seus leitores te encontram e se tornam fiéis a você.

A questão é que tem sido tão bom para mim apenas escrever e tem tanta coisa ainda que eu quero escrever, coisas que giram em torno dos mais diferentes temas que você pode imaginar, que eu estou começando a achar que eu não quero mais ganhar dinheiro com isso ou ficar conhecida e famosa se, para isso, for necessário sacrificar tantas aspirações. Mas, não se esqueça, como eu disse no início do texto, eu já ganho dinheiro. Trabalho como psicóloga em consultório particular e dou aulas de psicologia. Se eu realmente precisasse viver da escrita seriam outros quinhentos.

Portanto, a ideia não é ganhar dinheiro, mas fazer algo que eu gosto e que me faz feliz para cacete. Esse comentário se refere apenas ao dinheiro e não aos leitores. Ainda tenho esse lado da alma de artista que sofre para colocar algo para fora, mas que gosta quando as pessoas apreciam o trabalho e quer que ele seja visto. Mas se algum dia eu iniciar aqui no blog uma saga de aventura louca ou um conto erótico, não se espante. A ideia é essa mesmo.