10 coisas que você tem que saber sobre relacionamentos interpessoais.

1- A gente nuca sabe o que é melhor para a vida do outro.
2- O que funcionou para você, não funciona para todo mundo.

3- Quando alguém precisa desabafar, não precisamos nos preocupar com o que vamos dizer, apenas nos concentrar em escutar.

4- O outro não é obrigado a aceitar suas sugestões ou compartilhar das suas opiniões. Se você quiser dizer o seu ponto de vista, saiba que o outro pode discordar.

5- Não mantenha relacionamentos cujo sucesso depende da mudança da outra pessoa. Pessoas mudam e melhoram sim, mas o desejo de mudar tem que partir delas mesmas.

6- Se você quer melhorar seus relacionamentos, comece melhorando a si mesmo.

7- Pessoas não mordem. Não tenha medo de se aproximar delas. Quer saber de um segredo? No fundo, no fundo, somo todos muito parecidos. Não existe ninguém tão diferente nessa Terra que nunca encontraria alguém que o compreendesse. Não desista de procurar. Você vai encontrar essa pessoa.

8- Se você gosta de uma pessoa, diga isso para ela (não só em termos românticos, diga isso aos amigos, familiares, professores…).

9- Seja autêntico. Assim como você deve respeitar as diferenças de outras pessoas, elas devem respeitar as suas.

10- Estar cercado de outras pessoas é fundamental, mas a sua felicidade não deve depender de ninguém que não você mesmo.

Creme ou doce de leite?

Tive uma discussão séria com meu marido hoje.
Eu fui ao mercado de noite para comprar as coisas da janta e ele me pediu para comprar dois mini-sonhos para ele de sobremesa. Um de doce de leite, o sabor do outro eu poderia escolher para surpreendê-lo.
Eu comprei um de doce de leite e outro de creme.
Quando ele viu o sabor do segundo exclamou: creme?! Quem gosta de creme?! Começou a discussão. Eu respondi que creme era o melhor sabor do mundo! E ele ficou insistindo que não, que o de doce de leite era melhor e que ninguém gostava do de creme.
Mas que absurdo!
Lembrei da época em que éramos pequenos lá em Jardim América. O padeiro passava na Rua 16 pela manhã e no fim da tarde. Quando ele vinha de noite, todas as crianças se juntavam ao redor, porque ele dava os doces que haviam sobrado de graça para nós. Era uma festa! Segundo o meu marido, todos brigavam pelo sonho de doce de leite. Eu já não tenho tanta certeza de que era assim não. Eu me lembro de ter que disputar sempre pelo sonhos de creme. Nós comíamos tudo ali na rua mesmo, sentados nos portões das casas, com as últimas luzes no horizonte, trocando selinhos por mais um pedaço do sonho do colega, falando sobre as preocupações que nos assolavam na época, rindo também, entre um assunto sério e outro. Era tudo doce. Os sonhos, os beijos, os risos, os choros. Mas antes que eu me deixe levar mais ainda pela poesia dos fins de tarde do bairro da minha avó, vamos voltar à questão.
Meu marido sugeriu por fim, para que pudéssemos sanar essa dúvida de uma vez por todas, que eu fizesse uma enquete: qual sabor de sonho vocês preferem: creme ou doce de leite?

Natalia.

