Ler ou ver? Eis a questão. 

Ler um livro não é tão simples como imaginamos.
Ah, você vai na livraria, ou navega em uma loja digital, escolhe um livro e pronto! Começa a ler. E lê o livro até o final.
Não, não, não. Eu lembro a tortura que era começar a ler um livro ruim e me sentir obrigda a ir até o final. Mais triste ainda era quando se tratava de uma trilogia que desandava já no primeiro livro… Quando o livro era bom, eu ainda não estava fora de perigo. Geralmente vinha a preocupação com os personagens… Com o que o autor ia fazer com eles no final no final do livro etc. Claro que essas questões que aparecem quando você lê um bom livro, são as questões que valem a pena.
De qualquer maneira, isso não é tão acurado, pois eu sempre achei que mesmo um livro ruim valia a pena no fim das contas.de um modo diferente, certamente, mas ainda assim, não era de todo tempo perdido. Alguma coisa sempre ficava da leitura.
Agora, quando tento fazer o paralelo dessas experiências com filmes e séries eu fico insatisfeita.
Já ouvi algumas pessoas dizerem que ver uma boa série ou filme é como ler um livro. Talvez… Se você se engajar ativamente, ou seja, não só assistir, mas também pensar e debater sobre o filme ou série. Agora, se for uma produção ruim, eu tenho a impressão de que não tiramos nada, nada, nada dela. Diferentemente de quando lemos um livro ruim. O livro ruim ainda engaja mais a mente do que um filme ruim. A experiência é de outro nível.
E aí poderíamos falar das séries, especificamente. Cara, eu estou assistindo SuperNatural há treze anos! Eu não aguento mais! Mas você não consegue parar de ver. Vira um vício.
O paralelo com as trilogias ou as séries de livros é evidente. Temos séries e mais séries de TV atualmente transportando os livros para as telas.
E aí vem o argumento: porque as pessoas vêm as séries de TV, mas em bem menor escala, lêem os livros? Porque é muito diferente ler de assistir TV. Acho que o fenômeno do sucesso das séries prova isso.
Mas então, retomando o raciocínio. Ler livros tem seus problemas: se for um livro ruim e você ficar prazo à trama até o fim mesmo; perder a qualidade a medida que avança; ou ser ruim desde o início.
Esses problemas são como que potencializados quando passamos para as telas.
Se uma série ou filme são ruins, acaba que isso gera uma situação muito pior, mais vazia e menos instrutiva do que ler um livro ruim.
O último ponto que quero levantar é o seguinte: o principal argumento que eu ouço de algumas pessoas para justificar o porquê de escolherem as telas ao papel é que ler livros demora. Sinceramente, nós passamos de cinco a dez anos ou mais acompanhando uma série. Eu tenho certeza de que você demoraria menos tempo do que isso lendo um livro.
Não sou contra as séries ou filmes. Eu sou contra elas dominarem o universo da nossa imaginação.
Bom, eu me perguntaria depois desses argumentos: ler um livro ruim ainda é melhor do que ver uma série boa ou um bom filme?
Eu diria que não.
Mas eu também diria que, considerando o fato de que a escolha de séries, filmes e livros, nunca é garantida, mesmo com recomendações, resenhas etc, nunca sabemos com certeza da qualidade da obra (ou se ela será compatível com o nosso gosto) o apelo para que concedamos um lugar mais amplo para a literatura em nossa vida se sustenta.

Está na hora de mudar a marca do papel higiênico.

Eu já fui muitas vezes fazer compras com minha mãe e com minha avó. Sempre que íamos ao supermercado, fazíamos uma pesquisa de preço, é claro, mas a pesquisa se restringia, na maioria das vezes, a um grupo de marcas já conhecidas por nós, que estávamos habituadas a comprar.

Atualmente, quando eu vou ao mercado, faço a mesma coisa.

De vez em quando, meu marido vai ao mercado sozinho, sem mim, e, geralmente, quando isso acontece, ele volta com algum produto de uma marca que eu nunca ouvi falar na vida. Confesso, eu torço a cara e, vira e mexe, acho que a qualidade do produto é inferior a daqueles produtos que eu estou acostumada a consumir. Meu marido, por outro lado, não vê diferença nenhuma.

Recentemente, após ir ao banheiro, saí elogiando o papel higiênico. Tratava-se de um papel higiênico que vinha em maior quantidade, num rolo bem grosso, a folha era bastante macia, mas resistente ao mesmo tempo. Meu marido começou a se gabar, tratava-se de um papel higiênico de uma marca desconhecida, que ele havia comprado para experimentar. Eu não havia visto o saco do papel higiênico antes de usá-lo.

