Natalia.

Escrever a sua carta de gratidão não foi fácil.
Cara, tenho coisas maravilhosas e terríveis para falar da nossa amizade.
A gente viveu muita coisa.
Você foi, em alguns dos momentos mais difíceis que eu vivi, um arco-íris de alegria e esperança. Uma coisa que eu sei a seu respeito é que você é muito mais forte do que a sua aparência de fada delicada transparece. Por dentro você é o incrível Hulk e o Thor juntos. Desespero total assolando as tormentas da minha alma (e da sua também, por que eu sei que você sofre), e você resplandecendo a luz do foda-se de uma maneira que eu nunca vi em mais ninguém. Você me deu muita força para seguir em frente ao longo dessa vida e eu sou grata a você por isso.
As pessoas ficam se perguntando e elas também perguntam umas às outras se existem almas gêmeas. Sabe o que eu acho? A galera esquece que gêmeos não vêem apenas em pares. A minha alma tem algumas irmãs gêmeas e a sua alma é uma dessas irmãs.
Nós passamos sim muito tempo afastadas mergulhadas nos afazeres cotidianos que nos roubaram o tempo de um café mais de uma vez, mas a amizade que eu sinto por você já transcendeu o tempo e o espaço. Ela só se torna mais forte com o passar do tempo.
Acho, inclusive, que foi o universo que plantou em nossos corações o desejo de viver da arte para nos aproximar e nos possibilitar o imenso prazer de podermos trabalhar juntas. Eu nem acreditei que a gente já vendeu livros, nossos livros, que nós escrevemos, lado a lado.
E nessa jornada de artista, eu passei a te admirar ainda mais. Você é incrível e eu aprendo com você até hoje.
Não. Eu não estou satisfeita. Eu quero mais a sua presença física na minha vida. Mas, é importante que você saiba, na minha mente você está sempre presente.

Outras violências.

Ainda no pescoço! Direto no pescoço. Era sempre onde você me atacava. Mas agora tem gente para ver e essas pessoas, essas testemunhas não vão permitir que você me convença, como você fazia quando éramos só você e eu, de que os enforcamentos, os chutes nas costas, os roxos no braço, não eram sinais de violência e agressão física. Você fez muito bem mesmo. Nunca me deu um tapa na cara e por isso conseguiu me fazer acreditar por muito tempo que eu não sofria de violência doméstica. Você se recusou a acreditar. Lá no fundo, eu sempre desconfiei. Você fingia que não existia essa minha desconfiança. Como é para você? Saber que, no fim das contas, você foi traído? Que eu te enganei e te enganei bonito? Que eu aprendi a jogar tão bem o seu jogo que eu pude me mover por entre o pântano que você criou ao meu redor e escapar e esconder um amante bem debaixo do seu nariz? Eu aposto que você se sente completamente estúpido agora. Como é para você saber que eu sou mais inteligente? Que eu tenho mais desejo? Que eu estou mais viva do que você? E, quando por tristeza eu minguava, você adorava. Adorava que eu fosse preguiçosa, adorava que eu estivesse semidesfalecida, jogada na cama enquanto você cuidava da sua vida. Você adorava ter que cuidar de mim, tão fraca, para poder reclamar depois, me punir e se sentir superior. Mas mesmo com a sua presença nociva, seus comentários devastadores, mesmo com o meu mal-estar e seu narcisismo, eu consigo ver agora que você era fraco desde o início. Tão fraco. Fraco, sozinho e amedrontado. A única força que você tinha mesmo era a força bruta dos membros masculinos. Nas pernas e nos braços, no caso, em outros departamentos você tinha a maciez de um marshmallow.

Recolhimento. 

Olá! Tudo bem? Então, me desculpe, mas eu não vou poder cumprir o que combinamos. Sinto muito. Eu sei que era importante. Eu não quero que você fique chateada comigo. Isso não significa que eu não quero estar presente, ou que você não é importante para mim. Você é muito importante para mim. Mas a vida está tão louca, tudo tão corrido. Eu inclusive preciso desabafar também. E quero ouvir os seus desabafos, mas não vai dar para ser nesse momento. Você acha que a nossa amizade resiste a esse imprevisto? Eu espero que sim. Eu queria me desdobrar e ir até você, só que eu estaria cometendo uma violência comigo mesma se eu seguisse em frente com esse plano. Talvez no final de semana que vem role da gente tomar um café. Mas, nesse momento, eu preciso de um tempo de recolhimento. Suspendi todos os meus compromissos, inclusive, não só com você. Liguei para o trabalho e disse que só voltaria depois do feriado, vou ficar sem ir à academia, olhei a geladeira agora para confirmar que não vou precisar sair de casa nem para ir ao mercado. Qualquer coisa eu peço comida. Para você ver. É de um tempo mesmo que estou precisando. Quem me dera eu tivesse respeitado esses momentos mais vezes ao longo da vida. Você também poderia fazer isso de vez em quando, sabe? Eu sei que você sofre assim como eu com essa loucura que é a vida cotidiana. Eu compreenderia se você tivesse essa mesma demanda e estivesse desmarcando comigo para passar um tempo consigo mesma. Enfim, estarei fora de alcance nos próximos dias. Acho que até que o celular vai ficar desligado. Assim que eu encerrar esse meu momento, sair do meu recolhimento, eu entro em contato ou você. Beijos e até!

