Sexfulness

Em clima de comemoração do Dia dos namorados, texto excelente do meu amigo muito competente, Prof. Esp. Leonardo Vasconcelos.

**************

Quão satisfeito(a) você está com sua vida sexual? Essa pergunta consta no Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde, o que nos faz lembrar uma questão óbvia, mas muitas vezes negligenciada: a satisfação sexual é importante para a qualidade de vida.

Como observado pela psicóloga Olivia Klem Dias no III Simpósio Latino Americano de Psicologia Positiva, a pesquisa acadêmica em sexualidade ainda é muito focada sobre o sexo disfuncional. Em contraposição a isso, Dias apresentou um panorama do estudo da sexóloga Peggy Kleinplatz sobre os componentes para o sexo ótimo. Estar presente, focado e imerso na experiência sexual foi a condição mais relatada por quem diz experimentar um sexo excelente.

De fato, em um artigo de Gilbert e Killingsworth publicado na Science¸ constatou-se que em cerca de 47% do tempo as pessoas estavam pensando em algo diferente do que estavam fazendo. E das 22 duas atividades listadas na pesquisa, “fazer sexo” era a que exibia o menor índice de divagação.

Podemos citar três maneiras de estar presente, focado e imerso na experiência sexual: flow, savoring e mindfulness.

O termo flow foi cunhado por Mihaly Csikszentmihalyi e se refere a um estado de imersão total enquanto se pratica uma atividade. O flow vem de uma intensa concentração em torno de suas próprias ações e de seu feedback imediato. Como metáfora, pense no flow sexual como dois amantes dançando que estão tão envolvidos com a atividade deixam de ser dois dançarinos para se tornarem a própria dança.

A atenção consciente voltada para uma experiência de prazer com o objetivo de aumentar a duração, a intensidade e/ou a apreciação da mesma é uma condição relacionada ao conceito de savoring. Embora o savoring também permita saborear as memórias de experiências positivas passadas, e através da imaginação antecipar as experiências positivas futuras. É o ato de saborear o prazer do aqui e agora que mais condiz com o tema em questão.

A definição operacional dada pelo precursor do movimento mindfulness no Ocidente Jon Kabat-Zin é: “um foco de atenção deliberadamente voltado ao momento presente e livre de julgamentos”.  Para a pesquisadora Laurie Mintz, o sexo mindful acontece quando você está total e completamente imerso nas sensações físicas do seu corpo.

Dessa forma, definimos sexfulness como a capacidade de estar presente, focado e imerso na experiência sexual através da alternância de estados de flow, savoring e mindfulness.

3 Práticas para exercitar o sexfulness:

1) Toques Suave com Meditação de Escaneamento Corporal.

A meditação de escaneamento corporal faz parte de muitos programas de mindfulness e consiste em focar nas sensações corporais ao longo do corpo. Escolham um áudio de meditação guiada de escaneamento Corporal (Body Scan). Enquanto um dos parceiros faz a meditação o outro desliza suavemente a ponta dos dedos nas áreas correspondentes ao foco de atenção.

2) Fluxo de Carícias.

“King out” que literalmente significa “deixar o rei fora” é uma prática de alcançar o máximo de prazer, mas sem consumar a penetração. Explorem ao limite o poder dos beijos e carícias não com o objetivo de servirem como “preliminares”, mas como um fim em si mesmas.

3) Respiração PC.

A musculatura pubococcígea (PC) é encontrada em ambos os sexos e se estende desde o osso púbico até o cóccix. A respiração PC é um dos exercícios recomendados pela terapeuta sexual Helena Nista e consiste em combinar uma respiração abdominal profunda associada com contrações dos músculos PC, os mesmos usados quando se quer prender a urina.

Passos para Respiração PC:

– Faça respirações abdominais profundas.

– Ao inalar contraia os músculos PC.

– Ao exalar relaxe os músculos PC.

Repita esse procedimento quantas vezes se sentir confortável tanto durante a masturbação quanto durante o sexo com o parceiro(a).

Apesar do interesse generalizado pelo sexo em nossa sociedade, o assunto ainda é cercado de tabus e preconceitos. Como nos lembra o psicólogo Todd B. Kashdan: “Qualquer exame sério da vida boa deve examinar cuidadosamente o que os seres humanos pensam, se preocupam e fazem. A sexualidade não pode ser ignorada. Vá em frente e aproveite.”


