Feliz dia dos pais. 

Pai, eu sei que as coisas estão complicadas para nós. O relacionamento entre as pessoas fica complicado assim mesmo quando uma das duas morre. Não é fácil. Mas eu quero que você saiba que gosto dos nossos papos, dos seus conselhos, gosto da companhia que você me faz em momentos difíceis.
A morte é uma coisa muto estranha. Essa ausência é irreal demais. Por isso eu espero que você me perdoe por imaginar que você ainda está presente. Não sei se isso perturba o seu descanso. Mas eu não consigo esquecer nem abrir mão. Você tá achando que só porque você morreu eu vou te deixar em paz e parar de te dar trabalho?! Vai sonhando. Vamos continuar tendo brigas e boas conversas pelo menos até o dia em que eu morrer também. Até lá você continua vivinho da silva dentro da minha cabeça, ou coração, não sei.
Estando em algum lugar ou não estando em lugar nenhum. Debaixo da terra ou alto no céu. Reencarnado ou tendo virado adubo. Eu estando louca ou apenas com saudades. É inegável que ainda há alguma vida em você. Então, feliz dia dos pais para você. Eu te amo muito.

Abertura de Possibilidades na Polis.

 Capítulo I

O caso específico da morte como escolha refletida é posta ao lado da razão no mundo grego, devendo ser avaliada e tida como solução para uma vida desonrosa. É notável a multiplicidade de argumentos e concepções que envolvem as correntes filosóficas gregas e, mesmo dentro dessas, tantas outras ocorrências particulares. As abordagens sobre o tema apontam para opiniões acerca do suicídio que envolviam repúdios e glorificações. Havia na Antiguidade, certo reconhecimento da nobreza do ato e as posições favoráveis eram muito mais frequentes do que em períodos históricos posteriores. Não se trata de um período legitimador do ato, mas sem dúvida, não havia elaboração de severas interdições.

Como ilustrativo do afirmado pode-se recorrer ao exemplo de uma série de personagens históricos ilustres tais como os suicídios patrióticos de Temístocles e Demóstenes; o suicídio por remorso de Aristodemo; suicídio para escapar a decrepitude da velhice de Demócrito; suicídios filosóficos por desprezo à vida de Zenão, Hegésias, Diógenes e Epicuro; suicídio por amor de Panteu, Hero e Safo (Minois, 1998, p.61). (É muito pobre geralmente a pesquisa de um trabalho monográfico. Não por desinteresse do aluno, mas porque o aluno é extremamente limitado no que ele pode dizer em uma monografia. Ele ainda não é o produtor do conhecimento, ele é o reprodutor do mesmo. Na monografia, a tarefa do aluno é basicamente a de mostrar que ele é capaz de ler e compreender um determinado número de escritos consagrados de diversos autores e reproduzir o conhecimento que ele adquiriu nas próprias palavras. Esse é um trabalho que me parece um bocado vazio de significado. Para que serve esse resumam feito pelo aluno ao final de uma graduação? Mais uma rebuscada prova de que ele absorveu conteúdo da maneira tradicional. Pior ainda é o destino do trabalho monográfico no mundo acadêmico. As monografias não são bem vistas como referências bibliográficas nem mesmo de outras monografias. No mínimo, para você citar em um trabalho acadêmico ou em um artigo, você pega uma dissertação de mestrado. E olhe lá! Não é das referências tidas como mais confiáveis ou “nobres”. Bom, tendo em vista esse estado de coisas, nos limitamos a repetir o que os autores consagrados disseram. Messes espírito, eu repeti os exemplos citados por Minois na minha monografia. Eu pesquisei sobre cada um dele para saber o que tinha acontecido, pois o autor não entra em detalhes, mas mesmo assim eu não deixo de sentir um certo incômodo, sabe? Foi ele que fez a pesquisa e não eu. Eu imaginava que pesquisar, academicamente falando, era ir até a biblioteca e desenterrar coisas desconhecidas. Essa foi uma expectativa frustrada…)

