Pole dance e vida acadêmica.

Eu lia livros da Disney quando era bem novinha. Li muito A Bíblia Para Crianças também. Isso é o que eu me lembro de ler antes dos dez anos de idade.

 

Eu me lembro de já ser, desde cedo, fascinada por livros grossos. Eu cheguei a surrupiar E O Vento Levou da estante da minha mãe e leva-lo para a escola quando eu estava na terceira série (já dá para ter noção de que eu sofri muito bullying quando eu era criança, não é?).

 

Mas, naquela ocasião, eu não cheguei, de fato, a ler o livro, eu só o carregava para cima e para baixo.

 

Comecei a ler livros de mais de vinte páginas ou com mais de quatro linhas em cada página, com dez para onze anos. Foi quando saiu o primeiro livro do Harry Potter. Minha mãe começou lendo para mim de noite, mas ela acabava dormindo rápido algumas vezes e eu ficava morrendo de curiosidade. Comecei a ler sozinha. Não que eu dispensasse as histórias da minha mãe, mas eu até preferia as inventadas do que as lidas de algum livro.

 

Ela inventava histórias do tipo: a formiguinha estava andando pela estrada – aí ela começava a dormir e eu a cutucava, mas não com tanta força para que ela não acordasse completamente e ela continuava – aí o chefe dela chamou ela na sala dele…

 

Eu morria de rir.

 

Enfim, fui do Harry Potter para os livros do Tolkien, daí para as Brumas de Avalon e assim por diante.

 

Não parei de ler até a faculdade. Mas isso eu acho que já contei para vocês.

 

O que ficou de fora é que tinha outra atividade que me acompanhava desde sempre: a dança. Ou o que eu considerava dança.

 

Minha mãe queria que eu fizesse balé e eu não quis de jeito nenhum, até hoje não é o que mais me encanta na dança.

 

Mas eu aceitei fazer jazz e não parei nunca mais de fazer coisas com o corpo até… Adivinha quando… Isso mesmo! Até entrar para a faculdade.

 

Do jazz eu fui para a GRD (ginástica rítmica desportiva), depois para a dança do ventre e a dança cigana, estas últimas eu fiz ao mesmo tempo dos treze aos dezessete anos.

 

Então, quando eu passei para a faculdade de psicologia, não deixei apenas a paixão pela literatura de lado, mas também o meu amor pela dança.

 

Não foi uma morte rápida. Foi uma morte lenta e eu fui insensível a ela. Eu fui sentindo como se a minha antiga vida estivesse se tornando obsoleta, eu fui abraçando um novo estilo de ser e de me comportar como se alguma mudança positiva estivesse acontecendo.

 

Eu me lembro de ter lido O Morro dos Ventos Uivantes durante as aulas de Estatística no terceiro período da faculdade e esse foi um dos últimos livros que eu tinha lido até recentemente, quando este quadro mudou. Eu não me lembro quando foram as minhas últimas apresentações de dança, mas devem ter ocorrido mais ou menos nessa época.

 

Quando eu comecei a me dedicar à escrita e à leitura novamente, a necessidade da dança veio junto.

 

Atualmente eu estou lutando contra a culpa para poder dar conta do meu trabalho, da literatura, da dança e do doutorado em filosofia sem achar que eu estou fazendo pouco em cada uma dessas áreas.

 

É uma loucura isso. Eu ainda tenho que lidar com a mesma armadilha que me prendeu na graduação. “Se a sua vida não se resume única e exclusivamente à academia você não deveria estar no meio acadêmico”.

 

Esta, além de ser uma exigência que nunca vai ser satisfeita (mesmo as pessoas que mais se dedicam aos estudos que eu já conheci estão insatisfeitas e acham que deveriam estudar mais), é uma exigência falsa.

 

Não é verdade que você não pode ter uma vida fora da academia para ser alguém intelectualmente. Para fazer algum tipo de trabalho que importe.

 

O livro da Carolina de Jesus vale muito, muito, muito mais do que muita tese que está por aí mofando nos porões das bibliotecas acadêmicas.

 

Atualmente eu estou fazendo dança do ventre e pole dance (que é muito difícil e maravilhoso!) e isso me faz mais bem do que qualquer livro do Kant que eu já tenha lido. E olha que ele foi um dos dois principais autores que eu estudei no mestrado. Eu sinto que ele deveria ser mais importante na minha vida, mas ele, infelizmente, não é.

 

A vida acadêmica tem um alto potência para ser massacrante, com chances de se tornar um relacionamento abusivo.

 

Mas eu estou desviando novamente do que eu consigo falar hoje, que é a minha história com a dança.

 

Eu ainda estou cozinhando mentalmente um post sobre a academia além dos dois que eu já postei de que você pode acessar aqui e aqui.