Na verdade, a sequência dos acontecimentos é um pouco confusa, deixa-me explicá-la de outra forma.

Na minha casa, costumamos comprar aqueles sacos enormes de papel higiênico, pois eles são mais econômicos, por isso passamos um bom tempo usando um determinado tipo de papel higiênico. Neste dia a que me referi especificamente, eu fui ao banheiro e, na hora de usar o papel, vi que o rolo estava novinho, de modo que precisava soltar aquela primeira folha que vem grudada. Ao usar o papel higiênico, me surpreendi com sua maciez, resistência e quantidade. Pensei que tínhamos que saber de que papel se tratava para comprar aquele mesmo tipo de papel higiênico para sempre. Saí do banheiro elogiando o papel e procurando o saco para ver a marca e o tipo. Foi quando meu marido confessou que o papel anterior, que era de uma marca que eu havia escolhido – eu sempre escolho, dentro do universo de duas ou três marcas específicas, aquela que estiver com o preço melhorzinho, isso vale para quase todos os produtos -,  havia acabado e ele comprara um pacote novo de uma marca aleatória que estava mais barata. O ponto é que, para mim, o rolo novo poderia ser o mesmo tipo de rolo da vez anterior. Eu não sabia que havíamos mudado de pacote. Eu não sou maluca. Eu não estou constantemente, todas as vezes que vou ao banheiro, analisando a qualidade do papel higiênico. Para mim, eu só havia dado a sorte de notar, naquele dia, que era um papel higiênico magnífico. Nada me indicava que não era o que eu havia escolhido. Aí eu pensei: “bom, eu sempre compro uma daquelas três marcas que têm, no fim das contas, os preços muito parecidos. Já que esse aqui é, sem dúvida, o melhor papel higiênico de todos, vou comprar só desse de hoje em diante”.

Eu já vinha desconfiando que poderia ser uma mera crença minha o fato de sempre ficar desgostosa com produtos de marcas desconhecidas, nesse dia do papel higiênico, eu tive apenas mais uma evidência de que as minhas crenças arraigadas sobre a qualidade dos produtos me impedem de economizar dinheiro muitas vezes e fazem com que eu tenha uma avaliação tendenciosa dos produtos.

Não estou nem dizendo que a qualidade dos produtos não varia. Deve até variar sim, sei lá. Mas, certamente, varia menos do que tendemos a acreditar – e a sentir por pura sugestão – no nosso dia a dia. Além disso, em uma breve pesquisa pela internet, você descobre que várias das marcas que estão disponíveis nos marcados são da mesma grande empresa, desde uma marca mais baratinha até a mais cara da prateleira. Algumas reportagens afirmam que dez grandes empresas controlam toda a indústria de alimentos. Apenas dez empresas controlando todo o mercado de alimentos do mundo. Pelo menos curioso, não? Que grande variação de qualidade pode existir aí?

A gente já sabe muito bem que, para roupa de marca, esse discurso é muito válido. “Marca não quer dizer nada”. Toda mãe tenta conscientizar seu filho de que aquela logo na camiseta não significa que ele é melhor ou pior do que ninguém. Essa mãe se empenha em conscientizar seu filho de que a marca não é importante, pois ela sabe que a marca chique, a marca da moda, não tem nada a ver com a qualidade da camisa que seu filho está usando. Ela compra tranquila uma camiseta em uma loja popular em Caxias, porque ela sabe que seu filho estará vestido e protegido do tempo com ela do mesmo jeito que estaria se usasse uma camisa do shopping.

Mas essa mesma mãe acaba sendo capturada pelas propagandas dos produtos utilizados no cuidado do lar. E se essa mãe tiver uma filha, suas predileções passarão adiante.

Por conta do machismo presente na educação das crianças, eu fui muito mais vezes ao mercado e era mais capturada pelas propagandas da TV a respeito de coisas voltadas para o lar e o cuidado da família do que o meu marido, por isso ele não tem a ligação quase emocional com certas marcas que eu tenho.

Claro que algumas marcas ascendem enquanto outras vão sendo esquecidas, mas isso pouco tem a ver com a qualidade dos produtos.

Bom, se não for através da luta mais ampla contra o capitalismo eu não sei muito como escapar dessa situação. Então, eu disse tudo isso para chegar a um ponto bem simples: desapega. Desapega da marca da sua infância e/ou da televisão e economize mais dinheiro experimentando marcas que você nunca usou antes (ou nem nunca ouviu falar). Você vai ver que é tudo a mesma coisa e, pelo menos, vai te sobrar um dinheiro no fim do ano para passar um fim de semana em Búzios.