Entre os pré-socráticos não são encontradas muitas menções ao tema, exceção feita aos pitagóricos. Opondo-se radicalmente ao suicídio, argumentam que, por ser esta uma morte violenta, ela desequilibra as relações matemáticas que ligam a alma ao corpo. (Eu me lembro de ter achado a maior loucura essa coisa de que as relações que ligam a alma ao corpo são da ordem de equações matemáticas! Muita viagem! Dava para escrever uma ficção científica em cima dessa ideia. Eu procurei pela equação na época e não consegui achar nada. Agora, relendo a monografia, bate novamente a curiosidade: será que os caras chegaram a escrever essa equação? Esta aí uma coisa que eu gostaria de ver). Ademais, haveria, nesta vida, um propósito a ser cumprido do qual não se deve evadir, pensamento que explicita a importância dada pelos pitagóricos às questões espirituais, em consonância com sua herança órfica (Oliva e Guerreiro, 2000). (Essa herança órfica eu me lembro de ter dado um trabalho para entender na época. Difícil encontrar informação de fontes utilizáveis na monografia, sobre o tema. Iria dar muito trabalho. Como todo aluno sensato, eu só mencionei com a referência de onde o leitor poderia encontrar mais sobre o tema e deixei para que quem tivesse interesse corresse atrás do que se tratava. Na verdade, se eu não me engano, tratava-se da influência, na filosofia, das ideias do poeta místico Orfeu. Se você tiver curiosidade, não é difícil encontrar informações sobre ele na internet).

Um exemplo mais rico será encontrado com a polêmica condenação de Sócrates, que suscita a hipótese de suicídio e provoca debates a respeito do pensador tê-lo aceitado, à medida que recusou chances de minimizar sua pena. Havia sido acusado pelas autoridades atenienses de professar contra os deuses e corromper a juventude, pondo em risco a ordem da cidade. Sócrates entendia que o cumprimento de qualquer penalidade seria o reconhecimento de culpa e traição aos seus ensinamentos proferidos até então. Ao longo de seu julgamento desafia seus juízes e comprova a inconsistência das acusações, além de rejeitar penas alternativas propostas por seus concidadãos ou o pagamento de fiança por seus alunos. No diálogo Fédon, os acontecimentos demonstravam que as atitudes de Sócrates sugeriam resignação diante da morte. No entanto, em seus últimos momentos, quando indagado sobre essa conduta, ensina a seus discípulos que “os homens estão em uma espécie de prisão e que não devem nem se liberar nem se evadir da mesma” (Fédon, 62-b). Os homens pertencem aos deuses e, por conseguinte, só poderiam matar-se ao receberem um sinal, uma forma de autorização dos mesmos, como era o seu caso. Certos trechos do diálogo Fédon apresentam ensinamentos sobre a alma segundo os quais aquele que se dedica à filosofia estaria se dedicando a um exercício de saber morrer. Para o filósofo, a alma se tornaria cada vez mais elevada através da filosofia, mas só podendo encontrar a verdade e a sabedoria absoluta – a contemplação das essências – na morte. Portanto, a mesma não deveria ser temida, sendo, com efeito, a própria musa da filosofia. (Um parágrafo da monografia sobre o Fédon… Mas como deu trabalho escrever esse parágrafo. Ler o diálogo, ler sobre o diálogo, resumir as partes mais importantes. É muito insano esse trabalho. Tem coisa até que rende mesmo. Você lê um parágrafo e escreve uma página. Aqui, eu li mais de cem páginas e escrevi um parágrafo. Que tristeza).

Nas Leis, ao definir condenações para os delitos, Platão estabelece que aqueles que matam a si, privam-se do seu destino e cabe aos mesmos serem enterrados “sem glória” e sem lápides, em regiões anônimas. São levantadas três ressalvas para tal condenação que tornam confusos os limites dessa interdição, como em caso de ordenação pela justiça da cidade, acometimento do indivíduo por grande dor, ou ainda se o mesmo é investido de intensa vergonha “contrária à vida”. Afora essas exceções, a morte de si é tida como indefensável, covarde e indolente (Platão apud Puentes, 2008, p.61).

A filosofia aristotélica aproxima-se de Platão apenas por reputar ao homem sua função social acima de interesses pessoais. Aristóteles apresenta sua posição de maneira mais incisiva, negando qualquer exceção a favor da morte de si mesmo e introduzindo um novo argumento contrário a ela. Em sua obra A Ética a Nicômaco, o filósofo afirma que os cidadãos têm obrigações para com sua comunidade, tirar a própria vida representaria uma injustiça contra a Cidade. Afirma que esse caso específico de proibição do suicídio não se encontra nas leis, mas o que ela não ordena, proíbe (Aristóteles, 1973: v 15, 1138 a, 6-7).