Como eu coloco em prática o minimalismo. 

Na época em que essa filosofia do minimalismo chegou aos meus ouvidas, a idéia já estava famosinha e mal falada.
Desde o início eu ouvi dizer que o minimalismo é uma filosofia de rico, que pode se dar ao luxo de não fazer nada da vida e ficar dez anos viajando pelo mundo.
Se você for pensar no documentário do Netflix sobre o tema, eu concordo. Mas a idéia em si não é ruim. Temos que admitir.
Cara, eu tenho tanto papel em casa, mas tanto papel. Talvez se eu reciclasse esse papel todo eu teria dinheiro para ficar dez anos viajando (wow! Quem me dera. Se bobear não dá nem o valor de uma resma nova de papel resseciclado :P). Bom, é papel suficiente para bagunçar a minha casa toda semana. Papel de anotações, contas, notinhas de compras, dos meus textos e rascunhos, artigos da faculdade, livros do colégio, cadernos e mais livros. Isso tudo só na categoria dos papéis! Nem me pergunte sobre potes e meias e, pior ainda, tampas de potes perdidas e pés de meia solitários. Enfim, é muito entulho. E, por algum motivo, eu sou pegada a uma boa parte desse entulho. Por que? Nossa! Por que, meu deus?! São coisas que eu nem sei que eu tenho e que eu nunca mais vou usar na minha vida. (Pena de jogar tampa de pote fora é o cúmulo! Quando eu me peguei pensando: e se o pote aparecer? Ah! A que ponto chegamos! O que não falta na casa da gente é pote! E, convenhamos? O pote não vai reaparecer. Nunca!).
Às vezes, eu até penso que eu quero guardar uma determinada coisa como lembrança… E aí fica lá aquela lembrança que eu vejo uma vez a cada dez anos e tenho cinco minutos de felicidade olhando para ela. Sabe o que eu comecei a fazer? Tirar fotos dessas lembranças e jogá-las fora depois. 10.000 fotos em um HD ocupam menos espaço do que 10.000 convites de aniversário de crianças fofas, ou 10.000 ingressos de cinema. Assim, eu guardo uma ou outra coisa verdadeiramente muito especial (um convite do meu casamento, por exemplo) e registro as outras memórias de forma mais produtiva, versátil e acessível. Mais acessível sim, porque se você tem um convite especial, você pode até emoldurá-lo (como eu estou pensando em fazer com o convite do casamento), se você tem vinte…. Eles vão ter que ficar guardados na gaveta mesmo…
Então, não vamos dispensar a filosofia do minimalismo assim logo de cara sem nem tentar pensar em como essas idéias poderiam ser úteis em nossa vida. Sem radicalismos ela pode ser muito viável e interessante.
Eu tenho feito assim: A cada rodada de limpeza e arrumação profunda da casa eu me desfaço de mais coisas do que me desfaria normalmente, mas sem exageros e eu minimizei muito a minha aquisição de novas bugigangas (tudo que compramos sem necessidade), também sem ser a ferro e fogo. De vez em quando me permito…. Bem menos do que antigamente, contudo. Isso é bom para a harmonia da casa e para o bolso… Fica a dica.

Se liberte dessa culpa!

