O desenvolvimento humano como o potencial encerrado em uma semente. 

Essa analogia do potencial humano com o desenvolvimento de uma semente… Que coisa… Não é mesmo? É um mega cliché. Mas eu não tinha percebido o quanto essa idéia faz sentido até começar a cultivar plantas no meu apartamento.
Eu não só comprei plantas já desenvolvidas, como também resolvi plantar algumas. As sementes são tão minúsculas! É impressionante que uma árvore possa se desenvolver a partir dali. Parece mágica. A mágica pura e sagrada do desenvolvimento humano e do surgimento da vida.
A semente, minúscula, encerra um imenso potencial.
Você sabia que o desmatamento é um dos principais motivos do desmoronamento das encosta dos morros? Pois é. Aquela semente tão pequenina se torna uma grande árvore e esta, em conjunto com outras árvores que também vieram de minúsculas sementes, são capazes de segurar montanhas!
A analogia em relação ao potencial humano nos diz que podemos fazer muito mais do que somos, a princípio, capazes de imaginar. E, de fato, quem olha para uma semente não pode ter ideia da árvore gigantesca que ela pode se tornar.
Essa analogia remonta aos tempos da Bíblia, onde encontramos a parábola do grão de mostarda. A mostarda é a menor semente do mundo e produz uma das maiores hortaliças.
Mas eu quero trazer ainda um outro exemplo.
Você sabia que maior árvore do mundo é a sequoia-gigante? Ela pode chegar a ter 115 metros de altura e seu caule, 12 metros de diâmetro. As sementes dessa árvore medem menos de 5mm! Isso é uma tamanho muito diminuto para a semente de uma árvore tão grande. A altura da árvore é o equivalente equivalente a um prédio de aproximadamente 40 andares! E a semente é do tamanho de uma formiga. Incrível.
Essa é uma constante na natureza: o desenvolvimento dos seres a partir dos estágios mais ínfimos. A vida tem muita força e brota com uma incrível potência das lugares mais inesperados.

Os adultos do presente, do passado e do futuro.


Hoje eu fui almoçar com um amigo. O almoço foi excelente, mas a volta… Nem tanto.

Peguei um Uber (todo mundo está falando que a Uber já não está tão boa assim, mas eu ainda não me cadastrei no novo aplicativo de transporte da moda. Mas realmente tem sido difícil pegar Uber) e, infelizmente, o motorista veio conversando comigo a despeito do fato de eu ficar olhando fixamente para o celular torcendo para que ele parasse de falar. Eu não consigo interromper as pessoas em situações como estas de uma forma direta. E eu fico falando “uhum”, porque fico constrangida de ignorar completamente, aí a pessoa se sente encorajada a falar mais. Enfim.

Ele começou falando do trânsito. Dizendo que o trânsito estava muito bom na Lapa para uma quinta à noite. Estava mesmo. Mas ele continuou:

– Mais tarde isso aqui vai estar lotado. Cheio de jovem bebendo. Não sei de onde tiram tanto dinheiro assim para beber. Porque cerveja nesses bares, drink, isso tudo é caro. Eu estava falando para a minha mulher, eles já têm vinte… Trinta anos. Trabalham, mas ainda moram na casa dos pais. E não colaboram com nada dentro de casa, hein. Aí sobra dinheiro para gastar com farra. A minha mulher fica falando que “ah… você na sua época era a mesma coisa”. Eu sei. Eu sei que na minha época… Há! Ninguém me segurava não! Você me perdoa aí, dona, viu? Mas é porque, a senhora sabe como é, não é, garotão… A senhora é casada?

– Uhum…

– Pois é. Mas hoje em dia as jovens… Vou te contar. Não está fácil não. Outro dia mesmo peguei umas aí que disseram que eram maiores de idade e eu “tá”. Sabe? Não acreditei muito não. Mas a menina estava falando como ela tinha bebido todas. Na minha época a gente saía e tal, mas não era assim não. A juventude era diferente.

– Diferente como? – Disse eu cínica, mas interessada. Essa curiosidade mórbida que eu tenho sobre o que pensam as outras pessoas. Só me desespero.

– Ah, não sei te dizer não. Mas era diferente. Na minha época a gente ia para a farra, mas hoje em dia… Eu não sei… Parece que está tudo muito, sabe? Na minha época dia de farra era sexta, sábado, domingo… Hoje em dia isso aqui [a Lapa] já fica cheio na quinta feira. Na quinta isso aqui já está lotado. É quinta, sexta, sábado. Domingo que a gente nem vê tanto movimento. Mas não é só aqui também. Tem vários lugares, ruas e ruas por aí cheias de bares. Na minha época não tinha isso não.

