Em 21 horas, a foto dos pés da Beyoncé recebeu 900 mil curtidas no Instagram.

Eu não sei se este deveria ser um texto de recomendação do creme que a Beyoncé usa nos pés… Não sei se deveria ser um texto sobre o fato de que o corretor automático do meu celular conhece a palavra “Beyoncé” mesmo que eu só tenha digitado pouquíssimas vezes, se deveria ser sobre o fenômeno da fama ou sobre as características divinas da diva.
Só sei que o número de curtidas que a foto dos pés dela receberam me embasbacaram.
Há poucas semanas comecei a seguir a Beyoncé no Instagram. Gosto dos hits dela (fala sério, são maravilhosos) fora isso não sei muito da história de vida ou da carreira dela, nem nunca tive uma conversa profunda com ela sobre os principais dilemas filosóficos que assolam a humanidade. Mas, quando eu vi a foto dos pés, curti.
Admirei-me logo em seguida.
O fato é: às vezes eu não curto coisas de pessoa eu conheço pessoalmente, com quem eu já tomei café na padaria; isso por pura preguiça ou falta de tempo ou tédio. Mas os pés da Beyoncé…. Aí eu curto no automático.
Então, acho que nem se trata de admirá-la ou não, gostar dela ou não (se eu tivesse que me manifestar nesse sentido, eu até diria que gosto bastante dela, mulher e poderosa o que tem para não gostar?). Esse não é o ponto. O ponto é que eu acho que eu curti por conta da quantidade de curtidas que já haviam sido dadas. Fui tomada pelo comportamento de manada. Vontade de unir a minha curtida à dos outros milhares de fãs que curtiram a foto (que serão milhões provavelmente em mais algumas horas).
Depois que me dei conta da situação, eu voltei e curti todas as fotos de conhecidos. Não sei se vou fazer isso para sempre, curtir tudo que meus amigos postam, mas eu certamente vou ser mais criteriosa na hora de curtir as fotos das celebridades.
Se eu tivesse achado o sapato bonito pelo menos… Claro que a pele dela estava maravilhosa… Mas justifica? Se fosse uma foto criativa dos pés. Mas a foto não tinha nenhuma característica excepcional (além de estar de lado, parecia torta apenas).
A foto não era representativa dos dons artísticos da Beyoncé. A foto era a prova de que ela não precisa se esforçar muito mais para ficar no topo e, aparentemente, ela teria que fazer uma merda muito grande para sair desse lugar.
No caso da Beyoncé, eu nem fico com raiva, pois, como eu disse, acho ela foda. Mas isso me abriu os olhos para o fato de que isso é bastante comum. Um artista se consagra e depois não precisa fazer muito mais para se manter no topo (eu só ouvi uma música do Ed Sheeran até hoje, por exemplo, e o cara está bombando).
O que é, então, que faz um artista atualmente? O que é ser um artista? Gravar um hit? Ter dinheiro para pagar alguém para escrever um hit para você gravar? Ter dinheiro para pagar alguém para escrever um hit para você e alguém para te ajudar no playback e ficar lá no palco sendo bonita? Escrever uma grande obra? Ter muitos seguidores? Muitas curtidas? Muitos likes orgânicos? Continuar produzindo e expulsando o que está dentro de você a qualquer custo mesmo que seja para um público fictício?
Eu não preciso verdadeiramente de uma resposta nesse momento. Mas é estranho ter que fazer essas perguntas.

Professora!

Hoje eu me senti realizada gravando esse vídeo :

Isso mesmo, gravei um vídeo. Ok. A novidade maior é a de que eu vou ser professora. O vídeo foi apenas um plus

(Mas, vocês sabiam que antes de pensar em ter um blog, eu queria ser youtuber! Pois é! Sem dúvida, eu sou escritora, mas o Blog costuma ser tão mal falado pelo “escritores de verdade”, que eu não tinha pensado em fazer um. Tinha medo de me queimar. E quando os youtubers começaram a fazer sucesso, me deu uma vontade imensa de gravar vídeos. Eu ia amar. Acho ótimo ficar falando besteira na internet. Ma isso é assunto para outro texto. O importante é que esse vídeo que eu gravei hoje mexeu comigo e foi muito gratificante).

