Esse trapo velho esconde a minha alma. 

Meu corpo olhado por mil ângulos.
Esta blusa de pano fino custou dez reais. Se eu saísse sem ela pela rua seria um escândalo, eu seria presa. Jogo ela por cima do corpo e está tudo bem.
Minha alma dizem que não tem preço, eu saio com ela nua e em pedaços pelo rua, mas parece que está tudo bem.
Queria sair com o corpo quebrado e nua e a alma inteira para ver se chamam a ambulância para cuidar de mim. Eu pegaria na mão da médica e da enfermeira e fecharia os olhos com o soro na veia. Vai ficar tudo bem.
Quero trocar este pano velho pela minha felicidade. Sair com a sensação de ser livre.
Todos esses fios finos entrelaçados formaram um nó que eu não consigo desfazer. Não é possível achar uma ponta solta sequer. Correndo pela corrente sanguínea, correndo o risco de entupir uma veia e me causar um enfarto ou um derrame.
Se eu morresse depois de amanhã teria vivido metade dos meus sonhos.
Já está bom… Não é?

A felicidade de um dia simples. 

Um bom dia amanhece assim com o gato deitado quieto no pé da cama. Com tempo pro café e pro carinho antes de sair de casa para trabalhar.
Continua comigo andando pelas ruas tranquilas da Tijuca. No Rio de Janeiro? Eu esqueci de sentir medo naquele instante. Estava com a cabeça em outro lugar. Indo para a dança dançar. E dancei bastante. Bons momentos. Eu olhava para a barra de poledance, tranquila, relaxa, respira fundo, sente o suor escorrendo. Que calor eu estava sentindo, bem ali do lado da menina magrinha que estava morrendo de frio. Claro! Eu posso trocar de lugar com você.
Depois casa, comida, sem roupa lavada, mas com muito amor e preguiça, passamos a tarde pintando. Sem drama. Sem calafrio. Sem lágrima. Sem tristeza. Ainda assim, com muita emoção. Uma vez me disseram: “Se o casal sai para jantar, janta, volta para casa e fica tudo bem, eu não quero ler essa história. Mas se o casal sai e um dos companheiros esconde um segredo, aí sim, essa história me interessa”. O que isso significa? A gente gosta de drama. E por isso eu me perguntei: “O que eu vou escrever hoje? Eu tive o mais perfeito dos dias”! Eu não sei. Talvez eu esteja feliz e otimista demais para escrever hoje. Me esforcei, mas talvez não tenha mesmo nenhuma tristeza que eu possa desenterrar neste dia. E chega, eu não vou me preocupar muito mais com isso. Vou apenas me contentar em escrever sobre a felicidade deste dia simples e vou me ocupar de ser feliz com todo o meu ser e me agarrar a este sentimento pelo tempo que ele durar, pois eu sei que nem todos os dias são assim.

Só mais um desabafo, que eu queria chamar de “Aos queridos professores”, mas me falta coragem, pois eu ainda tenho medo deles. 

Para todos os jovens brilhantes que não tiveram dinheiro par apermanecer na faculdade, aos jovens que se matarem no meio do caminho, aos que foram humilhados em salas de aula pelo mundo inteiro, para todos os alunos que já tiraram zero em alguma avaliação ou que repetiram mesmo sabendo a matéria. Para todos vocês, saibam que não estão sozinhos.
Para todos os professores em quem a carapuça não servir, meu sincero reconhecimento, a vocês eu agradeço pelo trabalho bem feito. No entanto, antes de se escusar da acusação, certifique-se de pensar duas vezes na sua atuação profissional. Eu, certamente, me debato com essas questões quase todos os dias.