– Ruas cheias de bares?

– Não, isso até tinha. Mas não era como está hoje. Entende o que eu estou te dizendo? O jovem hoje em dia perdeu o limite. Foi isso. Na minha época a gente bebia, mas tinha limite. Hoje em dia não tem mais esse limite. Os próprios pais não colocam mais esse limite. Minha esposa fala que eu era terrível, mas eu estou aí, não é? Trabalhando. Essa juventude aí até trabalha, mas não quer saber de nada não.

– Uhum…

– E olha que o país está em crise, como eu estava te falando. De onde que eles estão tirando dinheiro? Eu estou tendo para pagar as contas e olhe lá. Se eu tivesse dinheiro eu estava bebendo por aí também. Mas tem que ter responsabilidade. Que nem essas manifestações aí que aconteceram. Eu acho que foi tudo manipulado mesmo, porque você vê que eles não se importam com nada esses jovens. Eles não querem saber de nada. Pelo que eu vejo? Eu não vejo a juventude se importar com nada. Só querem saber é de celular, de rede social, dessas coisas assim. E de beber. De coisa séria mesmo… Esse ano agora é ano de eleição e eu estou só acompanhando pelas redes sociais que estão fazendo uma movimentação para não reeleger nenhum desses que está aí no poder. Tomara que pegue essa onda aí. No meu facebook é só o que tem.

– Pode parar ali atrás daquele carro, ali mesmo, moço. Obrigada.

Ufa! Saí do carro.

O discurso do motorista foi bastante emblemático desse olhar que os adultos em geral têm da juventude. Eles se reconhecem nela de alguma maneira, mas algo parece diferente e eles olham para essa diferença de maneira negativa (no caso desse motorista, especificamente, parecia haver também uma certa inveja tornada em ressentimento).

O maior paradoxo da sucessão das gerações: de uma geração para outra o que era ruim antes, melhora; mas o que era bom, piora. Como assim? O que eu quero dizer com isso?

Os adultos vão te dizer que, na época deles, começava-se a trabalhar mais cedo, os pais eram muito mais rigorosos e não tinha tanta moleza quanto a juventude atual tem. Ou seja, a juventude nunca pode reclamar do que está ruim, porque antigamente era pior. Então, o que era ruim antigamente, melhorou. As mulheres não têm que reclamar, porque antes era pior. As crianças não têm que reclamar porque antes os pais desciam o cacete nos filhos e hoje em dia isso “já não acontece mais” (não vou nem me aprofundar em abuso infantil). Não quero nem debater o fato dessas diferenças existirem ou não (eu até acredito que existem), o fato é que isso não invalida o sofrimento das novas gerações. Que é um sofrimento que, no seu contexto, não pode ser qualificado como “maior ou menor” em relação ao sofrimento de antigamente.

Por outro lado, tudo que era bom antigamente, piorou; e os jovens de hoje em dia devem ser cerceados, corrigidos e censurados, comparados com os jovens do passado. Antigamente os jovens farreavam, mas não era como é hoje. Antigamente não tinha essas coisas de homossexualidade, “mas tinha aquele cara lá na minha cidade que a gente apelidava de frutinha que vivia apanhando”. Antigamente o jovem tinha responsabilidade, hoje em dia, eu não sei dizer porque, mas os jovens não têm mais responsabilidade nenhuma.

Basicamente: “No meu tempo não tinha essa moleza que você tem hoje e vocês, mesmo assim (ou por isso mesmo), só fazem m****”.

Esse discurso se repete geração, depois de geração. Se você se deixar levar por ele, a conclusão óbvia é a de que a humanidade está indo para o buraco. Se está sempre piorando de geração em geração… Este é um trajeto descendente. Esse pensamento é um sinal do pessimismo e do ressentimento (em relação à brevidade da vida humana) entranhados na cultura.

O mais triste é pensar que esse movimento vai se repetir em larga escala na minha geração, e na próxima, e na próxima. Já existem atualmente pessoas de mais ou menos trinta anos lamentando “a vida que as crianças estão levando hoje em dia”. Aí eu pergunto:

– Caral**, sério que você está falando isso? Seus pais não diziam a mesma coisa para você quando você era pequeno? Eles não ficavam lamentando “a vida que você levava”? Agora você está dizendo a mesma coisa das crianças de hoje em dia?