No ano passado, eu iniciei uma pós-graduação em TCC (Terapia Cognitivo-Comportamenal), que estou em vias de finalizar.
Para minha grande surpresa – e felicidade – surgiu a oportunidade de dar aula na instituição Cpaf/Psi+, que eu recebi de braços abertos.
Comecei a participar, então, do programa de formação de professores da instituição.
Minha primeira aula será no sábado que vem, dia 16/12/2017, na formação em TCC.
Mesmo que esse treinamento já esteja rolando há um tempo, só hoje, com este vídeo (que vai ser publicado na rede social da instituição) e a proximidade da primeira aula, as coisas estão parecendo mais concretas para mim.
Estou muito feliz e esperançosa em relação ao futuro (e com muitas idéias fervilhando na cabeça)!
Já está na hora de elaborar minhas metas e meu planejamento para 2018! 

Agora sim eu estou sentindo que coisas novas e boas se aproximam!

Orgasmo emocional.

Você já ouviu falar no Relatório Hite? Isso mesmo: Hite.

Pode ser que você ache que eu estou um pouco confusa e quero, na verdade, me referir ao Relatório Kinsey, mas não. É do Relatório Hite mesmo que eu quero falar.

O Relatório Kinsey foi, sem dúvida, muito famoso (você pode assistir ao filme Kinsey – Vamos Falar de Sexo para se divertir e saber mais sobre a vida e o trabalho do autor). Mas, depois dele, veio um trabalho eu acho ainda mais interessante; me refiro à pesquisa de Shere Hite, também realizada nos Estados Unidos. A autora entrevistou mais de três mil mulheres ao longo da década de 1970, a partir da aplicação de questionários abertos (nos quais é feita uma pergunta a qual a mulher responde livremente com suas próprias palavras), que investigavam os principais temas da sexualidade feminina: masturbação, orgasmo, penetração, lesbianismo etc.

Este foi o primeiro grande estudo da sexualidade feminina, feito por uma mulher, que deu voz a milhares de mulheres, permitindo que elas falassem abertamente sobre suas experiências sexuais.

Um dos achados mais interessantes da pesquisa foi denominado por Hite de ORGASMO EMOCIONAL.

A descoberta do orgasmo emocional lançou luz sobre uma ampla gama de sentimento e sensações físicas sentidas pelas mulheres durante o ato da penetração sexual que geravam muita confusão para elas. São sentimentos e sensações prazerosas, mas que são, de algum modo, diferentes daquelas que as mulheres sentem com a estimulação do clitóris.

Frequentemente, durante a relação sexual, a mulher sente um ápice físico e emocional prazeroso, mas que é, de alguma forma, diferente do orgasmo que ela tem quando se masturba ou mesmo no sexo oral com o parceiro. Sabe quando você termina de transar e o boy pergunta: “E aí, gozou?”, e você fica na dúvida? Pois é. Teve alguma coisa ali que você sentiu… mas que você não tem certeza de ter sido um orgasmo? As mulheres muitas vezes interpretam essas sensações como orgasmos mais fracos e difusos.

O orgasmo emocional põe fim a esta dúvida. Quando você fica na dúvida, você teve um orgasmo emocional, mas não um orgasmo biológico.

É possível sim que os orgasmos biológicos variem de intensidade. Mas tem sido fortemente apontado pelas pesquisas o fato de que, quando você tem um orgasmo, você sabe que teve um orgasmo. O orgasmo gera uma descarga de tensão acumulada no sexo que, independentemente da intensidade, tende a ser inconfundível.

O orgasmo biológico seria alcançado pelas mulheres durante a estimulação direta ou indireta do clitóris. A estimulação direta acontece com a masturbação ou no sexo oral, por exemplo. A estimulação indireta pode acontecer durante a penetração. O clitóris pode ser pouco protuberante em sua parte externa (aquela que fica visível na vagina), mas ele é bem grandinho em sua parte interna. O clitóris, dentro do corpo da mulher, se estende ao redor da vagina, por isso, pode ser estimulado indiretamente na penetração. Essa estimulação indireta é o que torna possível o orgasmo vaginal.

