Converse com a sua mãe. 

Você já parou para perguntar para sua mãe sobre o passado dela? O que você sabe da história de vida dela?
Hoje eu saí para jantar com a minha mãe e fiquei perguntando um monte de coisas para ela. Como era na época tal? E quando você morava não sei aonde? E o que aconteceu depois disso? O que você pensava naquela época?
E ela me perguntou: “Por que essa curiosidade agora”? A gente conversa pouco sobre o passado de nossos familiares. Às vezes a gente sabe mais da vida dos outros do que da vida das pessoas que estão mais próximas de nós. Essa curiosidade não é a curiosidade da fofoca, é a curiosidade do interesse pela outra pessoa. Isso demonstra carinho e atenção.
Invista tempo numa conversa dessas e procure saber a história fantástica de vida das pessoas mais próximas de você. Começando pela sua mãe.

Ainda sobre a vida fora da casa dos pais.

Fico me perguntando como é possível que nunca tenham cortado a luz na casa da minha mãe.
Eu e meu marido estávamos prontos para sair de casa hoje de manhã para ir para as nossas respectivas aulas do doutorado (ele na física e eu na filosofia), quando o interfone toca. Depois de desligar, meu marido começa a rondar pela casa tirando as coisas da tomada e me diz que o porteiro é quem havia interfonado para avisar que iam desligar a luz. Ok, pensei. Ótimo. Deve ser algo necessário para ver aquela questão do vazamento da semana passada (escrevi sobre um vazamento bizarro que ocorreu no meu prédio ¡na semana passada! neste texto). Que bom que estão consertando aquele negócio.
Quando chegamos na portaria, a grande surpresa: “Olha aí! Vieram cortar sua luz”! “Como assim, amigo?! Cortar a minha luz”? “Sim. Tem uma conta em atraso, senhor”. Nossa! Que desgraça!
De fato, o diabo da conta de fevereiro não foi entregue (sabe lá Deus o porquê. Nós achamos as contas de janeiro e março lá em casa, mas a de fevereiro mão estava em lugar nenhum. Concluímos que ela não foi entregue, pois as outras contas, inclusive as do ano passado, estão todas lá na pastinha).
Enfim, pagamos a conta imediatamente. “Oh, seu moço, tá aqui o comprovante, oh, do pagamento, o senhor não pode, então, deixar a luz ligada, não”? “Pode não, senhora, desculpe, a gente vai desligar e a senhora liga para lá e pede para religar”. Puta que pariu, moço, sério isso?
Até o porteiro se estressou. Parece que ele tem uma casa lá em Campo Grande que não tem luz. Para resolver o problema ele teve que mandar botar poste e cumprir mais um monte de exigências e a empresa de energia já está com a visita atrasada para ir lá e realizar a ligação há mais de vinte dias. “Quer dizer que para vir aqui cortar a luz vocês vem, mas lá ligar a minha cadê que alguém vai? Cadê que a empresa manda alguém”? E aí o porteiro falou para os caras que eles não iam desligar nada… e o cara ameaçou cortar a luz do prédio inteiro… e o porteiro ficou irado e foi lá fora tirar foto da placa do carro dos caras… e o maluco foi correndo atrás para tampar a placa. Foi um “pega pra capá”.
Enfim, estamos sem luz porque esquecemos de pagar a conta. Repito: como é possível que minha minha mãe nunca tenha esquecido, pelo menos não assim tão completamente, de pagar a conta de luz?
Mas não tem problema não. Cá estamos nós, estou agora em um quarto de hotel, com hidromassagem e sauna, comendo e relaxando.
Se fudeu, Light! O que vem de baixo não me atinge! Quis me sacanear?! Pois eu estou aqui de camarote curtindo a vida!

Pintando Mandalas.

 

Até os meus vinte anos, eu odiava beterraba. Cozida, ralada… Não fazia diferença.

Certa vez, eu, minha mãe, minha avó e meu avô fomos passar uma semana no Hotel Fazenda Raposo. Esse hotel fica em Raposo, uma cidade com fontes de água naturais no norte do estado do Rio de Janeiro. A minha família é de lá. De Cardoso Moreira. Quando minha avó era jovem, ela ficou hospedada nesse mesmo hotel com meu bisavô e a família. Nós fomos lá para reviver essa experiência com ela quase cinquenta anos depois.

Eu amei o hotel. Tinha sauna (estava friozinho na época), fontes com vários tipos de água diferentes para beber se banhar (umas águas com gosto amargo que eu gostava bastante), muita comida da fazendo, de interior.

Rotina simples.

Acordar, ir até a fonte beber um copo d’água em jejum, tomar aquele café da manhã farto, com queijo e leite frescos, pão macio com manteiga de fabricantes da região, doce de mamão. Depois uma caminhada para ver os bichos, ouvir as histórias de boi brabo que minha avó contava, as epopeias de caminhoneiro do meu avô e aí já era hora do almoço. Nas tardes, marasmávamos na beira da piscina, bebíamos mais água da fonte, cochilávamos na sauna. O café da tarde tinha bolo. Bolo bom. De cenoura de milho, de aipim. Aí era voltar para o quarto, tomar banho, porque de noite às vezes tinha música no hotel ou na cidade, a gente curtia um pouco e voltava para o jantar. De volta ao quarto eu lia até dormir. Eu poderia viver uma vida inteira nesse ritmo homogêneo e suave.

