Colaboração. 

Hoje, pirigava eu dormir direto.
Cheguei muito cansada do trabalho, comi, deitei e apaguei depois.
Se não é pelo meu marido me acordar falando que eu precisava levantar para escrever no Blog, eu teria dormido até amanhã.
Quantas vezes no consultório eu não ouço dos pacientes autorecriminações, menosprezos de uma determinada conquista, tudo porque eles não obtiveram aquele resultado “sem a ajuda de ninguém”.
Tem aquela reflexão que diz que a gente nasce sozinho e morre sozinho. Essa frase passa a idéia que o ser humano é um ser que jamais consegue escapar do fato doloroso de sua solidão existencial. Sabe aquele filme que passou no cinema, Três Outdors Para Um Crime? Então, tem uma fala genial nesse filme. Um homem escreve para sua esposa que ele não nasceu sozinho, pois a mãe dele estava lá quando ele nasceu (e, convenhamos, nossa mãe está SEMPRE presente quando a gente nasce) e agora, no fim da vida, ele também não estava sozinho, pois a esposa estava lá com ele (assim também acontece com todos nós, chegamos ao fim da vida acompanhados pelas pessoas que conquistamos ao longo de nossa caminhada). A conclusão é que aquela frase inicial (e muitos dos meus pacientes) estão completamente equivocados. Ninguém faz nada nesse mundo sozinho. Ainda bem! Ter a ajuda de uma outra pessoa não é demérito nenhum.
Se não fosse pelo meu marido, eu já teria ficado alguns dias sem escrever no Blog. Ainda bem que ele está presente na minha vida, colaborando com meus sonhos e projetos e me incentivando sempre! Aproveito para agradecer aos queridos amigos, é claro, que já participaram ativa e intensamente da elaboração de vários textos e de incontáveis momentos importantes da minha vida. Agradeço a vocês que estão lendo também, pois vocês são uma alegria feliz e inesperada nessa jornada. Quando eu comecei a postar, eu imaginei que, no máximo, minha mãe e meu marido leriam os textos e que isso já ia ser lucro, mas vocês vieram e deram ainda mais sentido a esse projeto!
Agora, se me dão licença, vou aproveitar que meu marido veio aqui verificar se eu voltei a dormir ou se eu estou escrevendo mesmo e vou encerrando por aqui para aproveitar o fim de noite pré-feriado para fazermos alguma coisa boa juntos! Beijos!

O motô do amô.

Hoje, meu marido me contando um causo muito interessante. Ele fez sinal para um ônibus e, ao subir, falou com o motorista: “Boa tarde! Esse ônibus aqui vai para o Cosme Velho?”. O motorista (homem) respondeu: “Sim, amor”.
Esse mundo tem salvação no fim das contas!

Natalia.

Escrever a sua carta de gratidão não foi fácil.
Cara, tenho coisas maravilhosas e terríveis para falar da nossa amizade.
A gente viveu muita coisa.
Você foi, em alguns dos momentos mais difíceis que eu vivi, um arco-íris de alegria e esperança. Uma coisa que eu sei a seu respeito é que você é muito mais forte do que a sua aparência de fada delicada transparece. Por dentro você é o incrível Hulk e o Thor juntos. Desespero total assolando as tormentas da minha alma (e da sua também, por que eu sei que você sofre), e você resplandecendo a luz do foda-se de uma maneira que eu nunca vi em mais ninguém. Você me deu muita força para seguir em frente ao longo dessa vida e eu sou grata a você por isso.
As pessoas ficam se perguntando e elas também perguntam umas às outras se existem almas gêmeas. Sabe o que eu acho? A galera esquece que gêmeos não vêem apenas em pares. A minha alma tem algumas irmãs gêmeas e a sua alma é uma dessas irmãs.
Nós passamos sim muito tempo afastadas mergulhadas nos afazeres cotidianos que nos roubaram o tempo de um café mais de uma vez, mas a amizade que eu sinto por você já transcendeu o tempo e o espaço. Ela só se torna mais forte com o passar do tempo.
Acho, inclusive, que foi o universo que plantou em nossos corações o desejo de viver da arte para nos aproximar e nos possibilitar o imenso prazer de podermos trabalhar juntas. Eu nem acreditei que a gente já vendeu livros, nossos livros, que nós escrevemos, lado a lado.
E nessa jornada de artista, eu passei a te admirar ainda mais. Você é incrível e eu aprendo com você até hoje.
Não. Eu não estou satisfeita. Eu quero mais a sua presença física na minha vida. Mas, é importante que você saiba, na minha mente você está sempre presente.

