Que invisibilidade é essa? 

No banheiro do shopping vazio, de noite, perto da hora de fechar, uma mulher cumprimenta a faxineira:
– Opa! Nem tinha visto você aí. Estava escondidinha.
– A gente fica invisível mesmo.
A mulher que cumprimentou já entrou no banheiro, mas a moça lá fora continua falando:
– Eu até gosto de ser invisível.

Eu também gosto de ser invisível para as outras pessoas em diversas ocasiões. Mas por algum motivo aquela cena me partiu o coração.
Não sei se você pode chamar isso de preconceito da minha parte. Porque eu ouvi como algo triste a moça negra da faxina do shopping da Barra dizer que preferia ser invisível. E, para completar, eu fiquei sem saber o que fazer. Se saía do box onde eu estava e ia lá puxar assunto com ela, arrancá-la de seu esconderijo escancarado, ou se ficava calada e ia embora. Qual era o verdadeiro desejo daquela mulher? Ser notada e tratada direito por aquele povo? Ou simplesmente trabalhar em paz sem ter que ficar dando um bom dia, boa tarde, boa noite sorridente para todo mundo o tempo todo?

Eu não cheguei a decidir. Quando eu saí, ela já não estava mais lá. Me pergunto se ela finalmente tinha ido ser visível em sua vizinhança ou se tinha verdadeiramente se mesclado com as paredes.