Domingo a noite e eu sem tempo para escrever no Blog. Sabe o porquê? Eu estou estudando.
Isso mesmo. Eu e meu marido estamos estudando. Ele porque está terminando de escrever a dissertação e eu porque tenho uma reunião para debater um texto com meu orientador do doutorado na quarta.
Durante o dia eu não tive tempo de estudar. Foi aniversário da minha prima (maravilhosaaaaaa) e nós ficamos pintando, desenhando e comendo o dia todo.
Amanhã? Não estou de folga não. Vou atender doze pacientes. São doze horas de trabalho. E eu não estou falando tudo isso para você me admirar ou ter pena de mim, sei lá.
É que recentemente eu estava conversando com uma amiga de infância e pensando: “Cara, os pais dessa pessoa achavam que eu era uma má influência. E olha nós hoje em dia… Na verdade, alguns pais achavam que eu era a má influência”. Por isso eu comecei a fazer uma lista mental das minhas conquistas.
Olha a má influência aqui, hoje em dia. A má influência que nunca repetiu de ano, que passou no seu primeiro vestibular para a UFRJ (e depois para o mestrado e o doutorado), que ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Alemanha estudar, que trabalha e sustenta sua casa junto com seu marido, que tem um excelente relacionamento com a sua mãe.
Eu penso nisso tudo e fico irritada. Filhos da puta! Ouvir que você é uma má influência é uma merda! Isso já aconteceu com você? Você se sente errada de alguma forma. Errada é o caralho. Eu sou exemplo. Exemplo do que você deveria querer que o seu filho fosse. Não é porque eu não abaixava a cabeça para qualquer um que quisesse me dar ordens ou que dissesse que eu era inadequada que eu sou má em qualquer sentido que seja. O problema é o embate entre o seu conservadorismo a minha revolução.
Sinceramente? Não. Eu nuca fiz nenhuma merda terrível. Malcriações, birras, equívocos. Isso todos nós cometemos. Adultos inclusos. E olha que eu tenho propriedade para falar, como psicóloga que sou. E eu não fui diferente. O problema foi terem querido me fazer acreditar que os meus erros foram maiores do que o das outras pessoas, que as minhas posturas foram mais inaceitáveis, foram inadmissíveis. Hoje em dia eu é que acho inadmissível continuar carregando essa culpa. Me liberto.
Então se eu ainda te incomodo, tenha certeza absoluta de que isso expressa mais um problema com você do que comigo.

Essa era a minha culpa. Qual é a sua? Aproveita e se liberta junto comigo. Não gaste mais nem um segundo da sua existência se perguntando o que você fez de errado, o que você tem que mudar no seu jeito ou como você tem que agir. Se pergunte apenas o que você desteja da vida, o que você tem que fazer para ser feliz e como você tem que agir para alcançar seus objetivos. 

A culpa está fora de moda. 

Rotina: um mal necessário. 

Rotina é uma coisa engraçada… Ruim com ela, pior sem ela.
A minha “rotina” é muito louca. Com o consultório e as aulas, cada dia estou em um lugar diferente. Nos dias em que acordo com mais sono eu fico desnorteada, do tipo: “que dia é hoje? Para onde eu tenho que ir? Hoje é Tijuca, Vila Isabel, Botafogo, Ipanema, Barra? Consultório ou aula?” maior loucura. Fora o medo de ter esquecido de anotar algum compromisso na agenda e acabar esquecendo de cumprir alguma obrigação.
Às vezes eu fico sonhando com um emprego de escritório, todo dia, de nove às seis… Tradicionalzão… Sabe? Eu sei que seria uma merda. Eu ia começar a me sentir sufocada em menos de um mês. Prefiro a minha bagunça mesmo no fim das contas, o que não quer dizer que essa ausência de rotina seja completamente positiva. Eu ando bastante, estou sempre na rua vendo gente e tomando cafés diferentes. Por outro lado, eu gasto muito tempo me deslocando de um lado para o outro e fica difícil fazer programações de médio e longo prazo.
A gente precisa mesmo na vida de uma certa estrutura e organização. Acho que por isso mesmo eu prezo e busco sempre ter atividades extras em horários fixos, ter metas diárias. Tudo isso ajuda a criar uma rotina mínima que é muito boa para a saúde mental.

Ainda bem que não somos mais crianças. Os psicólogos do desenvolvimento vêm dizendo que a rotina é essencial para o bom desenvolvimento da criança. Dá para entender o porquê. Sua ausência afeta até os adultos, imagina o que não faz com os pequenos!

Meu marido acha que esse é uma fase que estamos vivendo. Essa vida de doutorando que trabalha de maneira autônoma. Quem sabe? O importante é que a gente tem que arranjar um jeito de não sofrer ou de sofrer menos com isso enquanto não dá para mudar. E criar, nas brechas que existem, os pilares dessa vida louca.

Aniversário de sete meses! (Setemesversário)?

Esta semana eu fiz duas aulas experimentais de desenho.
Meu ano tem sido bastante cansativo, como muitas atividades de trabalho e estudo. Mas eu tenho arrumado um jeito de ter tempo para fazer as coisas que eu amo. Não é fácil não. Tem dias em que estamos exaustos mesmo, eu sei. Use esses dias para relaxar, sem dó. No entanto, é necessário que façamos um esforço continuo para fazer com que as coisas que desejamos aconteçam. Mas com perseverança, elas dão certo. E é por isso que, além do fato de que eu vou encaixar as aulas de desenho na minha rotina, eu também estou comemorando o aniversário de sete meses do blog! Uhu!

Cogumelo do sol e a indústria da saúde. 

