Outras violências.

Ainda no pescoço! Direto no pescoço. Era sempre onde você me atacava. Mas agora tem gente para ver e essas pessoas, essas testemunhas não vão permitir que você me convença, como você fazia quando éramos só você e eu, de que os enforcamentos, os chutes nas costas, os roxos no braço, não eram sinais de violência e agressão física. Você fez muito bem mesmo. Nunca me deu um tapa na cara e por isso conseguiu me fazer acreditar por muito tempo que eu não sofria de violência doméstica. Você se recusou a acreditar. Lá no fundo, eu sempre desconfiei. Você fingia que não existia essa minha desconfiança. Como é para você? Saber que, no fim das contas, você foi traído? Que eu te enganei e te enganei bonito? Que eu aprendi a jogar tão bem o seu jogo que eu pude me mover por entre o pântano que você criou ao meu redor e escapar e esconder um amante bem debaixo do seu nariz? Eu aposto que você se sente completamente estúpido agora. Como é para você saber que eu sou mais inteligente? Que eu tenho mais desejo? Que eu estou mais viva do que você? E, quando por tristeza eu minguava, você adorava. Adorava que eu fosse preguiçosa, adorava que eu estivesse semidesfalecida, jogada na cama enquanto você cuidava da sua vida. Você adorava ter que cuidar de mim, tão fraca, para poder reclamar depois, me punir e se sentir superior. Mas mesmo com a sua presença nociva, seus comentários devastadores, mesmo com o meu mal-estar e seu narcisismo, eu consigo ver agora que você era fraco desde o início. Tão fraco. Fraco, sozinho e amedrontado. A única força que você tinha mesmo era a força bruta dos membros masculinos. Nas pernas e nos braços, no caso, em outros departamentos você tinha a maciez de um marshmallow.

O primeiro e mais importante segredo dos relacionamentos bem-sucedidos.

Tem muito conteúdo produzido por aí a respeito de como ter um relacionamento de sucesso.
E, de fato, tem muito dica boa.
Mas o que eu venho reparando é que todo texto inicia com uma ressalva: não existe receita de bolo. Cada casal vai ter que descobrir como encontrar o seu próprio caminho para a felicidade.
Eu concordo com essa ressalva até certo ponto…
Acredito que existe uma dica universal e necessária.

Você só vão conseguir ter um relacionamento bem-sucedido com alguém que vale a pena amar.

É isso aí mesmo que você leu. Tem gente que vale a pena amar e gente que não vale a pena amar. Para ter um relacionamento de sucesso você tem que estar necessariamente com alguém que vale a pena amar.

Como saber se você está com uma dessas pessoas? Tenho que admitir que aí as coisas são um pouco mais nebulosas, mas, ainda assim, é possível traçar algumas balizas bem claras e indiscutíveis.

1- Se a pessoa com quem você está te bater ou ameaçar te bater, ela não vale a pena. Você faz bem em abandoná-la agora.

2- Se o seu “amor” já te xingou ou humilhou a sós ou na frente de outras pessoas: abandone-o. Não vale a pena.

3- Se você está sempre errada nas discussões e acaba sempre pedindo desculpas e prometendo que vai mudar, adivinha?! Não vale a pena.

4- Se seu parceiro “te proíbe” de fazer coisas, termine com ele. Não vale a pena.

5- Se ele te faz se sentir inadequada, se faz você sentir como se ele estivesse fazendo um favor em “te amar”: não vale a pena.

6- Se as coisas que ele faz ou tem (estudo, trabalho, amigos ou família, objetos, planos de vida etc.) são mais importantes do que os suas, termine. Não vale a pena.

7- Se ele acha que é sua obrigação cuidar dele e fazê-lo feliz: abandone-o. Nenhuma pessoa no mundo além de nós mesmos é responsável pela nossa própria felicidade. Vocês tem que ser felizes juntos.