Por outro lado, aquela sensação difusa que você sente durante uma relação sexual, que é boa, maravilhosa, que faz você até achar que gozou, mas que te deixa na dúvida, porque é, de alguma forma, diferente do que você sente quando se masturba e chega ao orgasmo; então, esse é o orgasmo emocional. Isso acontece por que não houve estimulação suficiente do clitóris para fazer você gozar, mas, ainda sim, trata-se de uma relação sexual e isso tem impactos no corpo e na mente da mulher que geram pico de prazer físico e emocional.

Shere Hite descreveu o orgasmo feminino como

 

“um sentimento de amor e comunhão com outro ser humano que atinge um máximo, é um grande aprofundamento da intensidade do sentimento, que pode ser sentido fisicamente no coração, ou como um nó na garganta, ou como uma sensação geral de abertura, uma sensação de desejo de ser penetrada cada vez mais, um desejo de se fundir e de se tornar um só com o outro. Isso poderia ser descrito como uma completa liberação de emoções, o que uma mulher chamou de “um penetrante sentimento de amor”, ou como um orgasmo do coração” ∗.

 

Então, agora você já não precisa ficar mais na dúvida ao responder: “Gozou?”. É sim ou não!

Não diga que sim para agradar seu parceiro.

É ótimo que você saiba com certeza quando não gozou! Porque, assim, você pode buscar outras formas de estimulação que te levem, de fato, ao orgasmo.

A relação sexual não precisa acabar enquanto você não estiver satisfeita.

 

 

 

∗HITE, Shere. O Relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade feminina. Tradução de Ana Cristina Cesar. São Paulo: Difusão editorial, 1982. Conferir página 123.

Como tornar o estudo mais suportável. 

Por mais que eu não goste, tem dias que não dá para escapar. Eu ainda não cheguei ao ponto de conseguir ter todas as minhas tarefas prontas com antecedência.
Eu já sou bem menos procrastinadora. Vou cumprindo as obrigações aos pouquinhos, mas, geralmente um dia antes da entrega, eu ainda tenho que fazer aquele estirão de trabalho.
Nessas horas eu sempre lanço mão de dois recursos muito úteis para tornar o momento mais agradável: estudar fora de casa e a companhia dos amigos.
Estudar em casa é maravilhoso quando eu estou com um tempo mais folgado. Posso passar dias em casa no seguinte ritmo: estudo uma hora, assisto um episódio de série, estudo mais uma hora, outro episódio. Rendo muito assim. Geralmente são oito ou dez horas de estudo tranquilo. Com intervalos para relaxar. São dias bastante agradáveis estes. Quando o prazo está mais apertado, não rola ficar nessa molezinha. Aí eu prefiro sair de casa. Vou para uma biblioteca (não é minha primeira opção, mas é legal), um café ou para a faculdade.
Minha opção preferida é o café. Se for um café em uma livraria, melhor ainda. Num lugar como esses, dá para segurar a onda de mais horas de estudos sem intervalo.
Chamar os amigos que estão precisando estudar também é uma boa pedida. É mais tranquilo se foder quando o outro do seu lado tá se fudendo também. Brincadeira. Então, falando sério, é muito mais gostoso estudar com um amigo estudando ali do seu lado. A companhia faz muita diferença. Torna o clima mais leve. Vocês não precisam nem estar estudando a mesma coisa. O que vale é estar perto um do outro. A empatia e o consolo da companhia é que importa. (Fora que dá pra trocar dois dedinhos de prosa nos intervalinhos, não é).
Ah! E claro, tem o café!
Ficar trancado um dia inteiro num quarto sozinho estudando é algo enlouquecedor. Eu sei que muitas vezes é isso que a academia diz que você tem que fazer. Não acredite nisso nem por um segundo.

A corrupção estrutural e a corrupção cotidiana, ou o jeitinho brasileiro.

