Tributo ao sofrimento adolescente.

Mai gosta de ouvir músicas de bandas desconhecidas e super melancólicas no youtube acompanhando as letras, cantando e chorando junto enquanto pensa em suicídio.

Quando Mai acorda pela manhã, com o celular despertando às seis e meia, ela abre os olhos com as pálpebras pesadas. Suas mãos geralmente demoram a encontrar o celular que fica todo dia exatamente no mesmo lugar em sua mesinha de cabeceira. Ela desliga o alarme e volta a dormir. Passam-se mais uns quinze minutos até sua mãe vir bater na porta do quarto, gritando. A mãe grita porque Mai já está atrasada para a escola. Mai levanta irritada, vai para a escola com raiva. Ela pisa forte no chão, olha para baixo, anda sempre com as mãos enfiadas no bolso de um casaco preto que ela usa mesmo no pior dos calores. O fone de ouvido fica na orelha até o professor mandar tirar na sala de aula. Ela tira o fone para ouvir os outros adolescentes rindo da sua inadequação. Onde estão os seus amigos, Mai? E, mais importante, cadê o livro, Mai? Só trouxe esse caderno velho de novo? Algumas poesias por aí, rasgadas. E página depois de página, as folhas do caderno estão tomadas por rabiscos circulares feitos com caneta preta. Ela coloca a caneta na ponta da página e vai desenhando círculos até chegar ao centro do papel e ela continua riscando e riscando e riscando. A folha rasga, a caneta acaba e ela risca e risca e risca. Quando se dá conta ela está em casa com uma lâmina na mão fazendo mais um corte no braço. As bandas desconhecidas estão tocando no computador, ela canta junto e chora muito. A dor emocional é insuportável para ela. Dói. O clichê dói para caralho. Naquele momento dói mais do que tudo no mundo. Os cortes na pele são cada vez mais profundos. Seu sofrimento era clichê, até seu braço era clichê. Eles sangram como todo braço quando cortado por uma lâmina. 

No final, temos mais uma adolescente que tinha tudo para vencer na vida morta por suicídio.