Vocês se lembram do cogumelo do sol?
Há alguns anos, estava começando essa onda de usar cápsulas, chás e outros produtos, naturais ou industrializados “do bem” em prol da saúde. Eu me lembro que uma das primeiras dessas ondas foi a do cogumelo do sol. Foi uma febre. Todo mundo estava recorrendo a eles. Hoje em dia é o chá de hibisco etc.
Na época, se você não tomava o cogumelo do sol, você era um desleixado com a sua saúde. Hoje em dia, se você não enche seu dia com snacks saudáveis e chás, é a mesma coisa, “parece que você não quer ser saudável”. Ao longo dos últimos anos, esse mercado foi crescendo e a cada dia temos novidades nos produtos (naturais ou não) que dão um help na saúde.
O meu medo é com a próxima moda.
Num intervalo de aula, uma pessoa estava comendo uma maçã e um rapaz se aproximou falando: “Hm… Você come maçã? Eu não como mais isso não. Tem muito agrotóxico”.
Então o que eu estou imaginando? Começamos a onda dos produtos saudáveis emparelhando seus benefícios com os dos produtos naturais, frutas, legumes e verduras. Mas eu desconfio que esses produtos que são naturais mesmo, que você tira da terra e come, foram apenas uma bengala para a indústria da saúde. Daqui a alguns anos, você vai ser maluco se comer alimentos naturais, por conta dos agrotóxicos da contaminação do solo e da água etc. Saudável mesmo, vai ser ingerir a sua dosagem diária de cápsulas de brócolis concentrado.

Hoje é dia de comemorar!

Sabe aquele dia, no meio da semana, que você chega em casa do trabalho pensando: “Poxa, vou fazer uma comida foda aqui em casa e assistir série até dizer chega! Hoje é dia de comemorar”! E você cozinha ouvindo Beyoncé e todas as músicas que faziam sucesso na sua adolescência. Comemorar o quê, você me pergunta? A vida! Pois é. Esse dia é hoje! Recomendo. Faz muito bem!

ANTES DE DORMIR PROGRAMEI UM SONHO.

Eu acordei gritando. Foi isso? Minha garganta está um pouco estranha, mas não está exatamente dolorida. Eu tive um pesadelo, será? Com o que eu estava sonhando? Bom, pode ter sido apenas o estresse. Fui dormir muito estressada, não devia ter tomado aquele café depois da janta, mas também não devia ter bebido, não é… Enfim, eu vou dormir estressada, cheia de estímulos conflitantes no meu organismo e pronto! Acordo no meio de uma crise de ansiedade. Mas será que foi isso mesmo? Eu acho que eu estava sonhando com alguma coisa…. Acho até que meu marido estava lá… Sim… Nós estávamos em uma praia e haviam dois navios imensos no horizonte que se agigantavam monstruosamente conforme se aproximavam da orla. A aproximação destes navios causou um enorme tsunami que engoliu a nós dois e a mais alguns outros entes muito queridos. Quando eu estava sendo puxada para o fundo do mar a reação começou a acontecer e eu acordei gritando. Nossa… Que sonho horrível… Que será que isso quer dizer?

NO DIVÃ

 Depois disso levei uma eternidade para voltar a dormir e, mesmo tendo dormido novamente mais umas boas três horas, acordei exausta. O que me diz? O que esse sonho significa? A primeira coisa que eu pensei a respeito dos navios é que eles me lembravam o Titanic. Uma linda história de amor, mas fracassada, não é? Fracassada porque ele morre no final! Ele morre. É o fim último e incontornável de todos os relacionamentos. Será que eu quero terminar o meu relacionamento? Mas se fosse isso mesmo, não teria motivo para que eu morresse também. Pode ser que eu esteja insatisfeita com quem eu sou nesse relacionamento. Mas e os meus familiares que estavam lá e que morreram também? Ah, esquece. Eu não sei para que serve isso de interpretação dos sonhos para vocês psicanalistas. Do jeito que vocês falam, parece até que fui eu quem programou este sonho antes de dormir, mas isso não é verdade e eu simplesmente não tenho responsabilidade nenhuma sobre os meus sonhos.

 

(Eu escrevo sobre a minha própria vida frequentemente. Como no blog eu escrevo todo dia, a maioria dos textos acaba nascendo de algum acontecimento cotidiano mesmo. Mas eu continuo escrevendo outras coisas: contos, tenho um romance em construção… E, de vez em quando, eu posto esses outros textos no blog. Estou escrevendo isso, pois algumas pessoas têm ficado preocupadas comigo por causa de certos textos que, na verdade, são ficcionais. É o caso deste texto de hoje. É um texto ficcional. Eu costumo separá-los por categoria. Aqueles textos que estão na categoria AUTOBIOGRÁFICOS realmente aconteceram comigo. Se o texto não estiver nesta categoria, ele é ficcional. Então fiquem tranquilos, eu estou bem)!