Hoje eu só acordei por um milagre. 

Hoje o despertador tocou cedinho. Mas, assim que eu olhei o relógio, eu lembrei que a minha paciente chegaria meia hora mais tarde essa segunda feira. Como eu me arrumo para sair de casa em quinze minutos, eu resolvi dormir mais um pouco. Dei o tempo de uma soneca no despertador e apaguei.
Tive então um pesadelo horrível. Meu pai, falecido há muitos anos, estava me perseguindo com uma garrafa de vidro. Ele ficava correndo atrás de mim e eu fugindo até que ele me alcançou. Chegamos ao ápice da pesadelo, meu pai ali na minha cara com a garrafa em punho, mas eu consegui desarmá-lo e jogar a garrafa de volta nele. Depois desse momento, com a adrenalina da situação, eu comecei a acordar e, no finalzinho do sonho, meu pai apareceu novamente, com uma cachorrinha que nós tínhamos quando eu era pequena. Ele estava tranquilo e sorridente.
Eu abri os olhos. Faltavam exatamente quinze minutos para eu estar no trabalho. O despertador não havia tocado. Eu tenho horror da idéia de perder a hora completamente algum dia porque eu trabalho dando aula e em consultório. Trabalhos que envolvem diretamente outras pessoas que ficariam muito prejudicadas caso eu falhasse dessa forma.
Eu pulei da cama, caí debaixo do chuveiro e comecei a pensar. Que coisa sonhar com meu pai novamente… Nos últimos anos esses sonhos têm sido raros. E porque um sonho tão tenso? Ele me perseguindo com aquela garrafa, mas aparecendo tranquilo no final… E aí me veio essa idéia maluca de que se não tivesse sido o sonho com o meu pai, ou melhor, o pesadelo que me gerou adrenalina, eu não teria acordado a tempo para trabalhar hoje. Nada teria me impedido de dormir até meio dia, ainda mais porque eu fui deitar já eram quase três da manhã e eu estava acordando apenas quatro horas depois.
Dá para compreender a idéia de um milagre quando um evento desses acontece.
E como são os pais, não é mesmo… Ainda depois de mortos ficam se preocupando e se sacrificando pela gente.