Em 323 a.C., a morte de Alexandre e a tomada das cidades gregas pela Macedônia tiveram por efeito drásticas rupturas no pensamento clássico. Subjugado pelo domínio estrangeiro, o homem grego, cidadão e animal político, que antes exercia sua liberdade nos espaços públicos da cidade, agora passa a confinar sua busca por autarquia através de recursos espirituais, num processo intimista de adaptação às transformações sociais. Sendo assim, a filosofia desse período está marcada por um forte caráter ético, que se mostra na busca individual pela felicidade, uma espécie de “salvação interior” (Châtelet, 1981, p.168) independente das circunstâncias. Esse pensamento diz respeito a uma prescrição do bem viver que caracteriza a filosofia em seu sentido popular, a “filosofia de vida”.

Cabe aqui uma digressão teórica. Em seus estudos sobre a sexualidade na Antiguidade, Foucault ressalta as formas de relação consigo mesmo exercidas através de práticas cotidianas pelos indivíduos, as quais permitem o entendimento de si enquanto sujeito.  Essa experiência de si respeita a um projeto estético da existência, no qual tais sujeitos constituem um estilo de viver próprio. Os modos individuais de relação com os saberes (jogos de verdade e discursos) e práticas de temperança, de técnicas racionais – estratégias de poder – que lhes permitem se reconhecer e estabelecer verdades sobre si, conferindo sentido, dentre tantas outras, às condutas diante da morte (Foucault, 1984, p.15). (Parece deslocado esse paragrafo ou é impressão minha? Mas tem a ver. Por conta dessa ideia da “filosofia de vida”. Fala do modo como as pessoas se relacionam consigo mesmas. E disso o Foucault sabia falar, ainda que, não abro mão de dizer, suas interpretações da filosofia do mundo antigo sejam questionáveis).

Se o período clássico de Platão e Aristóteles é marcado pela censura do suicídio em suas nuanças, nas correntes helenísticas, a morte de si, enquanto atitude racional, torna-se a expressão máxima da liberdade pessoal e livramento de uma vida de injúrias. (Olha aí aquilo que a gente falou lá na introdução de que não existe uma essência do ato, uma única maneira de pensa-lo. Várias visões contraditórias convivem e entram em conflito o tempo todo. O tempo vai selecionando o que chega para nós como vertente principal, mas é só cavucar um pouco que essa imagem se desconstrói). Dentre as escolas filosóficas mais expressivas que se pronunciam a respeito do tema encontramos os cirenaicos, cínicos, epicuristas e estoicos. Os dois primeiros se mostram um tanto pessimistas com relação à existência, afirmando que a vida é certamente mais desprazerosa do que prazerosa, tendo-se, por conseguinte, a morte como alternativa preferível à vida. Nas palavras de Diôgenes Laêrtios, para os cirenaicos a felicidade é “totalmente impossível, pois o corpo é afetado por muitos sofrimentos, e a alma padece juntamente com o corpo e se perturba com ele, a sorte impede a concretização de muitas esperanças; consequentemente a felicidade é inatingível.” (Povo macabro). Um de seus principais representantes, Hegésias, chega a ser chamado de peisithánatos, que significaria “aquele que persuade a morrer” (Diôgenes Laêrtios, 1988, p.68). Para os cínicos, a morte se constituía enquanto alternativa que de pronto se apresenta àquele que não vive arrazoadamente sua vida. Já a concepção hedonista de Epicuro alerta que o homem livre não deve almejar nem temer a morte. Segundo o filósofo, a morte refletida evidencia a transposição de equívocos supersticiosos e a filosofia se apresentaria como instrumento de libertação do homem e de acesso à verdadeira felicidade. Pois a alma não necessariamente padece junto ao corpo dos males que se lhe abatem. Ele também alerta para o risco da sociedade produzir nos homens a insensatez do gosto pelo luxo, pelo não necessário e sugere: “É um mal viver sob o jugo das necessidades, mas não é necessário viver sob a necessidade” (Epicuro apud Sêneca, 2008). (Na boa, eu citei o Epicuro a partir do texto do Sêneca, mas eu mesma não confio. Fiz isso pela dificuldade em acessar material do primeiro. Pois o Sêneca é um filósofo por si só. Sem comprometimento com as regras e os apreços atuais da academia, que tem a própria fama para proteger. Não duvido nada que ele possa ter distorcido a citação do Epicuro a seu favor).