Leonardo Vasconcelos é Físico, Analista de TI, Professor e Especialista em Psicologia Positiva. Um amante apaixonado pelo aprendizado nos mais diversos campos, das mais curiosas formas. Curte metal e cervejas artesanais, de preferência IPAs.

Referências:

BRYANT, Fred B.; VEROFF, Joseph. Savoring: A new model of positive experience. Psychology Press, 2017.

CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly; LARSON, R. Flow and the foundations of positive psychology. Dordrecht: Springer, 2014.

KASHDAN, Todd B. For a Profound Sense of Meaning in Life, Have Sex. Psychology Today, 2017. Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/blog/curious/201706/profound-sense-meaning-in-life-have-sex?page=1>;. Acesso em: 05 jun. 2018.

KILLINGSWORTH, Matthew A.; GILBERT, Daniel T. A wandering mind is an unhappy mind. Science, v. 330, n. 6006, p. 932-932, 2010.

KLEINPLATZ, Peggy J. et al. The components of optimal sexuality: A portrait of” great sex”. The Canadian Journal of Human Sexuality, v. 18, n. 1/2, p. 1, 2009.

MINTZ, Laurie. Mindful Sex Is Mind Blowing Sex. Psychology Today, 2017. Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/blog/curious/201706/profound-sense-meaning-in-life-have-sex?page=1>;. Acesso em: 05 jun. 2018.

10 camisinhas e uma explicação. 

Havia ali uma pessoa que jogava de nove a dez camisinhas por noite pela janela do apartamento, enchendo a calçada de vizinhos revoltados que se acumulavam para contá-las pela manhã.
Começou com sete ou oito, eles diziam, agora já são dez!
É do apartamento de fulana! Não! Vem do apartamento de ciclano, eu tenho certeza!
Os vizinhos tiravam na sorte quem ia ter de recolhê-las.
Algum tempo se passou e começaram a aparecer pedaços de frango assado no meio das camisinhas usadas.
Olha que abusado! Não tem lixo em casa, não, bastardo?
Os xingamentos pioravam. Cada vez palavras de mais baixo calão. E a revolta dos moradores crescia.
Virou assunto de assembleia extraordinária de condomínio, cuja única pauta era a solução do mistério. Apenas um terço dos condôminos estava na reunião. Não houve meio de determinar quem era o perpetrador da indecência.
Ficou acertado que deveriam se revezar para vigiar a frente do prédio durante toda a madrugada.
A vigília começou no dia seguinte. Dez moradores se voluntariaram. Eles se alternavam, faziam turnos na portaria do prédio olhando para cima. Nada de camisinhas ou pedaços de frango na primeira noite. Nem na segunda ou na terceira, muito menos nas noites seguintes.
Logo, os moradores desistiram da empreitada.
Se acovardou o imbecil!
Uma semana depois, lá estavam as camisinhas, os pedaços de frango, alguns cigarros e uma garrafa de bebida quebrada.
Dessa vez, todos ficaram assustados. Parecia agora que aquilo tudo era obra do coisa ruim. Todos ficaram amedrontados. Nenhuma ação ou revolta aconteceu.
Com o tempo, a lixarada desapareceu.
O caso virou lenda no prédio. Assombração pura e simples ou recado do sujismundo para algum pecador que morava no edifício da pacata rua do Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Pacata, porque aos domingos as crianças jogavam bola ali na rua e até pula-pula tinha em ocasiões especiais. As mesas do bar ao lado invadiam um terço da pista e, com os carros parados irregularmente na calçada do outro lado, a rua ficava fechada.
Mesmo com toda a pacacidade local, os moradores acharam que o inimigo do homem tinha parte nas atividades ali realizadas. O mérito estava encerrado. Com o diabo não se brinca. Vamos todos orar em silêncio dentro dos nosso corações.
Depois das festas, dos jogos da final, dos churrascos de domingo… Depois desses eventos a rua pacata ficava imunda. Latinhas de cerveja, pratos descartáveis, talheres e guardanapos. Ninguém ligava.
O problema não era lixo na calçada, eu havia compreendido, é o fato desse lixo ser composto de caminhas usadas. O problema era sexo. E tinha alguém ali fazendo sexo para caramba. E era isso que incomodava a todos.
Os moradores negavam essa interpretação que eu fui comentando com um e outro a meia boca pelos corredores.
Todos discordavam e ficavam revoltados. O problema era o lixo! O planeta! O aquecimento global!
Eventualmente, eu fui acusado de ser o pervertido das camisinhas, apesar do meu apartamento ser de fundos e eu fui escorraçado do prédio.