Se liberte dessa culpa!

Domingo a noite e eu sem tempo para escrever no Blog. Sabe o porquê? Eu estou estudando.
Isso mesmo. Eu e meu marido estamos estudando. Ele porque está terminando de escrever a dissertação e eu porque tenho uma reunião para debater um texto com meu orientador do doutorado na quarta.
Durante o dia eu não tive tempo de estudar. Foi aniversário da minha prima (maravilhosaaaaaa) e nós ficamos pintando, desenhando e comendo o dia todo.
Amanhã? Não estou de folga não. Vou atender doze pacientes. São doze horas de trabalho. E eu não estou falando tudo isso para você me admirar ou ter pena de mim, sei lá.
É que recentemente eu estava conversando com uma amiga de infância e pensando: “Cara, os pais dessa pessoa achavam que eu era uma má influência. E olha nós hoje em dia… Na verdade, alguns pais achavam que eu era a má influência”. Por isso eu comecei a fazer uma lista mental das minhas conquistas.
Olha a má influência aqui, hoje em dia. A má influência que nunca repetiu de ano, que passou no seu primeiro vestibular para a UFRJ (e depois para o mestrado e o doutorado), que ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Alemanha estudar, que trabalha e sustenta sua casa junto com seu marido, que tem um excelente relacionamento com a sua mãe.
Eu penso nisso tudo e fico irritada. Filhos da puta! Ouvir que você é uma má influência é uma merda! Isso já aconteceu com você? Você se sente errada de alguma forma. Errada é o caralho. Eu sou exemplo. Exemplo do que você deveria querer que o seu filho fosse. Não é porque eu não abaixava a cabeça para qualquer um que quisesse me dar ordens ou que dissesse que eu era inadequada que eu sou má em qualquer sentido que seja. O problema é o embate entre o seu conservadorismo a minha revolução.
Sinceramente? Não. Eu nuca fiz nenhuma merda terrível. Malcriações, birras, equívocos. Isso todos nós cometemos. Adultos inclusos. E olha que eu tenho propriedade para falar, como psicóloga que sou. E eu não fui diferente. O problema foi terem querido me fazer acreditar que os meus erros foram maiores do que o das outras pessoas, que as minhas posturas foram mais inaceitáveis, foram inadmissíveis. Hoje em dia eu é que acho inadmissível continuar carregando essa culpa. Me liberto.
Então se eu ainda te incomodo, tenha certeza absoluta de que isso expressa mais um problema com você do que comigo.

Essa era a minha culpa. Qual é a sua? Aproveita e se liberta junto comigo. Não gaste mais nem um segundo da sua existência se perguntando o que você fez de errado, o que você tem que mudar no seu jeito ou como você tem que agir. Se pergunte apenas o que você desteja da vida, o que você tem que fazer para ser feliz e como você tem que agir para alcançar seus objetivos. 

A culpa está fora de moda. 

Você pode substituir ações negativas e destrutivas por ações positivas e construtivas. 

“É uma loucura fazer sempre as mesmas coisas e esperar obter resultados diferentes”.

