Os diferentes ritmos de leitura.

Hoje eu estava fazendo um plano de leituras. O objetivo não era nem colocar a leitura em dia, ou ler os clássicos nem nada disso. Eu estava organizando uma lista de leitura com o objetivo de economizar dinheiro. Eu tenho um problema com a compra compulsiva de livros.

Além de gostar de ler propriamente, eu gosto dos livros em si, sabe como é isso? De comprar livros e de ter livros em casa. Eu adorava lista de bibliografia da faculdade, porque eu tinha uma desculpa para sair comprando livros.

O comprometimento com uma lista de leitura é uma maneira de retardar esse processo. Embora eu entenda que a compra dos livros não tem tanto assim a ver com gostar de ler. Eu poderia ter vários e-books, por exemplo, ou livros de domínio público, mas não. Eu até leio livros em formato digital, mas não tenho problemas com a compra excessiva dos mesmos. Eu também leio livros de bibliotecas e isso não tem impacto sobre o meu desejo de comprar livros, a princípio. Eu gosto de colecionar o papel.

De qualquer forma, uma regra no sentido de que eu teria que ler um número X de livros antes do comprar um livro novo, pode ajudar. Assim como usar todas as peças de roupa do seu armário antes de comprar uma peça nova pode ajudar com a compra exagerada de roupas novas, por exemplo.

Então, estava eu pensando na lista de leitura e comecei a me dar conta dos diferentes impactos que os livros têm em nós. Isso é algo muito importante a se considerar na hora de pensar a lista de leitura. Se você resolver ler: Senhor das Moscas, A Guerra não tem Rosto de Mulher, Germinal e 1984, o próximo passo é se matar.

Para evitar tal efeito indesejável, é legal alternar esses livros tensos com temas mais leves.

Cada tipo de livro ou partes de um determinado livro, por sua vez, é lido em um ritmo diferente. Acho que foi isso que eu não tinha parado para pensar antes.

Existem vários ritmos diferentes que empregamos para ler um livro.

Tem as partes envolventes que lemos de uma tacada só. Aquelas cem páginas que a gente avança em uma sentada. (para mim, foram algumas partes d’As Brumas de Avalon. Quando eu me deva conta, tinham-se passado horas e horas de leitura).

Tem as partes chatas, temos que admitir, que demoram… A gente pula frases, parágrafos, tem partes que a gente não entende, mas também não se importa de não ter entendido (sinceramente? Vocês vão me desculpar, mas foi a leitura da primeira parte d’O Silmarillion. Eu li aquilo ali algumas vezes e ainda não consigo absorver completamente a história da formação do mundo e as mudanças que ocorreram nele).

Tem aqueles livros que a gente não entende, mas volta cinquenta vezes de bom grado para tentar entender e relembrar o que estava acontecendo (As Mil e Uma Noites, claro. Eu estava toda hora voltando para entender qual história se ligava ou estava dentro de qual outra história. Nesse caso era uma festa. Eu amava).

Tem os livros que devem ser lidos aos poucos, um pedacinho por dia (na minha opinião, os livros de poesia e, às vezes, de contos. Quando é assim eu gosto de ler uma ou duas poesias por dia, ou um conto por dia).

Tem os livros que a gente nunca acaba. Podem haver diversos motivos para isso: o livro pode ser chato (novamente, me perdoem, mas A Metamorfose é um livro muito chato. Eu sei que pouca gente tem coragem de expressar essa opinião, com medo de ser taxado de ignorante, mas o livro é verdadeiramente chato e eu tenho certeza de que tem um monte de gente cult pensando isso por aí. Quer ler um livro do Kafka? Leia Carta ao Pai); pode dar medo e paralisar a gente (eu senti medo e nunca terminei de ler algumas histórias do Contos Tradicionais do Brasil compilados pelo Câmara Cascudo. Esse foi o livro paradidático da quinta série e algumas histórias são assustadoras. Tenho pesadelos com a que o meu grupo foi obrigada a encenar na peça da escola até hoje); o livro pode ser também imensamente grande, aí temos vontade de ler outros livros durante a leitura do primeiro (eu com a Bíblia que já tem uns três anos que estou lendo e não acaba nunca); e livro pode também revirar as nossas entranhas e nos dar enjoo moral (120 Dias de Sodoma, por exemplo, que eu não consegui terminar de ler até hoje. Esse deve ter sido o primeiro livro que eu deixei inacabado, antes dele eu sempre me obrigava a ler tudo, até quando se tratava de sequencias. Foi o caso do Fronteiras do Universo. Não conhece esse nome? Que tal A Bússola de Ouro? Fronteiras do Universo é o nome da trilogia. O livro é doido e meio chato, mas eu comecei o primeiro, li os três. Terminei amando, fazer o que? Mas depois do Sade, esse ciclo se quebrou e várias leituras desde então ficaram inacabadas); dentro outros motivos que não me ocorrem agora.

Por fim, tem livros como o que estou lendo agora. A leitura leva o seu tempo. Anda num ritmo próprio. A leitura não se encerra no momento em que você está com o livro na sua frente. Você fica tentando antever como a trama vai se desenrolar e o que vai acontecer com os personagens e fica com medo do escritor ser um f**** da p*** e resolver matar todo mundo no final. Você acaba retardando a leitura, com medo do que vai acontecer. Mas, assim como a vida, a leitura atropela a sua resistência e demanda seguir seu curso, você assume os ricos e continua lendo. Se o autor for um ursinho carinhoso, você respira aliviado, ele salva os personagens, não mata ninguém por quem tenhamos nos apegado; se não, ele mata todo mundo no final. Conforme as desgraças vão acontecendo, precisamos levantar a cabeça do papel e passar por um período de luto. Durante esse tempo, e esse é o poder de um bom luto, passamos por uma evolução pessoal, pois a emoção que o autor nos provoca, as questões que ele nos coloca, nos fazem pensar a nossa realidade e olhar para o mundo de outra maneira (foi o que me aconteceu em Senhor das Moscas e que está acontecendo novamente em Germinal. Livros tensos e carregados de verdades a respeito da humanidade. Essas leituras são densas e nos absorvem, demandam tempo e reflexão para serem bem aproveitadas).