 

Mas agora eu estou um pouco deprê por ter entrado neste assunto.

 

Texto louco esse, não é mesmo? Às vezes é ruim escrever desse modo: imaginando que eu estou em diálogo com alguma pessoa sem programar o texto (eu vou escrevendo e imaginando um interlocutor que responde e comenta o cada tópico). Isso acontece porque eu estou escrevendo todo dia e às vezes não tenho tempo para preparar os textos como eu gostaria. Uma das desvantagens de ter como meta a publicação de um post por dia.

 

Acho, então, que vou simplesmente encerrar por aqui deixando vocês com o vídeo da minha primeira apresentação no pole dance.

 

Um mês de postagens diárias.

 

Eu não pude deixar de reparar que hoje faz um mês que eu mergulhei de cabeça no projeto de escrever um post por dia no blog.

 

Muita coisa aconteceu na minha vida neste último mês.

 

Acredito que esta nova experiência está me trazendo muitos resultados positivos.

 

E muitas crises também.

 

O que eu posso dizer é que ainda está valendo muito a pena.

 

Fiquei pensando hoje no que me levou a começar a escrever.

 

Eu me lembro de ter começado a escrever as minhas primeiras histórias lá… Nos tempos imemoriáveis do CA.

 

Eu tinha uma amiga chamada Caroline Oliveira de Sá (se vocês a conhecerem, me mandem o facebook dela. Eu já cansei de procurar e nunca encontrei). Eu e ela dividíamos um diário. Cada dia uma levava o diário para casa, escrevia e, no dia seguinte, nós trocávamos.

 

(Essa experiência acabou de me dar uma ideia para uma atividade de journal therapy. Poderia ser uma técnica bacana para promover a reaproximação entre casais passando por momentos difíceis no relacionamento. Se o casal não estier morando na mesma casa, eles podem, cada uma das partes, fazer anotações em um caderno durante a semana, anotações estas que seriam o resultado de reflexões sobre o relacionamento, e os cadernos seriam trocados toda semana. Ou o casal pode ter um caderno em casa para fazer o registro de situações-problema. O registro deverá seguir um modelo: gosto do modelo de crítica XYZ. “Você faz X, que faz com que eu sinta Y e eu gostaria que você fizesse Z”. Muitos casais vão arruinando seus relacionamentos porque brigam logo nos primeiros cinco minutos que se passam depois que eles se encontram em qualquer cenário que seja. Por exemplo, o casal chega em casa do trabalho e, dentro dos cinco minutos após se encontrarem, alguém reclama de alguma coisa. Esse tipo de briga que ocorre logo assim que duas pessoas se encontram é considerado por muitos terapeutas de casais como um elemento extremamente destrutivo para o relacionamento. Fazendo o registro no caderno seria possível mudar esse quadro, aumentando o tempo que o casal demora para começar uma discussão depois de se encontrarem, o que traria efeitos muitos positivos para o casal. Mas… Voltando ao ponto do texto…).

 

Eu e Carol escrevíamos as mais loucas histórias. Até hoje eu lembro de duas. Num dos dias em que eu levei o diário para casa eu escrevi que tinha feito a máquina de escrever da minha avó voar para de baixo da cama. No dia seguinte ela escreveu que ela tinha feito a casa dela voar para a beira de um lago! A ideia era ler mesmo o que a outra escrevia. Tão bom lembrar disso. Mas depois eu comenta mais as reminiscências da infância.

 

Depois veio a fase das cartinhas. Todos aqueles papéis coloridos, canetas cheirosas e as onze ou doze páginas que escrevíamos para todos os amigos e amigas com letras de músicas, descrições do crush, juras de amizade eterna… Isso era lá para a quinta série.

 

Com treze anos eu comecei a escrever histórias de fantasia. Foi só então que eu comecei a ter a sensação de que eu estava escrevendo de fato. Foi por causa de um CD de uma banda que eu amava, chamada RHAPSODY. Eu comecei escrever inspirada pelas músicas dessa banda.

 

Continuei escrevendo durante toda a adolescência. Mais prosa do que poesia. E lendo. O amor pela leitura também já estava solidificado nessa época – mas esse é outra história.

 

Eu tinha muitos amigos que escreviam também. Alguns gostavam de mostrar o que escreviam, como eu (eu era meio estrelinha no fundo e precisava da aprovação das outras pessoas, duas das minhas principais questões emocionais), outros faziam com que você tivesse que ficar implorando uma semana para que eles mostrassem o que tinham escrito.

 

A escrita preenchia os momentos tediosos para os adolescentes presos nas salas de aula dos pré-vestibulares.