Parece óbvio, não é mesmo? Talvez ninguém discordasse dessa frase se você a dissesse assim desta maneira. Mas se você parar para observar com cuidado e atenção a vida de certas pessoas, você vai perceber que é difícil para muita gente transformar esta verdade preciosa em ações.
Algumas pessoas, se tivessem consciência de suas ações, te diriam o seguinte: “Não! Discordo! Eu acho que a gente pode ficar fazendo senpre exatamente a mesma coisa e obtendo a cada repetição um resultado diferente. Veja lá em casa, por exemplo, eu chegava da rua e brigava com a minha mulher todo dia e ela ficava falando para eu me acalmar, queria sentar conversar e entender qual era o problema, mas não adiantou de nada, eu continuei chegando em casa e brigando com ela todo dia. Até que chegou uma época em que ela no lugar de querer conversar para tentar resolver o problema, passou a brigar comigo de volta. Mas isso também não adiantou de nada, claro. Ela sabe gritar e eu sei gritar também, ora! Então eu continuei chegando em casa da rua, do trabalho, todo dia e brigando e brigando com ela até que veio o tempo em que ela simplesmente passou a me receber calada e me ouvir esbravejar sem esboçar nenhum tipo de reação e depois ir para a cozinha terminar de aprontar o jantar sem me encher a paciência. Portanto não venha você me dizer que se a gente fizer sempre a mesma coisa vai obter sempre o mesmo resultado, porque eu acabei de te provar que isso não é verdade”.
Bom, parabéns para o asno que conseguir pensar desse jeito, ele merece certamente uma medalha porque para ser estúpido assim é preciso se esforçar bastante, não é verdade?
Não.
Não é difícil encontrar quem esteja mergulhado nesse tipo de rotina sem se dar conta. A gente não pode olhar para este exemplo, para a vida do amigo, e julgar o que está acontecendo com ele como se fosse algo que nunca vai acontecer conosco, porque olhar para o outro e críticar é mole, mas olhar para a nossa própria vida e ver o que estamos fazendo de errado não é tão fácil assim. Não existe vacina contra estupidez, todos estamos sujeitos a ela.
Você nunca se pegou repetindo a mesma maneira prejudicial e doentia de lidar com alguma pessoa ao seu redor? Mesmo que se trate de uma pessoa que você ama? Adicione a isso o nosso medo da mudança e você tem a receita da miséria.
Então, se nós quiséssemos destrinchar a frase lá do início do texto para entender seu significado profundo teríamos algo do tipo: ” Se você ficar sempre repetindo as mesmas ações negativas, as coisas vão entrar num processo de mudança continua, mas sempre para pior. O que não adianta é fazer sempre a mesma coisa ruim e querer que as coisas ao seu redor comecem a melhorar”. O que tem que acontecer é que você tem que abraçar a mudança e começar a substituir as ações negativas por ações positivas e construtivas e então coisas boas poderão acontecer na sua vida.

Sobre o amor, o sofrimento e a esponja do mar. 

Ontem eu estava em um bar, na Lapa, discutindo relacionamentos amorosos.
Aí um amigo me perguntou como eu achava que deveriam ser os relacionamentos. Sofrer de amor é normal e necessário? Ou daria para viver sem sofrer de amor?
Eu disse: “Bom, acho que a utopia seria o amor livre universal. Muito amor, zero sofrimento”. Passamos as próximas quatro horas falando sobre isso.
Eu, partidária da idéia de que numa sociedade utópica isso seria possível. Ele afirmando que sofrer (por ciúmes e pelo término do relacionamento com a pessoa amada) é o indício do quanto a pessoa significa para nós. Indício do fato de que elas são insubstituíveis. Eu afirmando que, na minha utopia, mesmo se um relacionamento acabasse, você estaria enredado numa rede de amor tão grande e intensa, que não haveria sofrimento. O único sentimento possível seria felicidade. Você ficaria feliz por aquela pessoa que se afastou de você ter ido dar e receber amor de outras pessoas.
Ele achou esse mundo que eu descrevi frio, individualista, cheio de pessoas descartáveis.
Eu ficava pasma.
Como frio? No nosso mundo a gente sofre pela perda do amor de uma pessoa porque o amor é escasso. A gente vive uma intensa fome de amor. Cada pessoa que a gente perde atualmente significa uma ameaça de solidão e de solteirisse, de relacionamentos vazios para o resto da vida.
Num mundo com muito, muito, muito mais amor, as pessoas que se vão, teriam para sempre um lugar especial em nosso coração, claro, mas não sofreríamos justamente por saber que ela estava apenas indo ser feliz amando outras pessoas. Não seria uma perda, um término. O amor não seria um período de relacionamento marcado pelo tempo que ele dura. O amor entre todas as pessoas seria eterno e profundo.
A resistência dele em relação à minha utopia (ou seja, não é algo para se colocar em prática amanhã, nem daqui a vinte anos sequer, é meramente um sonho, um olhar sobre um futuro alternativo distante) me fez lembrar de um exercício de imaginação que eu fiz há umas semanas.
Nesse exercício eu era instruída a pensar no meu salário dos sonhos, o dinheiro que eu gostaria de ter na minha conta todo fim de mês. Depois que eu idealizava a quantia, a pessoa que estava orientando a visualização dizia: “Agora que você já pensou no seu salário ideal, pense em um número mais alto do que esse que você imaginou”. Eu pensei comigo mesma: “Não! Mais alto ainda?! Gente, eu não consigo nem imaginar isso”. Precisei me esforcçar muito para seguir a orientação. E ainda assim, não dava nem para ficar milionária com os números que eu imaginei.
Depois, pensando no exercício, eu fiquei boba. Era uma exercício de imaginação! Eu poderia me imaginado ganhando dois bilhões de euros por semana. Mas eu estou tão presa à minha realidade, que mesmo na imaginação, é difícil me libertar.
Me pareceu que meu amigo estava sofrendo do mesmo sintoma.
A gente fica tão preso ao fato de que sofremos e muito ao longo de nossa vida amorosa, que fazemos essa extrapolação, e pensamos que é absolutamente necessário sofrer quando se ama uma pessoa. Não conseguimos conceber o amor sem sofrimento.
Isso é muito triste.
Eu prefiro dar asas à imaginação e pensar no melhor cenário possível. Tornarei esse um exercício constante em minha vida.
No fim das contas, minha mãe já me alertava para isso desde que eu era pequena.
Ela me contava a história da esponja e da estrela do mar, que era mais ou menos assim:
A esponja, que morava lá no fundo do mar, via a estrela do mar e pensava como deveria ser boa a vida da estrela do mar. Certo dia, Deus se voltou para a esponja do mar e disse: “Esponja, hoje é o seu dia. Você pode escolher qualquer ser no universo inteiro no qual você queria se transformar, que eu vou realizar seu desejo. Você pode escolher ser uma planta rara no deserto, um pássaro e voar livre junto com os quatro ventos do mundo ou ainda ser qualquer um dos astros do céu…” A esponja interrompeu o Senhor e falou: “Ok, ok, Deus. Eu já sei o que eu quero! Eu quero ser aquela estrada do mar ali”! E Deus transformou a esponja na estrela do mar.
Essa história mostra justamente como nossos desejos e sonhos são limitadas pelo que está bem diante do nosso nariz.
Esse não é aquele papo de que é só mentalizar que a coisa vai cair no seu colo. Eu nem estou falando realizações ou metas. Estou meramente falando de libertar a imaginação para pensar em coisas melhores e mais positivas. Só isso já causa um impacto maravilhoso em nossa vida.