Bom, esses são alguns sinais de que você está com uma pessoa que não vale a pena amar. Se você estiver com uma pessoa dessas, você pode seguir todas as dicas do mundo que não vai adiantar nada, você não vai ter um relacionamento de sucesso. Você vai estar sempre presa em um relacionamento abusivo, no qual vai estar tentando satisfazer as necessidades do outro enquanto você mesma nunca vai estar satisfeita, pois vai se sentir massacrada e injustiça. O seu companheiro também nunca vai estar feliz, porque nunca vai conseguir te dominar completamente. Alguma coisa sempre escapa ao controle do outro (nem que sejam os seus pensamentos, que ele vai tentar controlar, mas vai saber no fundo no fundo que nunca vai conseguir).

Quem vai ficar com a televisão? 

– Eu quero a minha TV de volta.
– E eu quero o meu tempo de vida de volta!!! Eu quero todo o tempo que você roubou de mim. Todo o tempo que eu passei cozinhando para você enquanto você estudava, todo o tempo que eu passei lavando sua roupa enquanto você trabalhava, todo o tempo que eu passei trepando com você enquanto você me humilhava.
– A sua comida nem era tão boa assim, as roupas não ficavam tão cheirosas ou bem passadas e trepar era obrigação mesmo. Ainda assim, eram essas coisas que faziam de você uma mulher decente e digna do meu amor. Mas agora eu vejo que o que tinha de melhor em você era falso. E logo agora que eu ia finalmente te pedir em casamento. Você não devia ter feito isso. Você perdeu o único homem que ia te tratar com decência apesar de você ser desse jeito. Agora, devolva a minha televisão!
– Não! Não devolvo porra nenhuma!
– Eu devia imaginar que além de tudo você ainda era ladra. Não tem palavra. Mas eu não sei o que eu esperaria de uma pessoa como você mesmo. Todas os encartes dos meus preciosos CDs estão mercados com as suas digitais, algumas capas estão com os dentes quebrados, tudo isso apesar de eu ter dito explicitamente a você que não queria que fosse retirado o plástico protetor com o qual eu encapei cuidadosamente cada um dos meus CDs, muito menos que você os escutasse. Há linhas que foram puxadas dos colarinhos das minhas camisas por conta do seu desleixo. Boa sorte encontrando um outro homem para aturar esses seus defeitos.
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– Ela é uma ladra. Não tem palavra, nem honra. Uma vadia que me enganou se passando por Santa.
– O que que ela fez que te deixou assim tão chateado? Vocês terminaram brigados?
– Ela ficou com a TV.
– Que TV?
– A que eu comprei para o apartamento.
– Tá de sacanagem?
– Foi imoral da parte dela, exatamente.
-Não! Tá de sacanagem você! Você me falou que hoje em dia se arrepende, mas que chegou a agredi-la! E ficou puto porque ela te devolveu todas as suas coisas, mas quis ficar com a TV?! Ela devia ter te denunciado! Você devia estar atrás das grades! Você é um agressor de mulheres! Olha, rapaz, acho que não vai dar para a gente continuar junto não. Tava muito bom, a gente tava se conhecendo, mas essa conversa de hoje foi esclarecedora e me abriu os olhos.
– Eu entendo. Hoje em dia é muito difícil encontrar uma mulher decente…
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– Então, o babaca te contou que agrediu a namorada e tava puto por causa da TV e meia dúzia de caixinha de CD quebrada?!
– Pois é! Aí eu falei que era melhor a gente não se ver mais e ele começou a me humilhar, sabe? Dizendo que não tem mulher decente no mundo além da própria mãe dele.
– Ui!
– Exato! Ele já estava querendo me enredar naquele joguinho de culpa como se ele fosse o maioral. Discursinho machista que ele deve te usado para aprisionar a ex dele, coitada.
– Surreal…
– Mas aí, amiga, você não vai acredita no que aconteceu depois!
– O que?
– Ele virou para ir embora cheio de si, não é, satisfeito porque tinha me colocado no meu lugar. Só que tinha essa rua lá que ele estava atravessando quando eu gritei mandando ele ir tomar no cú. Menina… ele virou de súbito na minha direção, eu tive certeza de que ele ia partir pra cima de mim e me enfiar a porrada, mas estava vindo um ônibus em alta velocidade que atropelou ele e o partiu em mil pedaços.
– Caramba, amiga! Imagina como é que você deve ter ficado!
– Fiquei muito puta, né!?
– Hm?
– A mão dele não foi separada do corpo com a violência da batida e não foi me voar na minha cara!
– Mentira!
– Te juro!