Incerta. 

Fui dar uma incerta na minha namorada.
Ela vem me dizendo que tem saído com uma amiga para beber.
Quero ver se essa amiga tem buceta mesmo. E se é que tem, ela ainda pode estar colando velcro.
Cheguei na porra do bar, está ela lá no adultério. Peguei ela com um pintoso. Pensei: “É agora que eu vou acabar com a raça dessa mulher”.

Tu tá me tirando de otário? Tá pensando que eu sou o que? Ele sabe que tu largou a tua filha em casa abandonada?! É! Ela tem filha para criar e marido em casa! Otário, né. Tu deve pensar que eu sou otário mesmo. Sua vadia! Cachorra! Não quero nunca mais olhar na tua cara!

Amor, amor, calma. Está tudo bem. Eu estou aqui com você. Você lembra o que aconteceu ontem? Se acalma. Você está no hospital. O médico está aqui para te ver.

Doutor! Hospital? Tu me botou no hospital ainda, mulher! Essa vadia aí estava me traindo! Eu peguei ela ontem. Enfiei a porrada no maluco. É… Cadê teu amante? Se eu tô no hospital ele deve estar no cemitério!

Senhor, se acalme. Se acalme. É comum os pacientes acordarem desnorteados. Não se preocupe, minha senhora. A psicóloga já vem aqui falar com ele.

Que bom, doutor. Vamos aguardar, então.

A psicóloga chegou no fim da tarde para ver o paciente. Clima horrível. Mulher e homem olhando para baixo. Os dois queriam o divórcio. Ninguém tinha coragem de pedir. Mas a situação se tornara insuportável. Amanda vira o estado do pai na noite anterior quando todos chegaram no hospital. Camila ainda o amava, sim, mesmo sabendo há anos que vivia um relacionamento abusivo. Ele estava se tratando… Mas não houve jeito. Ele não melhorou. Sempre faltando a terapia. Ainda bebendo.

Boa tarde, Aurélio. Como você está se senindo? O senhor sabe o que aconteceu ontem?

Se sei! Eu já devo ser a piada do hospital. O corno do hospital! E a esposa chorando pelo amante! Olha a cara dela! Nem disfarça!

Senhor Aurélio, se acalme. Ontem o senhor bebeu muito e veio para o hospital após uma briga de bar. O senhor estava muito alterado e agitado. Mas é importante entender o que houve ontem a noite.

A mulher rompeu em lágrimas e a psicóloga pediu que ela se retirasse.

Aurélio, você chegou ontem a um bar, bêbado, confundiu um casal qualquer com sua mulher e um suposto amante e arrumou uma briga. Bateu na mulher e apanhou do namorado. Eles estão prestando queixa do senhor neste momento na delegacia.

Como é que é?! Vocês querem me deixar maluco!!! Você e essa cachorra da minha mulher!

Se acalme, se não eu vou ser obrigada a chamar o médico.

Eu não vou me acalmar porra nenhuma! Não com vocês querendo me enlouquecer!

Camila passou os anos seguintes lamentando o fato de tudo ter se desenrolado daquela maneira. Seu marido preso pela agressão de outra mulher. Durante tanto tempo era ela quem tinha aturado seus rompantes de raiva. É certo que ele estava pagando de alguma forma, mas e tudo que ela tinha sofrido? Se não deu certo, era ela quem tinha que tê-lo punido.

Pelo menos, dizia sua amiga durante o cafezinho, assim você se separou dele.

Sim. É verdade. Difícil, não é? Essa coisa de relacionamento abusivo.

Sim.

Mas Camila foi naquela semana até a prisão. Aurélio estava acabado. Tinha lágrimas nos olhos.

Me desculpe, meu amor. Quando eu sair daqui, você vai ver, tudo vai ser diferente.

Aurélio, eu acreditei em você por tempo demais. Você abusou demais de mim. Você me fez chegar ao meu limite. Eu não vim aqui para ouvir as suas desculpas. Eu vim para te dizer que você me roubou. Você é um ladrão. Você me roubou anos de vida e, por muitas vezes, a alegria de viver. Mas, como diz o ditado, vão os anéis, ficam os dedos. Eu recuperei tudo que você tirou de mim. Eu vim aqui para te dizer que, naquela época, eu não tinha amante nenhum, mas devia ter tido sim. Eu vim aqui porque eu faço questão que você saiba que você não está aqui apenas por causa de uma briga de bar apenas. Você está aqui por tudo que você me fez sofrer e pelo ser humano desprezível que você é. Eu não quero que você me procure nunca mais. Nunca mais me procure, Aurélio.