Pense direito. 

A maneira que nós pensamos influência a maneira como nos sentimos.
Albert Ellis, pai da Terapia Racional Emotiva nos fala da MUSTurbation (conceito em inglês difícil de ser traduzido, mas que significa algo como a “ditadura dos deveria”):
1- Eu devo me sair bem sempre ou eu não sou bom.
2- Você deve me tratar da maneira que eu quero, se não, você merece queimar no inferno.
3- O mundo deve me dar o que eu quero, quando eu quero, ou ele é um lugar terrível.
São esses pensamentos que alimentam nossa frustração quando as coisas não saem da maneira que nós demandados.
Por isso, o autor diz que temos que “pensar direito” e entender que não é o mundo que nos faz mal, mas sim a nossa maneira de encarar e de lidar com o mundo.
Se formos mais racionais ao pensar em nossas demandas, certamente aprenderemos a sofrer menos quando as coisas não saírem da maneira que desejamos. Isso nos dará inclusive forças para seguirmos em frente, para seguirmos buscando aquilo que desejamos.
Se você está em um relacionamento com alguém que trata você mal, e você pensa que esta pessoa é obrigada a te tratar bem, você insiste em um relacionamento fracassado com alguém que não vai mudar. Se você entende que a pessoa com quem você está não “tem que” coisa nenhuma, você termina o relacionamento e sai buscando o que você deseja.

Cultivando relacionamentos.

Eu já falei para algumas pessoas que elas precisam ampliar e fortalecer seus laços sociais.

Não sou estranha a essas necessidades.

Eu já passei por forte necessidade de fazer novos amigos e cuidar dos laços já existentes.

Algumas pessoas são bastante sociáveis e, facilmente, vivem rodeadas de amigxs. Para outras, certo esforço é necessário para não acabar ficando mais tempo sozinha do que é saudável ficar.

Todo dia é dia de cuidar de relacionamentos; com xs amigxs, com companheirx, com a família, consigo mesmo.

Hoje foi dia de fazer coisas agradáveis com a minha mãe.

Temos a visão fortemente arraigada no senso comum de que os laços de afeto com a família são dados de realidade que não podem ser alterados; mas os laços familiares, assim como os laços de amizade, conjugais ou mesmo o nosso relacionamento com a gente mesmo, todos esses relacionamentos requerem cuidados.

