Esse trapo velho esconde a minha alma. 

Meu corpo olhado por mil ângulos.
Esta blusa de pano fino custou dez reais. Se eu saísse sem ela pela rua seria um escândalo, eu seria presa. Jogo ela por cima do corpo e está tudo bem.
Minha alma dizem que não tem preço, eu saio com ela nua e em pedaços pelo rua, mas parece que está tudo bem.
Queria sair com o corpo quebrado e nua e a alma inteira para ver se chamam a ambulância para cuidar de mim. Eu pegaria na mão da médica e da enfermeira e fecharia os olhos com o soro na veia. Vai ficar tudo bem.
Quero trocar este pano velho pela minha felicidade. Sair com a sensação de ser livre.
Todos esses fios finos entrelaçados formaram um nó que eu não consigo desfazer. Não é possível achar uma ponta solta sequer. Correndo pela corrente sanguínea, correndo o risco de entupir uma veia e me causar um enfarto ou um derrame.
Se eu morresse depois de amanhã teria vivido metade dos meus sonhos.
Já está bom… Não é?

Pinte sua dor de azul. 

O que é a raiva e o que são frases bonitas se não coisas que colorem a vida neste meio tempo em que estamos aqui.
Dizer que a vida é uma merda, não é a mesma coisa que dizer que viver é ruim. Em outras palavras: a vida é uma merda, viver é uma maravilha.
Olhe em volta. Há muita injustiça, fome, guerra, violência, preconceito, ódio. A gente vai morrer, certamente, e, ainda assim, ninguém fala sobre a morte e consideram-se anormais, patológicas e doentias a ansiedade e a tristeza profundas, quando não há nada de mais humano que sofrer pelas nossas misérias. Ainda assim, não vale a pena passar a vida se lamentando. Temos que aproveitar com todas as forças. Alegria ou tristeza, isso é o que colore a vida. Então, pinte sua dor de azul para que ela fique bonita e sorria sempre que não estiver chorando.

Uma alma atrás da outra.

Uma estrela com coração partido
Passeando pelo céu
Desnorteada
Com olhos suplicantes em seu encalço
Estamos reduzidos e esses choros estranhos
Causados por coisas que não nos emocionam
E aquilo que verdadeiramente comove
Nem cócegas faz na nossa alma
Ainda assim há um brilho nos olhos de todos aqueles que olham para a televisão ligada
Que inflama amargas palavras de orações bolsonarianas
Atos de um amor fraco e uma crença forte na desesperança

Uma estrela com o coração partido não tem olhos para se guiar
Ela vaga no céu desnorteada
Mas arrasta todos que cruzaram suas almas com a dos outros
Que suplicamo pedidos bobos com os quais ninguém se importa
E não é a primeira vez que isso acontece. Eu sei que não vai ser a última, embora estejamos todos dispostos a morrer lutando para que seja.

Poesia de Facebook. 

Meia noite eu começo a escrever o texto.
Primeiro dia depois de um ano que eu virei meia noite sem escrever. Eu ainda não dormi, portanto, para mim, não acabou o dia, mas eu virei as 24h sem escrever, sem publicar.
O mundo não caiu. Nada de catastrófico aconteceu.
Preciso de um tempo para digerir esse meu novo processo. Entender qual é o próximo passo na escrita.
Por isso hoje vou publicar uma bobagem leve para relaxar!

Quero compartilhar o que eu considerei uma ótimo poesia que veio de uma brincadeira do Facebook. Você digita “Eu sou” e depois deixa a sugestão do seu celular terminar a frase para você. O meu ficou assim:

“Eu sou o único e exclusivo propósito
de que o ser humano é um bicho muito sociável
mesmo que você esteja no zap
com alguma pessoa querida amiga”.

Melhorar dói, não melhorar dói mais. 