As respostas são irracionais:

– Sim. Meus pais me diziam isso, mas era diferente. Eles não podiam nem imaginar que as coisas iam ficar desse jeito. Se eles soubessem não teriam me enchido tanto a paciência. Os nossos pais eram só exagerados, hoje está sinistro mesmo. Essas crianças não saem do celular! Na minha época meus pais brigavam porque eu ficava o dia inteiro na rua (ou no play) ou então era por causa do telefone. Sempre tinha briga por conta da conta do telefone. Era muito mais saudável do que ficar no celular.

Daqui a pouco vão ser as crianças que hoje em dia não saem do celular reclamando de algum comportamento que vai mobilizar as crianças do futuro.

Diferentes temas, exatamente a mesma estrutura de repressão e pensamento.

 

 

 

 

Os diferentes ritmos de leitura.

Hoje eu estava fazendo um plano de leituras. O objetivo não era nem colocar a leitura em dia, ou ler os clássicos nem nada disso. Eu estava organizando uma lista de leitura com o objetivo de economizar dinheiro. Eu tenho um problema com a compra compulsiva de livros.

Além de gostar de ler propriamente, eu gosto dos livros em si, sabe como é isso? De comprar livros e de ter livros em casa. Eu adorava lista de bibliografia da faculdade, porque eu tinha uma desculpa para sair comprando livros.

O comprometimento com uma lista de leitura é uma maneira de retardar esse processo. Embora eu entenda que a compra dos livros não tem tanto assim a ver com gostar de ler. Eu poderia ter vários e-books, por exemplo, ou livros de domínio público, mas não. Eu até leio livros em formato digital, mas não tenho problemas com a compra excessiva dos mesmos. Eu também leio livros de bibliotecas e isso não tem impacto sobre o meu desejo de comprar livros, a princípio. Eu gosto de colecionar o papel.

De qualquer forma, uma regra no sentido de que eu teria que ler um número X de livros antes do comprar um livro novo, pode ajudar. Assim como usar todas as peças de roupa do seu armário antes de comprar uma peça nova pode ajudar com a compra exagerada de roupas novas, por exemplo.

Então, estava eu pensando na lista de leitura e comecei a me dar conta dos diferentes impactos que os livros têm em nós. Isso é algo muito importante a se considerar na hora de pensar a lista de leitura. Se você resolver ler: Senhor das Moscas, A Guerra não tem Rosto de Mulher, Germinal e 1984, o próximo passo é se matar.

Para evitar tal efeito indesejável, é legal alternar esses livros tensos com temas mais leves.

Cada tipo de livro ou partes de um determinado livro, por sua vez, é lido em um ritmo diferente. Acho que foi isso que eu não tinha parado para pensar antes.

Existem vários ritmos diferentes que empregamos para ler um livro.

Tem as partes envolventes que lemos de uma tacada só. Aquelas cem páginas que a gente avança em uma sentada. (para mim, foram algumas partes d’As Brumas de Avalon. Quando eu me deva conta, tinham-se passado horas e horas de leitura).

Tem as partes chatas, temos que admitir, que demoram… A gente pula frases, parágrafos, tem partes que a gente não entende, mas também não se importa de não ter entendido (sinceramente? Vocês vão me desculpar, mas foi a leitura da primeira parte d’O Silmarillion. Eu li aquilo ali algumas vezes e ainda não consigo absorver completamente a história da formação do mundo e as mudanças que ocorreram nele).

Tem aqueles livros que a gente não entende, mas volta cinquenta vezes de bom grado para tentar entender e relembrar o que estava acontecendo (As Mil e Uma Noites, claro. Eu estava toda hora voltando para entender qual história se ligava ou estava dentro de qual outra história. Nesse caso era uma festa. Eu amava).

Tem os livros que devem ser lidos aos poucos, um pedacinho por dia (na minha opinião, os livros de poesia e, às vezes, de contos. Quando é assim eu gosto de ler uma ou duas poesias por dia, ou um conto por dia).

