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Esse texto é pelo artista que o meu amigo é e pelo artista que o meu amigo não é.

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Essa semana me contaram que um certo escritor, admirador de Cézanne, afirmou que o quadro do pintor que mais o interessava era um quadro que Cézanne nunca havia pintado. Diz-se que Cézanne, durante um período de sua vida, ia todo dia até uma caverna para ver a luz do sol poente refletida na parede. Parecia que um quadro estava para nascer, mas foi o caso de um aborto. A ideia foi concebida, mas o quadro nunca foi pintado. E era esse o quadro que mais interessava ao escritor sobre o qual me contaram.

Hoje saí para tomar cerveja com um amigo cuja arte está no estado do quadro que Cézanne nunca pintou. Existem esboços, ideias, sonhos e desejos. Mas falta tempo, faltou condição de seguir um caminho específico no passado. Vai faltar dinheiro para o café da manhã, o almoço e o jantar no futuro.

Sua produção artística não é nula. Assim como Cézanne, ele já pintou outros quadros, num sentido figurado claro, porque o que ele faz mesmo é escrever. Mas a analogia se sustenta.

Percebi hoje, contudo, ouvindo a história do seu desejo de ser artista, que eu não tenho interesse apenas pelas coisas que ele produz, aprecio também das coisas que ele não produz e que, provavelmente, nunca vai produzir. Das telas que ele pintou do seu passado que só quem está ali pertinho ouvindo pôde ver, do sentimento que essas imagens produziram em mim.

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