Os estoicos inauguram uma perspectiva de indiferença sobre a vida e a morte, a exemplo de Zenão seu reconhecido fundador, que se matou por desprezo à vida. Afirmavam que o homem sábio haveria de preferir um modo de vida racional voltado para a contemplação e ação lógicas, em busca da retidão das vontades. Cumpre ao homem extirpar suas paixões e opiniões e cultivar suas virtudes, independente das circunstâncias de sua existência. Não teriam relevância a morte, a pobreza e a escravidão. Todavia, o desprezo pela vida somente seria legítimo por “motivos razoáveis”, quais sejam: em defesa de amigos e da pátria ou em casos de doenças incuráveis, dores insuportáveis e mutilações (Diôgenes Laêrtios, 1988, p.130). A recusa de uma vida limitada, de enfermidade, aproxima-se menos da destruição de si do que de uma apropriação ou apego a si (Gazzola, 1990, p.102).

O contato de Roma com a cultura grega leva todo seu império a entrar na “órbita do helenismo”, redimensionando seus saberes. A proposta estoica de austeridade física e moral, baseada na resistência ante o sofrimento, bem como a participação do homem na vida pública, coincidiram com o modo de vida romano e sua dedicação ao Estado. O contágio pelo estoicismo, como a doutrina que privilegiava a autodisciplina, a sujeição à ordem natural e o cumprimento dos deveres atendia aos hábitos romanos e suas incumbências cívicas (Pirateli e Melo, 2003, p.64). O prosaísmo romano se distanciava da riqueza das abstrações gregas, no entanto, foi de fundamental importância para materializá-la em seus quadros cívicos e jurídicos.

 

DIAS, O. M. K. Perspectiva Histórica sobre a Morte de Si Mesmo no Ocidente. Monografia de fim de curso de Formação de Psicólogo, Instituto de Psicologia. Rio de Janeiro: 2013.

Déjà vu.

Nós temos a certeza de que a morte é o fim da nossa vida atual.
Isso não quer dizer que a morte é necessariamente o fim de tudo.
Há aqueles que acreditam na vida eterna, os que acreditam em reencarnação etc. Mas eu ainda não conheci nenhuma religião que diz que você, depois de morrer, pode escolher retomar sua vida do ponto onde parou e seguir como se nada tivesse acontecido (ou seja, escolher ressuscitar) ou, segunda opção, escolher ficar morto mesmo.
Seria assim: você morre e imediatamente se vê diante de um ente sobrenatural que te pergunta: “e aí? Vai ser dessa vez ou não”?
Aí você pensa, pensa… Lembra daquele curso que você não terminou de fazer… Daquela pessoa que está ficando para trás… E aí? Fico ou volto?
E você resolve voltar. Neste momento a sua memória é apagada, logo antes de você ser mandado de volta apenas com o gatilho necessário para não repetir a cagada que aconteceu antes.
Mas esse gap de tempo em que você ficou morto cria uma pequena distorção na realidade, que nós conhecemos como o fenômeno do já visto ou Déjà vu.
E quando a gente morre e volta, rebubina-se a fita um pouco (para que a gente não acabe morto novamente), para o ponto em que você ainda pode mudar o curso dos eventos, não disparando a cadeia de ações e acontecimentos que levaram até a sua morte. Com essa rebubinada, você pega um milissegundinho do que você já viveu e esse fenômeno se faz perceptível para que haja a tal interferência no rumo das suas ações: nesse momento você tem um Déjà vu. Ele geralmente quebra o ritmo dos acontecimentos momentaneamente. É desse gatilho que falamos acima. É aí que você muda o seu rumo.
Eu tive um Déjà vu hoje durante uma aula. No momento, eu estava decidindo se saía mais cedo ou não. Depois do Déjà vu eu pensei nessa teoria (na verdade, eu lembrei, pois era isso que eu pensava sobre o fenômeno na adolescência). Resolvi, então, fazer o contrário do que eu estava inclinada a fazer: fiquei até o final da aula.
Se a minha teoria sobre o Déjà vu estiver correta, eu já havia tomado a decisão de sair mais cedo e uma tragédia já teria acontecido. Eu teria morrido, mas resolvido voltar.
Voltei para o ponto em que eu estava tomando a decisão que acarretaria a tragédia e tomei uma decisão diferente.
Por que, então, se é possível escolher voltar, as pessoas acabam morrendo de modo mais permanente a certa altura de suas vidas? Eu imagino que tenha um número limitado de vezes que uma pessoa pode escolher voltar. E outra possibilidade, pode ser que nesse momento de escolher voltar ou não, a pessoa fique encantada com as maravilhas do outro mundo e resolva ficar pelo lado de lá mesmo. Então, tem essas duas explicações para a saída desta vida.
Tem também o problema do que acontece com a vida das outras pessoas quando se rebubinada o tempo. Bom, eu imagino a existência temporal e espacial como uma grande colcha tecida a mão. Se dá um problema em um pedaço, você desfaz aquele pedaço que deu defeito, você não precisa refazer o serviço inteiro. Na pior das hipóteses, você desfaz a colcha até chegar no pedaço que você quer consertar e depois continua.