O avanço da ciência. Feito de corpos sobrepostos, de sonhos de estudantes destroçados. Os sonhos e os estudantes. E seus corpos também. Seus corpos que se jogam da UERJ, que são assassinados no Fundão, seus corpos que passam fome e frio no alojamento, que sentem saudades de casa e raiva e medo dos orientadores. Um aplauso acadêmico e respeitoso aos metres, pois eles sabem mais do que nós! Parabéns! Pelas lágrimas dos estudantes. Isso vai cair na prova? Eu não sei fazê-los chorar como vocês fazem. Vai ter consulta? Eu posso te ver humilhá-los mais uma vez antes de eu mesma tentar? Mas não. Eu não vou tentar. Não faria isso nem em um milhão de anos. Você já se disse isso alguma vez? Você tinha um coração antes de receber o primeiro salário? Você entraria para o uma organização que você sabe que assassina jovens sonhadores se não como um infiltrado para tentar fazer diferente e vencer o inimigo por dentro? Uma vez lá dentro, eles te pegaram, não foi? E arrancaram esse coração? Foi isso, não foi? É como aquela música fala: todo mundo já foi criança um dia. Até você, professor. Nem eu sei mais se acredito nessas palavras, sabe? Eu acho que você nunca teve coração. Fofo. Fraco. Fraqueza. Estou eu aqui falando em coração quando devíamos discutir os cérebros. Já viu um professor universitário demonstrar fraqueza? É por causa do cérebro dele. Tem que se provar sempre o melhor. Esse é o segredo mais profundo. Eles não são os donos do conhecimento, mas precisam fingir ser. Se não o mundo deles cai. Eles precisam dessa miserável satisfação de fazer ao aluno uma pergunta irônica e de corrigir a resposta: “Aha! EEEEEEEEEEERRRRRAAAAADDDDOOOOO!!!!!!!!!” Da para ver a sua felicidade no canto dos olhos, você saliva e a baba escorre pelo queixo, todos os dentes da boca aparecem, você estufa as narinas exibindo os pelos nasais mal aparados e esfrega as mãos manchadas de vermelho. Essa ciencia eu não quero aprender e a ciência que me importa não foi você quem me ensinou. Você me coagiu a não colar nas provas e a assistir suas aulas. Você me fez abaixar a cabeça com as correções das minhas perguntas “descabidas” e me fez acreditar que eu era burra com suas notas e avaliações. Mas eu pude ver por detrás das suas boas intenções. Das suas humilhações que eram todas para o meu bem. Sabe qual é o nome disso? Abuso moral. Abuso moral não forma ninguém. Todo esse conhecimento, essa riqueza, aí dentro da sua cabeça, mas, por algum motivo, tão difícil de acessar… Eu devo ser muito incompetente mesmo, não é verdade? Você tão bem intencionado. E eu aqui querendo te sacanear. O mau, mal, aluno. Quase sinto pena de você pelas minhas noites mal dormidas, pela minha bolsa de 300 reais, pelo meu ticket refeição e vale transporte inexistentes, pelas humilhações que eu passei, mas espera…. Quem sofre é você ou sou eu? Estou confusa agora. Eu achei que eu é que levava a vida boa… E que você, com seu salário, seu carro, sua casa na Zona Sul, suas duas disciplinas por semestres, seus pós doutorados de seis meses fora do país e suas viagens para congressos internacionais é que estava sofrendo… Mas isso não mais me parece certo. Parece que tem alguma coisa errada nesse coitadismo seu, professor. E você tem a cara de pau de dizer que eu me faço de coitada. Sério? Não liga para dinheiro quen vive de ar e eu não posso me dar a esse luxo ainda. Não se importa com a hora de ir embora da faculdade quem vai de táxi ou de carro para casa. Não se importa com a quantidade de horas de trabalho que, na verdade, trabalha pouco ou quem ganha para isso.
Com todo respeito, mestre, o meu caminho fui eu que fiz APESAR de todas as vezes que você tentou me derrubar. Eu sou inteligente para caralho e não foi por uma palavra que você falou que ficou na minha cabeça, nem por uma questão de prova que você zerou, que eu me senti motivada a estudar. Eu tive tempo de estudar depois de colar e passar na sua prova inútil da sua matéria inútil. E é você quem tem que viver com a infelicidade de saber que a sua matéria inútil, na qual você dá a sua aula inútil e a sua prova inútil, são os pontos altos do respeito e da felicidade que você acha que tem em sua vida inútil.

Whatsapp motivacional. 