Escrever a sua carta de gratidão não foi fácil.
Cara, tenho coisas maravilhosas e terríveis para falar da nossa amizade.
A gente viveu muita coisa.
Você foi, em alguns dos momentos mais difíceis que eu vivi, um arco-íris de alegria e esperança. Uma coisa que eu sei a seu respeito é que você é muito mais forte do que a sua aparência de fada delicada transparece. Por dentro você é o incrível Hulk e o Thor juntos. Desespero total assolando as tormentas da minha alma (e da sua também, por que eu sei que você sofre), e você resplandecendo a luz do foda-se de uma maneira que eu nunca vi em mais ninguém. Você me deu muita força para seguir em frente ao longo dessa vida e eu sou grata a você por isso.
As pessoas ficam se perguntando e elas também perguntam umas às outras se existem almas gêmeas. Sabe o que eu acho? A galera esquece que gêmeos não vêem apenas em pares. A minha alma tem algumas irmãs gêmeas e a sua alma é uma dessas irmãs.
Nós passamos sim muito tempo afastadas mergulhadas nos afazeres cotidianos que nos roubaram o tempo de um café mais de uma vez, mas a amizade que eu sinto por você já transcendeu o tempo e o espaço. Ela só se torna mais forte com o passar do tempo.
Acho, inclusive, que foi o universo que plantou em nossos corações o desejo de viver da arte para nos aproximar e nos possibilitar o imenso prazer de podermos trabalhar juntas. Eu nem acreditei que a gente já vendeu livros, nossos livros, que nós escrevemos, lado a lado.
E nessa jornada de artista, eu passei a te admirar ainda mais. Você é incrível e eu aprendo com você até hoje.
Não. Eu não estou satisfeita. Eu quero mais a sua presença física na minha vida. Mas, é importante que você saiba, na minha mente você está sempre presente.

Depois de ontem.

Eu sempre vivenciei intensas oscilações do humor. É um traço bipolar (não estou falando do transtorno psicológico, apenas de uma característica pessoal) que eu tenho. Eu experimento uma forte empolgação e uma intensa felicidade, daí acontece alguma coisa (como aquele incidente ontem no metro, sobre o qual você pode ler aqui) que me joga para baixo. Muito para baixo. Eu entro numa bad terrível.

Já notei esse funcionamento há alguns anos.

Eu acho que depois do episódio de ontem, eu corri o sério risco de entrar nesse estado mais deprimido.

Mas isso não aconteceu. Quando eu terminei de postar ontem no blog o texto e conversar com meu marido, eu já estava recuperada.

O processo de pensamento foi aquele descrito no texto. No lugar de focar no fato de que eu havia abaixado a cabeça e desviado, procurei explicações e formas alternativas de olhar para o que aconteceu. Além disso, conversei com uma pessoa de fora (meu marido) que me ouviu e não jogou lenha na fogueira (sim, porque tem gente que te vê irritada e alimenta seu ódio. Essa pessoa não quer te ver bem). Para completar, eu relatei o acontecido em um texto, o que foi catártico para mim.

Essa foi a tríade do equilíbrio do meu humor: pensar em explicações alternativas no lugar de focar no que me aborreceu, conversar com uma pessoa querida que se importa comigo e realizar uma atividade prazerosa para aliviar a tensão.

Bom, fica a dica. Vale a pena tentar da próxima vez que você sair dos eixos!Patrulha da escada do metrô. 

Cultivando relacionamentos.

Eu já falei para algumas pessoas que elas precisam ampliar e fortalecer seus laços sociais.

Não sou estranha a essas necessidades.

Eu já passei por forte necessidade de fazer novos amigos e cuidar dos laços já existentes.

Algumas pessoas são bastante sociáveis e, facilmente, vivem rodeadas de amigxs. Para outras, certo esforço é necessário para não acabar ficando mais tempo sozinha do que é saudável ficar.

Todo dia é dia de cuidar de relacionamentos; com xs amigxs, com companheirx, com a família, consigo mesmo.

Hoje foi dia de fazer coisas agradáveis com a minha mãe.

Temos a visão fortemente arraigada no senso comum de que os laços de afeto com a família são dados de realidade que não podem ser alterados; mas os laços familiares, assim como os laços de amizade, conjugais ou mesmo o nosso relacionamento com a gente mesmo, todos esses relacionamentos requerem cuidados.

Eu só consegui perceber isso depois que me mudei da casa de minha mãe.

Desde que passei a morar fora de casa, percebi que meu relacionamento com minha mãe precisava ser cultivado. Que os anos de rotina e convivência haviam feito se acumularem muitos momentos de brigas, cuja lembrança ofuscava momentos de atividades prazerosas em conjunto. Portanto, comecei a buscar mais momentos deste último tipo. Hoje passamos o dia replantando e cuidando das plantas do meu jardim (que está maravilhoso por sinal).