Orgasmo emocional.

Você já ouviu falar no Relatório Hite? Isso mesmo: Hite.

Pode ser que você ache que eu estou um pouco confusa e quero, na verdade, me referir ao Relatório Kinsey, mas não. É do Relatório Hite mesmo que eu quero falar.

O Relatório Kinsey foi, sem dúvida, muito famoso (você pode assistir ao filme Kinsey – Vamos Falar de Sexo para se divertir e saber mais sobre a vida e o trabalho do autor). Mas, depois dele, veio um trabalho eu acho ainda mais interessante; me refiro à pesquisa de Shere Hite, também realizada nos Estados Unidos. A autora entrevistou mais de três mil mulheres ao longo da década de 1970, a partir da aplicação de questionários abertos (nos quais é feita uma pergunta a qual a mulher responde livremente com suas próprias palavras), que investigavam os principais temas da sexualidade feminina: masturbação, orgasmo, penetração, lesbianismo etc.

Este foi o primeiro grande estudo da sexualidade feminina, feito por uma mulher, que deu voz a milhares de mulheres, permitindo que elas falassem abertamente sobre suas experiências sexuais.

Um dos achados mais interessantes da pesquisa foi denominado por Hite de ORGASMO EMOCIONAL.

A descoberta do orgasmo emocional lançou luz sobre uma ampla gama de sentimento e sensações físicas sentidas pelas mulheres durante o ato da penetração sexual que geravam muita confusão para elas. São sentimentos e sensações prazerosas, mas que são, de algum modo, diferentes daquelas que as mulheres sentem com a estimulação do clitóris.

Frequentemente, durante a relação sexual, a mulher sente um ápice físico e emocional prazeroso, mas que é, de alguma forma, diferente do orgasmo que ela tem quando se masturba ou mesmo no sexo oral com o parceiro. Sabe quando você termina de transar e o boy pergunta: “E aí, gozou?”, e você fica na dúvida? Pois é. Teve alguma coisa ali que você sentiu… mas que você não tem certeza de ter sido um orgasmo? As mulheres muitas vezes interpretam essas sensações como orgasmos mais fracos e difusos.

O orgasmo emocional põe fim a esta dúvida. Quando você fica na dúvida, você teve um orgasmo emocional, mas não um orgasmo biológico.

É possível sim que os orgasmos biológicos variem de intensidade. Mas tem sido fortemente apontado pelas pesquisas o fato de que, quando você tem um orgasmo, você sabe que teve um orgasmo. O orgasmo gera uma descarga de tensão acumulada no sexo que, independentemente da intensidade, tende a ser inconfundível.

O orgasmo biológico seria alcançado pelas mulheres durante a estimulação direta ou indireta do clitóris. A estimulação direta acontece com a masturbação ou no sexo oral, por exemplo. A estimulação indireta pode acontecer durante a penetração. O clitóris pode ser pouco protuberante em sua parte externa (aquela que fica visível na vagina), mas ele é bem grandinho em sua parte interna. O clitóris, dentro do corpo da mulher, se estende ao redor da vagina, por isso, pode ser estimulado indiretamente na penetração. Essa estimulação indireta é o que torna possível o orgasmo vaginal.

Por outro lado, aquela sensação difusa que você sente durante uma relação sexual, que é boa, maravilhosa, que faz você até achar que gozou, mas que te deixa na dúvida, porque é, de alguma forma, diferente do que você sente quando se masturba e chega ao orgasmo; então, esse é o orgasmo emocional. Isso acontece por que não houve estimulação suficiente do clitóris para fazer você gozar, mas, ainda sim, trata-se de uma relação sexual e isso tem impactos no corpo e na mente da mulher que geram pico de prazer físico e emocional.

Shere Hite descreveu o orgasmo feminino como

 

“um sentimento de amor e comunhão com outro ser humano que atinge um máximo, é um grande aprofundamento da intensidade do sentimento, que pode ser sentido fisicamente no coração, ou como um nó na garganta, ou como uma sensação geral de abertura, uma sensação de desejo de ser penetrada cada vez mais, um desejo de se fundir e de se tornar um só com o outro. Isso poderia ser descrito como uma completa liberação de emoções, o que uma mulher chamou de “um penetrante sentimento de amor”, ou como um orgasmo do coração” ∗.

