Poesia não tem que ser “chique”.

Eu tenho achado muito interessante e estimulante esse Projeto Dados Poéticos. Eles são tão gostosinhos e divertidos de escrever 🙂
Quando eu comecei a escrever mais seriamente as pessoas começaram a perguntar: prosa ou poesia? E eu sempre falava prontamente: prosa!
Era coisa de maluco para mim pensar em escrever poesia. Métrica e palavras rebuscadas. Para ser sincera, eu também não sou fã incondicional da coisa. Eu preciso de sentido, de textos com sentido. Então eu tendo a gostar daquelas poesias que contam histórias, não das que amontoam palavras bonitas em rimas ricas. Qual não foi a minha surpresa quando eu comecei a perceber que tudo bem ser assim. Que ninguém pode me obrigar a gostar de algo só porque esse algo “deveria” ser apreciado, como poesia “chique”, literatura “chique”, música “chique” etc.
Uma forma pobre de poesia? Não sei. O que eu sei é que tudo que nos faz feliz que é digno, vale a pena! Corra atrás do que você ama e que te faz feliz. Não se importe com o que os outros vão pensar!

Que invisibilidade é essa? 

No banheiro do shopping vazio, de noite, perto da hora de fechar, uma mulher cumprimenta a faxineira:
– Opa! Nem tinha visto você aí. Estava escondidinha.
– A gente fica invisível mesmo.
A mulher que cumprimentou já entrou no banheiro, mas a moça lá fora continua falando:
– Eu até gosto de ser invisível.

Eu também gosto de ser invisível para as outras pessoas em diversas ocasiões. Mas por algum motivo aquela cena me partiu o coração.
Não sei se você pode chamar isso de preconceito da minha parte. Porque eu ouvi como algo triste a moça negra da faxina do shopping da Barra dizer que preferia ser invisível. E, para completar, eu fiquei sem saber o que fazer. Se saía do box onde eu estava e ia lá puxar assunto com ela, arrancá-la de seu esconderijo escancarado, ou se ficava calada e ia embora. Qual era o verdadeiro desejo daquela mulher? Ser notada e tratada direito por aquele povo? Ou simplesmente trabalhar em paz sem ter que ficar dando um bom dia, boa tarde, boa noite sorridente para todo mundo o tempo todo?

Eu não cheguei a decidir. Quando eu saí, ela já não estava mais lá. Me pergunto se ela finalmente tinha ido ser visível em sua vizinhança ou se tinha verdadeiramente se mesclado com as paredes.

Converse com a sua mãe. 

Você já parou para perguntar para sua mãe sobre o passado dela? O que você sabe da história de vida dela?
Hoje eu saí para jantar com a minha mãe e fiquei perguntando um monte de coisas para ela. Como era na época tal? E quando você morava não sei aonde? E o que aconteceu depois disso? O que você pensava naquela época?
E ela me perguntou: “Por que essa curiosidade agora”? A gente conversa pouco sobre o passado de nossos familiares. Às vezes a gente sabe mais da vida dos outros do que da vida das pessoas que estão mais próximas de nós. Essa curiosidade não é a curiosidade da fofoca, é a curiosidade do interesse pela outra pessoa. Isso demonstra carinho e atenção.
Invista tempo numa conversa dessas e procure saber a história fantástica de vida das pessoas mais próximas de você. Começando pela sua mãe.

Balão preso na pedra. 

Minha cabeça está como um balão, voando lá em cima, leve e balançando com o vento. presa no pescoço por um cordão bem fininho.
Meu corpo, pesado, se arrasta pelo chão, de casa para o trabalho, do trabalho para casa.
Meu corpo afunda na cama, minha cabeça viaja no tempo. Meu corpo dói, minha cabeça brilha, macia e flexível, enquanto meu corpo rígido quebra sob a pressão.
Minha cabeça pensa e pensa, mas meu corpo parece que se recusa a agir. Minha mente me diz as palavras certas, mas minha boca não se move. A cabeça sabe, aponta para onde ir, mas as pernas e os braços estão imobilizados.
As pessoas vêem o meu corpo, mas a minha mente tem mais cores, mais formas e mais vida do que eu estou conseuindo colocar para fora neste momento. Meu corpo tem censura, é depositário de expectativas frustradas e está cheio de cansaço acumulado. Mas a minha mente é livre e totalmente dona de si. Então, não pare na porta. Se você quiser verdadeiramente me conhecer vai ter que entrar aqui dentro e fazer o grand tour junto comigo pelos cantos dos meus mistérios e das minhas alegrias. Eu sei que é assim que eu gosto de conhecer as outras pessoas.