[31/07/2018] Olivia Klem: A mudança assusta, eu sei.
Mas a pessoa que nos tornamos depois da mudança nos protege de quem a gente era no passado.
Quando você estiver livre do sofrimento causado pela depressão e pela ansiedade, essa nova sensação de equilíbrio emocional vai te proteger da própria tristeza.
Mesmo quando as coisas estiverem difíceis novamente, você não vai se esquecer da felicidade que experimentou.
E essas oscilações acontecem mesmo. Não vou te enganar, recaídas existem.
Não tenha medo disso. Você achou seu caminho uma vez e vai achar de novo. Agora mais do que antes, você sabe se orientar sem bússola, sabe se locomover sorrateiramente pelo escuro, seus olhos se adaptaram e você já conhece os predadores e onde eles se escondem. Se você se entrar nesta densa floresta novamente, vai se sair melhor do que na primeira vez que se perdeu aí.
Então, você pode ter certeza: aconteça o que acontecer as coisas vão melhorar.
Com o tempo vamos aprendendo novas e melhores maneiras de lidar com os baixos da vida.
Não é hora de desanimar ou de olhar para trás. Siga em frente. Tudo que você precisa está diante de você.

Vamos falar sobre tristeza e solidão na pós-graduação. 

Hoje eu pude conversar com os alunos da minha pós-graduação sobre tristeza, solidão e depressão nesse meio universitário.
Levei o assunto a uma reunião do corpo discente como proposta de pauta para a próxima reunião. Eu falei meio hesitante, achando que o assunto não ia ser bem recebido, que as pessoas iam se fechar, não iriam querer tocar nessa ferida ou acreditariam que esse não era um assunto assim tão importante.
Qual não foi a minha surpresa quando as pessoas não só se mostraram abertas para discutir o assunto, mas também super dispostas e interessadas em realizar algum tipo de ação para atacar esse problema. Na verdade, muitas pessoas admitiram passar por intenso sofrimento com o trabalho acadêmico. Não estamos sozinhos e todos os estudantes precisam saber disso!
Então, a boa notícia é que eu e os alunos interessados em participar do projeto (que podem ser de qualquer pós-graduação e universidade), iremos começar a trabalhar para promover um espaço aberto e seguro para que os estudantes falem sobre suas angústias! Se você quer participar ou conhece alguém que poderia estar interessado em participar da organização e planejamento desse projeto, peça para entrar em contato comigo!

Uma hierarquia para os seus problemas.

A maior parte das pessoas do planeta não estão sofrendo com nenhum tipo de transtorno psicológico. Mas estas pessoas também não estão bem.

Pensando num continuo, sendo -5 o pior estado emocional possível e +5 o melhor estado emocional possível, onde você acha que a maioria das pessoas se encontra?

Você acertou se pensou no 0.

A verdade é que a maioria das pessoas não está mal, mas também não está bem. Estão ali andando em cima da corda bamba. Uma hora acham que estão com um pezinho na depressão e/ou na ansiedade, outra hora estão sentindo um leve sentimento de prazer e felicidade.

Um amigo meu me ensinou uma técnica maravilhosa há alguns meses para “limpar o ar” nos momentos em que nós começamos a nos sentir um pouquinho mais para baixo. É uma técnica bem simples e poderosa.

 

Em primeiro lugar faça uma lista dos seus problemas e de afazeres atrasados.

Agora, ordene os itens da lista em uma hierarquia, do maior e mais complicado, mais difícil de ser executado até o mais simples, o menor, mais tranquilo e rápido de se resolver.

Pense, para cada um dos itens, se você já enfrentou problemas iguais ou similares no passado. O que você fez que ajudou a resolver o problema que você pode repetir agora?

Por fim, “mãos à obra”! Comece a executar a sua lista, partindo do problema mais simples e irrelevante.

 

Isso mesmo. Comece pelo problema mais simples e irrelevante da sua lista.

Quando nós pensamos nos nossos problemas, queremos atacar logo o problema mais monstruoso, mais difícil, aquele que incomoda mais e que é mais difícil de resolver. O que acontece é que a chance de termos dificuldades na resolução desse problemão são grandes por uma série de questões que veremos adiante. A consequência é o desânimo, o acúmulo de problemas e a sensação de que não seremos capazes de dar conta deles.

Imagine que você é o super-herói de um desenho animado. A luta do herói nunca acontece diretamente com o grande vilão da história. Se fosse assim, o desenho só teria um episódio. O herói passa por uma série de inimigos, cada vez mais poderosos, adquirindo mais força e sabedoria e se preparando para enfrentar o chefão mais adiante. Esses são os problemas que você já enfrentou.

