Whatsapp motivacional. 

[31/07/2018] Olivia Klem: A mudança assusta, eu sei.
Mas a pessoa que nos tornamos depois da mudança nos protege de quem a gente era no passado.
Quando você estiver livre do sofrimento causado pela depressão e pela ansiedade, essa nova sensação de equilíbrio emocional vai te proteger da própria tristeza.
Mesmo quando as coisas estiverem difíceis novamente, você não vai se esquecer da felicidade que experimentou.
E essas oscilações acontecem mesmo. Não vou te enganar, recaídas existem.
Não tenha medo disso. Você achou seu caminho uma vez e vai achar de novo. Agora mais do que antes, você sabe se orientar sem bússola, sabe se locomover sorrateiramente pelo escuro, seus olhos se adaptaram e você já conhece os predadores e onde eles se escondem. Se você se entrar nesta densa floresta novamente, vai se sair melhor do que na primeira vez que se perdeu aí.
Então, você pode ter certeza: aconteça o que acontecer as coisas vão melhorar.
Com o tempo vamos aprendendo novas e melhores maneiras de lidar com os baixos da vida.
Não é hora de desanimar ou de olhar para trás. Siga em frente. Tudo que você precisa está diante de você.

Não tente controlar sua ansiedade. 

Você tenta controlar sua ansiedade
E ela escapa.
É como o amor…
Quanto mais forte você tentar prendê-lo,
Mais fora de controle ele se encontra.
A ansiedade se agrava com suas tentativas de controlá-la.
Não é para não fazer nada.
Trabalhe seu corpo e sua mente sempre.
Eu fui no ortopedista há uns tempo atrás.
Dor nos ombros e nas costas.
Ele não passou remédio,
Passou exercício físico:
Está doendo porque não está sendo exercitado adequadamente.
A ansiedade é a dor do seu cérebro quando você não está trabalhando certas crenças e regras de comportamento e pensamento que você tem.
Trabalhe sua mente e cuide do seu corpo. A ansiedade vai ceder.

Ainda sobre a ansiedade. 

Falei ontem sobre a crise de ansiedade que eu tive na terça, dia primeiro de maio.
Pois é.
Sabe o que aconteceu ontem quando eu estava terminando de escrever o texto do blog? A pilha do teclado do meu computador começou a falhar, de modo que a letra “e” e a letra “c” Não estavam funcionando. Sabe como eu terminei de escrever? Dando control c/control v nessas letras. Deu um trabalho do cão. E muitas vezes isso acontece mesmo. A gente está se recuperando da crise e já vem uma outra coisa para jogar a gente para baixo. Sabe quando você está pensando: “Caralho! E mais isso agora! Que merda! Eu já não aguento mais”. Aí vem a vida e diz: “Que isso…! Toma mais essa aqui, oh! Tá vendo como você aguenta!” Foi bem isso. E a verdade é que a gente aguenta mesmo, tem que aguentar, então é melhor mesmo não se estressar para começo de conversa. Aquele trabalho que eu tinha que fazer (um artigo que eu vou entregar amanhã)? Não deu para terminar ontem porque não dava para digitar. Hoje eu trabalhei o dia todo (no consultório). De dez da manhã até dez da noite. O que sobra? Mais uma noite sem dormir.
Conversei com alguns amigos hoje nos intervalos que eu tive. Isso sempre ajuda. Compartilhar.
De resto o que a gente pode fazer? Eu tenho lidado muito melhor com os momentos de ansiedade. Ontem eu falei de algumas estratégias, mas ao logo do dia de hoje eu fiquei pensando… Tem uma coisa muito importante que eu não mencionei no texto de. A minha vida e as coisas que eu estou fazendo têm muito sentido para mim. Eu só estou fazendo coisas que eu amo fazer, que me empolgam. Isso é fundamental. Porque se ficar estressada e ansiosa já é ruim, imagina ficar estressada e ansiosa fazendo coisas que você odeia! Nossa! Terrível! Claro que toda atividade tem partes chatas e desagradáveis, mas se isso fizer sentido na sua vida, vai ser mais tranquilo de lidar. Por exemplo, buscando atividades que me trouxessem bem-estar e felicidade, eu comecei a fazer curso de desenho. Sabe qual é a passo inicial dessa nova aprendizagem? Desenhar garrafas, cadeiras, copos, xícaras… Porra, eu quero desenhar dragões!!! Mas para chegar lá, tem treze meses de curso básico antes. Eu não sei se eu vou ficar interessada em desenho para sempre, mas, por enquanto, se eu quero desenhar os tais dragões, eu tenho que aprender a desenhar e, para isso, tenho que começar pelos objetos inanimados desinteressantes. É isso. Essa parte é chata, mas, por enquanto, faz sentido para mim.
Essa questão do sentido é essencial para a vida como um todo, na verdade, mas no caso do enfrentamento das situações difíceis ela é fundamental.

