Pequeno manifesto pela arte independente.

Hoje foi dia de aquarela, escrita criativa, teatro, comida boa e bonita e muita literatura.

Ser um artista independente não é fácil. Ser um artista independente e um empreendedor é mais complicado ainda. Dominar a arte criativa e a arte burocrática da administração de uma empresa de sucesso é para poucos. Certamente é o caso da idealizadora da Sonhos de Bolso, Natalia Ávila

Eu estou feliz por ser uma modesta parte deste projeto e posso dizer que tudo é feito com muito amor e muita garra. Meter as caras e fazer o projeto acontecer exige esforço e dedicação.

Eu participo do projeto ministrando, junto com a Natalia, a oficina “Alquimia da Palavra”.

Nesta oficina, debatemos os elementos fundamentais da escrita e técnicas de criação de narrativas e personagens. Tudo num mix de teoria e prática.

Este texto não é só de propaganda, não. Se acalme. Eu sei que propaganda costuma deixar a gente irritado. Apesar de vivermos num sistema capitalista; sim, quem dera o artista se alimentasse da sua arte não só emocional e espiritualmente, mas também fisicamente. Por enquanto, não tem jeito. Se você se enfurece com isso, lute pelo fim do sistema no qual vivemos e não contra o cara que quer te vender o que produz de coração.

Nossa, meu pensamento foi longe.

Sabe aquele rapaz que vende poesia na porta do CCBB? Falo assim, com essa intimidade, porque ele sempre está lá. Antes eu também não comprava os textos dele, não. Hoje em dia, eu entendo e vejo o valor nesse tipo de iniciativa.

A gente pode até reclamar dos preços dos livros que estão lá nas estantes das grandes livrarias, mas acabam sendo eles que a gente compra. A gente tem muita dificuldade em valorizar o que está próximo de nós. Preferimos os autores que não conhecemos, os artistas inacessíveis que acenam para nós da varanda do Copacabana Palace.

Isso não quer dizer que você tem que engolir tudo que a arte independente produz. Você aprecia o que fizer sentido para você. Se o cara não for bom para você, esquece. O problema é que a gente tem um certo preconceito em validar a arte de alguém desconhecido, que não tem já uma fama consolidada. A gente precisa da validação do capital – traduzido na fama ou na chancela de alguém que tem poder – para poder dizer que gosta também daquele produto.

Eu gosto da tal “inclusão digital” enquanto muitos a odeiam.

Aí a galera reclama que tem muita besteira na internet porque todo mundo faz o que quer. Faz mesmo! E que bom. Sem a internet, antes da internet, se você parar para pensar, você vai perceber, tinha muita coisa ruim também e as pessoas também faziam o que queriam. Mas… O grupo de pessoas que faziam coisas ruins e produziam o que queriam era muito seleto, porque até para isso, era necessário status e dinheiro. Hoje em dia, mesmo que você não tenha status ou dinheiro, você pode fazer o que você quer.

Pense comigo: Na Idade Média, tinha muita gente ruim fazendo um monte de merda, estas pessoas eram os homens da nobreza ou do clero. Na Antiguidade tinha um monte de gente ruim fazendo merda, eram os cidadãos romanos (homens, nascidos em Roma, que eram pais de família). Atualmente essas pessoas que possuem status, dinheiro ou fama, ainda estão por aí fazendo merda: atores famosos, deputados, presidentes, senadores. A diferença é que agora eles são obrigados a dividir o palco comigo, com o seu vizinho e por aí vai.

A produção da merda é generalizada. Não importa que seja merda, tudo que se torna mais democrático é positivo (vou arriscar essa frase agora e vou pensar mais sobre isso depois).

Ah, seria bom se não fizessem tanta merda por aí; conteúdo merda, comentário merda. Concordo plenamente. Mas é melhor que todos possam falar do que a existência de um monopólio dos locais de fala.

A discussão da Terra plana, por exemplo. Que merda! Mas, de boa, como que você foi convencido de que a Terra não é plana? Você já circulou ao redor do globo? Foi ao espaço? A gente é educado para acreditar nas “fontes confiáveis”. E é bom que isso exista. As fontes confiáveis conferem estabilidade à nossa vida. Mas se você procurar no google formas de provar que a Terra é plana, pode ser que você se surpreenda. Eu me surpreendi muito quando eu percebi que eu nunca tinha me perguntado isso antes. Foi ouvir na escola: “A Terra é redonda”, que eu anotei e nunca mais pensei nisso. Essa história toda é ainda mais absurda se você considerar que, alguns anos depois, eu ouvi, na mesma escola, que a Terra não era redonda! Ela é meio oval, sei lá. Mano, que viagem. Eu precisei da galera da Terra plana para perceber a bizarrice dessa situação. A própria escola te oferece duas versões diferentes da mesma história, mas, como a escola monopoliza a nossa educação, a gente aceita e vai embora. Aí vem a internet, com a galera falando merda por aí, e você questiona verdades elementares da sua existência. Então, eu não acredito que a Terra seja plana, eu acredito que ela seja elíptica, mas eu acredito nisso com muito mais propriedade do que antes e um senso crítico muito maior.  