Esse tipo de cuidado deve ser dispensado a todos os relacionamentos que são importantes para nós e, por algum mistério (algum funcionamento equivocado da nossa psique), nós tendemos a não dar tanta atenção aos amigxs já conquistados, nossx companheirx, aos familiares que amamos. Deixamos mesmo de cultivar um bom relacionamento com a nossa mente e o nosso corpo. Deixamos de investir nos bons momentos que acabam ofuscados pelos desagrados.

Com companheirx nós só brigamos e já não partilhamos mais nada em comum além do tempo que passamos trancafiados juntos dentro de casa; procuramos xs amigxs quando precisamos desabafar e não nos preocupamos em saber da vida dx amigxs com interesse e profundidade; procuramos os familiares nas datas comemorativas ou quando precisamos de alguma coisa; desgostamos de nossos corpos e não investimos no autoconhecimento e nas atividades que recarregam nossas energias e nos dão prazer.

Com o tempo, essa dinâmica desgasta os relacionamentos.

Não é necessária uma DR para saber o que fazer para cultivar o relacionamento (embora eu não tenha nada contra discutir a relação de vez em quando), basta que você chame a pessoa para um café, para jogar conversa fora, ou que você a chame para fazer alguma atividade pela qual compartilhem interesse mútuo (ou, por que não, conhecer alguma atividade nova a qual a outra pessoa pode te apresentar? Pode ser que você goste. Eu, por exemplo, nunca tinha experimentado qualquer outra atividade artística além da escrita e da dança. Mas acabei me interessando pela pintura, recorte e colagem e muitas outras coisas por conta de algumas amigas que tinham esses interesses).

Se você estiver sem dinheiro, chame a pessoa para dar um pulo na sua casa ou se convide (isso, se convide mesmo) para ir na casa dela. Uma expressão sincera da vontade de estar junto, geralmente, é muito bem recebida.  

 

Juliana.

Você foi uma das pessoas que mais me surpreendeu nessa vida.
Eu tenho orgulho de falar de como você é foda atualmente.
A sua história, para mim, é uma grande fonte de inspiração. Eu vejo como você lutou contra muitas questões que eram difíceis de lidar e se tornou uma nova e maravilhosa pessoa.
É difícil escrever sobre as pessoas que mais amamos. Todo relacionamento tem momentos altos e baixos. Você não pode deixar os baixos de fora, mas também não pode deixar que eles se sobreponham aos bons momentos.
Nossa amizade certamente teve seus baixos. E uma coisa muito boa é que, hoje em dia, eu percebo que não só nós aprendemos muito com os problemas que tivemos, mas conseguimos transformá-las em piadas e rir muito das nossas idiotices.
Você é uma das pessoas com quem eu me sinto mais à vontade. A nossa amizade é simples e direta.
Mesmo longe pacas você está sempre muito presente.
Já falei que nossas conversas não são várias conversas diferentes, cada uma com começo, meio e fim; eu sinto que a minha vida é em parte um grande diálogo com você que está sempre em aberto.
Eu sei que eu já te fiz sofrer no passado e que eu ainda não sou a amiga perfeita. Estou muito longe disso, mas certamente me esforço e vou continuar me esforçando para ser a melhor amiga que eu posso ser.
Eu vivi com você alguns dos momentos mais engraçados da minha vida e as melhores partidas de RPG. Você sempre fica de graça, falando que isso e aquilo e que me dava trabalho narrar para você, mas você ignora o quanto era legal para mim. Qualquer aventura que eu criava você amava e isso me fazia me sentir muito bem. Ver a empolgação do jogador é sempre a maior motivação do mestre.
E a gente vai continuar tentando montar um grupo de RPG até morrer. Quem sabe um dia morarmos perto de novo uma da outra. Nem que seja no Canadá, na Austrália ou na Irlanda.
Acho nossa vida juntas muito bonita.
Obrigada por ser minha amiga.

Larissa.