Uma crise de ansiedade.

Nesse feriado eu tive uma crise de ansiedade. Tinha muita coisa para fazer e eu entrei numa bad achando que não ia dar conta.
Momentos como esse me atrapalham de vez em quando. A todos nós, na verdade.
Mas a crise de ansiedade em si não importa muito no fim das contas. O ponto principal é a maneira como você lida com ela, as estratégias que você possui para enfrentar sua ansiedade.
Eu estava no computador trabalhando quando aconteceu, na terça a noite, mas, de fato, eu já estava me sentindo mal desde segunda. Comecei a sacudir a perna fortemente, minha respiração ficou acelerada, parecia que meu sangue estava correndo rápido e com muita força nas veias, eu sentia o corpo todo palpitar e o coração bater forte demais, um leve formigamento nas extremidades. Além disso, minha visão começou a ficar embaçada. Se eu já não estivesse bem familiarizada com os sintomas da ansiedade e não tivesse consciência de que o momento tenso que eu estava vivendo poderia muito bem causar uma crise dessas, eu certamente iria para o hospital.
Ok. Mas eu sei de todas essas coisas. Que sentir ansiedade é normal… Que determinadas situações geram ansiedade… Que ansiedade dá e passa… Claro que sentir essas coisas é muito ruim.
É aqui que a situação complica.
Muitas pessoas, quando têm crises de ansiedade, colocam estratégias disfuncionais em prática para lidar com esse sofrimento.
Algumas pessoas mergulham em preocupações intermináveis. Elas se preocupam acreditando que, desse modo, estão fazendo todo possível para lidar com uma determinada situação da melhor maneira possível. Se eu tenho um trabalho para entregar, eu vou me preocupar com ele dia e noite, enquanto eu estiver lavando louça, jantando com meu namorado, assistindo tv com a minha família, antes de ir dormir… Asssim eu penso, penso e penso na tarefa, penso tanto que vou minimizar as chances de algo dar errado quando eu finalmente sentar para fazer a tarefa. Mas eu não consigo sentar direito para fazer a tarefa. Eu já pensei tanto nele, que já estou com raiva dela, ou construí expectativas muito altas e agora estou com medo de não alcançar meus próprios padrões, ou então eu simplesmente sento para fazer o trabalho, mas subitamente outra preocupação invade a minha cabeça e tira o meu foco.
Na psicologia, isso se chama transtorno de ansiedade generalizada.
No momento da crise aparecem esses sintomas físicos que eu mencionei no início. Então, desde segunda eu estava me preocupando, terça veio a crise.
Eu já perdi as estribeiras duas vezes. Congelei na rua, em plena crise, sem conseguir sair do lugar. Da primeira vez minha mãe foi me buscar, da segunda, meu marido. Acontece.
Depois disso eu precisei parar para pensar em como lidar com essas situações no futuro. Nenhum caminho melhor para começar uma investigação acerca de nós mesmos que não no nosso passado. Comecei a pensar em tudo que eu gostava de fazer, que me acalmava, quando eu era pequena. Eu pergunto isso para os meus paciente e às vezes eles riem pensando que eram só bobagens que eles jamais fariam hoje em dia: brincar de bonecas, por exemplo. Mas, se nós tivemos uma infância relativamente tranquila e saudável, esse foi o momento em que nós precisamos de mais proteção e também o momento em que efetivamente nos sentimos mais protegidos. Por isso as estratégias da infância são, na verdade, muito eficientes. Não precisa ser só dessa época, contudo, pode ser qualquer coisa que te acalmou no passado.
Para mim: da infância, a lembrança que eu resgatei foi uma suposta memória do jardim de infância na qual eu estava fazendo bolinhas de papel crepon colando para formar um desenho. Da adolescência, dançar bem loucamente ao som de música alta. Da idade adulta, conversar.
Então, o que eu fiz na terça à noite? Bolinhas de papel crepom, dancei Nirvana pra caramba e conversei horas com meu marido. Isso foi suficiente para me trazer perspectiva e tranquilidade.
O trabalho? É para sexta e ainda não está pronto, mas eu tenho certeza de que eu vou fazer o melhor possível e que, s algo der errado, não vai ser o fim do mundo. Certamente do jeito que eu estava terça, eu ia fazer tudo cagado e ainda ia sofrer horrores durante o processo.