 

Então, agora você já não precisa ficar mais na dúvida ao responder: “Gozou?”. É sim ou não!

Não diga que sim para agradar seu parceiro.

É ótimo que você saiba com certeza quando não gozou! Porque, assim, você pode buscar outras formas de estimulação que te levem, de fato, ao orgasmo.

A relação sexual não precisa acabar enquanto você não estiver satisfeita.

 

 

 

∗HITE, Shere. O Relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade feminina. Tradução de Ana Cristina Cesar. São Paulo: Difusão editorial, 1982. Conferir página 123.

Meditação do desejo

Estava preparando uma aula de sexualidade feminina na semana passada quando me deparei com uma meditação para mulheres que pretende apoiar a descoberta do próprio desejo, o autoconhecimento sexual. A meditação foi desenvolvida pela médica norte-americana Rachel Carlton Abrams e pelo mestre taoísta Mantak Chia.

Eu a adaptei para torná-la um pouco mais didática. Assim, ela se torna facilmente memorizável, podendo inclusive compor o seu repertório de estímulos eróticos.

************************************************************************************

Escolha um lugar tranquilo no qual você possa ficar sozinha por alguns minutos sem ser interrompida. Comece com os exercícios de respiração. Em seguida, abra sua tela mental e 

1-    Imagine qual seria a sua melhor fantasia sexual.

2-    Existe alguma temática específica, objeto ou situação que te excita?

3-    Você está sozinha ou com um parceiro?

4-    Se está com alguém, quem é a pessoa? Passe um tempo observando suas características.

5-    Imagine todos os detalhes do ambiente. Use todos os seus sentidos: qual é o cheiro? O gosto? Como é o toque? O que está diante dos seus olhos? Quais sons estão a sua volta? Está calor ou frio? Como é a luz no ambiente?

Lembre-se de que se trata da sua imaginação, logo, tudo é possível e liberado.

Depois de realizar este exercício de imaginação, observe como você está se sentindo. Observe as sensações do seu corpo. Sinta o seu desejo. Qual é a sensação do seu desejo? Em que ponto do corpo o seu desejo está situado?

 

 

Quem não quer gozar?

Vou copiar abaixo um extrato da minha monografia sobre a perspectiva feminista de Shulamith Firestone, considerada a mãe do feminismo radical, que publicou no início da década de 1970, o livro A Dialética do Sexo: 

 

O drama da divisão da sexualidade – em masculina e feminina – tem tristes e pesadas consequências para as mulheres. Em primeiro lugar, a autora afirma que

 

“mesmo as mulheres que parecem sexualmente ajustadas, raramente o são, na verdade. Devemos nos lembrar que uma mulher pode ter relações sexuais sem sentir nada; um homem não pode. Embora poucas mulheres, por causa da pressão exercida sobre elas para que se conformem com a sua situação, realmente repudiem seu papel sexual completamente (…), isso não significa que a maioria das mulheres se satisfaça sexualmente nas relações com os homens” (FIRESTONE, 1972, p. 58).

 

            Shulamith está afirmando que a relação sexual tende a ser menos satisfatória, na sociedade atual, para as mulheres. Além do prazer feminino ainda ser mal visto, em alguma medida, os problemas sexuais femininos, segundo a autora, causam muito menos prejuízo social do que os problemas sexuais masculinos. Isso levou, segundo Firestone (1972), muitos autores a concluir que as mulheres em geral sentem menos desejo sexual do que os homens. Mas é o patriarcalismo que repudia e nem de longe incentiva o prazer sexual feminino, enquanto aprova e incentiva o prazer sexual masculino.

 

Ok. Agora faça o seguinte experimento: tente se lembrar de clínicas ou tratamentos voltados para a melhora da saúde sexual.

Para mim, o resultado desse experimento é o seguinte: eu me lembro das propagandas do Boston Medical Group na televisão, que trata de disfunções sexuais masculinas, lembro do Viagra e lembro das revistas femininas ensinando 1000 maneiros de dar mais prazer sexual para o meu companheiro.

Existem, é claro, artigos em revistas femininas falando também como devo fazer para aumentar o meu prazer. Mas… Se você for querer a referência de uma clínica no Rio de Janeiro que trate especificamente das disfunções sexuais femininas… Aí já vai complicando. Remédio então, nem pensar. Nós somos vítimas de remédios que diminuem a libido – principalmente dos anticoncepcionais -, mas para aumentar a libido, não. Só tem o Viagra mesmo.