Estão dizendo por aí que é o “jeitinho brasileiro” a origem da corrupção que vemos nos nossos governantes.

Se você realiza uma pequena ação errada no seu dia a dia, você não é diferente do político que rouba do hospital, causando indiretamente a morte de milhares de pessoas, ou daquele que rouba o dinheiro da merenda das escolas e deixa criancinhas passarem fome.

Outro dia eu estava revendo uns episódios antigo de The Big Bang Theory. Até que um episódio ilustrou perfeitamente o absurdo que é ancorar a corrupção estrutural na “corrupção cotidiana”.

Existe um salto qualitativo entre colar em uma prova e deixar crianças passarem fome, entre sentar no assento preferencial e roubar o dinheiro do pagamento dos médicos. 

No episódio da série que eu mencionei, Leonard chega dois dias mais cedo de uma viagem de trabalho que durou três meses. No lugar de voltar direto para seu apartamento e encontrar seu amigo Sheldon, ele vai para a casa da namorada, Penny, escondido. Se Sheldon o descobrisse lá, Leonard passaria maus bocados. Contudo, Sheldon, após uma rápida interação com Penny, enquanto ela tenta se desvencilhar do amigo que a convida para jantar, desconfia. Ele acredita que Penny estava acompanhada, mas, sem saber da volta do amigo, ele acredita que ela está traindo Leonard.

Sheldon retorna para seu apartamento e, mais tarde, encontra sua namorada, Amy. Sheldon começa a levantar alguns argumentos para justificar sua crença da infidelidade de Penny. Amy, a princípio cética, descarta os argumentos de Sheldon. É um desses argumentos que Amy descarta que chama atenção e é relevante para a presente discussão.

A certa altura, Sheldon afirma que, certa vez, ele e Penny estavam em um “concurso de encarar” (uma brincadeira infantil: duas pessoas se encaram fixamente, quem piscar primeiro perde) e Penny teria batido palmas muito alto e feito Sheldon piscar. Ou seja, ela teria trapaceado no jogo. O personagem então afirma que era uma questão de dar um pequeno passo entre trapacear em um jogo e a infidelidade sexual. (Esse foi um dos argumentos rejeitados por Amy). 

O fato de Penny ter trapaceado na brincadeira não fala absolutamente nada da sua postura ética em relacionamentos amorosos.

Ao tomar decisões éticas em sua vida, uma pessoa normalmente considera uma série de fatores. O resultado de suas ações é um destes fatores. Se uma pessoa avalia que suas ações não trarão consequências negativas em aspectos importantes, ela pode acabar realizando esta ação a despeito de considera-la errada.

Nada disso tem o objetivo de justificar as coisas erradas que fazemos em nosso dia a dia, o importante é esclarecer que essas atitudes nada têm a ver com a corrupção política.

A corrupção política, como dito anteriormente, é estrutural. Sabe quando a gente diz “que a política corrompe as pessoas”, “os honestos não sobrevivem lá dentro”? Isso sim é verdade. Quem é honesto quando entra na política ou é corrompido, desiste, ou nunca vai conseguir hegemonia no comando do Estado. Os jogos de poder do governo são sustentados nas alianças, interesses do capital e batalhas ideológicas. É esse frágil equilíbrio de forças que tem como um de seus componentes essenciais a corrupção.  

Figurativamente falando, a bancada do governo é como um balcão de atendimento para os negócios dos ricos. Os grandes banqueiros e empresários chegando até o governo com interesses que nada têm a ver com as demandas do povo brasileiro e recebem favores em troca de grandes quantidades de dinheiro.

Toda essa sujeira tem que escoar para algum lugar para que a nossa revolta não seja direcionada para o lugar certo. E é aí que entra o “argumento da legalidade”: dividir para conquistar. O argumento da legalidade é caracterizado pela culpabilização individual daqueles que escapam da norma de alguma maneira. Os problemas do país são vistos dessa forma como a soma dos resultados de cada ação individual fora da lei, por menor que ela seja. O problema e que o todo é sempre maior do que a soma das partes. Todas as pequenas ações ilegais somadas não justificam ou explicam o problema da corrupção.