Eu nunca esqueci de você. Eu lembro de tudo que você sofreu. Desculpe por não ter conseguido te fazer se sentir melhor….
Na nossa época não tinha ainda essa história de bullying, então a gente não sabia que isso era errado. A gente achava que quem era feio, chato e burro tinha que ser zoado mesmo. Mesmo quando éramos nós os burros, chatos e feitos.
Hoje em dia eu até consigo olhar para trás e ver que éramos todas crianças sofridas, por um motivo ou por outro. Na época eu não conseguia enchegar muito bem o sofrimento alheio. Principalmente o sofrimento de quem disfarçava a dor que sentia. Eu achava que todo mundo era feliz e só eu que era triste. E eu achava que se eu ficasse ao seu lado eu seria ainda mais infeliz porque você era muito triste e não escondia isso.
Hoje eu sei: você era sensível e sincera. Eu fui medrosa e insegura.
Nem o Facebook conseguiu trazer você de volta para a minha vida, mas eu espero que você consiga olhar para trás e ver a adolescente que eu fui com alguma condescendência e saber que eu amava você. Eu fiz tudo que eu pude na época para te apoiar e ficar ao seu lado. Me perdoe se fui babaca em algum momento.
Ah! Obrigada por ter me apresentado os Ramones. Ouço até hoje e me lembro de você sempre. E obrigada por ter sido minha amiga. Eu nunca vou me esquecer de você. 

Carta a um amigo.

Estamos todos muito preocupados com você.

Não dê esse susto na gente nunca mais.

Se você nos abandonar, com quem vamos partilhar o sofrimento? Com quem se não com você que sofre mais do que todos nós?

Sem as suas poesias, como vamos nos expressar?

É preciso que você fique.

Sem as tuas musas a nossa arte também não tem sentido.

Se não for você a me lembrar dos decassílabos, quem mais?

Nesse mundo da poesia contemporânea, ninguém as conta mais.

Sem a tua fé tremenda nas certezas matemáticas, o meu mundo se torna incerto e cínico.

Não me fale mais que cortou os pulsos. Pois toda vez os meus sangram junto com os teus.

Não me fale mais de remédios ou do absinto, pois meu estômago se revira e corrói também.

Você quer que morramos todos juntos?

Nós ainda temos muito o que viver, você e eu.

Saiba que é muito cruel o teu grito de socorro.

Mais cruel ainda é saber que você sofre tanto e que nada do que fizemos é capaz e aliviar o teu sofrimento.

Eu sei o que você vai pensar:

– É melhor que eu morra, então, assim eu não causo mais sofrimento a eles.

Eu sei que você sabe lá no fundo que não há nenhum pensamento mais equivocado do que este.

As tuas ameaças são o ferro em brasa que se aproxima e se afasta da nossa pele. A tua morte será a hora em que esse ferro finalmente nos queimará a pele que arderá durante dias e ficará mercada para sempre.  

“Sair da vida para entrar na história”. Logo você, tão inteligente, não aprendeu nada com seu professor de história do ensino médio? O suicídio não é a absorção pelo esquecimento, é muito pelo contrário, a sua marca indelével na vida daqueles ao seu redor.

 

 

“Por onde andam meus pés”? Dia 8.

Hoje as estrelas foram os pés dos amigos.

Pés que vêm visitar e que, às vezes, custam a ir embora (importante deixar claro que isso é uma coisa maavilhosa :P). Pés que vêm de longe algumas vezes e pés que pisam a casa inteira durante os fins de semana de estadia. Tem um pé em especial, que quando vem aqui, sempre destrói ou quebra alguma coisa, mas como esses pés também já ajudaram! Subiram e desceram escada durante a pintura do apartamento novo, sustentaram o peso dos móveis na mudança.

Pés descalços como o meu ou os pés calçados que me deixam louca. Não entendo esse povo que adora um sapato. Quando vem um amigo de tênis eu obrigo a tirar. Não quero nem saber. Durante a semana são os pés cansados, cheios de chulé que pisam esta casa.

São todos pés muito bem-vindos.

Tem também os pés sumidos, que nunca pisaram esse território. Cadê vocês? Já passou da hora de conhecer meu chão.

Eu lembro de quando era educado tirar o chinelo para entrar na casa dos outros. Quantas texturas de chão diferente já passaram pelas solas dos meus pés.

Chãos encerados, chãos cobertos de pelo de cachorro e gato, chãos de terra batida, chãos de taco, de cerâmica e de madeira, chãos sujos.

