“Por onde andam meus pés”? Dia 5.

A infância é bastante superestimada. As (poucas) memórias que nos sobram dela parecem sempre repletas de magia, paz e felicidade. Se a infância é isso tudo mesmo ou não, discutimos depois.
De qualquer modo, eu gosto de lembrar da infância, como tudo mundo. Mas eu geralmente me lembro mais da adolescência. Acho que ela foi mais agitada, teve mais emoções intensas e é bem mais fácil de lembrar.
Hoje meus pés me levaram de volta à essa época.
Depois do almoço (que acabou seis horas da tarde e estava delicioso) eu fui dar uma volta pelo bairro da minha avó (tinha que esperar o sol baixar também, não é? Vocês se lembram que eu disse que aqui é quente para cacete).
Fui parar na praça da Igreja onde eu passava boa parte dos meus finais de semana entre os treze e os dezesseis anos.
Cheguei lá já na intenção de relembrar o passado e pensar o que ia escrever no texto de hoje.
A primeira coisa que eu lembrei foi a quantidade de gente que eu conhecia na época. Fiquei me perguntando como eu, tão anti-social, conseguia conhecer aquela galera toda. Não passou um minuto, uma rapaz se aproximou e me pediu o isqueiro emprestado. Ele me perguntou o que eu estava fumando. Tabaco. Ele também já tinha fumado tabaco e achava muito bom. De vez em quando, ele fumava outras coisas também. Um amigo dele também adorava uma onda. Eu só no: Uhum…. Ele chamou o outro rapaz: chega aew!!! O menino veio. Acredita que esse outro rapaz, apesar de aparentar já quase trinta anos, não dormia com a luz apagada! Nem abajur servia. Tinha que ser luz acesa mesmo. Me pergunta como eu soube se tudo isso? Nem eu sei. Os garotos só chegaram e começaram a falar da vida. Eu nem pude pensar no que eu havia planejado pensar. Mas eu sai dali com todas as respostas. É assim que uma garota anti-social fez tantas amizades em um bairro do subúrbio: ficando parada por cinco minutos numa praça qualquer.
Os ares da adolescência são menos místicos do que os da infância, mas ainda tem um quê especial.
Me entende?
A voz do rapaz falando coisas aleatórias da vida dele como se me conhecesse há dez anos, o pessoal ali na quadra jogando bola, a conversa alta da galera na mesa ao lado, o motor das motos que passavam na rua, o canto da missa que estava rolando.
Eu passei a adolescência no meio desses sons. E esses mesmos sons continuam lá! Inacreditável.
O cenário da minha adolescência ainda está montado, eu que me aposentei daqueles palcos.
Eu não viveria tudo aquilo de novo nem se você me pagasse. Mas com certeza é bom juntar os amigos num banco de praça para relembrar os velhos tempos.

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