Se nenhum brasileiro saísse do escopo da legalidade a corrupção dos corruptos governantes do nosso país apenas iria brilhar intacta e inalterada.

Se não entendermos isso seremos os motoristas de ônibus que expulsam aqueles que não têm dinheiro para voltar para casa depois de um dia de trabalho e que acabam dormindo na rua, acreditaremos que a passagem de ônibus está cara por causa da gratuidade, seremos os vizinhos que acreditam que a luz está cara por causa daqueles que têm gato, seremos aqueles que acreditam que as taxas do cartão de crédito estão altas por causa da inadimplência.

O problema é: um Estado cujos membros vivem completamente dentro da lei é mais utópico do que o comunismo. Isso quer dizer que, enquanto não aprendermos a driblar o argumento da legalidade e entendermos que a culpabilização individual serve apenas para desviar a nossa atenção dos verdadeiros culpados dos nossos problemas, vamos atacar uns aos outros fazendo o trabalho sujo dos governantes.

Para finalizar, uma reflexão. Existem as pequenas ações ilegais que são verdadeiros atos de resistência. Não vamos esquecer dos “pulões” de 2013, quando os manifestantes seguravam as portas traseiras dos ônibus abertas para que as pessoas conseguissem entrar de graça. Essa ação é ilegal e altamente recomendada. O objetivo dessas ações é sempre o de criar uma pequena rachadura no sistema favorecendo o povo no lugar dos empresários.

 

Café da manhã na janta.

O café da manhã é a melhor refeição do dia. Sem sombra de dúvidas.
Já temos o brunch, uma espécie de café da manhã incrementado que substitui o almoço. Mas o café da manhã é uma refeição tão maravilhosa, que, de vez em quando, eu gosto de comê-lo também na janta.
Ok. Eu ainda tenho um pouquinho de noção. Eu não chego a tomar dois cafés da manhã (ou três) em um dia, por mais que tenha vontade. Eu apenas não restrinjo a vontade de comer um pão com ovo quando ela bate simplesmente por causa da hora.
Não que eu não sofra um pouco com essa questão do café da manhã, sabe, pão, queijo, mortadela, leite e tudo isso que há de mais delicioso nesse mundo, mas que, se você acreditar no Bem Estar, vai te matar em cinco anos ou menos.
Parando para pesquisar um pouco sobre o assunto, contudo, você percebe que a nutrição é assim como a psicologia: a teoria ou a filosofia alimentar varia enormemente de autor para autor. Muito mesmo.
Varia de gente afirmando que você tem que comer muita gordura até gente querendo banir a gordura do cardápio. Alguns profissionais afirmam que devemos comer de três em três horas, outros defendem o jejum intermitente.
Enquanto os profissionais não se decidem, a gente (eu, pelo menos) fica aqui mergulhado na culpa sem saber que dieta seguir e tratando a comida como a grande vilã da saúde e felicidade verdadeiras.
Um saco isso.
Planejar a comida, gastar dinheiro com coisa cara, ter que ficar aprendendo receitas nem um pouco enraizadas na nossa vida cotidiana (como o arroz e o feijão que a gente aprendeu a cozinhar com a nossa mãe).
Revolta total.
Não que eu discordo completamente da idéia de que temos que cuidar da alimentação. Mas criou-se uma aura tão poderosa em torno desse discurso higienista da alimentação, que comer virou um pesadelo para muita gente.
Talvez a revolta das pessoas em geral lançada contra os nutricionistas seja uma revolta contra a evolução da gastronomia que foi descobrindo e cozinhando coisas cada vez mais gordas e gostosas que vão nos matar muito antes do que daria para morrer caso tivéssemos evoluído como veganos.
Enfim, já diziam na minha adolescência (e estavam errados de um modo geral, só estavam certos com relação a comida mesmo): ” tudo que é bom, faz mal”.

Alquimia da Palavra. 2° Edição. 