Foi uma experiência singular em muitos aspectos.

Eu me lembro muito bem das refeições. Parecia que estávamos em um rodízio. Os garçons passavam de mesa em mesa perguntando aos poucos gatos pingados hospedados naquela época do ano: Mais arroz? Um feijãozinho? Almeirão talvez? (Ou que é isso, moço? É bom e saudável. Quero!). Quer mais carne? Beterraba? E lá estava ela: a tal da beterraba cozida. Eu disse sim.

Sim e foi um sim bem dito mesmo, sabe? Sem pestanejar.

Olhando para trás, eu imagino que foi justamente a singularidade da experiência que me fez comer aquela beterraba. E eu comi e gostei.

Hoje em dia eu gosto bem de beterraba cozida. Amo aquela que é feita junto com o feijão preto.

Não acho que é uma questão de mudança de paladar; acho que foi realmente uma questão afetiva. Eu ainda não como beterraba ralada, por exemplo. Já experimentei depois dessa viagem e não rolou mesmo. Mas a beterraba cozida, que foi servida lá, já conquistou um espaço no meu estômago emocional. A força da experiência daquela viagem rompeu barreiras. Eu não pensei muito, só disse sim.

Essa experiência é libertadora, amplificadora de horizontes, mais precisamente, e pode ser replicada.

Eu tenho ficado atenta para perceber momentos de grande engajamento emocional e, quando eles acontecem, tenho procurado ficar aberta a novas experiências.

Aconteceu recentemente com isso de pintar Mandalas que estava na moda há pouco tempo. Como um fenômeno pop, eu já torci o nariz.

Mas, durante uma viagem para o spa Maria Bonita, no qual passei uma semana com minha mãe, tivemos uma oficina de pintura de Mandalas e eu resolvi me engajar na atividade. Gostei da experiência. No entanto, como eram Mandalas para colorir e não beterrabas no feijão, tratava-se de uma vivência menos cotidiana e eu teria que correr atrás disso ativamente para continuar tendo a experiência de pintar Mandalas. E eu não fiz isso. Pelo menos não até recentemente.

Nesse meu novo estado de engajamento com diferentes formas de expressão artística, eu lembrei das Mandalas e fui dominada por aquele sentimento bom da viagem. Fui na livraria Leonardo Da Vinci e comprei um livro com várias delas para colorir. Quando comecei a pintá-las com os lápis de cor aquareláveis nos quais investi também, não lembrei do antigo preconceito, mas da boa sensação do spa.

Então eu penso o seguinte: eu não vou mais dizer categoricamente como antes “disso eu não gosto”, “odeio sei lá o quê” ou “Argh”, eu vou pensar mais em termos de “por enquanto eu não gosto muito disso, mas quem sabe no futuro”?

Eu não vou sair correndo atrás de experimentar coisas das quais eu não gosto, me forçando a apreciá-las. O importante é perceber que, episódios que carregam intensidade emocional nos afetam ao longo de nossa vida inteira. Se ficarmos atentos, podemos tirar proveito disso para expandir nossos horizontes.

Você deve estar pensando e eu também pensei nisso; acho que este é justamente o mecanismo psicológica que está por trás daquela exortação popular: “Nunca diga que desta água você não beberá jamais, pois a vida pode te surpreender”. Surpreende mesmo e é bom que seja assim. A única diferença é justamente esta: no ditado popular, isso soa como algo negativo. Era sempre meio que: “Olha… Não fala isso porque você não sabe o que o futuro te reserva. Um dia você vai ser dobrado pela vida e pode acabar sendo obrigada a fazer o que não gosta”. Pode até ser que seja assim. Mas eu te garanto que se passarmos a ver a nossa rigidez emocional de modo menos positivo, se nos mantivermos abertos para a mudança e percebermos que ela é boa, então, quando a vida nos apresentar a oportunidade de beber dessa “água”, vamos tirar o máximo de proveito desta experiência e transformá-la em algo enriquecedor.

Meu presente de Natal.

Você prefere escolher seu presente ou prefere ser surpreendido?
Eu prefiro escolher.
Esse ano, eu pedi material de desenho.
Cheguei a fazer uns seis meses de curso quando era pequena e depois, nunca mais. (impressionante quantas coisas eu comecei e parei…).
Estou há um tempo querendo comprar essas coisas (lápis, esfuminho etc.) e sempre vem aquela dúvida: será que eu compro? Será que devo? Não vai ser desperdício?
Nada do que nos faz feliz é desperdício. O problema é que muitas vezes nos enganamos quanto ao que vai realmente nos fazer felizes.
Enfim, pedi as coisas que precisava para começar a desenhar de presente de Natal.
Eu já recebi hoje os intens que pedi! E já desenhei um bocado!
Aí aparecem outras questões… Porque a gente é meio estragado mesmo…
É muito boa a sensação de que você produziu algo legal. O triste é a dúvida: será que isso está bom mesmo? Bate aquela vergonha e o receio de mostrar para as outras pessoas.
Na tentativa de superar essa paranóia, eu apresento para vocês um desenho que eu fiz hoje.
Agradeço a minha mamãe, pois foi ela que me deu o material de presente de Natal 🙂

Tenho futuro?