“Quem limpa a casa espera visita”.

Este texto contém linguagem inapropriada para menores de 18 anos.

 

Ok. Terça-feira. Dia normal, certo?

Não!

Lembra aquele sábio menino que falou que se ter sucesso na academia significa se tornar um especialista em ideias das quais você discorda é melhor fracassar mesmo? (Se não, você pode ler o texto aqui). Pois então, estou amando este menino!

Portanto já sabemos quem: o tal do menino.

Chego eu na faculdade, então, o é a sala do Programa de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica da UFRJ.

A situação: alunos e professora reunidos para dar início ao Seminário sobre o Conceito de Igualdade.

O que aconteceu? O menino entrou na sala, cumprimentou os colegas e se direcionou para a cadeira que costumava ocupar. Puxou-a para trás, mas se deteve antes de se sentar e disse: “Olha isso aqui. Vocês estão vendo? Eu não vou sentar aqui não! Vai saber se é merda!”

A reação de todos ao redor: “Como assim? Merda tipo cocô? Porque teria uma mancha de cocô na cadeira?”

“Sei lá! Quase só tem homem aqui. Vocês não estão sabendo não? Tem homem que não limpa a bunda. Eles dizem que quem é homem mesmo o que, na cabeça deles, quer dizer machão, babaca, heterossexual, não enfia nada no meio das nádegas! Nem papel higiênica depois de cagar, nem água ou sabão na hora de tomar banho. Eles não passam a mão no próprio cú. Vocês não viram isso na internet não? Estão dizendo que ‘quem limpa a casa vai receber visita’. Aí fica andando por aí com o cú todo cagado, cheio de merda, dando carimbada nos bancos.”

 

Cara, eu tenho que confessar para você que eu tive dificuldade de acreditar nele. Me escangalhei de rir, mas quase não acreditei. Pensei com meus botões: “não é possível. Claro que todo mundo se limpa depois de ir ao banheiro”.

De qualquer modo, fiquei com um certo enjoo moral depois que parei para pensar melhor no que é um cú que nunca vê um papel, água ou sabão.

Vocês já leram o livro 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade? Tem um personagem neste livro que não lava a bunda.

 

O Presidente de Curval era o decano da sociedade. Com quase sessenta anos e singularmente gasto pela devassidão, mais parecia um esqueleto. Era alto, seco e magro, com olhos fundos e baços, uma boca lívida e malsã, o queixo elevado, o nariz comprido. Coberto de pelos como um sátiro, suas costas, mais lembravam uma tábua e suas nádegas moles e caídas, cuja pele murcha por tantas chicotadas podia ser torcida com os dedos sem que ele nada sentisse, pareciam dois esfregões sujos flutuando no alto de suas coxas. No meio dessas, sem que fosse preciso apertá-las, oferecia-se um imenso orifício cujo diâmetro enorme, cheiro e cor, lembrava mais uma coacla do que um olho do cú; e, para coroar tais atrativos, constava dos hábitos pessoais desse porco de Sodoma deixar sempre essa parte num tal estado de imundice, que se podia ver a todo instante uma crosta de duas polegadas de espessura em volta.

 

Muito difícil ler este livro até o final. É, de fato, uma experiência pavorosa. Eu frequentemente ficava fisicamente transtornada quando o lia.

Chegando em casa, fui pesquisar para saber se o menino não estava ficando maluco. Mas maluco é o ser humano e, de fato, existe por aí esse papo sim de que “homem que é home” não limpa a bunda. Não vamos nos alarmar! Eu achei muita coisa em inglês falando sobre esse modo de vida, mas pouca em português.

O que me surpreendeu mais foi que, na minha busca pelos cús cagados do mundo eu encontrei foram pintos sujos.

Acabei descobrindo que o Ministério da Saúde em que gastar um bocado de dinheiro para fazer campanhas e programas de educação direcionadas para homens ensinando-os a lavarem os próprios paus. Aparentemente eles não apenas dão uma sacudida depois de fazer xixi, tem homem que acha que dar essa sacudidinha equivale a uma boa lavagem das partes. Por conta disso, muitos homens acabam tendo de problemas de saúde por conta da insalubridade de sua região íntima.

Voltamos ao infame Marquês que continua assim a descrição de seu personagem.

 

O Presidente era circuncidado, de modo que a cabeça de seu pau nunca estava coberta, disposição que facilita muito o gozo e à qual todas as pessoas voluptuosas deviriam submeter-se. Mas se tal procedimento sói manter esta parte mais limpa, não era o caso de Curval, uma vez que, tão sujo nessa parte como na outra, essa cabeça descoberta, já naturalmente muito grosso, ganhava, pelo menos uma polegada de circunferência.

 

(Referência das citações em negrito – Sade, Marquês. Os 120 Dias de Sodoma: ou a escola da libertinagem. Tradução de Alain François. São Paulo: Editora Iluminuras, 2008. Conferir página 26 e seguintes.)