Uma hierarquia para os seus problemas.

A maior parte das pessoas do planeta não estão sofrendo com nenhum tipo de transtorno psicológico. Mas estas pessoas também não estão bem.

Pensando num continuo, sendo -5 o pior estado emocional possível e +5 o melhor estado emocional possível, onde você acha que a maioria das pessoas se encontra?

Você acertou se pensou no 0.

A verdade é que a maioria das pessoas não está mal, mas também não está bem. Estão ali andando em cima da corda bamba. Uma hora acham que estão com um pezinho na depressão e/ou na ansiedade, outra hora estão sentindo um leve sentimento de prazer e felicidade.

Um amigo meu me ensinou uma técnica maravilhosa há alguns meses para “limpar o ar” nos momentos em que nós começamos a nos sentir um pouquinho mais para baixo. É uma técnica bem simples e poderosa.

 

Em primeiro lugar faça uma lista dos seus problemas e de afazeres atrasados.

Agora, ordene os itens da lista em uma hierarquia, do maior e mais complicado, mais difícil de ser executado até o mais simples, o menor, mais tranquilo e rápido de se resolver.

Pense, para cada um dos itens, se você já enfrentou problemas iguais ou similares no passado. O que você fez que ajudou a resolver o problema que você pode repetir agora?

Por fim, “mãos à obra”! Comece a executar a sua lista, partindo do problema mais simples e irrelevante.

 

Isso mesmo. Comece pelo problema mais simples e irrelevante da sua lista.

Quando nós pensamos nos nossos problemas, queremos atacar logo o problema mais monstruoso, mais difícil, aquele que incomoda mais e que é mais difícil de resolver. O que acontece é que a chance de termos dificuldades na resolução desse problemão são grandes por uma série de questões que veremos adiante. A consequência é o desânimo, o acúmulo de problemas e a sensação de que não seremos capazes de dar conta deles.

Imagine que você é o super-herói de um desenho animado. A luta do herói nunca acontece diretamente com o grande vilão da história. Se fosse assim, o desenho só teria um episódio. O herói passa por uma série de inimigos, cada vez mais poderosos, adquirindo mais força e sabedoria e se preparando para enfrentar o chefão mais adiante. Esses são os problemas que você já enfrentou.

É importante sempre ter em mente como nós resolvemos nossos problemas no passado e o que aprendemos nestas ocasiões. O que podemos aproveitar e o que podemos melhorar em nossa resolução de problemas?

Além disso, quando o grande chefão aparece, ele sempre vem acompanhado dos seus capangas. Estes capangas são inimigos facilmente derrotáveis, mas que, se forem ignorados pelo herói, podem ser mortais. Esta é a imagem da sua lista atual de problemas: um ou dois problemas maiores e os seus capangas.

O herói precisa derrotar os capangas antes de atacar o chefão.

Com os seus problemas acontece a mesma coisa. Normalmente nós temos um grande problema – o chefão – e vários outros pequenos problemas – os capangas – que são facilmente derrotáveis, mas que, quando ignorados se somam ao chefão e dificultam muito a nossa luta.

Elimine os capangas em primeiro lugar. Elimine esses problemas pequenos que ficam ali sugando sua energia, te exaurindo mentalmente e drenando seu senso de autoeficácia.

Quando nós resolvemos esses problemas que estão lá no final da nossa hierarquia, nós adquirimos confiança e nos fortalecemos. No final, a chance de conseguirmos resolver então os maiores de nossos problemas, já será muito maior.

Vai à merda, ansiedade!

Hoje temos um texto super especial de uma pessoa que eu gostaria que fizesse muitos mais guestposts no blog! Meu marido: Luizinho!

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Estava na hora, não dava mais pra aguentar essa situação não. Tinha que fazer alguma coisa. Tinha ficado com aquele texto na cabeça há mais de uma semana e, verdade seja dita, tinha achado completamente ridícula a ideia.

