O rumo de nossas vidas e de nosso país. 

Esfaquearam o Bolsonaro.
O país está realmente insano. Eu nem entrei no Facebook ainda para ver o que a galera está dizendo. E aí é complicado, porque eu tenho nojo do cara, mas tem que defendê-lo dessa tentativa de assassinato. Não tem jeito. O cara não tem que ser assassinado.
Eu nem sei o que pensar, o que dizer…
Atentado da esquerda? Para quê? Perder popularidade e tornar o cara um mártir?
Um maluco aleatório? Duvido.
Teoria da conspiração: foi a globo que ordenou? Ou qualquer outra organização liberal? Eu não duvido mais de nada. 
Foi ele mesmo que orquestrou o atentado não letal que sofreu? Absurda essa hipótese.
Você tem alguma explicação?
Eu não acho que estamos vivendo um momento histórico sem precedentes. Que fique claro. É tudo absurdo sim, mas conspirações e atentados sempre existiram. Essa parte não é novidade. Mas, sim, assusta tomar contato com esses acontecimentos macabros do nosso tempo.
Quando eu gosto do um escritor, filósofo, psicólogo,cientista etc., eu procuro informações sobre a vida dele e o tempo em que ele viveu. Isso porque eu gosto de imaginar como era o contato dessas mentes brilhantes com os acontecimentos macabros de seus tempos. E que belas obras de arte e grandes descobertas científicas nasceram daí!
Não que esses eventos não afetem a vida de todas as pessoas, mas algumas destas trabalham exatamente para extrair saber desses acontecimentos, poetisá-los, ou eternizá-los de alguma forma e esse trabalho é muito importante. É um trabalho principalmente voltado para as futuras gerações. Para que a gente possa fazer alguma coisa com esse passado.
Mas eu ainda não tenho a resposta para a pergunta: o que devemos fazer? O que devemos fazer para melhorar o rumo de nossas vidas e de nosso país? Está aberto o campo para a reflexão. Espero, sinceramente, que esse caminho não seja interditado por este tipo de violência.

Deadpool 2.

Cara, o melhor do filme do Deadpool, sinceramente, é ver os vilões morrerem mortes extremamente violentas e sanguinárias. 

Tem alguma coisa de muito bom em ver os caras maus se ferrando. Ainda mais com esses filmes nos quais os caras maus são essencialmente maus, maus até o último fio de cabelo, eles são maus e não mesmo, sem um pingo de bondade no coração, nenhuma possibilidade de redenção. 

Esse tipo de filme realiza na fantasia esse nosso desejo de ver os outros se ferrando terrivelmente. Uma atração primitiva pela violência (falando sem nenhum rigor científico).

Na fantasia apenas, vale ressaltar, e isso é maravilhoso. A fantasia serve para esse tipo de catarse na minha opinião. 

Mas, amigo, eu espero que você saiba, eu espero que todos saibam, que esse tipo de vilão, que é o diabo em pessoa, não existe na vida real. Então, curta o filme, ma não romântiza o herói. 

Na verdade, temos que falar sobre os super-heróis de um modo geral. Talvez o filme do Deadpool seja um alívio, em alguma medida, justamente porque os super-heróis geralmente são todos uns babacas de direita. Pelo menos o anti-herói já é todo zoado mesmo e isso acaba dando outro tom para a trama. O filme é assumidamente cheio de clichés ele brinca com isso, geralmente fica uma merda, mas eu até acho que o filme do Deadpool faz isso melhor do que os filmes que normalmente se propõem a fazê-lo. Então tá valendo. 

Outras violências.

Ainda no pescoço! Direto no pescoço. Era sempre onde você me atacava. Mas agora tem gente para ver e essas pessoas, essas testemunhas não vão permitir que você me convença, como você fazia quando éramos só você e eu, de que os enforcamentos, os chutes nas costas, os roxos no braço, não eram sinais de violência e agressão física. Você fez muito bem mesmo. Nunca me deu um tapa na cara e por isso conseguiu me fazer acreditar por muito tempo que eu não sofria de violência doméstica. Você se recusou a acreditar. Lá no fundo, eu sempre desconfiei. Você fingia que não existia essa minha desconfiança. Como é para você? Saber que, no fim das contas, você foi traído? Que eu te enganei e te enganei bonito? Que eu aprendi a jogar tão bem o seu jogo que eu pude me mover por entre o pântano que você criou ao meu redor e escapar e esconder um amante bem debaixo do seu nariz? Eu aposto que você se sente completamente estúpido agora. Como é para você saber que eu sou mais inteligente? Que eu tenho mais desejo? Que eu estou mais viva do que você? E, quando por tristeza eu minguava, você adorava. Adorava que eu fosse preguiçosa, adorava que eu estivesse semidesfalecida, jogada na cama enquanto você cuidava da sua vida. Você adorava ter que cuidar de mim, tão fraca, para poder reclamar depois, me punir e se sentir superior. Mas mesmo com a sua presença nociva, seus comentários devastadores, mesmo com o meu mal-estar e seu narcisismo, eu consigo ver agora que você era fraco desde o início. Tão fraco. Fraco, sozinho e amedrontado. A única força que você tinha mesmo era a força bruta dos membros masculinos. Nas pernas e nos braços, no caso, em outros departamentos você tinha a maciez de um marshmallow.