Estes são os ritmos que me ocorreram, mas sintam-se à vontade para adicionar novos ritmos de leitura com os quais vocês estão familiarizados nos comentários!

 

4 comentários em “Os diferentes ritmos de leitura.

  1. O tipo de leitura mais corrente para mim tem sido notícias virtuais e “textões de fb”. Considero rápidas. s

    Desde que descobri o recurso de leitura online, venho lendo quase todos os textos virtuais com a ajuda da “mulher do google”. Pena que só dá para ler 5000 caracteres por vez. É legal ler pelo google pq não preciso acompanhar o texto com os olhos, posso fazer tarefas simples como cortar a unha, jogar 2048, responder algo rápido no zap… Nos textos mais longos e/ou densos costumo fazer duas leituras, uma “despretensiosa” e outra acompanhando o texto. Isso também tem me ajudado a “classificar” tamanho dos textos. Um “textão de fb” de verdade mesmo, só considero quando tem mais de 5k caracteres (chars). Por esse critério, a maioria não é textão, e sim “textédio”(rs). Quando um texto tem menos de 1k muitas vezes até desisto de ler.
    Um tipo que tu não abordou é leitura de textos matemáticos, nossa costuma ser bem densa, obriga releitura, o exemplo mais vivo que eu tenho disso são os textos do “Física “Básica”” do Moyses, mas tem a parte boa, que você pode por à prova na hora alguns cálculos, deduções.

    A Bíblia é um texto que já tentei ler cabo-a-rabo acho que 3 vezes, sem sucesso. Tem alguns livros que são muito repetitivos, chatos, como Levíticos e Números, por exemplo, demora para chegar nos bons. Por isso que da última vez eu fiz uma seleção não seqüêncial da Bíblia para poder ler de modo menos entediante, misturando antigo e novo Testamento, agora não lembro o critério. Não sei se deu certo porque ainda nem comecei! Acho que vou até tentar retomar este ano a releitura. Que tal? Quando recomeçamos? Outro meio que tava dando certo para ler a “Bíblia” era a Liturgia Online, eu lia as leituras do dia, lia em inglês e espanhol também para fixar e exercitar. O ruim é que não tem uma regularidade da leitura, depois pesquisando vi que a Liturgia Diária Católica demora 3 anos para ler a Bíblia toda, e tenho dúvidas se todas as partes são lidas mesmo. Ganhei uma Bíblia em Alemão, vou ver se faço uma leitura casada para me estimular mais.

    Gostei de como você foi classificando os tipos e exemplificando com títulos. Na lista de livros chatos e difíceis que eu li, acrescentaria “Iracema”, não sei se tu já leu. Fui obrigado a ler no EM, e não gostei, leitura difícil, cheio de termos indígenas que desconhecia, a maioria não tinha no meu dicionário Aurélio. Sei que tomei ódio mortal, mas confesso que tenho curiosidade hoje para reler e ver se era realmente tão chato, ou se foi pelo fato de ser obrigado, ou imaturidade. Mas há tanta coisa para ler, que não sei se vale à pena reler algo que já não gostei de primeira.

    Outro tipo também é aquele tipo dos livros “inúteis”. Neste grupo entra aqueles religiosos, como aquele do Pe. Marcelo, que não sai das livrarias, e que não vou dizer o nome para não fazer propaganda, mas fico feliz em não ter lido, os livros desses pastores ricos, Malafaia, Macedo; e de auto-ajuda também. Não teria paciência por exemplo de ler Paulo Coelho ou semelhante.

    Há os tipos só de consulta, como dicionários, receitas, anais, enciclopédias.

    Há também os livros ultrapassados, como listas telefônicas, tutoriais de softwares arcaicos ou extintos.

    E há também os tipos de livros que valem a pena ser relidos! Aquele que te arrancou risos, choros. Gosto muito de Jorge Amado, já reli Capitães da Areia e Tenda dos Milagres (que acho que inspirou a minissérie ou novela Porto dos Milagres) e pretendo reler em breve “Seara Vermelha” (primeiro e único livro até agora que me fez chorar de soluçar!), melhor livro dele que já li (e ainda falta muitos)!

    Atualmente estou lendo (tentando): “Universidade do hacker”, “A kiss before dying” e “Introdução à estrutura de dados”.

    Só para fechar o texto que escrevi, até aqui tem pouco mais de 3k8 chars.

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    1. Achei interessantes esses tipos de leitura que você classificou. Concordo com elas. Mas realmente não tenho experiência com livros de matemática. Ou livros de exatas em geral.
      Se quiser grupo de leitura da Bíblia a gente vai ter que ter fôlego! Não vai ser fácil não. Lembra da Ideologia Alemã? É muito texto! Hahaha
      Eu também não tenho experiência com a releitura de livros. Nunca reli. Não sei porque…. Mas me dá uma coisa só de pensar. Às vezes eu até consulto um livro já lido, mas não leio tudo de novo. Talvez eu fique com essa nóia de que tem muito livro no mundo e eu não posso perder tempo relendo. Sei lá.

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  2. “A Ideologia Alemã”, podes crer, lembrei dela quando estava escrevendo o comentário. Acho que nesse bicentenário do Marx, vale a leitura como homenagem.

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