Tem os livros que a gente nunca acaba. Podem haver diversos motivos para isso: o livro pode ser chato (novamente, me perdoem, mas A Metamorfose é um livro muito chato. Eu sei que pouca gente tem coragem de expressar essa opinião, com medo de ser taxado de ignorante, mas o livro é verdadeiramente chato e eu tenho certeza de que tem um monte de gente cult pensando isso por aí. Quer ler um livro do Kafka? Leia Carta ao Pai); pode dar medo e paralisar a gente (eu senti medo e nunca terminei de ler algumas histórias do Contos Tradicionais do Brasil compilados pelo Câmara Cascudo. Esse foi o livro paradidático da quinta série e algumas histórias são assustadoras. Tenho pesadelos com a que o meu grupo foi obrigada a encenar na peça da escola até hoje); o livro pode ser também imensamente grande, aí temos vontade de ler outros livros durante a leitura do primeiro (eu com a Bíblia que já tem uns três anos que estou lendo e não acaba nunca); e livro pode também revirar as nossas entranhas e nos dar enjoo moral (120 Dias de Sodoma, por exemplo, que eu não consegui terminar de ler até hoje. Esse deve ter sido o primeiro livro que eu deixei inacabado, antes dele eu sempre me obrigava a ler tudo, até quando se tratava de sequencias. Foi o caso do Fronteiras do Universo. Não conhece esse nome? Que tal A Bússola de Ouro? Fronteiras do Universo é o nome da trilogia. O livro é doido e meio chato, mas eu comecei o primeiro, li os três. Terminei amando, fazer o que? Mas depois do Sade, esse ciclo se quebrou e várias leituras desde então ficaram inacabadas); dentro outros motivos que não me ocorrem agora.

Por fim, tem livros como o que estou lendo agora. A leitura leva o seu tempo. Anda num ritmo próprio. A leitura não se encerra no momento em que você está com o livro na sua frente. Você fica tentando antever como a trama vai se desenrolar e o que vai acontecer com os personagens e fica com medo do escritor ser um f**** da p*** e resolver matar todo mundo no final. Você acaba retardando a leitura, com medo do que vai acontecer. Mas, assim como a vida, a leitura atropela a sua resistência e demanda seguir seu curso, você assume os ricos e continua lendo. Se o autor for um ursinho carinhoso, você respira aliviado, ele salva os personagens, não mata ninguém por quem tenhamos nos apegado; se não, ele mata todo mundo no final. Conforme as desgraças vão acontecendo, precisamos levantar a cabeça do papel e passar por um período de luto. Durante esse tempo, e esse é o poder de um bom luto, passamos por uma evolução pessoal, pois a emoção que o autor nos provoca, as questões que ele nos coloca, nos fazem pensar a nossa realidade e olhar para o mundo de outra maneira (foi o que me aconteceu em Senhor das Moscas e que está acontecendo novamente em Germinal. Livros tensos e carregados de verdades a respeito da humanidade. Essas leituras são densas e nos absorvem, demandam tempo e reflexão para serem bem aproveitadas).

Estes são os ritmos que me ocorreram, mas sintam-se à vontade para adicionar novos ritmos de leitura com os quais vocês estão familiarizados nos comentários!

 

Bodas de Algodão 

Hoje eu estou muito feliz!
Estou comemorando uma data muito especial: o meu aniversário de dois anos de casamento.
Vamos comemorar fazendo as coisas que mais gostamos de fazer nesse mundo: comer nossa comida favorita e ver séries na TV.
Eu voltei para casa do trabalho sorrindo sozinha na rua já antecipando a noite.
No total, eu e meu marido estamos juntos há seis anos.
É bastante tempo.
E o bom é que com o passar dos anos eu fico mais feliz com o meu relacionamento.
A sabedoria do senso comum diz que deveria ser ao contrário: que o relacionamento deveria ir se desgastando e os companheiros passando apenas a suportar um ao outro e ficar juntos por conta do que teve de bom no passado, dos filhos, dos impedimentos financeiros da separação, acomodação e por aí vai.
Isso acontece quando você se casa com uma pessoa babaca.
Eu não acredito em alma gêmea, mas eu acreito em pessoas babacas; não fique casada com uma.
Procure alguém que vale a pena amar e você será muito feliz.
Como alguém que se sente cada dia mais apaixonada eu te aconselho: não se contente com alguém que não vale a pena! Você está perdendo o quanto é bom amar verdadeiramente quem está do seu lado. O amor, quando cuidado, cresce. Se o seu está diminuindo, não é mais amor.

