Eu espio com meus olhos. Especial. 

Eu não gosto de escrever com dor de cabeça. Na verdade, quem gosta de fazer qualquer coisa com dor de cabeça? Quando eu estou assim, tudo que eu desejo é um quarto escuro, fresquinho, em silêncio absoluto. Não essa luz da tela do celular na minha cara. Acho que todos os dias em que eu estiver com dor de cabeça, eu vou ter simplesmente que pedir desculpa por não escrever um texto mais elaborado.
Mas até que em algum momento seria interessante falar mais sobre essas dores de cabeça. Elas começaram quando eu era ainda muito nova e acontecem até hoje. Em menor frequência sim, mas acontecem. Naquela época, tinha toda uma questão emocional envolvida aí também, até eu ficava me culpando achando que eu estava fingindo às vezes. Mas hoje em dia eu tenho certeza de que não era isso. Eu exagerava de vez em quando sim, mas essas dores de cabeça me perseguem. A causa mais provável, aquela que sempre foi uma das minhas maiores desconfianças, vem das consequências do problema de visão. De duas coisas: ter que estar sempre forçando a vista, o que me faz comprimir os olhos e, muitas vezes, franzir as sobrancelhas e curvar as costas demais quando eu estou lendo ou escrevendo (e eu vivo disso, então…). Esses dias aconteceu algo que me deixou quase totalmente convencida dessa explicação. Eu comprei para o meu marido de presente um livro chamado Ligue Os Mil Pontos. Lembra daquelas revistas de atividades para crianças que tinham caça palavras, palavras cruzadas e aqueles pontinhos que você tinha que ligar para formar uma figura? Então. Ele adora essas coisas. Aí eu achei esse livro com 1000 pontos que, quando ligados, formam famosas obras de artes. Ele já fez o primeiro. Ficou bem legal, mas o ponto é que, apesar da folha do livro ser grande, do tamanho de um A3, os números são muito pequenos até para ele. Isso fez com que ele tivesse que ficar com as costas curvadas para fazer a atividade por uns vinte minutos. Ele ficou vinte minutos como eu fico sempre e isso causou muita dor nas costas e nos ombros dele. Eu sinto essa dor constantemente. Não quer dizer que, porque eu já estou acostumada com a dor que eu já não a sinto ou que ela não me faz mal. Eu acho que, quando eu faço mais esforço, ou estou mais tensa, essa dor nas costas causa a dor de cabeça. Eu já fui ao ortopedista algumas vezes, mas ele só passa relaxantes musculares e eu não quero ficar tomando remédio dia sim dia não. O que fazer, então? Bom, eu tenho feito alogamentos para tentar relaxar essa musculatura. Vamos ver se dá certo!

Cogumelo do sol e a indústria da saúde. 

Vocês se lembram do cogumelo do sol?
Há alguns anos, estava começando essa onda de usar cápsulas, chás e outros produtos, naturais ou industrializados “do bem” em prol da saúde. Eu me lembro que uma das primeiras dessas ondas foi a do cogumelo do sol. Foi uma febre. Todo mundo estava recorrendo a eles. Hoje em dia é o chá de hibisco etc.
Na época, se você não tomava o cogumelo do sol, você era um desleixado com a sua saúde. Hoje em dia, se você não enche seu dia com snacks saudáveis e chás, é a mesma coisa, “parece que você não quer ser saudável”. Ao longo dos últimos anos, esse mercado foi crescendo e a cada dia temos novidades nos produtos (naturais ou não) que dão um help na saúde.
O meu medo é com a próxima moda.
Num intervalo de aula, uma pessoa estava comendo uma maçã e um rapaz se aproximou falando: “Hm… Você come maçã? Eu não como mais isso não. Tem muito agrotóxico”.
Então o que eu estou imaginando? Começamos a onda dos produtos saudáveis emparelhando seus benefícios com os dos produtos naturais, frutas, legumes e verduras. Mas eu desconfio que esses produtos que são naturais mesmo, que você tira da terra e come, foram apenas uma bengala para a indústria da saúde. Daqui a alguns anos, você vai ser maluco se comer alimentos naturais, por conta dos agrotóxicos da contaminação do solo e da água etc. Saudável mesmo, vai ser ingerir a sua dosagem diária de cápsulas de brócolis concentrado.

Os pães de forma não estragam mais. 

