A misteriosa geração de autores e editoras que só sabem fazer sempre as mesmas críticas aos novos escritores.

São duas as principais críticas aos novos escritores – ou, como dizem os críticos, aos aspirantes a escritores – que me chegaram aos ouvidos: escrever em blogs ou no facebook não faz de ninguém um escritor e que a nova geração de escritores não gosta de ler.

Parece uma sina: o ser humano é eternamente preocupado com o que o colega do lado está fazendo.

Antes de entrar nessa discussão é até bom salientar que eu não cheguei a conhecer este espécime que é o escritor que não gosta de ler. Todos os escritores que eu conheci gostavam e muito de ler. Para ser precisa, os escritores que eu conheci, achavam que não tinham lido o suficiente ainda e não se sentiam autorizados e se autoproclamarem escritores.

Bom, em primeiro lugar, a galera que está por aí escrevendo em blogs e no facebook – sim, eu inclusive – estão quebrando barreiras de vergonha e autocrítica e compartilhando os sentimentos que nos ensinaram a esconder ou negar, que nos disseram que eram errados ou vergonhosos. Isso é muito libertador e unificador também. Isso não faz de ninguém um escritor? Quem tem a fórmula que faz de alguém um escritor? Não estou falando de prática ou técnica, estou falando dessa sensação de que se você não escrever vai explodir, vai ser infeliz para sempre ou murchar até morrer. Da onde vem essa sensação? Muitas vezes, como eu já disse antes, seria até menos sofrido se livrar desse tipo de desejo.

Você pode me dizer: “Tem gente que quer ser escritor por modinha”. Muito mais fácil que essa galera que já é famosa se torne escritor por modinha, do que o cara que rala 40 horas semanais para se sustentar e, no tempo que sobra, escreve por que não pode escolher outra coisa senão escrever.

Na realidade o que tem de sobra é o contrário: gente que escreve para caralho, mas se sente incapaz e desestimulado – não estou falando de mim, quem me dera. Eu estou perseguindo o sonho, mas já esbarrei com muita gente que foi engolido pelo desânimo pelo meio do caminho que, inclusive, escrevia muito melhor do que muita gente sendo publicada por aí.

Há uma escassez de leitores, é verdade. Precisamos todos ler mais, é verdade. Mas no lugar de ficarem ressentidas com o povo, as editoras, especialmente as grandes editoras, deveriam investir muito, muito, muito mais na divulgação da leitura e nos vários, vários e vários novos e bons escritores que estão por aí.

Interessante também o fato de que essa crítica eu sempre ouço de escritores – os consagrados em alguma medida ou os próprios “aspirantes” – ou através de canais ligados a editoras.

Dizem que está difícil achar gente boa para publicar.

A vida do escritor é bastante complicada. Quando você se torna psicólogo, por exemplo, você recebe desde o início, ainda que pouco, e vai praticando e melhorando ao longo do tempo. Vem da sua profissão o seu sustento.

Quando você quer ser escritor não é assim que as coisas funcionam. É um trabalho raramente reconhecido pelo qual você não é remunerado e que demanda bastante.

Mas o que eles querem é que o meio literário seja elitista. Que vigorem as panelinhas intelectuais. Eles querem nos dizer o que ler, quem pode escrever, o que escrever e quem são os escritores de verdade.

O que é reconfortante é que a literatura sempre encontrou um jeito de se marginalizar e vai continuar encontrando enquanto existirem rebeldes que vão ouvir que escrevem mal e vão mandar um foda-se e vão continuar escrevendo ainda que para o público invisível que mora dentro da nossa cabeça.

Enfim, estou com muita raiva agora.  Estou insatisfeita com este texto e não sei se cheguei ao ponto que queria. Mas, como forma de protesto, vou publicá-lo mesmo assim.