Mas, dia sim dia não, era a mesma sensação de morte toda vez que passava por qualquer coisinha. E sabia que eram coisinhas, claro que sabia. Mas vai lembrar disso na hora que o motorista de ônibus dá o troco errado, ou na hora de entrar numa sala de aula com um pouco de atraso. Não tinha deus que desse jeito naquela palpitação, naquele suor frio, naquele desejo de desaparecer, de se esconder e não fazer mais nada.

Já tinha decidido tentar fazer alguma coisa a respeito, mas não sabia por onde começar. Foi quando, por mero acaso, viu aquele texto na descrição de um evento que um amigo tinha confirmado no face que ia. Surpreendentemente, aquela ideia ficou na cabeça, germinando; e germinando, floresceu. Não tinha nada de complicado na verdade, era só arranjar coragem para fazer. Por coincidência ia pegar o metrô nesse mesmo dia. Acreditava que ia tentar, por que não?

Já tendo embarcado há um tempo pensou “Vamos lá!”. Se levantou, tentou começar a falar, mas era como se uma mão tapasse sua boca ou um punho tivesse sido enfiado na sua garganta, não tinha certeza. Sentou-se. Era 3 da tarde, o metrô ainda não estava lotado. Sentiu-se muito mal, achou que mais uma vez não ia conseguir mesmo há poucos minutos estando certo de que iria tentar. Chegou na estação terminal, teve que descer, sentou numa das cadeiras da plataforma, sentiu muita vontade de chorar. Queria dizer que só sairia dali quando conseguisse fazer o que tinha ido fazer, mas se conhecia muito bem para saber que afirmar isso não seria possível, talvez só piorasse a situação.  Ficou ali mais umas dezenas de minutos e decidiu voltar para casa. Já não dava mais tempo mesmo de ir no seu compromisso.

Conseguiu sentar, mas o metrô foi enchendo porque o pessoal já estava começando a voltar do trabalho. Por algum motivo, não se sentia tão mal como costumava se sentir. Sabia que queria mesmo fazer alguma coisa e que tinha realmente tentado, ativamente tentado. Não tinha conseguido, é verdade; mas tinha conseguido lidar de uma forma relativamente boa com esse fato. Uma pequena satisfação tomou conta do seu espírito quando pensou nisso. Percebeu que estava de pé e olhou para fora para ver se era sua estação, mas não era. Conseguiu ler o nome da estação na plataforma momentos antes do metrô parar e, como num redemoinho, as palavras, duas únicas palavras, vieram do fundo sabe-se lá de onde, ecoando dentro de si com o volume cada vez mais alto, e num momento em que tudo foi silêncio, de olhos fechados as palavras saíram de sua boca: “Presidente Vargas!”

“Puta que pariu!” foram as palavras que teve que fazer um esforço imenso para não gritar logo depois. Tinha feito, se segurava muito forte no corrimão do alto, com medo de desabar, pois suas pernas estavam tão bambas que achou que elas iam desmontar. “E agora?”, pensou. “Talvez a parte mais difícil tenha passado”. Abriu os olhos. Algumas pessoas ainda lhe olhavam. Já estava chegando a próxima estação e ele sabia qual era de cor. Pensou se devia sair correndo porta afora, mas decidiu ficar. E novamente antes do metrô parar, bradou: “Central do Brasil!”. Várias pessoas lhe olharam novamente. Muitas outras entraram e o metrô já ficava do jeito pelo qual era conhecido o metrô no Rio de Janeiro. Mal acreditava, mas de fato tinha ficado mais fácil, sentia-se gradualmente mais calmo.

“Nossa, não acredito que é você! Quanto tempo!”

Tinha certeza de que sentia sua alma deixando seu corpo, mesmo não acreditando em alma. A voz vinha de uma pessoa que havia entrado na última estação e era uma pessoa conhecida. Não tinha escolha, ia se desculpar e aí sim sair correndo na próxima estação, quem sabe vomitar na lixeira mais próxima. Ficou parado e pálido, no entanto, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

“Cidade Nova!” gritou novamente. “Imbecil! Por que diabo de caralho fui fazer isso?”. Uma segunda voz veio de trás, acompanhada de um cutucão no ombro: “Por que você tá fazendo isso?” Ele continuou de olhos abertos, mas tudo ficou escuro por um momento. A voz riu e insistiu: “Você fugiu do hospício? Aí, Gustavo! Acho que alguém fugiu do Pinel…!”