“The Good Place”.

Depois de passar momentos maravilhosos assistindo a esta série resolvi fazer uma recomendação.
The Good Place é uma série do Netflix que está, atualmente, na metade da segunda temporada.
A outra metade da segunda temporada está prevista para retornar na metade de janeiro de 2018.
A série conta a história de um grupo de quatro pessoas que, após a morte, vão para um bom lugar, o paraíso. Uma lugar no qual serão reunidas com suas verdadeiras almas gêmeas e serão felizes por toda a eternidade.
Uma dessas pessoas, contudo, acredita que está no lugar errado. Após ter levado uma vida bastante questionável, a personagem Eleanor, percebe que foi mandada para o lugar bom por engano. A partir de então, ela começa a ter aulas de ética com sua suposta alma gêmea, que era um professor de ética e moral na universidade.
A série é centrada nos conflitos éticos que se apresentam para a personagem que terá o apoio de sua alma gêmea até uma grande reviravolta, quando descobrimos algo de inacreditável sobre o lugar bom.
Com muita filosofia e muitas menções a pensadores ilustres, a série consegue ser bastante inteligente e divertida.
Para quem procura uma série de comédia que tem o mérito de nos fazer pensar muito sobre a vida e a morte de uma maneira leve e profunda na medida certa, esta é a indicação ideal.

Adeus ao adeus.

Como fazemos para nos despedir?
Dizemos tchau, adeus, até mais ver.
Não.
Jamais vou conseguir me despedir.
Já disse tchau, adeus, até mais ver.
As lágrimas vão caindo e caindo.
O soluço vai aumentando, aumentando.
A sensação é de morte. Eu tô morrendo um pouquinho, você está morrendo.
Do que morre não dá para se despedir.
Essa despedida derradeira vai sempre ficar engasgada na garganta de toda a humanidade.
A gente não engole a morte.
Nem diz tchau, adeus, até mais ver.
As palavras são roubadas pelo susto.
A morte é sempre um susto.
O maior de todos os sustos.
Mesmo quando ela é anunciada, quando sabemos que ela está dobrando a esquina; ela bate na porta de casa, nós pulamos de susto.
Daquele susto que nos deixa brancos, com os cabelos em pé, a alma tremendo, encolhida atrás da carcaça inútil da qual se retira.
Sem poder dizer tchau, adeus, até mais ver, a gente absorve.
Frente à totalidade da morte a gente absorve.
Absorve a essência do que se iria, mas não vai. Nunca. Vai ficar aqui. Para sempre. Dentro de mim.
Não vou largar, nem abrir mão.
Sua moradia não é mais a tua carne, mas eu te ofereço o meu coração e a minha alma inteira.
Fica aqui que está quentinho. Eu vou pegar um vinho para a gente. Senta que eu já trago uns queijos e um docinho.
Você pode ficar aqui para sempre.