Por que não queremos dar dinheiro aos pobres?

“Era preciso ser caridoso; diziam mesmo que sua casa era a casa de Nosso Senhor. Deleitava-se em dizer que praticavam a caridade com inteligência; na verdade, viviam possuídos do pavor de serem enganados e de encorajarem os vícios. Por isso nunca davam dinheiro, nunca! nem dez soldos, nem mesmo dois; então não era sabido que assim que um pobre se via com dois soldos ia logo bebê-los? Suas esmolas, portanto, eram quase sempre em gêneros, principalmente em roupas quentes, distribuídas no inverno às crianças indigentes” (ZOLA, 1979, p. 98 e 99).

 

Há anos eu quero escrever o texto de hoje. E foi esta passagem do livro Germinal, que eu li recentemente, que fez com que a vez dele finalmente chegasse.

Eu já havia me debatido com esta questão muitas vezes antes na vida, mas nunca encontrei muito coro nas vozes das outras pessoas. “Quem sabe é só um problema meu”? Mas, ao esbarrar com esta passagem, percebi que meu incômodo fazia sentido.

A primeira vez que atentei para o fato foi no primeiro período, na primeiríssima semana da faculdade. Estávamos todos na rua pedindo dinheiro para a chopada como parte do nosso trote. Até que em certo momento, eu fui para o ponto de ônibus. Eu sairia de botafogo e iria para o centro da cidade e pediria mais dinheiro por lá. Quando cheguei ao ponto, não perdi a oportunidade de pedir dinheiro às pessoas que estavam ali. Não me lembro se todas deram dinheiros ou quantas pessoas tinham no ponto nesse momento. Só me lembro que eu recebi dinheiro de pessoas que estavam naquele ponto e, minutos depois, veio um menino pobre, pedindo dinheiro àquelas mesmas pessoas e eu não vi ninguém dar dinheiro para ele.

Aí comecei a me tocar de que as pessoas geralmente não gostam de dar dinheiro para meninos e meninas de rua, mas que, aparentemente, não se importam em dar dois, cinco ou dez reais para calouros universitários.

As pessoas costumam dizer que dar dinheiro para pessoas pobres que pedem na rua significa encorajar o vício ou a criminalidade. Eu fico me perguntando o que essas pessoas acham que um bando de adolescentes de classe média alta vai fazer com o dinheiro que arrecada…? Vocês têm alguma ideia? Vão beber esse dinheiro todo! Fumar, usar drogas etc.

O caso é que a gente não gosta que a pobreza se aproxime da gente enquanto estamos na rua, invada nosso ambiente, polua nosso ar com seu cheiro. O fato é que nos indignamos com o fato de haverem pessoas pobres “que não fazem nada para acabar com a própria pobreza”. Achamos que as pessoas que nos pedem dinheiro na rua estão se aproveitando de nós! Da nossa boa vontade e do nosso árduo trabalho. Para sermos espertos e nos garantirmos de que não seremos enganados, danos roupas ou comida ou qualquer outro bem que NÓS julgamos que aquele pobre precisa ou que julgamos que ele deveria querer. Aquele pobre, de fato, deve aceitar e se resignar ou que o nosso julgamento superior afirma ser a necessidade DELE e o que trará efetivamente maior benefício para ele e para a sociedade. E nós não conseguimos enxergar como isso tudo é absolutamente arrogante e prepotente. Relutamos em admitir que não sabemos o que é melhor para o pobre. Não sabemos lidar com a pobreza.

Pensando numa alegoria, as coisas seriam mais ou menos assim segundo a mentalidade de quem tem poder aquisitivo:

 

Uma pessoa de bem se vê, da noite para o dia, privada de todos os seus bens, morador de rua, desempregado e sem família. Essa pessoa de bem, usando seu julgamento superior e seu acurado senso de dever e de justiça, faria escolhas inteligentes, se esforçaria muito e em dois tempos, conseguiria reorganizar sua vida.

 

É isso que imaginamos: se aquele pobre tomasse jeito e no lugar de ficar largado na rua pedindo dinheiro fosse para um abrigo, procurasse estudar e trabalhar, ele teria uma vida boa e descente.