Você reparou que o pão de forma não está mais estragando?
Antigamente acontecia o quê? Eu ia comendo o pão devagarinho, até que derrepente chegava aquele dia que eu ia pegar o pão para comer e tinha dado bolor nele. Por causa do problema de visão (já comi pão com mofo algumas vezes) eu adquiri o hábito de, chegando perto da data de validade, perguntar para o meu marido se tem mofo no pão. Já há algum tempo a resposta dele é sempre não. Aí eu vou ver a data de validade: vencido há duas semanas. Poxa, amor, tem certeza de que não tem bolor? Não.
Teve um dia que eu comprei um pão que eu não gostei muito. Sabe esses pães agora que têm doze grãos, vinte grãos, trinta grãos? Pois então, teve um que eu achei meio estranho, comi um pouco, mas quando ele já estava da metade para o final eu deixei ele lá e comprei outro. Esqueci o tal do pacote de pão lá na fruteira. Fui comendo o pão novo. Chegou um domingo a noite que me deu a maior vontade de obter um pão com ovo, mas… O pão tinha acabado! Que tristeza. Estou eu revirando a cozinha para ver o que eu ia comer, quando acho o tal pão ruim vencido há uns dois meses! Eu pensei que ele certamente estaria estragado. Abri para ver, por curiosidade (eu mesma olhei, certamente a situação ia estar tão ruim que eu ia conseguir ver o mofo sozinha, só que não). Não conseguindo verificar o estado do pão, fui perguntar ao meu marido e ele confirmou que o pão realmente não estava mofado. Cacete! O que está acontecendo?
Eu lembro que na época do ensino médio, um professor falou para fazermos o experimento de deixar uma barata frita do McDonalds e um batata fita caseira fechadas em dois potes diferentes e observar. Perceberíamos que a batata caseira ia ser completamente devorada por fungos e a do fast food ficaria intacta.
Os pães de forma aparentemente não estragam mais mesmo. Eu vou passar a separar uma fatia de cada tipo de pão que eu compro aqui em casa para ver até quando dura. Se eu achar algum pão menos alienígena eu comento com vocês.
Mas, passem a observar… De um modo geral. Depois que eu reparei essa questão do pão, eu comecei a ver que tem muita coisa durnado mais do que durava antes….

Os milhares de braços dos profissionais de saúde. 

“Psiquiatras são assim, cheios de braços. Fazem tudo que der pra ajudar. Se puder tirar a cabeça de um e botar em outro, faz também. Se não der certo, tá bom também”.

Eu ouvi esta frase de um usuário do serviço de saúde mental que estava participando de uma oficina de jardinagem lá no hospital da Nise da Silveira.
Isso aconteceu há meses. Eu anotei essa frase e fiquei com ela guardada sem saber o que fazer com esse duro choque de realidade, expresso em uma frase tão fantástica.
Muitos profissionais de saúde são assim mesmo, cheios de braços. Chegam em cima dos pacientes sem pedir licença, aferindo, medindo, apertando, abrindo, levantando roupas, mandando tossir.
Os psicólogos também vêm cheios de boas intenções e de boas teorias, fazem de tudo para ajudar. E se o paciente não vai bem, a complexidade dos fatores ambientais, psicológicos, sociais e biológicos era simplesmente complexa demais para que fosse possível uma interferência efetiva, ou o paciente resistiu.
Paciente é outro tipo de gente, se é que é gente. Derrepente ele se vê desautorizado a falar do próprio corpo e da própria mente.
Tem muito profissional por aí, contudo, tentando fazer diferente. A gente tem um forte movimento pelo desinstitucionalização da loucura atualmente no Brasil encabeçando essa luta.
Muita gente boa lutando para tirar suas mãos desautorizadas e suas teorias não solicitadas de cima das outras pessoas, sem lhes tirar também o cuidado e a melhor atenção em saúde disponível a que elas têm direito.

Conheça o Núcleo de Doenças da Beleza.

Estava de bobeira hoje navegando pela internet, quando descobri algo que vale a pena indicar.

O que eu estava fazendo de bobeira na internet? Lendo reportagens com potencial sensacionalista. A reportagem era do blog da revista Super Interessante (vale a pena ler aqui); afirmava-se no texto que os cientistas descobriram que a batata frita é mais saudável do que a batata cozida! Ora, ora… Enfim… Tudo bem que tinham algumas condições lá… Leia a reportagem para ver os pormenores. Recomendo.

Não quero nem me aprofundar neste momento na questão da loucura que está a nossa cultura alimentar… O caso é que, depois de ler esta reportagem (com sangue nos olhos) eu fiquei vendo aquelas chamadas para outros textos que a internet sempre acha que podem me interessar que eu vi outro texto intitulado “Por que achamos que ser magro é bonito?” (veja aqui). Pois é, cutuca que você acha, não é? Dê tempo à internet que você sempre vai achar algo que vai prender a sua atenção. Neste segundo texto foi citado o Núcleo de Doenças da Beleza, coordenado pela psicóloga Joana de Vilhena Novaes. Então, no fim das contas, essa peregrinação pela internet rendeu hoje frutos positivos.

O que eu quero indicar é justamente o canal do Núcleo de Doenças da Beleza no youtube.

 

“O sujeito que não investe tempo e dinheiro nesse projeto corporal é malvisto pelos seus pares”.

 

A ditadura da beleza levou o Brasil a ser o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas e o consumidor de metade dos medicamentos para o emagrecimento produzido no mundo. Como se explica isso?

Vale muito a pena dar uma olhada no canal (link) e se tornar mais consciente e crítico a respeito das questões contemporâneas sobre o corpo e a beleza.  

 

“Não cuidar do corpo é entendido como uma falha de caráter”.

 

Link do vídeo de onde foram retiradas as citações da psicóloga Joana de Vilhena Novaes: https://www.youtube.com/watch?v=PDS_MkvKih4&t=272s.