Sim. O anticoncepcional é maravilhoso e cumpriu importantíssima tarefa na libertação sexual da mulher, mas já dava para ter desenvolvido o masculino, não é mesmo? Ah, espera! Já existe, não é? E não foi liberado porque mesmo… hm… Putz! Lembrei! Causava efeitos parecidos com o anticoncepcional feminino… (http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/11/anticoncepcional-masculino-e-adiado-por-ter-reacoes-semelhantes-ao-feminino.html).

Isso soa estranho para você também ou só para mim?

Enfim…

Remédio não é bem uma boa solução para muito coisa, especialmente no que diz respeito à vida sexual. Só queria pontuar – retomando a questão do Viagra – que o masculino existe e o feminino ainda não existe.

Quando um homem se queixa de sua sexualidade, a sociedade permite que ele compre um comprimido barato na farmácia e/ou faça um tratamento multidisciplinar em alguma clínica para que ele tenha, supostamente, uma vivência sexual normal e satisfatória.

A mulher com queixas sexuais, quando ela pode expressá-las sem ser reprimida pelo machismo do companheiro, da família ou pela vergonha internalizada, precisa mergulhar em uma longa jornada interna de autoconhecimento e de melhoria da sua relação com o próprio corpo, desbravando o seu caminho em direção a uma vida sexual – relação com o corpo que é problemática também por consequência do machismo.

Beleza. Eu sou psicóloga. Sou a favor das longas jornadas internas, mas queremos gozar também. Relaxar e gozar. Sem esquentar a cabeça e sem maiores preocupações e esforços.

Mas os caminhos sociais para o fim dos problemas sexuais femininos ainda são imprecisos e espinhosos. Quando não rechaçados ostensivamente pela sociedade, que ainda trata o prazer sexual feminino como perigoso.

A miséria sexual feminina é extremamente invisibilizada.

Então chega desse blá blá blá de que sexo é bom para a mulher se terminar em conchinha. Conchinha é sensacional. Adoro. Mas o sexo é bom para a mulher quando termina em um intenso orgasmo.

 

 

Banheiro térreo do prédio da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eu estava matando aula no teatro de arena. Cochilei e acordei com vontade de fazer xixi. Rodei um pouco pelo magnífico casarão que comporta a Escola de Comunicação da UFRJ e achei um banheiro razoável. Sem sabão, sem papel, mas limpo e eu tinha lencinhos na bolsa. Entrei no box do banheiro, fechei a porta, abaixei a calça e a calcinha até a altura do tornozelo. Inclinei um pouco o quadril para trás e fiquei olhando pelo meio das pernas para ter certeza de que o xixi ia cair no lugar certo e porque acho difícil mirar as cegas. Quando não olho, ou o xixi acaba escorrendo pelas pernas ou ele bate na tampa do vaso e acaba respingando nojentamrnte em mim.

Quando deu cinco horas encontrei meu ex-namorado no pátio. Ficamos jogando conversa fora até que eu mencionei o tal banheiro, apenas por alto, pois queria falar de uma lanchonete que tinha ali perto. Mas à menção do banheiro ele se contorceu. Seu rosto se alongou e os lábios se viraram para baixo ele ficou vermelho e seus dentes se afilaram enquanto ele gritava que eu era uma puta! Eu era louca e não o respeitava. Comecei a sacudir a cabeça para os lados em negação daquelas acusações. Eu não sabia do que se tratava ainda, mas primeiro eu negava, sempre negava e pedia perdão. “Não! Pelo amor de Deus! Por que você está falando isso? Eu não fiz nada! Pelo amor de Deus me perdoa! Do que você está falando? Depois da habitual humilhação pre-explicação ele me disse que aquele banheiro era devassado. De um certo ponto do corredor em oposição ao banheiro do outro lado de um jardim para o qual se abria a janela do mesmo, era possível ver dentro das três cabines. Meu coração disparou. Que argumento usarei para combater uma acusação de um crime que foi o de, inadvertidamente, abaixar as calças e a calcinha até o tornozelo e olhar no meio das pernas para direcionar o xixi, dentro do box de um banheiro, que poderia estar sendo observado por um voyeur posicionado a uns 30 metros de distância?