Não conseguia acreditar naquilo. Se tivesse alguma ordem de pensamento naquela hora, estaria se amaldiçoando por ter dado ouvido a qualquer merda que leu no facebook. Não conseguiu responder, ficou ali olhando na direção da pessoa conhecida, de boca meio aberta, com o coração pulsando o que parecia ser suor por todos os poros do seu corpo.

“São Cristóvão!” Não tinha mais ideia do que estava acontecendo. Não saiu na estação recém anunciada por sua própria boca. Não pensava mais, parecia que tinha saído do seu corpo, mas não estava fora. Parecia preso no seu próprio corpo, exceto que o corpo não era mais seu, era uma simples forma que continuava gritando os nomes das estações sem motivo aparente. “Ei, você pode parar com isso!? Idiota…” Forçou-se a olhar de onde vinha a terceira voz e viu que era de uma moça grávida sentada no assento especial a poucos metros de si, lhe encarando com cara de desprezo.

“Maracanã!”, gritou novamente. O texto estava todo errado. O número de pessoas que estavam olhando só aumentava. “Perdeu todos os parafusos, Gustavo…”, “Tá tudo bem com você?”, perguntou a primeira voz. “Já falei pra parar, porra!” E mais uma voz se juntou à orquestra de vozes na sua cabeça “Você não ouviu a senhora não, imbecil? Pára com esse caralho!” Era uma nova voz que veio com um empurrão forte, abrupto e insinuando que não seria o último. Parecia que quanto mais a situação escalonava, mais difícil era manter algum rastro da sequência de eventos que tinham culminado naquela situação.

 

“Triagem!”. A resposta foi quase imediata: “Já te avisei, filhadaputa!” e veio acompanhada de um soco no canto do queixo. Uma enxurrada de gritos dissonantes veio depois, enquanto seu corpo caia no chão, finalmente largando o corrimão do teto. Mais gritos, um se sobressaiu “Ele tá armado!!!” Um barulho surdo e opaco, correria, gente pisoteada e tudo ficava escuro outra vez, dessa vez por mais tempo.

 

“Maria da Graça!” foi o que acordou gritando, tremendo e com o corpo mergulhado em suor. Estava sentado num banco dentro do metrô. Era sua estação, a porta estava para fechar, mas não antes de dar tempo de sair tropeçando, chorando convulsivamente, pensando “VAI À MERDA, ANSIEDADE!!!”

Conversas universitárias. Ou: sobre o sucesso na academia.

As palavras de hoje são roubadas das conversas fenomenais que nós temos na vida cotidiana.

Eis como o diálogo transcorreu:

– Você viu aquele cartaz que tem ali?

– Não.

– Um absurdo isso. Você já ouviu falar em X (não me lembro nenhum dos nomes que ele mencionou).

– Fala o que é só para eu ter certeza de que não sei.

– Hm… sabe Y?

– Definitivamente não.

– E Z?

– Nunca ouvi falar.

– Enfim, é uma ideologia babaca, bizarra de direita! Eu não sei como tem um cartaz disso aqui.

– É… Estamos vivendo um momento estranho… Deixa eu te perguntar, você já fez a apresentação do seu texto?

– Não. Eu tive que faltar. Tive que resolver umas questões no banco que requeriam o CPF do meu pai, só que ele andou morrendo ultimamente.

– Oi? Quê?! Seu pai morreu recentemente?

– Sim. Há dois meses.

– Sinto muito…

– Ok. A vida é assim, a gente não sabe se vai estar vivo amanhã. Tem que relaxar mesmo. O meu pai se preocupou demais a vida inteira e não cuidou do que realmente importava. Ele só pensava em dinheiro. Por isso que quando eu já estava muito velho para ficar em casa sendo sustentado e a minha família começou a reclamar eu vim fazer filosofia.

– Para ficar rico, não é?

– Exatamente. Eu só quero ter dinheiro suficiente para poder largar isso tudo aqui e montar um movimento de luta com os índios da região Centro-Oeste. E mais nada.

– Muito bom esse seu propósito.

– Só quero isso mesmo e mais nada.

– Entendi. Legal. Pois é. Eu te perguntei se você tinha feito a sua apresentação porque a minha é hoje e eu estou tensa para caralho, apesar de eu ter entrado nessa também ultimamente de pegar mais leve com as coisas e entender que o que quer aconteça, vai ficar tudo bem.