É importante sempre ter em mente como nós resolvemos nossos problemas no passado e o que aprendemos nestas ocasiões. O que podemos aproveitar e o que podemos melhorar em nossa resolução de problemas?

Além disso, quando o grande chefão aparece, ele sempre vem acompanhado dos seus capangas. Estes capangas são inimigos facilmente derrotáveis, mas que, se forem ignorados pelo herói, podem ser mortais. Esta é a imagem da sua lista atual de problemas: um ou dois problemas maiores e os seus capangas.

O herói precisa derrotar os capangas antes de atacar o chefão.

Com os seus problemas acontece a mesma coisa. Normalmente nós temos um grande problema – o chefão – e vários outros pequenos problemas – os capangas – que são facilmente derrotáveis, mas que, quando ignorados se somam ao chefão e dificultam muito a nossa luta.

Elimine os capangas em primeiro lugar. Elimine esses problemas pequenos que ficam ali sugando sua energia, te exaurindo mentalmente e drenando seu senso de autoeficácia.

Quando nós resolvemos esses problemas que estão lá no final da nossa hierarquia, nós adquirimos confiança e nos fortalecemos. No final, a chance de conseguirmos resolver então os maiores de nossos problemas, já será muito maior.

“13 Reasons Why”

A série “13 Reasons Why” foi muito comentada há pouco tempo e dividiu opiniões. Há os que defendem a importância de existir uma série que tenha se arriscado a abordar o tema tabu do suicídio, há os que afirmam que a série romantiza o ato e corre o risco de, por esta e outras razões, acabar se tornando uma forma de incentivo para aqueles que pensam em pôr fim à própria vida.

Eu me insiro dentro do primeiro grupo. Acho que é muito positivo que uma série se proponha a falar do tema do suicídio. Não é correto afirmar que falar sobre o tema é um incentivo ao ato. Pelo contrário, quando pensamos em prevenção, a primeira coisa que ouvimos falar (após uma pesquisa minimamente séria) é: precisamos falar mais sobre o suicídio. Se você procurar, por exemplo, o manual de prevenção do suicídio do Ministério da Saúde (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_editoracao.pdf), será possível observar que filmes, séries, livros e músicas não são fatores de risco para o suicídio. O que é essencial para a prevenção do ato é conversar sobre o tema (incluindo perguntar diretamente a uma pessoa se ela está pensando em se matar).

Falando sobre a série especificamente. Assistir 13 Reasons Why foi, para mim, uma experiência muito gratificante. Já tendo pensado em pôr fim a minha própria vida mais vezes do que tive um amigo ao meu lado para conversar sobre o assunto, a série foi muito significativa para que eu sentisse uma parte importante da minha vida emocional acolhida e não invisibilizada. O desejo de se matar e o ato do suicídio em si, não é nem um pouco tão incomum quanto imaginamos, mas é quase impossível conversar sobre ele com uma outra pessoa. A série abriu inúmeros diálogos mundo afora sobre o tema e fez com que houvesse uma sobrecarga dos aparatos sociais que oferecem apoio para a legião de pessoas insatisfeitas com a própria vida, mergulhadas em intenso sofrimento. Tive contato, inclusive, com pessoas que já forma assombradas pelo fantasma do suicídio no passado e que, após assistir à séria, procuraram serviços voluntários (como o CVV – http://www.cvv.org.br/) não só para pedir ajuda para si próprio, mas também com a intenção de se tornarem voluntários e começarem a trabalhar do outro lado da linha de quem procura apoio neste momento tão delicado. Já tendo participado do treinamento para me tornar voluntária em grupos de prevenção ao suicídio, posso afirmar que uma boa parte dos voluntários são pessoas que já estiveram, literalmente, com a faca no pescoço. É terapêutico para esses voluntários poder ajudar pessoas que estão passando pelo que eles já passaram, segundo relatos.