Erotomania 

A Erotomania ou Síndrome de Clérambault é a convicção delirante de um indivíduo de que uma outra pessoa está apaixonada por ele.
O transtorno é tema do filme “Bem me quer, mal me quer” que narra a história de uma personagem encenada por Audrey Tautou, Agélique, em sua relação amorosa com Loïc, interpretado por Samuel Le Bihan, como a direção de Laetita Colombani.
A internet está cheia de análises detalhadas do filme do ponto de vista da psicanálise lacaniana (são interpretações carregadas daquele machismo psicanalítico. Eu até tenho curiosidade de estudar a “psicanálise feminista”, mas até lá, o machismo no discurso psicanalítico me enerva. Esse é o caso dos comentários psicanalíticos sobre o filme: todos falam absurdos da psicologia da mulher e da sua posição no amor). Sendo assim, o que me interessa no filme não é a análise psicológica ou psicopatológica, mas os próprios elementos da narração da história. A maneira como o filme é construído.
A construção é genial no sentido de que ela nos faz experimentar a percepção delirante da personagem de maneira absolutamente realista. É apenas em um segundo momento que um jogo de câmeras desvela “o que estava realmente acontecendo”.
Quando ocorre essa virada da narrativa é que percebemos como aquela mulher estava “maluca”.
O fato é que, na vida real, não existe esse jogo de câmeras e estamos todos confinados, condenados à nossa percepção dos acontecimentos assim como a personagem do filme.
A loucura sempre parece essa coisa estranha e distante de nós, mas isso é uma ilusão. Todos nós, loucos e “sãos”, temos os dois pés na loucura. Alguns de nós estão socialmente bem adaptados e outros não. Só isso.
A Erotomania evidencia o fato de que amar alguém é uma loucura. Você se entrega de corpo e alma e começa a confiar em uma pessoa estranha que você conheceu em algum momento da sua vida, você passa a conviver com essa pessoa, conta para ela os seus segredos, baixa a guarda; insiste na relação ainda que, muitas vezes, ela nem seja pacífica. Os casais sofrem, brigam, terminam, voltam a ficar juntos. A gente se apaixona a primeira vista. A gente gosta de umas pessoas e não de outras. A gente ama sem ser correspondido. Mulheres são estupradas, a violência doméstica é alarmante. A gente tem o nosso coração partido. E mesmo assim nós continuamos amando e sentindo essa necessidade sempre premente de amar e ser amado. Se a gente queima a mão no fogo uma vez, a gente não põe a mão lá novamente. No amor essas regras não se aplicam. Toda a nossa lógica voa pelos ares. A gente decide que não vai se apaixonar, que vai passar um tempo sozinho e aí aparece aquela pessoa que faz nossa cabeça girar e de repente, a gente quer estar junto e não mais sozinho. A gente passa horas se perguntando o que ele quis dizer com aquilo sem chegar a conclusão nenhuma, a gente não entende por que ele não ligou ou por que ela me traiu. (Estou trocando o gênero das frases porque todas essas preocupações valem para os dois sexos. Em se tratando de amor, está todo mundo no mesmo barco).
Amar alguém é a coisa mais louca que se pode fazer nessa vida.
E, na vida real, não tem o outro lado da história. Não tem a segunda versão dos fatos. Cada um de nós fica encerrado em sua própria loucura, julgando a loucura alheia.

Coloca no piloto automático.

Criar hábitos e cumprir tarefas exige de nós, em grande medida, que sejamos capazes de nos colocarmos em uma espécie de piloto automático.

Eu sei que atualmente tem todo esse papo de “Não viva sua vida no piloto automático” e isso está certo. Não é para viver desse jeito mesmo.

Veja bem. Quando dizem que devemos parar de viver nossa vida no piloto automático, estão nos dizendo que devemos parar para pensar o que queremos da nossa própria vida. Não devemos nos deixar levar pelos valores e estilos de vida previamente estabelecidos. Devemos encontrar o nosso próprio caminho. Pode ser que o tradicional “se formar na faculdade, casar e ter filhos” sirva para você, pode ser que não. Em segundo lugar, devemos parar e apreciar, saborear, desfrutar a vida. Prestar atenção aos caminhos que percorremos todos os dias (aos nossos pés), à paisagem da cidade e por aí vai. Devemos encher o nosso dia a dia de mais cores, texturas e sabores!

Saia desse piloto automático que te impede de apreciar a vida e que a domina!

Quando eu digo que para cumprir certas tarefas e criar hábitos devemos ligar o piloto automático, eu falo de outro tipo de experiência. Talvez haja um nome melhor do que piloto automático para ela, mas não me ocorre nenhum agora. Eu me refiro à experiência de fazer as coisas sem pensar.

Quando eu preciso acordar cedo, por exemplo, eu sei que se eu ficar pensando muito, vou me atrasar ou faltar ao compromisso. Quantas aulas eu já não matei de manhã por causa disso. Quando tenho que escrever o trabalho final de uma disciplina a mesma coisa. Se eu ficar pensando muito bate o desespero e eu não escrevo nada. Eu também passo geralmente o dia inteiro pensando no que escrever no blog e nenhuma das ideias que eu tenho me parecem boas, quando chega de noite eu tenho que simplesmente escrever e pronto. Quando tenho que levantar para ir para a aula de poledance, se eu começar a pensar que vou ficar cansada depois da aula, com o corpo doendo etc., eu acabo desistindo de ir.