Esses insights todos são como pequenos infartos no meu coração.
O que fazer com o conhecimento dessas minhas falhas?
Mas eu não paro de ver coisas que eu posso melhorar.
Às vezes me revolto.
Mas saber nossos pontos fracos é motivo de tristeza ou de alegria?
As tristezas pelas falhas me dilaceram com o peso da distância que ainda tem de ser percorrida.
As alegrias são pelo próprio conhecimento que eu tenho das falhas e a oportunidade de melhorar.
Imagina, minha nossa Senhora, se eu passo essa vida sem saber como ser uma pessoa melhor?! Se eu passo a vida convencida de que o problema são os outros e não eu? Que eu sou a infeliz vítima das feridas impostas? A donzela roubada pela bruxa má que só sabe fazer esperar o príncipe? Eu prefiro arregaçar as mangas e, se eu morresse no cativeiro (já pensou esse cinto de fadas?), não ia ser por falta de tentativa de escapar. Se eu fosse essa pessoa eu seria triste de qualquer jeito, pois essa maneira de ver as coisas dói. Quem coloca seus problemas apenas na conta dos outros e se sente impotente para resolvê-los, sofre. Quem acha que o mundo a persegue e é isso aí mesmo, sofre. A princesa indefesa, sofre.
Eu opto por sempre querer conhecer mais minhas limitações e assumir cada vez mais responsabilidade pelos meus sentimentos e pensamentos, sejam eles bons ou ruins.
Perfeição? Não. Esse não é meu objetivo. Isso nem sequer existe. Mas melhor do que eu era ontem? Aí sim. É isso que eu quero da vida. Ser melhor, mais feliz, mais competente, mais amiga, mais amorosa, mais boa filha.

Se hoje fosse meu último dia.

Se hoje fosse meu último dia,
Eu não faria nada extravagante.
Você a essa altura sabe tudo que eu iria querer para as horas derradeiras.
Se esse fosse meu último dia,
Eu ficaria amorosanente enrolada com você no sofá. E falaria até estrelas saírem da garganta das maravilhas que diríamos. E abraçaram forte até virar pó e quem sabe viraríamos um diamante com a pressão do aperto.
Ainda bem, meu amor, que esse não é nosso último dia e que temos uma vida inteira pela frente para vivermos todos esses magníficos momentos. Não percamos mais sequer nem um segundo de amor.

Novos hábitos vivem por um fio. 

Vai ser difícil passar um dia agora sem escrever sem ter a sensação de que estou fazendo alguma coisa errada ou deixando de fazer algo muito importante.
E a vida é cruel nesse sentido. Tem estudos que mostram que levamos, pelo menos, noventa dias para adquirir um novo hábito. Mas podemos perdê-lo em alguns poucos dias se ele não for exercitado sempre.
Então, manter a vida que desejamos tem que ser um objetivo constante. Não adianta apenas chegar onde queremos, temos que continuar trabalhando para nos mantermos nesse lugar.
Portanto, é diferente, por exemplo, de querer comprar uma casa. Nesse caso a gente trabalha, junta dinheiro, sofre um pouco na mão dos corretores, encontra aquele lugar especial que procuramos e compramos o imóvel. Aí está tudo resolvido. Com a maneira como organizamos nossa vida, temos que estar sempre em movimento no caminho do autoconhecimento e do crescimento pessoal. Não importa o que você considera como uma vida que valhe a ser vivida, ela está sempre em construção, só acaba na morte e, se você para de trabalhar nela, ela se deteriora. Mas não se assute. Esse não é um discurso derrotista, mas é sim um ultimato para que você se comprometa com o que quer.