Eu só consegui perceber isso depois que me mudei da casa de minha mãe.

Desde que passei a morar fora de casa, percebi que meu relacionamento com minha mãe precisava ser cultivado. Que os anos de rotina e convivência haviam feito se acumularem muitos momentos de brigas, cuja lembrança ofuscava momentos de atividades prazerosas em conjunto. Portanto, comecei a buscar mais momentos deste último tipo. Hoje passamos o dia replantando e cuidando das plantas do meu jardim (que está maravilhoso por sinal).

Esse tipo de cuidado deve ser dispensado a todos os relacionamentos que são importantes para nós e, por algum mistério (algum funcionamento equivocado da nossa psique), nós tendemos a não dar tanta atenção aos amigxs já conquistados, nossx companheirx, aos familiares que amamos. Deixamos mesmo de cultivar um bom relacionamento com a nossa mente e o nosso corpo. Deixamos de investir nos bons momentos que acabam ofuscados pelos desagrados.

Com companheirx nós só brigamos e já não partilhamos mais nada em comum além do tempo que passamos trancafiados juntos dentro de casa; procuramos xs amigxs quando precisamos desabafar e não nos preocupamos em saber da vida dx amigxs com interesse e profundidade; procuramos os familiares nas datas comemorativas ou quando precisamos de alguma coisa; desgostamos de nossos corpos e não investimos no autoconhecimento e nas atividades que recarregam nossas energias e nos dão prazer.

Com o tempo, essa dinâmica desgasta os relacionamentos.

Não é necessária uma DR para saber o que fazer para cultivar o relacionamento (embora eu não tenha nada contra discutir a relação de vez em quando), basta que você chame a pessoa para um café, para jogar conversa fora, ou que você a chame para fazer alguma atividade pela qual compartilhem interesse mútuo (ou, por que não, conhecer alguma atividade nova a qual a outra pessoa pode te apresentar? Pode ser que você goste. Eu, por exemplo, nunca tinha experimentado qualquer outra atividade artística além da escrita e da dança. Mas acabei me interessando pela pintura, recorte e colagem e muitas outras coisas por conta de algumas amigas que tinham esses interesses).

Se você estiver sem dinheiro, chame a pessoa para dar um pulo na sua casa ou se convide (isso, se convide mesmo) para ir na casa dela. Uma expressão sincera da vontade de estar junto, geralmente, é muito bem recebida.  

 

O que fazemos para não sofrer (e o que, de fato, deveríamos fazer).