Hoje aconteceu a segunda edição da oficina Alquimia da Palavra que ministro com a minha parceira na escrita, Natalia.
A oficina aconteceu na Casa D’Esquina, no Grajaú. A casa é super aconchegante e, quando saímos da nossa oficina, estava rolando uma feira maravilhosa com várias coisas lindas e deliciosas. Já fui para casa almoçada!
Eu me surpreendi com a diferença entre esta segunda edição e a primeira. A idéia era trazer o mesmo conteúdo, mas apesar de termos conseguido passar o que havíamos programada, a oficina foi totalmente particularizada, atendendo ao interesse dos participantes. Na verdade, o evento foi uma grande troca de conhecimentos e experiências.
O equilíbrio entre a prática e a teoria foi mantido.
Hoje fizemos exercícios com Blackout Poetry. Ficou show de bola! Confira!

Adeus.

Não tem um jeito fácil, nem bom de falar sobre isso. O próprio motivo desse texto existir vem de uma profunda incapacidade de processar os sentimentos dessa situação.
Eu lembro que antes da gente se mudar, eu estava tão triste durante boa parte dos dias e teve um específico que eu tava em casa… E eu digo casa porque é isso que esse lugar vai sempre ser pra mim: minha primeira casa, meu primeiro lar, por vontade própria pelo menos. Só hoje eu entendo a importância que isso teve pra mim. Enfim, teve esse dia que eu tava nessa minha primeira casa e ela chegou. Eu não lembro direito o estado de espírito em que eu estava antes, mas assim que eu a vi eu soube que eu precisava abraçá-la. E quando eu a abracei eu comecei a chorar, e chorar muito, muito mesmo, de não conseguir falar direito, quase como choro agora escrevendo essas palavras, como talvez chore também quando ler em voz alta e talvez também algumas vezes antes e depois disso.
Chorando eu comecei a lembrar e a falar do tanto que a gente viveu em quase cinco anos morando juntos, dividindo esses menos que 40 metros quadrados. Lembrei, como lembro agora também, desde antes da gente começar a morar aqui, de quando vim aqui com alguns amigos encher cano de pvc com argamassa pra se proteger nos atos. Antes disso ainda, eu lembro do clima ruim que ficou com a mãe dela quando a gente foi comprar piso novo, ou alguma outra coisa na Leroy Merlin do lado do Norte shopping e na hora de colocar no porta mala, esquecemos a tampa da mala que fica atrás do banco no estacionamento. Lembrei do clima ruim que ficou com a minha mãe quando a gente se mudou daqui. Lembrei de quando a gente botou internet aqui, de quando botou o ar condicionado que só ficou aqui um ano e foi embora junto com a gente, da parede de dry Wall com o qual a gente conviveu pouco tempo também e que só pagamos metade até hoje. Lembro de comprar os pufes, também antes de vir pra cá na Praça Dois. A gente tinha visto eles juntos antes e ela tinha dito que tinha gostado. Eu os comprei pra fazer uma surpresa. Uma das poucas e primeiras coisas que eu comprei sozinho para a nossa casa. Lembro de como a casa foi enxendo de coisas, de livros, de roupas, de mais livros, de tralhas de todo o tipo, de uma estante maior pra botar mais livros.
Lembro de quando a gente prendeu o suporte na TV na parede com a ajuda dos amigos e ela ficou meio tortinha, como ficou também na nossa nova casa. Lembro da feijoada que a gente fez e do 7 a 1 que vimos juntos, com muitos amigos.
Lembro muito também das vezes que alguém dormiu aqui, um amigo mais vezes que todo mundo.
Das conversas, das noites viradas de estudo, fazendo relatório ou tentando fazer 100 questões de termodinâmica. De tomar cerveja no bar, inclusive no dia que a gente foi atacado no ato e depois foi no hospital tirar raio X. Lembro das reuniões políticas, das vezes que os amigos passavam aqui pra estudar e acabavam só tirando um cochilo antes de ir pra casa, da vez que um casal de amigos passou aqui antes de ir num show na Lapa, conheceram um outro amigo que ja estava aqui e ainda me apresentaram o estranho desenho do Steven Universo.