A primeira pessoa que me alertou para isso foi meu marido. Eu ficava reclamando com ele que eu não conseguia me determinar a levantar da cama de manhã e também não conseguia me determinar a fazer algumas outras atividades. E aí ele me disse que o meu problema era que eu pensava muito. Que eu tinha que simplesmente fazer a coisa e ponto final. Eu achei um ótimo conselho. Pouco tempo depois do meu marido me dizer isso, uma psicóloga amiga minha, que trabalha com propósito de vida e metas, me disse a mesma coisa.

Claro que não é tão simples assim simplesmente parar de pensar e fazer as coisas. E as pessoas normalmente não sabem dar instruções muito detalhadas nessas horas, não é verdade? Mas, enfim, eu já tinha o objetivo, só precisava descobrir os meios para alcançá-lo.

Era necessário então que: quando eu me pegasse pensando muito antes de uma atividade, eu tentasse parar de pensar e fazer a atividade.

Comecei a observar as minhas manhãs.

O despertador toca. Eu já sei que eu tenho a soneca programada para daí a dez minutos. Eu começo a fazer contas: “se eu levantar agora eu vou ter X de tempo antes de sair de casa. Com a soneca, vai ser Y. Eu levo 10 minutos para tomar banho, 10 para comer e mais 10 para terminar de me arrumar. Então dá para esperar a soneca”. Aí o despertador toca de novo e eu volto a fazer contas: “bom, eu ainda estou com muito sono. E se eu pular o café da manhã? Afinal, eu nem estou com tanta fome assim. O que eu ia comer no fim das contas? Uma torrada com café e leite? Isso nem é saudável! Se eu ainda fosse comer uma fruta, talvez eu devesse levantar agora, mas já que eu vou comer besteira. Pão. Nem era para estar comendo pão. Ah, mas eu amo pão. Então, se eu pular o café, eu posso ficar mais dez minutos”.

E assim vai, até eu estar dez minutos atrasada para a obrigação.

É uma ladainha mental que eu comecei a perceber que rolava na minha cabeça. Era preciso dar um basta nisso.

A primeira coisa que eu fiz foi mudar a música do despertador para uma música mais agitada que eu goste de cantar. Acordar prestando atenção na música e saindo de dentro da minha cabeça (não ficar mergulhada nos meus pensamentos negativos, focar na música). Em segundo lugar, precisei prestar atenção aos meus pensamentos e comecei a escrever os diálogos internos que eu tinha nessas horas (como eu demonstrei para vocês ali em cima), para que eu pudesse ter maior consciência deles. Na hora que eles aparecem, eu já consigo identificar e dizer para mim mesma: “você está pensando demais de novo! Só para de pensar e faz. Quer ver, oh, fica cantando essa música aqui”. Aí eu começo a cantar uma música na minha cabeça, para parar de pensar, e vou fazer o que tem que ser feito.

Ainda estou no início do processo. E, por conta do meu ritmo biológico, fazer isso pela manhã é mais difícil. Mas, ao longo do dia, já tem funcionado bem!

Se você é como eu e fica enrolando e procrastinado, cara, só para de pensa. São as coisas que a gente pensa que fazem a gente desanimar. “Eu não vou conseguir tirar uma boa nota nesse trabalho”. Pronto. Você vai enrolar até o último minuto para fazê-lo. “Se eu levantar agora vou ficar com sono o dia inteiro”. Pensando assim, você vai levantar atrasado. E por aí vai.

Tente controlar seus pensamentos. Coloca a tarefa no piloto automático (o bom sentido do piloto automático), vai lá e faz o que você tem que fazer.

 

Cumprindo metas. 

Hoje eu estou passando muito mal. Febre, dor de cabeça, dor no corpo e na garganta e por aí vai. Toda estragada.
Trabalhei o dia inteiro. Sai de casa 07:40 da manhã e cheguei 20h.
Quando cheguei em casa, fiz minha janta, comi e me joguei na cama. Dormi.
Há cinco minutos atrás, acordei desesperada pensando no Blog após sonhar que não tinha postado hoje.
Olha… Poderia ter dado errado. Eu poderia ter dormido direto. Mas meu corpo foi muito sábio.
Sabe quando você dorme no ônibus e acorda na esquina da rua que tem que descer? Pois é.
Por mais este dia, a meta está cumprida.