– Que isso! Não fica tensa não. Vai entrar nessa por qual motivo? O máximo que a gente pode esperar da vida é mediocridade e insignificância mesmo. Então você vai se estressar? Para quê?! O sucesso, dentro da academia, é se tornar um super especialista em ideias das quais você discorda! É até melhor fracassar mesmo. E ainda tem sabe o quê? A academia gosta disso aí que você está falando. A academia goza em manter os alunos ociosos e ansiosos. Eles não querem que você trabalhe porque, se não, o seu estudo não vai ser de qualidade, e eles exigem tanto de você, porra, você acaba quebrando! Tudo para quê? Para supostamente alcançar o sucesso, que, não se engane, vai ser sempre insuficiente e tendencioso.

– Poxa, valeu. Fiquei de boas agora. Estou tranquila. Vamos lá.

– Claro.

Dança! E valores. 

Minha primeira apresentação de dança do ventre depois de muito tempo aconteceu hoje de noite.

Eu cheguei no teatro atrasada.

Pois é. Tinha um monte de coisas para fazer durante o dia e eu não queria (nem podia muuuuito também) abrir mão de nenhuma delas… Aí fui me enrolando… Senti que estava fazendo tudo meio que pela metade.

O ponto é que eu estava pegando o ônibus na hora em que deveria estar chegando no local da apresentação. Dinheiro para uber não tinha, então, fazer o que? Tinha que esperar o trânsito colaborar (porque o motorista a gente sabe que mete o pé).

Tô no ônibus, um calor da porra, brigando com o meu marido.

Trágico.

A gente cai nessas armadilhas, não é mesmo? De se estressar com coisas que não têm solução.

Eu sei que esse tipo de sensação é infrutífera e prejudicial. Mas fala comigo isso na hora que eu estou estressada! Sério. Fala memso.

Eu tenho feito o esforço super consciente de, quando alguém me fala que eu estou estressada, tentar me acalmar. Ou quando eu mesma percebo que estou repetindo o mesmo padrão, tento segurar a onda. E tenho conseguido bons resultados. Então, quando eu estiver estressada, me fala, que eu vou tentar me controlar.

Como fazer isso? A parte difícil não é ter consciência de que se estressar não faz bem e que devemos tentar nos manter calmos mesmo na adversidade. Isso todo muito sabe. O difícil é saber como fazer isso. E digo mais! É difícil encontrar motivação para colocar em prática aquela respiraçãozinha anti-estresse que a galera aprende por aí.

Qual é o segredo então? O que funciona para mim é pensar nos meus valores.

Quando você sabe o que é importante para você, tudo que cruza seu caminho aparece através da perspectiva dos seus valores.

O que são valores? Valores são características das pessoas que fundamentam o modo como elas interagem consigo mesmas, com os outros e com o mundo.

Quando a sua vida ou as suas atitudes não estão aliadas com os seus valores você sofre e sente que alguma coisa está errada com a sua vida.

Se uma pessoa tem como valor central a liberdade, é possível que ela fique muito mal em um emprego que exige que ela fique dez horas do seu dia dentro de um escritório sem ver a luz do sol.

Há pessoas que se submetem às maiores atrocidades para evitar o divórcio por terem o valor família como central.

Nem sempre é óbvio para nós quais são os nossos valores. Por isso, segue uma dica:

Se imagine no alto de um prédio bem bem bem alto que há dez metro de distância de outro tão alto quanto. Você está no telhado de um desses prédios e há uma ponte de madeira que leva ao telhado do prédio ao lado. Está vetando muito. O que faria com que você atravessasse a ponte?

Esse exercício pode te dar uma dica de quais são os seus valores.

Bom, dois dos meus principais valores são: amor e prazer.

Tendo isso em vista, tem cabimento brigar com meu marido e me estressar a caminho de uma apresentação de dança (que me dá muito prazer)?

Não!

Ao me dar conta disso eu comecei a tentar ficar clama. Hoje foi fácil. Mas sobre esse processo de como eu faço para ficar mais calma em situações estressantes eu falo em outro momento.

O mais importante é que eu cheguei a atrasada, mas deu tudo certo no fim das contas. Quando eu parei de me estressar pude recalcular o tempo que eu teria e me programar para fazer o que precisava nesse tempo.

E quer saber? Se não tivesse dado certo estaria tudo bem também. Eu apenas  teria que me desculpar com as minhas colegas e dançar em outra oportunidade!