É estranho que eu me lembre do chão da casa das pessoas?

Nos dois apartamentos que eu morei até hoje desde que saí da casa da minha mãe, o chão foi algo que eu fiz questão de mudar para ficar do meu jeito. Afinal, eu aproveito muito o chão da casa. Eu sento e deito no chão e ando descalça.

Não é que eu goste de piso perfeito. Lembro que no quarto onde eu dormia na época que morei na casa da minha avó tinha uma cerâmica quebrada. Olha, eu nunca gostei de quebra-cabeça, mas como eu gostava de ficar encaixando e desencaixando aquele negócio! Tinha um quebradinho na cozinha também… Eu quase senti pena quando essas “imperfeições” foram consertadas.
Sempre dizem que o mais importante dos sentidos humanos é a visão. Importante no sentido de ser o sentido ao qual prestamos mais atenção. Ele monopoliza a nossa percepção do mundo. E é verdade. Temos que nos esforçar para prestar atenção aos outros sentidos. E esse é um exercício que vale muito a pena.

Eu sei que você deve acreditar que a friagem entra pelo pé, mas eu quase nunca gripo ou fico resfriada. Então deixe o medo de lado e dê mais pisadinhas nas coisas.

Duas das coisas que eu não gosto de pisar: algas, que me dão um nervoso extremo, e chão de lagoa, que tem uma textura meio lodosa que me dá arrepios. Fora isso… Tenho curiosidade de como seria pisar em brasa… Ou em pregos, como naqueles espetáculos nos quais as pessoas fazem coisas inimagináveis!

Adeus.

