Fotograma do Prólogo do filme “O Anticristo”

Uma mulher olha para um homem que a deseja.

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Eles fazem amor.

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O casal não se preocupa com nada ao seu redor.

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Um ursinho flutua carregado por um balão.

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As páginas de um livro voam com o vento, os bonecos ficam parados.

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O ursinho olha pela janela.

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O casal ignora a tudo e a todos.

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A criança se encanta com os flocos de neve.

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A criança não tem noção do que faz.

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O sexo acaba com o orgasmo da mulher e, no mesmo instante, a criança cai da janela.

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Zelofilia. 

Estava hoje no ponto com meu namorado praguejando contra o ônibus que não passava nunca. Uma menina perguntou se também estávamos esperando o ônibus tal, nós respondemos afirmativamente e mencionamos que já estávamos no ponto há quase dez minutos. Meu namorado perguntou para onde ela estava indo. Para a universidade. Assim como eu e meu namorado, que continuou puxando assunto com ela. Acaba que a menina já tinha ido para Cuba turistar. Ela começou a contar o que era mito e o que era verdade sobre a vida em Cuba, mas já era tarde demais para mim. Eu estava perdida da conversa. Já mergulhara em uma profunda e familiar angústia. Eu comecei a me sentir extremamente desconfortável e, agora que eu já tenho a prática adquirida com anos de sofrimento, consigo identificar prontamente o sentimento de ciúmes tomando conta de mim.
Na minha cabeça meu namorado já estava de pau duro e ela lambia os beiços para ele. Imaginei-a usando um baton vermelho bem brilhoso que não ia sair quando ela o chupasse.
Quando eu sinto ciúmes, começo a vasculhar o corpo da outra mulher para me sentir no controle do que meu namorado está vendo. Imaginei que ele devia estar se perguntando se a garota usava calcinha debaixo do short ou não, pois o short lhe marcava bem o meio da bunda. Acho que ele preferiria acreditar que não. Olhei para ele e vi que esfregava uma mão na outra. Ele deve estar se imaginando esfregando a buceta dela, óbvio. No mundo ideal da cabeça dele, ele provavelmente se aproximaria dela, que fala agora alguma coisa sobre os livros didáticos cubanos e comenta que eles não possuem imagens. Nem mesmo os livros de história. Eu tento me desvencilhar do sentimento mutilador para entender o motivo de tanta aridez nos livros infantis, mas quando percebo o modo como ele olha para a garota e comparo com aqueles olhares de soslaio que ele direcionava a mim desde que se iniciara a conversa com a outra eu fui relançada à imaginação. Pois bem, ele dá o primeiro passo em direção a ela. A aproximação a princípio não é total, de modo que as superfícies de seus corpos apenas roçam uma na outra. Antes de beija-lo, ela tira a camisa e expõe seios firmes e fartos. Ele enfia uma mão na própria calça para puxar o pau para fora, já ereto, largo, comprido, rosado, roliço; a outra mão agarra o peito direito da menina. Antes de beijar-lhe a boca, beija-lhe o peito esquerdo. Nesta cena os peitos da meninas estão puxados em direções opostas. Um mamilo aponta na minha direção. O outro só Deus sabe para onde no interior do meu namorado ele apontava. Meu namorado se afasta para tirar o short da menina. Sem calcinha. Meu namorado é delicado e ela desfruta de cada um dos passos das preliminares apesar da urgência do tesão. Ele desliza junto com o short dela até o chão. Beija sua barriga, seu púbis, a lateral da coxa, a parte de cima do pé. Ela levanta uma das pernas e a apoia no assento. Nessa hora eu já nos imagino dentro do ônibus. Os peitos da menina sacodem livremente a cada solavanco em sintonia harmoniosa com o movimento relativamente restrito do pênis ereto, que também balança no ar, antes de se iniciar a penetração, que virá logo em seguida. Aqui já nos encaminhamos para o final da trepada. Há movimentos de repetição, que alternam rapidez, lentidão e algumas penetradas profundas toda vez que o ônibus passava em algum buraco ou quebra-mola. Ela goza, ele goza e a merda é que eu gozo junto.
Quando cheguei em casa fui perguntar ao Google o que estava acontecendo comigo. Estava confusa e desorientada. Ainda bem que o Google tinha um nome para o que eu estava sentindo: zelofilia. Significa a excitação sexual provinda do ciúme.
Acalmei-me imediatamente ao ler a palavra e sua definição. Estranha essa capacidade das palavras de nos confortar e de fazer com que não nos sintamos mais tão sozinhos no mundo. Senti-me abraçada e consolada pela palavra, unida a milhares de zelofilílicos espalhados pelo mundo, senti que minha experiência havia sido importante a ponto de ser categorizada pela ciência sexual. E ainda tem gente que me pergunta por que eu escrevo. Simples: escrevo porque sofro por motivos de ciúme ao passo que gozo pelo mesmo motivo e é só nas palavras que encontro aceitação positiva incondicional.