O caminho do autoconhecimento é, em certa medida, uma passagem do egocentrismo para a aceitação do outro e do altruísmo.
No amor isso acontece quando abrimos mão da pessoa idealizada que sempre desejamos e nos empenhamos em construir uma boa convivência com a pessoa real que nós amamos.
Nós, mulheres, que crescemos com a imagem do príncipe encantado, evoluímos quando aceitamos o companheiro real por quem acabamos nos apaixonando. Isso não quer dizer que temos que aceitar que sejamos maltratadas ou violentadas por nossos companheiros, de maneira nenhuma.
Mas isso significa sim que vamos entendendo que amar alguém e viver feliz com essa pessoa é bastante diferente da fantasia que tínhamos quando crianças.
Quando resistimos a essa mudança do egocentrismo para a aceitação e compreensão do outro, achamos triste ter que abrir mão das nossas expectativas. Achamos que abrindo mão delas, estamos abrindo mão de algo realmente importante.
Na verdade, abrir mão da expectativa e lidar com as pessoas reais que estão ao nosso redor é a coisa mais saudável e sábia que podemos fazer. Quando abrimos mão das nossas expectativas em relação a pessoa amada, podemos começar a realmente conhecer essa outra pessoa. E é aí que se encontra qualquer possibilidade de mudança e evolução real no relacionamento.
Muitas vezes quando falamos em mudança, queremos apenas que o outro mude, enxergamos apenas a mudança pela qual o outro precisa passar, mas não há comunicação real entre as partes (novamente, não estou falando de casos que envolvem violência doméstica, nesses casos a violência deve acabar antes de qualquer outra discussão, pois a violência impede o diálogo e a compreensão entre os parceiros).
Quando abandonamos a expectativa e deixamos de estar centrados unicamente no nosso próprio ego, o outro consegue penetrar na nossa carne e nos fazer perceber nossas ações através de seus olhos. E nós, por outro lado, conseguimos ter empatia, uma compreensão muito mais profunda do outro. Ao contrário de nos descaracterizarmos nesse movimento, nos tornamos mais ainda o que verdadeiramente somos. Muitas vezes, inclusive, não enxergamos nossos próprios defeitos por estarmos sempre preocupados em apontar defeitos e falhas no outro. A visão que o outro tem de nós expande nossos horizontes.
Claro que nem sempre o outro está correto a nosso respeito, mas temos que saber ouvir e refletir sobre o que o outro pensa de nós, procurar enxergar nosso comportamento do jeito que o outro enxerga, para que possamos evoluir cada vez mais.
E se percebemos que o outro não está na mesma sintonia, provavelmente o relacionamento não terá uma vida muito longa, pois logo a discrepância entre os parceiros estará muito evidente. Uma pessoa estando muito mais evoluído em sua jornada existencial do que a outra. Quando essa discrepância existe, o relacionamento começa a nos fazer mal.
Quando somos egocêntricos, abrir mão de certos desejos é um sofrimento tremendo. Quando somos egocêntricos e o outro não faz o que queremos, nós esperneamos e gritamos até conseguir o queremos. Quando abandonamos esse lugar do egocentrismo, somos capazes de aceitar que o outro também tem desejos e limitações. Que as coisas não são sempre do jeito que nós queremos que elas sejam e nós não nos sentimos frustrados por isso. Se também, por outro lado, formos frustrados em nossos desejos e expectativas (porque ninguém é de ferro) saberemos lidar melhor com esse sentimento de frustração, entendendo que não se trata do fim do mundo. Procuraremos compreender o que levou o outro a agir (ou não agir) da maneira que esperávamos, saberemos se estávamos pedindo demais do outro naquele momento e, a parir daí, vamos tentar encontrar um terreno em comum que seja viável para os dois.
As pessoas que ainda estão agarradas ao seu ego e às suas expectativas acham triste ter que abandoná-las. Para algumas pessoas isso representa um sofrimento terrível. Elas perseguem alguém que seja o eco de seus desejos e idealizações achando que não encontrar essa pessoa significa não encontrar o amor verdadeiro. Essas pessoas estarão sempre infelizes em seus relacionamentos.
Só que não é triste abandonar idealizações e o apego absurdo ao próprio eu. Pelo contrário. É lindo e libertador e nos gera muito menos sofrimento.
Não crie novas idealizações, contudo. Isso não significa que você nunca mais vai sofrer. Os sentimentos negativos são parte essencial da vida. Mas você certamente vai sofrer menos e vai ser muito mais feliz. Vai ter relações amorosas mais profundas e significativas e vai ter um grande crescimento pessoal.
Temos que lutar, então, para nos livrarmos do mecanismo de defesa contra o sofrimento que muitas pessoas colocam em prática: fortalecer o egocentrismo e as expectativas, buscando um “amor verdadeiro” que seja o eco das próprias necessidades.
Muitas pessoas acreditam que têm que encontrar esse ser mágico para não sofrer nos relacionamentos amorosos. E elas não percebem que é justamente essa busca que as fazem sofrer muito mais do que sofreriam se abandonassem esse procedimento. Nesse sentido, é uma loucura o que fazemos para não sofrer, pois isso acaba nos fazendo sofrer mais.
Então, o que fazemos para sofrer menos? Abrimos mão das nossas convicções imaturas de que temos que achar um príncipe encantado em um cavalo branco que lê a nossa mente e não tem vontade própria, dando espaço para pessoas reais e relacionamentos reais, que são imensamente ricos e felizes mesmo com todos os seus defeitos.
(Eu escrevi o texto da perspectiva feminina, mas exatamente a mesma coisa vale para os homens. Eles também são muitas vezes egocêntricos e cheios de expectativas e idealizações a respeito das mulheres com quem se relacionam).

E, como o ser humano é muito complexo e não existe uma receita de bolo para todo mundo, temos que ressaltar que por outro lado, existem aquelas pessoas que aceitam qualquer coisa. 

Esse texto focou naquelas pessoas para as quais a balança pende para o egocentrismo e a idealização do outro. Mas existem aquelas pessoas para as quais a balança pende para o desprendimento de si mesmo e para a subjugação à vontade do outro. 

O caminho do meio é sempre o melhor.

Ser completamente desapegado também pode gerar muito sofrimento. O ponto é sempre encontrar um equilíbrio entre os companheiros.