Não tem um jeito fácil, nem bom de falar sobre isso. O próprio motivo desse texto existir vem de uma profunda incapacidade de processar os sentimentos dessa situação.
Eu lembro que antes da gente se mudar, eu estava tão triste durante boa parte dos dias e teve um específico que eu tava em casa… E eu digo casa porque é isso que esse lugar vai sempre ser pra mim: minha primeira casa, meu primeiro lar, por vontade própria pelo menos. Só hoje eu entendo a importância que isso teve pra mim. Enfim, teve esse dia que eu tava nessa minha primeira casa e ela chegou. Eu não lembro direito o estado de espírito em que eu estava antes, mas assim que eu a vi eu soube que eu precisava abraçá-la. E quando eu a abracei eu comecei a chorar, e chorar muito, muito mesmo, de não conseguir falar direito, quase como choro agora escrevendo essas palavras, como talvez chore também quando ler em voz alta e talvez também algumas vezes antes e depois disso.
Chorando eu comecei a lembrar e a falar do tanto que a gente viveu em quase cinco anos morando juntos, dividindo esses menos que 40 metros quadrados. Lembrei, como lembro agora também, desde antes da gente começar a morar aqui, de quando vim aqui com alguns amigos encher cano de pvc com argamassa pra se proteger nos atos. Antes disso ainda, eu lembro do clima ruim que ficou com a mãe dela quando a gente foi comprar piso novo, ou alguma outra coisa na Leroy Merlin do lado do Norte shopping e na hora de colocar no porta mala, esquecemos a tampa da mala que fica atrás do banco no estacionamento. Lembrei do clima ruim que ficou com a minha mãe quando a gente se mudou daqui. Lembrei de quando a gente botou internet aqui, de quando botou o ar condicionado que só ficou aqui um ano e foi embora junto com a gente, da parede de dry Wall com o qual a gente conviveu pouco tempo também e que só pagamos metade até hoje. Lembro de comprar os pufes, também antes de vir pra cá na Praça Dois. A gente tinha visto eles juntos antes e ela tinha dito que tinha gostado. Eu os comprei pra fazer uma surpresa. Uma das poucas e primeiras coisas que eu comprei sozinho para a nossa casa. Lembro de como a casa foi enxendo de coisas, de livros, de roupas, de mais livros, de tralhas de todo o tipo, de uma estante maior pra botar mais livros.
Lembro de quando a gente prendeu o suporte na TV na parede com a ajuda dos amigos e ela ficou meio tortinha, como ficou também na nossa nova casa. Lembro da feijoada que a gente fez e do 7 a 1 que vimos juntos, com muitos amigos.
Lembro muito também das vezes que alguém dormiu aqui, um amigo mais vezes que todo mundo.
Das conversas, das noites viradas de estudo, fazendo relatório ou tentando fazer 100 questões de termodinâmica. De tomar cerveja no bar, inclusive no dia que a gente foi atacado no ato e depois foi no hospital tirar raio X. Lembro das reuniões políticas, das vezes que os amigos passavam aqui pra estudar e acabavam só tirando um cochilo antes de ir pra casa, da vez que um casal de amigos passou aqui antes de ir num show na Lapa, conheceram um outro amigo que ja estava aqui e ainda me apresentaram o estranho desenho do Steven Universo.
Lembro do senhor pigarro e do seu gosto musical impecável, lembro da senhora do churrasquinho e das noites que ela garantiu nossa janta, lembro de ter conhecido um dos melhores self-services do mundo, lembro do stress com uma tal pizzaria e de tantas vezes que o chuveiro queimou, até a vez que o apartamento quase pegou fogo.
Lembro das nossas brigas, dos nossos choros, desse choro de agora que eu vou lembrar pra sempre. Das nossas declarações de amor, das nossas risadas, das vezes que a gente fez sexo pela casa, inclusive no banheiro quando tinha gente dormindo aqui.
Lembro da gente planejando o casamento, fazendo todo aquele brigadeiro… Lembro da gente escrevendo os nossos votos no dia anterior. Lembro de mim, me arrumando no dia do casamento. Das palavras de amigos tão queridos que ajudaram esse dia a ser tão especial.
Lembro da gente comendo coração de frango com banana à milanesa e vendo TV. Meu Deus… quanta TV a gente assistiu, quantos filmes e séries, todos os cigarros que fumamos, todos os livros que lemos e de eu ter terminado de ler em voz alta para ela o livro do Harry Potter e as Insígnias da Morte um dia antes da gente se mudar, da primeira e única vez que tivemos uma certa experiência psicodélica juntos.
Lembro de quando começamos a jogar Pokemon Go e do primeiro Dragonite que pegamos juntos numa rua bem aqui do lado. De ir na Biblioteca Parque aos sábados.
Tanta coisa. E eu me pergunto agora “pra onde vai tudo isso?”, da mesma forma que eu me perguntei nesse dia antes da mudança. Pensando nisso tudo que a gente viveu, nas pessoas que passaram por aqui, que fazem parte das nossas vidas, que é só um lugar, eu não consigo pensar numa resposta que consiga fechar esse buraco dentro do peito.
A gente aprende que o tempo não volta para trás e que os bens materiais não importam tanto, mas eu não entendo porque nada disso parece consolar nessa hora. Talvez porque cada tijolo dessa casa, da Pantera, ajudou a gente a fazer desse pequeno apartamento um lar perfeito, tão cheio de amor, amizade, risos, choros. E foi tudo tão real, com tanta força e tanta intensidade. Eu não sei pra onde vai tudo isso agora, mas eu espero que cada um siga carregando as lembranças que tem desse lugar e que isso sirva para alegrar os dias tristes que possam vir e fazer lembrar que mesmo os tijolos sendo diferentes, sempre teremos um lugar pra se encontrar e reviver nossos amores e amizades dentro dos nossos corações.
Eu agradeço a todos pelas lembrança maravilhosas e a você, meu amor, eu agradeço mais ainda por todo o apoio e presença na minha vida. Por ter tornado possível essa experiência de conhecer e ter vivido nesse lugar. De todas as pessoas do mundo, nenhuma teria sido a melhor pra ter compartilhado esses anos e essas experiências na minha vida. Houve muito amor nessa casa e você é a maior razão disso.
A você, apê, se eu acreditasse que você pudesse me entender ou sequer me ouvir, eu diria que eu nunca vou me esquecer de tudo que eu vivi aqui com as pessoas que eu mais amo nesse mundo, vou me lembrar sempre de você ter sido um teto tão confortável e aconchegante. Quem sabe um dia a gente se encontre novamente, mas até lá eu só tenho mais uma palavra pra dizer: “Obrigado”.