Se você tem contato com um mar de opiniões diferentes, ainda que elas sejam de baixa qualidade, você, pelo menos, está sendo confrontado com a diferença e isso move as pessoas, os sentimentos, põe a cabeça para funcionar. Quando você tem uma voz consistente e poderosa te dizendo alguma coisa, é mais difícil discordar. Imagina se por um mero acaso histórico, a do Bolsonaro fosse a única voz? Todo movimento revolucionário e progressivo dependeu de uma emergência de diferentes vozes.

Na internet essa pluralidade se faz cada vez mais presente.

O que me ajuda a não ficar irritada quando eu vejo uma besteira na internet é precisamente essa perspectiva que adotei para pensar sobre o fenômeno. Se tem tanta gente fazendo bobagem por aí, cabe a nós refletir e tentar entender o que isso significa, rever e fortalecer a nossa voz singular, tentar encontrar o que nos agrada mais, o que tem mais afinidade com os nossos valores e percepções, no lugar de tentar, tiranicamente, fazer as pessoas se calarem e continuarem ouvindo as mesmas vozes chanceladas por um poder que escapa completamente das nossas mãos.

E se você ficar irritado além da conta com alguma bobagem da internet, ainda tem duas ferramentas maravilhosa que são “compartilhar + escrever publicação”. Ou seja, vocêzinho também pode falar merda na internet! Porque, pasme você, mas, enquanto você acha que tudo que você fala é pérola, tem gente que acha que você só fala merda. Acredita nisso?!

Retomo então a história do cara que ficava na frente do CCBB. Quando eu comecei a me dar conta de que as pessoas compram e, às vezes, leem um best seller caro de livraria só porque algum funcionário colocou o tal livro numa prateleira com uma placa que dizia que aquele era um best seller mundial – sem que você conheça o autor ou do que trata o livro – mas apenas pelo puro e simples poder daquela plaquinha, e nem cogitam gastar dois reais para conhecer a literatura do cara do CCBB, eu me dei conta de que tinha alguma coisa muito triste e equivocada. E eu fazia a mesma coisa, confiando na chancela da notoriedade. É coisa de você se pegar pensando: “Lá vem esse cara encher o saco, vou ali dentro na livraria para escapar dele, aproveito e compro a Trilogia Tebana”. Esse é um pensamento estúpido e sem sentido. Não estou falando contra os best sellers, sou vítima de alguns, nem contra os clássicos, estou apenas tentando falar a favor de quem não se enquadra nem em uma nem em outra categoria.

Novamente: se não tem qualidade para você, não absorva essa arte. Não vai te fazer bem. Mas abra sua mente para sofrer desgosto dos artistas independentes e não só dos famosos, você pode acabar se maravilhando com esse universo. A arte independente está em todos os mercados e nichos, você vai achar algo para encher os olhos e se refestelar. Exemplos de nichos onde você encontra produção independente: cerveja, comida doce e salgada, roupa, literatura, pintura, decoração, fotografia e muito mais. É um universo infinito.

E não se engane, tem muita gente foda por aí que vai morrer pobre e sem casa própria.

 

Libere sua imaginação com a gente!

Hoje eu e Natalia fizemos mais uma contação de histórias interativa no evento La Féria Princesas e Super-heróis, que aconteceu no Clube Militar, sede Lagoa.

Como são as contações interativas?

Essa contação funciona como uma espécie de teatro do improviso.
Eu e Natalia, as facilitadoras da capacidade imaginativa das crianças, recrutamos agentes da imaginação que irão nos ajudar a contar a história (todas as crianças ganham um distintivo de agente da imaginação). Nós levamos uma bolsa cheia de objetos encantados que vão sendo retirados pelas crianças durante a contação da história. O objeto retirado mais a interpretação que a criança dá ao objeto ditam o rumo da história.
As crianças também decidem quem são os personagens e onde se passa a história.

A história de hoje:

Era uma vez um parque de diversões que ficava dentro de uma floresta encantada. É essencial dizer que, neste parque, havia um piscina de bolinhas.
Quem estava neste parque era a Chapéuzinho Vermelho. E ela estava acompanhada da baleia Maracujazinha.
Chapéuzinho Vermelho e Maracujazinha começaram a cavar o chão da floresta e encontraram um esqueleto de dinossauro. Enquanto cavavam para desenterrar o esqueleto, elas acabaram encontrando a toca de uma bruxa.
Curiosas que só elas, Chapéuzinho e Maracujazinha entraram na toca da bruxa e encontraram lá dentro o chifre de um unicórnio. Nessa hora, percebemos que a bruxa não era má, se tratava de uma feiticeira boa que era amiga dos unicórnios.
Chapéuzinho e Maracujazinha resolveram então ir atrás do unicórnio. Mas por onde começar a procurar?
Elas começaram a andar pelo arco-íris procurando por ele. Foram andando, andando e acabaram indo parar no meio das estrelas. Foi aí que descobrimos que se tratava de um unicórnio alado, primo do cavalo Pégasus.
Mas, ao chegar lá nas estrelas, o que elas encontraram foi um sapo que pulou tão alto que ficou preso em uma nuvem.
Chapéuzinho e Maracujazinha logo tiveram uma idéia: ora, já temos um sapo, uma baleia e uma menina… Vamos fazer uma festa no céu!!!
E a festa começou com muita alegria e animação.
Mas, de repente, apareceu o dinossauro-esqueleto que elas haviam desenterrado para atacar a festa!
Foi bem nessa hora que a feiticeira apareceu e com a ajuda de todas as crianças foi possível concentrar muita energia no chifre do unicórnio e disparar um raio que derrotou o dinossauro.
Depois que o perigo passou a festa pode continuar para sempre.