10 camisinhas e uma explicação. 

Havia ali uma pessoa que jogava de nove a dez camisinhas por noite pela janela do apartamento, enchendo a calçada de vizinhos revoltados que se acumulavam para contá-las pela manhã.
Começou com sete ou oito, eles diziam, agora já são dez!
É do apartamento de fulana! Não! Vem do apartamento de ciclano, eu tenho certeza!
Os vizinhos tiravam na sorte quem ia ter de recolhê-las.
Algum tempo se passou e começaram a aparecer pedaços de frango assado no meio das camisinhas usadas.
Olha que abusado! Não tem lixo em casa, não, bastardo?
Os xingamentos pioravam. Cada vez palavras de mais baixo calão. E a revolta dos moradores crescia.
Virou assunto de assembleia extraordinária de condomínio, cuja única pauta era a solução do mistério. Apenas um terço dos condôminos estava na reunião. Não houve meio de determinar quem era o perpetrador da indecência.
Ficou acertado que deveriam se revezar para vigiar a frente do prédio durante toda a madrugada.
A vigília começou no dia seguinte. Dez moradores se voluntariaram. Eles se alternavam, faziam turnos na portaria do prédio olhando para cima. Nada de camisinhas ou pedaços de frango na primeira noite. Nem na segunda ou na terceira, muito menos nas noites seguintes.
Logo, os moradores desistiram da empreitada.
Se acovardou o imbecil!
Uma semana depois, lá estavam as camisinhas, os pedaços de frango, alguns cigarros e uma garrafa de bebida quebrada.
Dessa vez, todos ficaram assustados. Parecia agora que aquilo tudo era obra do coisa ruim. Todos ficaram amedrontados. Nenhuma ação ou revolta aconteceu.
Com o tempo, a lixarada desapareceu.
O caso virou lenda no prédio. Assombração pura e simples ou recado do sujismundo para algum pecador que morava no edifício da pacata rua do Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Pacata, porque aos domingos as crianças jogavam bola ali na rua e até pula-pula tinha em ocasiões especiais. As mesas do bar ao lado invadiam um terço da pista e, com os carros parados irregularmente na calçada do outro lado, a rua ficava fechada.
Mesmo com toda a pacacidade local, os moradores acharam que o inimigo do homem tinha parte nas atividades ali realizadas. O mérito estava encerrado. Com o diabo não se brinca. Vamos todos orar em silêncio dentro dos nosso corações.
Depois das festas, dos jogos da final, dos churrascos de domingo… Depois desses eventos a rua pacata ficava imunda. Latinhas de cerveja, pratos descartáveis, talheres e guardanapos. Ninguém ligava.
O problema não era lixo na calçada, eu havia compreendido, é o fato desse lixo ser composto de caminhas usadas. O problema era sexo. E tinha alguém ali fazendo sexo para caramba. E era isso que incomodava a todos.
Os moradores negavam essa interpretação que eu fui comentando com um e outro a meia boca pelos corredores.
Todos discordavam e ficavam revoltados. O problema era o lixo! O planeta! O aquecimento global!
Eventualmente, eu fui acusado de ser o pervertido das camisinhas, apesar do meu apartamento ser de fundos e eu fui escorraçado do prédio.

Nada feito. Ou a falha do método de virar a noite para acertar o sono. 