Eu tenho uma novidade para você: as chances de uma coisa dessa acontecer numa sociedade como a nossa são pequenas. Bastante pequenas.

E o nosso cidadão de bem fosse parar no meio da rua, ele iria possivelmente sofrer algum tipo de violência, sofreria com o preconceito e passaria fome, contrairia doenças e, possivelmente, morreria em dois ou três anos.

Ainda tem o fato de nós inocentemente acreditarmos que é a bebedeira ou o uso de drogas do morador de rua a principal ou uma das principais causas da violência da cidade.

O próprio fato da pessoa estar ali te PEDINDO dinheiro já mostra que ela está com um pé atrás em relação a cometer um crime. Ela poderia, de fato, estar matando ou roubando e ela escolheu não estar.

Nos últimos anos começamos a nos apavorar com o fenômeno das cracolândias, afinal, não é mesmo? A cracolândia é um fenômeno diverso daquele dos moradores de rua. A cracolândia existe porque as pessoas são empurradas para o entorpecimento frente à realidade. Empurradas pela negligência do Estado que não ampara e não cuida dos grupos mais oprimidos, da população pobre que acaba sendo a consumidora necessária do produto do tráfico de drogas, que o governo não combate até as últimas consequências, pois o funcionamento do estado é atrelado ao crime e a corrupção.

Não somos eu ou você individualmente que vamos fazer a diferença positiva ou negativamente nessa questão.

Foi essa reflexão de quase dez anos atrás que Émile Zola descreveu na passagem citada de seu livro Germinal. Parece que esta preocupação de ser enganado e prejudicado pela pobreza ganha força com o surgimento da burguesia. As classes parecem mesmo estar em guerra uma com a outra e não se dá armas ou vantagens ao inimigo.

 

Zola, Émile. GERMINAL. Tradução de Francisco Bittencourt. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

O que as feministas querem de você.

Meu sapato favorito exalava um cheiro insuportável de chulé o dia inteiro.
E eu me perguntava, sempre que alguém se aproximava, se outras pessoas conseguiam sentir o cheiro tão terrivelmente fétido quanto eu.
O cheiro não ficava contido no sapato. Subia até minhas narinas.
Aquele sapato era extremamente confortável. Eu não o havia escolhido por nenhuma qualidade estética. Tratava-se de um santo sapato, contudo. O mais confortável que eu já havia calçado em toda a minha vida.
E eu fui obrigada a abandonar o sapato. Voltar aos pares bonitos e perfumados que farão meu pé descamar até a carne viva eternamente, removendo esparadrapo, band-aid e o que mais você quiser colocar nos meus pés para protegê-los. Camada por camada eu vou sentindo dor.
Com isso meus valores estavam corretos novamente. Realinhados.
Fui aplaudida pelo abandono do confortável.
Claro que as pessoas não queriam ativamente que eu sofresse.
Mas sair por aí com sapato fedido é foda, não é?
Claro que ninguém quer ativamente que eu tenha câncer, mas abandonar desodorante é inaceitável.
Ninguém quer que eu sinta dor, mas depilação é uma questão de higiene.
Não querem que a minha pele fique sem respirar, mas uma maquiagenzinha dá uma vida para a cara morta e desinteressante natural que a gente tem, certo?
A pergunta não é: por que o feminismo não quer que eu use maquiagem, me depile e use desodorante.
A questão é que deve-se ter em mente duas coisas:
1- De onde vem o meu desejo de tratar o meu corpo desta forma? (Se pergunte, por exemplo, de onde vem o seu desejo de beber refrigerante? Ou o seu gosto por filmes de Hollywood?). Nossos desejos e a maneira de lidar com o nosso próprio corpo são historicamente construídos e possuem muitos significados que não podem ser ignorados. O que nos leva ao ponto número dois;
2- O que acontece com as mulheres que escolhem não se submeter a esses padrões? É tranquilo para elas?

A resposta é não.

Não é tranquilo para as mulheres fazerem escolhas que desviem daquilo que lhes é imposto.

Esse é o ponto da luta. Defender o seu direito de tratar o seu corpo do jeito que você quiser sem que você seja punida por isso.

Vamos imaginar que Maria decidiu ficar em casa no sábado à noite no lugar de ir para a balada. Este é o cenário A. Neste cenário, Maria exerceu a sua liberdade e decidiu o que queria fazer, além de ter tido condições de efetivamente fazer o que havia decidido. Também estava preservado o seu direito de mudar de ideia. Caso ela desejasse sair, ela seria livre para isso.

Agora vamos pensar no cenário B. Maria havia acabado de tomar a mesma decisão de não sair no sábado à noite, quando alguns bandidos invadiram sua casa para se esconder da polícia. Eles disseram para Maria que ela estava proibida de sair de casa enquanto eles estivessem lá sob a pena de sofrer pesadas punições.