Lembro do senhor pigarro e do seu gosto musical impecável, lembro da senhora do churrasquinho e das noites que ela garantiu nossa janta, lembro de ter conhecido um dos melhores self-services do mundo, lembro do stress com uma tal pizzaria e de tantas vezes que o chuveiro queimou, até a vez que o apartamento quase pegou fogo.
Lembro das nossas brigas, dos nossos choros, desse choro de agora que eu vou lembrar pra sempre. Das nossas declarações de amor, das nossas risadas, das vezes que a gente fez sexo pela casa, inclusive no banheiro quando tinha gente dormindo aqui.
Lembro da gente planejando o casamento, fazendo todo aquele brigadeiro… Lembro da gente escrevendo os nossos votos no dia anterior. Lembro de mim, me arrumando no dia do casamento. Das palavras de amigos tão queridos que ajudaram esse dia a ser tão especial.
Lembro da gente comendo coração de frango com banana à milanesa e vendo TV. Meu Deus… quanta TV a gente assistiu, quantos filmes e séries, todos os cigarros que fumamos, todos os livros que lemos e de eu ter terminado de ler em voz alta para ela o livro do Harry Potter e as Insígnias da Morte um dia antes da gente se mudar, da primeira e única vez que tivemos uma certa experiência psicodélica juntos.
Lembro de quando começamos a jogar Pokemon Go e do primeiro Dragonite que pegamos juntos numa rua bem aqui do lado. De ir na Biblioteca Parque aos sábados.
Tanta coisa. E eu me pergunto agora “pra onde vai tudo isso?”, da mesma forma que eu me perguntei nesse dia antes da mudança. Pensando nisso tudo que a gente viveu, nas pessoas que passaram por aqui, que fazem parte das nossas vidas, que é só um lugar, eu não consigo pensar numa resposta que consiga fechar esse buraco dentro do peito.
A gente aprende que o tempo não volta para trás e que os bens materiais não importam tanto, mas eu não entendo porque nada disso parece consolar nessa hora. Talvez porque cada tijolo dessa casa, da Pantera, ajudou a gente a fazer desse pequeno apartamento um lar perfeito, tão cheio de amor, amizade, risos, choros. E foi tudo tão real, com tanta força e tanta intensidade. Eu não sei pra onde vai tudo isso agora, mas eu espero que cada um siga carregando as lembranças que tem desse lugar e que isso sirva para alegrar os dias tristes que possam vir e fazer lembrar que mesmo os tijolos sendo diferentes, sempre teremos um lugar pra se encontrar e reviver nossos amores e amizades dentro dos nossos corações.
Eu agradeço a todos pelas lembrança maravilhosas e a você, meu amor, eu agradeço mais ainda por todo o apoio e presença na minha vida. Por ter tornado possível essa experiência de conhecer e ter vivido nesse lugar. De todas as pessoas do mundo, nenhuma teria sido a melhor pra ter compartilhado esses anos e essas experiências na minha vida. Houve muito amor nessa casa e você é a maior razão disso.
A você, apê, se eu acreditasse que você pudesse me entender ou sequer me ouvir, eu diria que eu nunca vou me esquecer de tudo que eu vivi aqui com as pessoas que eu mais amo nesse mundo, vou me lembrar sempre de você ter sido um teto tão confortável e aconchegante. Quem sabe um dia a gente se encontre novamente, mas até lá eu só tenho mais uma palavra pra dizer: “Obrigado”.

Incerta. 

Fui dar uma incerta na minha namorada.
Ela vem me dizendo que tem saído com uma amiga para beber.
Quero ver se essa amiga tem buceta mesmo. E se é que tem, ela ainda pode estar colando velcro.
Cheguei na porra do bar, está ela lá no adultério. Peguei ela com um pintoso. Pensei: “É agora que eu vou acabar com a raça dessa mulher”.