Quando o superego cochila…

Estava eu conversando com minha mãe no ponto de ônibus. Papo vai, papo vem; quinze minutos e nada do bexiguento.
Quando ele apareceu, parou perto de onde eu e um senhor fizemos sinal.
Nesse momento aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo.
Por educação, eu fiz um gesto para que o senhor subisse na minha frente e rapidamente voltei a atenção para minha mãe de novo, pois ela estava a meio caminho de terminar uma última frase que encerraria nossa conversa. Mas, nesse meio tempo, o senhor resolveu não subir na minha frente, e foi gentil o suficiente para querer que eu fosse primeiro. Mas minha mãe (meio prolixa, é verdade) ainda não tinha terminado a frase. Eu rapidamente devo ter pensado algo do tipo: “Senhor educado, mas seria realmente bom que ele subisse primeiro para eu poder me despedir melhor”. Por isso eu permaneci parada e insisti: ” pode subir o senhor”! Só que o motorista começou a andar com o ônibus antes que qualquer um de nós dois movesse um músculo! Narrando assim para vocês, pode parecer que passou muito tempo, mas foi coisa de cinco segundos apenas. O motorista deu, sei lá, duas pequenas aceleradas como quem ia arrancar. Foi quando eu levantei o rosto para ele e comecei: “Que isso?! Tá maluco! Tchau, mãe! (E subi no ônibus). O senhor tá doido acelerando desse jeito! Não tá vendo que tme gente para subir”?! O motorista falou com uma voz xôxa: “Tá enrolando aí”… E eu raivosamente continuei: “Enrolando não! O nome disso se chama educação! Que o senhor não tem! Eu, hein! Nunca vi isso! Tá maluco! Ah! Tô trabalhando também desde oito da manhã! Eu, hein”!
Depois disso eu fui sentar sorrindo.
O sorriso era se alegria por ter conseguido expressar descontentamento assim de forma tão espontânea. Isso não é comum na minha vida. Avalio que não fui particularmente agressiva ou grosseria, mas deixei claro meu descontentamento. O motorista também não se exaltou. Pensando com calma sobre a situação, repassando a cena na minha cabeça, eu inclusive pensei mais na resposta e no tom de voz do condutor quando disse que estávamos enrolando para subir. Ele pareceu mais um adolescente contrariado do que um homem irado. Trabalhar é estressante, convenhamos. Como motorista de ônibus no Rio de Janeiro, isso deve acrescentar um quê de desespero ao estresse comum do trabalhador. Cinco segundos de atraso já deveria estar parecendo uma eternidade para ele. A conclusão é que eu fico feliz de ter me colocado, apesar de tudo eu sou gente também e tenho meus sentimentos. Mas eu não fiquei com raiva ou mágoa, pois eu consigo me imaginar naquela situação que o sujeito estava fazendo a mesma coisa num dia mais estressante da minha vida. Eu consigo compreender de onde parte essa atitude. Eu não sei se essa minha interpretação é verdadeira, mas não importa, foi a atitude de empatia que eu procurei exercitar naquele momento.
Por todas essas questões, na hora de descer, eu agradeci ao motorista e fui embora feliz da vida.
No entanto, algo ainda me intriga: o fato de eu ter me expressado assim de forma tão enfática e ainda por cima totalmente espontânea. Normalmente, quando era para eu ter uma reação desse tipo, eu me reprimo intensamente. Era para ter como? Quando eu sinto vontade de gritar e brigar com a outra pessoa, eu sinto as palavras virem na garganta, mas as engulo a seco e depois fico me dando chibatadas por não ter me defendido contra a ofensa. Na maioria das vezes, é isso que acontece. Mas, em um momento ou outro, subitamente, de dentro de mim jorra um tsunami, eu explodo numa erupção de Pompeia e eu bufo tufões. Como isso acontece eu não sei explicar. Eu estou me sentindo mais confiante naquele dia? Ou já estou tão de saco cheio, transbordando, aí vômito tudo? Não me aprece que eu estava nenhuma dessas coisas. O que eu sei é que, naquele dia, eu estava feliz, simplesmente. Será que é a própria felicidade que nos liberta de certas amarras? Vou atentar para episódios futuros desse tipo para ter mais informações…