Eu mesma fiquei particularmente surpresa com isso, a princípio. Eu achava que eu seria a única pessoa que já havia pensado em se matar e ia resolver trabalhar com pacientes suicidas. Pensando no efeito Werther, tão comentado ultimamente, ver e ter contato com pessoas estão valorizando o suicídio como saída para uma vida que desprezam e cometendo efetivamente o ato deveria levar os voluntários, principalmente com histórico de tentativas ou desejo suicida a cometerem o ato. Não é o que frequentemente se verifica. Vemos pessoas enfrentando os próprios fantasmas e tirando força do fato de estarem ajudando os outros.

Algumas pessoas tomaram a decisão final de se matar e executaram o ato após assistir a série? É possível que sim. Meu ponto não é afirmar que isso é impossível. A série pode ter sido a gota d’água para algumas pessoas. O que não quer dizer que elas necessariamente não cometeriam o ato caso não tivessem assistidos a série. O fato é que a série não constitui essencialmente um catalizador para o suicídio.

Você deve estar se perguntando a respeito do “Efeito Werther” que mencionei acima. Certo? Este efeito não goza de plena aceitação no mundo científico. Existem autores (MINOIS, Georges. História do suicídio: a sociedade ocidental perante a morte voluntária. Tradução: Serafim Ferreira. Lisboa: Editorial Teorema, 1998.) que afiram que o tal efeito é o resultado da atenção midiática dada à certas mortes e que os suicídios literários ou cinematográficos são mais a expressão de um clima social do que uma apologia ao ato. Quando aceitamos uma ideia como a do “Efeito Werther” fica difícil explicar o porquê d’Os Sofrimentos do jovem Werther causar tal comoção e não o suicídio de Madame Bovary, por exemplo. Existiram suicídios ilustres e romantizados ao longo da história que não teriam desencadeada o suposto efeito.

Por fim, vale comentar que a série, a despeito da questão do suicídio em si, é uma bela metáfora para os problemas que assolam a adolescência. Cada lado de cada fita representando um tipo de problema específico – com a amiga, o primeiro paquera, o assediador do colégio… Por pelo menos um destes problemas TODOS nós já passamos e a série captura bem o modo caótico como essas questões se desenrolam na vida dos adolescentes e os impactos emocionais que eles exercem sobre nós.

 

Para os interessados em saber mais sobre a história do suicídio, sugiro conferir meu e-book sobre o tema que será lançado em breve.  

Vanessa, não!

Sinto-me completamente abandonada. Meu amor não quer saber de mim. Eu estou aparentemente completamente equivocada. Me sinto maltratada, mas isso é ele que se sente no meu lugar e eu devo ocupar alguma outra categoria de desamados.
Eu quero que ele ceda, ele eu já nem sei mais o que quer. Quero que ele não repita esses absurdos, ele não está nem aí.
Eu me pergunto se ele está sendo violento comigo. Será?
Ele acha que eu sou a violenta.
Ele acha que sou eu que abandono, eu que maltrato eu que não cuido; eu já estou em dúvida. Será que realmente não faço essas coisas?
Me questiono, mas isso não tem efeito nenhum na prática, o que eu quero é mostrar para ele que ele me distrata e eu já não sei mais como fazer isso.
Sempre que tem gente em volta, as pessoas parecem não perceber nada. Ou será que ignoram nosso sofrimento? Desviam os olhares desconcertadas. Aí eu me dou conta, com arrepios, que ele também me ingora. Me tornei invisível, ainda assim é ele que sofre. Tento gritar e espernear e ameaço me matar. Alguém me vê agora? Alguns cochicham: ignora. Ela está fazendo isso só para chamar atenção.
Sim!
Sim!
Por favor!
É de atenção que eu preciso!
Mais atenção, pelo amor de Deus!
Mas quanto mais eu peço atenção, mais ativamente eles me ignoram e vão todos escorregando para longe de mim.
Não! Por favor, não vão embora! Por favor, não me deixem aqui!
Te deixar aí? Mas foi você mesma que se afastou. Com esses suas vozes, essas suas dores, esses seus sofrimentos. Foi você mesma que se condenou.
Mas foram vocês, vocês! Você!
Se você estivesse aqui eu não estaria chorando. Eu não estaria gritando. Eu não estaria invisível. Eu não estaria me matando.
Aí eu fui embora.
E ficou todo mundo bobo. Nossa, eu não acredito que ela fez isso. Alguém sabe o que estava acontecendo com ela?