Tu tá me tirando de otário? Tá pensando que eu sou o que? Ele sabe que tu largou a tua filha em casa abandonada?! É! Ela tem filha para criar e marido em casa! Otário, né. Tu deve pensar que eu sou otário mesmo. Sua vadia! Cachorra! Não quero nunca mais olhar na tua cara!

Amor, amor, calma. Está tudo bem. Eu estou aqui com você. Você lembra o que aconteceu ontem? Se acalma. Você está no hospital. O médico está aqui para te ver.

Doutor! Hospital? Tu me botou no hospital ainda, mulher! Essa vadia aí estava me traindo! Eu peguei ela ontem. Enfiei a porrada no maluco. É… Cadê teu amante? Se eu tô no hospital ele deve estar no cemitério!

Senhor, se acalme. Se acalme. É comum os pacientes acordarem desnorteados. Não se preocupe, minha senhora. A psicóloga já vem aqui falar com ele.

Que bom, doutor. Vamos aguardar, então.

A psicóloga chegou no fim da tarde para ver o paciente. Clima horrível. Mulher e homem olhando para baixo. Os dois queriam o divórcio. Ninguém tinha coragem de pedir. Mas a situação se tornara insuportável. Amanda vira o estado do pai na noite anterior quando todos chegaram no hospital. Camila ainda o amava, sim, mesmo sabendo há anos que vivia um relacionamento abusivo. Ele estava se tratando… Mas não houve jeito. Ele não melhorou. Sempre faltando a terapia. Ainda bebendo.

Boa tarde, Aurélio. Como você está se senindo? O senhor sabe o que aconteceu ontem?

Se sei! Eu já devo ser a piada do hospital. O corno do hospital! E a esposa chorando pelo amante! Olha a cara dela! Nem disfarça!

Senhor Aurélio, se acalme. Ontem o senhor bebeu muito e veio para o hospital após uma briga de bar. O senhor estava muito alterado e agitado. Mas é importante entender o que houve ontem a noite.

A mulher rompeu em lágrimas e a psicóloga pediu que ela se retirasse.

Aurélio, você chegou ontem a um bar, bêbado, confundiu um casal qualquer com sua mulher e um suposto amante e arrumou uma briga. Bateu na mulher e apanhou do namorado. Eles estão prestando queixa do senhor neste momento na delegacia.

Como é que é?! Vocês querem me deixar maluco!!! Você e essa cachorra da minha mulher!

Se acalme, se não eu vou ser obrigada a chamar o médico.

Eu não vou me acalmar porra nenhuma! Não com vocês querendo me enlouquecer!

Camila passou os anos seguintes lamentando o fato de tudo ter se desenrolado daquela maneira. Seu marido preso pela agressão de outra mulher. Durante tanto tempo era ela quem tinha aturado seus rompantes de raiva. É certo que ele estava pagando de alguma forma, mas e tudo que ela tinha sofrido? Se não deu certo, era ela quem tinha que tê-lo punido.

Pelo menos, dizia sua amiga durante o cafezinho, assim você se separou dele.

Sim. É verdade. Difícil, não é? Essa coisa de relacionamento abusivo.

Sim.

Mas Camila foi naquela semana até a prisão. Aurélio estava acabado. Tinha lágrimas nos olhos.

Me desculpe, meu amor. Quando eu sair daqui, você vai ver, tudo vai ser diferente.

Aurélio, eu acreditei em você por tempo demais. Você abusou demais de mim. Você me fez chegar ao meu limite. Eu não vim aqui para ouvir as suas desculpas. Eu vim para te dizer que você me roubou. Você é um ladrão. Você me roubou anos de vida e, por muitas vezes, a alegria de viver. Mas, como diz o ditado, vão os anéis, ficam os dedos. Eu recuperei tudo que você tirou de mim. Eu vim aqui para te dizer que, naquela época, eu não tinha amante nenhum, mas devia ter tido sim. Eu vim aqui porque eu faço questão que você saiba que você não está aqui apenas por causa de uma briga de bar apenas. Você está aqui por tudo que você me fez sofrer e pelo ser humano desprezível que você é. Eu não quero que você me procure nunca mais. Nunca mais me procure, Aurélio.