Orgasmo emocional.

Você já ouviu falar no Relatório Hite? Isso mesmo: Hite.

Pode ser que você ache que eu estou um pouco confusa e quero, na verdade, me referir ao Relatório Kinsey, mas não. É do Relatório Hite mesmo que eu quero falar.

O Relatório Kinsey foi, sem dúvida, muito famoso (você pode assistir ao filme Kinsey – Vamos Falar de Sexo para se divertir e saber mais sobre a vida e o trabalho do autor). Mas, depois dele, veio um trabalho eu acho ainda mais interessante; me refiro à pesquisa de Shere Hite, também realizada nos Estados Unidos. A autora entrevistou mais de três mil mulheres ao longo da década de 1970, a partir da aplicação de questionários abertos (nos quais é feita uma pergunta a qual a mulher responde livremente com suas próprias palavras), que investigavam os principais temas da sexualidade feminina: masturbação, orgasmo, penetração, lesbianismo etc.

Este foi o primeiro grande estudo da sexualidade feminina, feito por uma mulher, que deu voz a milhares de mulheres, permitindo que elas falassem abertamente sobre suas experiências sexuais.

Um dos achados mais interessantes da pesquisa foi denominado por Hite de ORGASMO EMOCIONAL.

A descoberta do orgasmo emocional lançou luz sobre uma ampla gama de sentimento e sensações físicas sentidas pelas mulheres durante o ato da penetração sexual que geravam muita confusão para elas. São sentimentos e sensações prazerosas, mas que são, de algum modo, diferentes daquelas que as mulheres sentem com a estimulação do clitóris.

Frequentemente, durante a relação sexual, a mulher sente um ápice físico e emocional prazeroso, mas que é, de alguma forma, diferente do orgasmo que ela tem quando se masturba ou mesmo no sexo oral com o parceiro. Sabe quando você termina de transar e o boy pergunta: “E aí, gozou?”, e você fica na dúvida? Pois é. Teve alguma coisa ali que você sentiu… mas que você não tem certeza de ter sido um orgasmo? As mulheres muitas vezes interpretam essas sensações como orgasmos mais fracos e difusos.

O orgasmo emocional põe fim a esta dúvida. Quando você fica na dúvida, você teve um orgasmo emocional, mas não um orgasmo biológico.

É possível sim que os orgasmos biológicos variem de intensidade. Mas tem sido fortemente apontado pelas pesquisas o fato de que, quando você tem um orgasmo, você sabe que teve um orgasmo. O orgasmo gera uma descarga de tensão acumulada no sexo que, independentemente da intensidade, tende a ser inconfundível.

O orgasmo biológico seria alcançado pelas mulheres durante a estimulação direta ou indireta do clitóris. A estimulação direta acontece com a masturbação ou no sexo oral, por exemplo. A estimulação indireta pode acontecer durante a penetração. O clitóris pode ser pouco protuberante em sua parte externa (aquela que fica visível na vagina), mas ele é bem grandinho em sua parte interna. O clitóris, dentro do corpo da mulher, se estende ao redor da vagina, por isso, pode ser estimulado indiretamente na penetração. Essa estimulação indireta é o que torna possível o orgasmo vaginal.

Por outro lado, aquela sensação difusa que você sente durante uma relação sexual, que é boa, maravilhosa, que faz você até achar que gozou, mas que te deixa na dúvida, porque é, de alguma forma, diferente do que você sente quando se masturba e chega ao orgasmo; então, esse é o orgasmo emocional. Isso acontece por que não houve estimulação suficiente do clitóris para fazer você gozar, mas, ainda sim, trata-se de uma relação sexual e isso tem impactos no corpo e na mente da mulher que geram pico de prazer físico e emocional.

Shere Hite descreveu o orgasmo feminino como

 

“um sentimento de amor e comunhão com outro ser humano que atinge um máximo, é um grande aprofundamento da intensidade do sentimento, que pode ser sentido fisicamente no coração, ou como um nó na garganta, ou como uma sensação geral de abertura, uma sensação de desejo de ser penetrada cada vez mais, um desejo de se fundir e de se tornar um só com o outro. Isso poderia ser descrito como uma completa liberação de emoções, o que uma mulher chamou de “um penetrante sentimento de amor”, ou como um orgasmo do coração” ∗.

 

Então, agora você já não precisa ficar mais na dúvida ao responder: “Gozou?”. É sim ou não!

Não diga que sim para agradar seu parceiro.

É ótimo que você saiba com certeza quando não gozou! Porque, assim, você pode buscar outras formas de estimulação que te levem, de fato, ao orgasmo.

A relação sexual não precisa acabar enquanto você não estiver satisfeita.

 

 

 

∗HITE, Shere. O Relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade feminina. Tradução de Ana Cristina Cesar. São Paulo: Difusão editorial, 1982. Conferir página 123.