 

Ela tinha seu papel na hora de nos ajudar a expressar nossos sentimentos e compreendê-los. Às vezes, contudo, o efeito era o contrário. Eu já cometi a atrocidade de fazer uma “releitura” de uma poesia que uma amiga minha havia feito e ela olhou bem na minha cara e falou “Você não entendeu nada”. Intrigas e compartilhamento de experiências, sonhos e fantasias. Isso era a escrita na adolescência.

 

Por algum motivo, na hora do vestibular, “escritora” não me pareceu uma carreira possível. Fui para a psicologia e depois para o mestrado em filosofia.

 

Por sete anos da minha vida, e minha escrita e a leitura foram dominados pela academia. Por sete anos tudo que eu fazia com o meu corpo e com a minha mente estava a serviço da UFRJ.

 

Até que no último ano do mestrado eu não aguentei mais. Senti uma ânsia incontrolável de voltar a ler literatura sem culpa e a escrever, escrever, escrever muito.

 

Bom, já sabemos a que isso me levou, não é mesmo? Muitos cursos de escrita criativa, muitos livros sobre a arte de escrever, muita literatura e muitos novos projetos literários.

Sete coisas que aprendi em sete dias.

Hoje eu atingi a primeira parte da minha meta: escrevi sete posts para o Blog em sete dias.
Comemorei fazendo compras em uma papelaria!
Essa experiência não tem sido fácil, mas eis o que eu aprendi até agora:

1- A ação vem antes da motivação.

Quando eu comecei a escrever, eu não estava super motivada. Eu tomei a decisão de investir no que eu queria e coloquei a mão na massa. A motivação veio vindo com o tempo e o resultado do trabalho.

2- É essencial batalhar pelo tempo para fazer o que amamos.

Muitas vezes ficamos massacrados pelas obrigações e começamos a acreditar que não há tempo para hobbies ou atividades prazerosas. Mas o que acontece é que quando fazemos apenas coisas que sugam a nossa energia nós passamos a render menos nas obrigações. Ficamos cansados, estressados e com pressa para fazer logo tudo que tem para se fazer. Nesse ritmo, nós acabamos não fazendo nada direito. Recarregar as baterias com coisas boas nos torna mais eficientes e produtivos.

3- Temos que desromantizar nossos sonhos de futuro.

O que eu disse no ponto 2 é algo extremamente difícil de se colocar em prática. Não é a minha intenção que este seja mais um post motivacional que dá dicas impossíveis de serem colocadas em prática. Eu levei dez anos para atingir metade do que eu sonhava que fosse ser a minha vida e o meu eu ideais (faltando ainda especialmente o dinheiro!). Sigo em direção a um longo período de melhorias pela frente e eu vou morrer sem chegar ao 100%. Mas isso não importa! A gente precisa superar o sonho Disney e entender que as coisas nunca vão ser como essa fantasia louca que a gente tem na cabeça. O que não quer dizer, de maneira nenhuma, que a vida vai ser ruim ou incompleta. Quer dizer que nós somos educados para creditar no pote de ouro no final do arco-íris e que, se nós não o encontrarmos (e ficarmos com ele inteiro para nós, sem dividir) jamais seremos felizes. Compramos o que temos com o pote de ouro inexistente e ficamos infelizes.
A moral da história é que sempre tem espaço para melhorias na nossa vida, mas a vida nunca vai ser como sonhamos porque o nosso sonho é uma mentira. E é ok que as coisas sejam assim.

4- Até aqui concluímos que a perseverança é a alma do negócio!

A nossa conclusão parcial é: persevere sempre. É a única forma de conseguir o que desejamos.

5- Dê pequenos passos em direção a sua meta antes de começar a correr.

Eu errei nesse ponto. Tem sido difícil para caralho escrever todo dia no Blog e eu estou com muito medo de falhar. Eu decidi no impulso começar e eu fiz o meu planejamento depois do primeiro post. Isso foi um erro. Eu devia ter ido com calma e me programado com mais antecedência para este empreendimento. Agora estou me sentindo pressionada, achando que dei um passo maior do que a perna. Não cometa esse mesmo erro. Mas, se cometer confie em si mesmo. E se você falhar, respire fundo e tente novamente!

6- Procure apoio.

Qualquer empreendimento tem mais chances de ser bem sucedido se você tiver com quem contar. Seja o seu marido para ler seus post antes de você postá-los (te amo, amor!); seja um amigo que vai acolher o seu desespero no dia que você não tiver o que escrever; seja a sua mãe para compartilhar tudo que você escreve para te dar uma força (também te amo, mãe!).

7- E, finalmente, confie em você mesmo.

Dando certo ou fudendo a porra toda, confie em si mesmo e seja feliz!