No cenário B, Maria acaba fazendo o que ela havia resolvido fazer de qualquer maneira, mas podemos dizer que ela foi realmente livre nesta situação?

A resposta é não.

No cenário B, a despeito do resultado final da ação ter sido o mesmo, Maria não era verdadeiramente livre. Ela não poderia ter mudado de ideia. Ela não poderia ter escolhido fazer outra coisa. E ainda, uma severa restrição havia sido adicionada à sua decisão inicial de não sair de casa, de modo que não há mais como afirmar se Maria não sai de casa porque ela manteve a sua decisão inicial de não sair e ela não muda de ideia até os bandidos irem embora ou se ela apenas estava evitando ser severamente punida pela desobediência às condições que lhe foram impostas.

No que diz respeito aos cuidados com o corpo de uma mulher a situação é semelhante a do cenário B. Substitua Maria por uma mulher X e os bandidos pelo machismo que impõe padrões ao corpo dessa mulher.

Aí eu já sinto o seu desejo de perquirição: você está dizendo então que as mulheres não sabem o que querem com o próprio corpo? À mulher não cabe dizer o que ela quer do próprio corpo? É você quem sabe e quem tem que dizer?

Não.

A palavra final é sempre da mulher.

Lembra que eu disse que o importante é que cada uma possa fazer o que deseja com o seu corpo e com a sua vida sem que haja algum tipo de punição desta atitude?

Pois bem. Dito isso, afirmo que, uma vez que você tenha consciência de que há uma força estrutural que demanda certas coisas do corpo feminino, a última palavra a respeito do seu corpo e dos seus desejos é sua. Sem dúvida alguma. Mas enquanto uma reflexão deste tipo não é feita, você pode estar à mercê de certas forças opressoras da sociedade sim. E pode acabar reproduzindo-as às custas dos desejos e dos cuidados com o corpo próprio de outras mulheres.

Esse raciocínio não é novo. Começamos a ser alertados para os efeitos perniciosos das ideias preconceituosas e opressoras que absorvemos passivamente e sem questionamento ou plena consciência há muitos anos e por muitos movimentos de minorias diferentes.

Essas forças funcionam em larga escala sob a superfície dos desejos e dos atos. Temos que retirar uma camada, olhar por debaixo dos nossos comportamentos e pensamentos para perceber sua influência.

É o que fica claro no cenário B. Essa força do machismo só fica evidente quando há desvio e sofrimento. Se você olha apenas para o fato de que Maria ficou em casa no sábado à noite, você não é capaz de ver o bandido atrás da porta apontando o revólver para ela.

É apenas em um terceiro cenário hipotético C, no qual Maria poderia vir a resolver desobedecer ao bandido e sair de casa a despeito de suas ordens, que nós percebemos que Maria não era realmente livre para fazer o que desejasse seja lá o que for que ela escolhesse.

No cenário C, no qual Maria resolve fugir, desrespeitando o comando que lhe foi dado, ela é baleada. É apenas nesse momento que vemos o perigo de desviar da ordem dominante.

Mas liberdade não é meramente ter a sorte de querer o mesmo que o seu agressor te obriga a querer não é mesmo?

Isso é a mesma coisa que ser escravo do “bom senhor”. Não importa se o seu senhor é “bom”, a sua liberdade jamais será verdadeira enquanto você estiver sob o domínio de um “mestre”, pois a qualquer momento, essa liberdade pode acabar.

Me acompanhe ainda no cenário D, no qual Maira está em casa obedecendo ao comando dos seus sequestradores, mas estes, em algum momento, dominados pelo medo, imaginam ter visto em uma dobra do vestido de Maria um aparelho celular e supõem que ela tentou ligar para 190. Tomados pela raiva do que imaginam ter acontecido, eles acabam atirando em Maria e fugindo.

No cenário D, ainda que Maria não estivesse em conflito com a obrigação específica de ter de ficar em casa no sábado à noite e a despeito do fato de ter obedecido ao comando dos sequestradores, vemos que a suposta liberdade da vítima era falsa, pois ela acabou sendo baleada de qualquer modo.

Assim é também quando nos adequamos às demandas do machismo. Nem mesmo quando nos adequamos às tais normas estamos perfeitamente seguras.

Usando maquiagem ou não, depilação ou não, a liberdade da qual desfrutamos não é inteiramente real.

Não é verdade, por exemplo, que são estupradas ou sexualmente abusadas apenas as mulheres que desviam dos padrões machistas de vestimenta ou de comportamento.

Tendo tudo isso em vista, lembre-se sempre: a feminista quer o seu bem, seja você homem ou mulher, ela quer que você seja feliz e livre; o que não pode é você só querer o bem da mulher se ela for do jeitinho que você aprova.