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As crianças sempre ficam bastante entusiasmadas com a possibilidade de decidir os rumos da história.
Elas se voluntariam para tirar objetos da sacola e pensam em um milhão de locais para a história se passar.
O meu trabalho e o da Natalia é o de tentar conciliar a visão das crianças, condensando-as em uma única história.
Na história de hoje, essa questão apareceu logo no início. Três crianças queriam decidir onde a história se passava: uma floresta, um parque de diversões e uma piscina de bolinha. A nossa tarefa é mostrar que a imaginação é ilimitada, incentivando-os abertamente a pensar fora da caixinha, não limitadas pela lógica que o mundo começa a nos empurrar desde cedo.
Portanto, todos os lugares podem coexistir em harmonia na nossa história.
As histórias que contamos comportam o poder e a potência da imaginação de todas as crianças.
E elas vão se soltando e se libertando das amarras conforme a história vai se desenrolando.
As histórias também ajudam as crianças a dialogar e buscar a resolução saudável de conflitos, pois elas precisam aprender a aceitar que a história do amigo vai se cruzar e conviver pacificamente com a dela.
A colaboração que nasce entre os pequenos também é emocionante e pode ser observada hoje. Uma criança trouxe o perigo do ataque do dinossauro e todas se juntaram imediatamente para derrotá-lo.

É sempre um grande e prazeroso desafio, para nós, participar da história delas!

Alquimia da Palavra 

Hoje, eu e a minha parceira de trabalho, ministramos uma oficina de escrita criativa.

Todo o processo de trabalho foi maravilhoso.

Ela, assim como eu, começou a escrever desde novinha. Acabou deixando o sonho de ser escritora de lado na hora de tomar as “decisões sérias” da vida – especialmente a decisão pela carreira. E “escritora” não era uma opção.

Há alguns anos nós duas já estávamos quase sem conseguir respirar sem a escrita na nossa vida. Começamos, então, o trabalho como escritoras com uma incrível potência, como forma de sobrevivência.

Eu sei. Você deve estar pensando: está meio épica demais essa história.
Sim! Exato! Foi super épico. Eu comecei a virar madrugadas lendo e escrevendo, a investir uma grande quantidade de dindin e de tempo nesse processo e a passar por muitos desgastes e provações emocionais para, não só para reacomodar, mas para tornar a escrita o centro da minha vida.

Hoje nós transformamos uma parte do conhecimento que adquirimos em nossa jornada em uma oficina com o objetivo de compartilhar o que aprendemos e de aprender ainda mais com os participantes maravilhosos que recebemos!

A minha amiga e escritora Natalia Avila chegou para mim com a proposta de tema: Vamos fazer uma oficina com o tema Alquimia da Palavra, Olivia. – ela me propôs há dois meses pelo telefone – Seria legal se nós fizéssemos algo juntas!
Eu topei na hora!
Então, começamos o trabalho. Pesquisa, estudo, experimentação com as técnicas que iríamos levar, preparação do material, aluguel do espaço etc. E o nosso bebê nasceu forte e saudável.

Eis o texto de apresentação/divulgação da atividade:

*** O processo alquímico consistia na tentativa de combinar certos elementos para encontrar a fórmula maravilhosa da pedra filosofal, do elixir da vida eterna e da transmutação de metais inferiores em ouro.
Devido a essas características, a alquimia é uma metáfora perfeita para o processo de escrita no qual o escritor usa o material bruto da experiência e da linguagem para criar a obra literária. A obra literária, como resultado do processo alquímico da escrita, é algo que transcende o próprio escritor e se torna universal e enriquecidor para qualquer pessoa. ***

Falamos, a partir do tema proposto, dos quatro elementos que consideramos básicos para a escrita, apresentando técnicas que auxiliam no desenvolvimento de cada um desses aspectos. Tivemos também duas dinâmicas que nos renderam uma história muito interessante no final do dia!

Agradeço ternamente a todos que participaram dessa primeira empreitada e, para os que não puderam estar presentes eu digo:

Palma, palma, não priemos cânico! (não resistiiiiiiiii!!!!)

Teremos novas edições nos próximos meses e vocês serão informados pelo Facebook 😛

Algumas fotos!