Nada feito. No texto de ontem eu disse que iria testar isso de virar a noite acordada para acertar o sono. E nada feito.
O que eu descobri é que, se você fizer uma pesquisa sobre esse método no Google, vai encontrar várias matérias dando dicas de como conseguir virar a noite acordado – para propósitos de estudo ou trabalho – e opiniões controversas a respeito da validade do método para ajustar o clico de sono.
Achei bizarro essa questão das dicas para virar a noite. Na internet tem todo tipo de dica para todo tipo de coisa idiota.
Seria bom se esses textos fossem políticos: se seu trabalho ou estudo estão te exigindo tanto que você está tendo que virar noites para cumprí-las tem algo errado com seu emprego, sua escola ou sua faculdade.
Eu não estou falando que eu tenho problemas para dormir porque minhas obrigações tem me mantido acordada. Eu faço de tudo durante a madrugada: vejo filmes, séries, exercícios, leio, estudo, refeições etc. Eu tenho toda uma vida de madrugada.
Bom, tentei virar a noite para acertar o horário de sono na esperança, mais uma vez, de que esse fosse o ponta pé inicial para que eu pudesse normalizar a minha rotina, ou seja, adequá-la às exigências sociais de viver durante o dia e dormir durante a noite.
O que aconteceu foi que eu passei o dia exausta. Entre oito e dez horas da noite eu estava quase dormindo, mas segurei com medo de dormir cedo demais e acordar de madrugada. Deitei onze da noite e li um pouco (até porque minha meta de ler duas página por dia, pelo menos, já está em curso). Lá para meia noite me deu uma onda de energia. Eu fiquei na cama lendo, e lendo, e só senti que comecei a relaxar de novo em torno de duas da manhã. Fechei o livro e fui dormir pouco tempo depois disso. E, para completar, não consegui levantar cedo hoje. Estava com muito muito muito sono.
Então, método reprovado na minha opinião. Não serve nem para emergências, pois, mesmo virando a noite no dia anterior, eu não consegui ir dormir cedo e muito menos acordar cedo no dia seguinte.
A psicologia tem apontado que o melhor método para regularizar o sono é a criação de hábitos saudáveis na hora de dormir. Estabelecer uma rotina de sono e mantê-la todos os dias.
Por causa do meu ritmo biológico – eu sinto que o que me atrapalha a dormir cedo é mais do que um mal-hábito, ainda há de se reconhecer que certas pessoas têm um ciclo de sono diferente – eu ainda tenho receio de me comprometer com uma meta em relação ao sono. Acho que eu poderia acabar falhando e sofrer muito ainda por cima.
Deitar na cama e não conseguir dormir, ficar rolando de um lado para o outro, é uma experiência traumática para mim.
Muitas horas da adolescência e da vida adulta passadas desse jeito.
Eu me pergunto, de vez em quando, se é uma questão de ansiedade. Essa é a hipótese que as pessoas mais levantam também: “Será que você não está deprimida ou ansiosa?”. Isso porque dizem que as pessoas que sofrem com ansiedade são aquelas que demoram a pegar no sono, as que acordam antes da hora geralmente são as que sofrem com depressão. Junta as duas coisas, a pessoa dorme mal a noite inteira.
E realmente, quando eu estou na rotina de ir para a cama cedo, eu demoro a dormir, eu acordo durante a noite e eu acordo antes da hora.
Lembro-me de certa vez, quando eu era pequena, eu faria um passeio da escola no dia seguinte. Eu não lembro mais qual foi o passeio, mas eu me lembro de ter acordado durante a madrugada, me arrumado e dormido de novo já pronta para ir para a escola. Foi a primeira vez que eu acordei durante a noite e tive problemas para dormir da qual eu me lembro. Naquela ocasião, estava ligada à ansiedade.
Contudo, eu não me considero uma pessoa ansiosa. Quando tem algum prazo chegando ou alguma ocasião importante, eu sinto ansiedade. Então, eu sou uma ansiosa de ocasiões especiais. Nada demais. Quem não é?
Também não tenho me sentido particularmente triste. Eu sou meio pessimista em relação à condição humana (profundo, não é?), mas isso não caracteriza uma depressão.
Sem contar com o fato de que, e esse é o principal argumento na minha opinião, o meu sono fica mais delicioso quando vou dormir seis da manhã. Quando eu deito em torno das seis da manhã, eu pego no sono imediatamente, eu durmo direto e eu acordo com o despertador, super descansada oito horas de sono depois, duas da tarde. Ou seja, meus problemas de sono desaparecem. Se fosse uma depressão ou ansiedade que eu não estou sendo capaz de identificar, não desapareceria com a mudança do meu horário de sono.
Sinceramente o que me causa mais ansiedade e depressão é a necessidade de dormir cedo.
Quando eu começo a pensar que vou ter que acordar cedo no dia seguinte e que não vou conseguir dormir cedo, que vou ficar com sono o dia inteiro… Nossa! Eu fico realmente muito deprimida e ansiosa.

Ajustando o relógio biológico. 

Hoje eu estou cansada demais para escrever.
O texto de ontem sobre o sono foi motivado justamente pela necessidade de começar a ir readaptando o meu horário de sono. A perspectiva de ter que acordar cedo é muito estressante para mim.
Eu passei esta semana inteira em casa sem compromissos e volto a trabalhar no sábado. Ou seja, eu vinha dormindo e acordando tarde e agora preciso voltar a acordar cedo.
Fui de cara no método mais catastrófico: virar a noite para tentar ajustar o relógio biológico. Por isso estou aqui, caindo pelas tabelas.
Será que vai desta vez?

Amanhã eu trago para vocês o resultado do método de virar a noite para ajustar o relógio biológico.