Banheiro térreo do prédio da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eu estava matando aula no teatro de arena. Cochilei e acordei com vontade de fazer xixi. Rodei um pouco pelo magnífico casarão que comporta a Escola de Comunicação da UFRJ e achei um banheiro razoável. Sem sabão, sem papel, mas limpo e eu tinha lencinhos na bolsa. Entrei no box do banheiro, fechei a porta, abaixei a calça e a calcinha até a altura do tornozelo. Inclinei um pouco o quadril para trás e fiquei olhando pelo meio das pernas para ter certeza de que o xixi ia cair no lugar certo e porque acho difícil mirar as cegas. Quando não olho, ou o xixi acaba escorrendo pelas pernas ou ele bate na tampa do vaso e acaba respingando nojentamrnte em mim.

Quando deu cinco horas encontrei meu ex-namorado no pátio. Ficamos jogando conversa fora até que eu mencionei o tal banheiro, apenas por alto, pois queria falar de uma lanchonete que tinha ali perto. Mas à menção do banheiro ele se contorceu. Seu rosto se alongou e os lábios se viraram para baixo ele ficou vermelho e seus dentes se afilaram enquanto ele gritava que eu era uma puta! Eu era louca e não o respeitava. Comecei a sacudir a cabeça para os lados em negação daquelas acusações. Eu não sabia do que se tratava ainda, mas primeiro eu negava, sempre negava e pedia perdão. “Não! Pelo amor de Deus! Por que você está falando isso? Eu não fiz nada! Pelo amor de Deus me perdoa! Do que você está falando? Depois da habitual humilhação pre-explicação ele me disse que aquele banheiro era devassado. De um certo ponto do corredor em oposição ao banheiro do outro lado de um jardim para o qual se abria a janela do mesmo, era possível ver dentro das três cabines. Meu coração disparou. Que argumento usarei para combater uma acusação de um crime que foi o de, inadvertidamente, abaixar as calças e a calcinha até o tornozelo e olhar no meio das pernas para direcionar o xixi, dentro do box de um banheiro, que poderia estar sendo observado por um voyeur posicionado a uns 30 metros de distância?

“50 Tons”.

Assisti, na semana passada, ao segundo filme da trilogia no cinema. Assisti ao primeiro filme no cinema também. Não li os livros. O segundo filme, assim como o primeiro, foi ruim. Quando expressei esta opinião para uma conhecida ela logo tentou me animar, afirmando que ela havia lido os livros e que, no final, a mocinha “conserta” o rapaz. Mas, na verdade, do rapaz, do tal do sádico, eu não tenho muito o que reclamar. Especialmente levando em consideração apenas o primeiro filme.

A começar por aquele quarto que, convenhamos, é um sonho para qualquer um que curte BDSM. E, pelo menos pelo que o filme dá a entender, o contrato que o sádico apresenta à futura submissa para que ela deixe claro o que permite ou não que seja feito com seu corpo parece bem detalhado. Não pareceu, de fato, que ele a obrigou a nada. O que torna as coisas verdadeiramente complicadas é o background de criança sofrida para explicar a CAUSA do sadismo. No segundo filme esse background se torna ainda mais assustador e problemático. Descobrimos que Grey vivenciou uma série de coisas horríveis no quando era criança (horríveis mesmo) e, por isso, tem o desejo de punir mulheres que se pareçam com sua mãe. Isso tudo passa uma imagem extremamente negativa do BDSM que, quando praticada entre dois adultos consensualmente, pode ser muito sensual e extremamente prazeroso. No filme, os adeptos da prática aparecem como pedófilos (a mulher que o “ensinou a transar) e/ou com um histórico de abuso, agressão e abandono.

Por outro lado, temos a submissa. Que, antes de mais nada, eu gostaria de observar, parece começar a curtir um BDSM softcore no segundo filme. E, é claro, tem como missão de vida ensinar o multi mi, bi ou trilhonário (não sei) a amar. Ok. Estou entendendo então que: 1) de leve o tapa não dói; 2) o propósito da vida daquela mulher era resgatar a pobre alma de um homem sofrido. Sobre a primeira conclusão: a princípio a crítica era moral! Não se tratava da quantidade de violência empregada, mas do próprio fato da necessidade de uma tal prática existir. Parece que a mulher faz ali algum tipo de concessão que é incoerente com a imagem que o filme apresenta do BDSM. Forte não pode, mas de leve tudo bem? Esse é um retrato irresponsável da prática sadomasoquista. A segunda conclusão eu nem preciso comentar, não é? Já vimos essa história trocentas vezes. Por trás de todo grande homem há uma mulher que o ama e que recarrega suas energias.

Mas você acredita que nem era isso que eu queria dizer inicialmente sobre o filme? Meu ponto com esse texto é, simplesmente: esse é um filme de audiência majoritariamente feminina, certo? Então por que diabos eu vi mais o peito da mulher do que a bunda do cara????????? Saí do cinema perplexa.